O jeitinho brasileiro adapta-se ao novo modelo olímpico para ganhar pódios
José Cruz
Para tentar chegar ao top 10 dos países olímpicos, nos Jogos Rio 2016, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) adotou duas medidas discutíveis: mudaram o critério de contagem das medalhas e passaram a naturalizar atletas estrangeiros, reforçando o time nacional
O COB sempre seguiu a norma internacional de dar mais peso às medalhas de ouro no quadro das conquistas. Porém, para 2016, passou a valorizar o total das medalhas. Com a nova estratégia matemática, o Brasil terá mais garantia para se colocar entre os dez mais do mundo.
Já a naturalização de estrangeiros ganhou destaque com quatro jogadores da equipe de polo aquático, num investimento de R$ 2,5 milhões, da Confederação de Desportos Aquáticos, segundo reportagem da Folha de S.Paulo. Agora, somos “potência” na modalidade, mas com a importação de sérvios, croatas, cubanos, espanhois… além do técnico Ratko Rudic (foto), dono de quatro medalhas de ouro olímpicas.
A prática não é novidade. Nos Jogos de Londres, cerca de dez por cento da equipe do Reino Unido eram estrangeiros. O Brasil copiou a receita e deveremos ter competidores importados no hóquei sobre grama, no rúgbi e outras modalidades com menos tradição por aqui.
Desculpas
Para cada “importação” há uma desculpa, como ser casado com uma brasileira, por exemplo. Mas, é um jogo de ilusões. O resultado positivo que se conquistar onde não se tem força nacional será pelo desempenho do “enxerto”, de quem ficará calado na hora do Hino Nacional. Não teremos, de fato, a dimensão do nosso potencial esportivo, pois os pódios estarão maquiados.
Esse drible, comum em outros países – como o doping – mostra como os Jogos Olímpicos tornaram-se, antes, atrativo negócio financeiro, perdendo o charme histórico de disputas entre países e continentes.
Por aqui, evidencia-se o fracasso de política esportiva – ou a falta dela -, mesmo com bilhões de verbas públicas investidos pelo governo federal. Falhamos na formação de técnicos, apesar de termos 1.500 escolas de educação física. E precisamos importar mais de 40 técnicos para atender nossas equipes olímpicas. Agora, está claro que fracassamos na formação de atletas, na formação da base, na definição de prioridades, de metas. Mas queremos estar entre os 10 mais olímpicos do mundo… O dinheiro é capaz desses milagres.
Memória
Nos Jogos Mundiais Militares de 2011, no Rio, saímos de um 31º lugar nos Jogos de 2007, na Índia, com apenas três medalhas, nenhuma de ouro, para o primeiro lugar no mundo, com 114 pódios.
O resultado foi possível graças à contratação de 200 atletas olímpicos para vestirem a farda militar e se apresentarem como competidores de peso. Foi o “jogo do faz de conta”. Tudo financiado com verba pública…
Foto: Portal Brasil