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CBF tem no Congresso um aliado político até para reposição de cartola
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José Cruz

2001 – Relatório da CPI da CBF Nike – Câmara dos Deputados

“O trabalho mostra como o futebol vem sendo usado para a promoção de grandes negócios. São milhões de dólares que rolam em contratos obscuros e desaparecem. Quanto maior o contrato, mais endividadas ficam a CBF, as federações e os clubes, enquanto fortunas  privadas formam-se rapidamente, administradas em paraísos fiscais de onde brotam mansões, iates, e se alimenta o poder de cooptação e de corrupção”

Desmoralização

Uma década e meia depois dessa constatação da CPI a Justiça dos Estados Unidos desmoraliza as instituições brasileiras ao escancarar as falcatruas de cartolas da CBF, que já sabíamos. Nesse tempo de omissões, fortaleceram-se as relações de poderosos cartolas com deputados e senadores, através da conhecida Bancada da Bola, enquanto sangravam os cofres do futebol em nome do patrimônio “Seleção Brasileira”.

João Havelange renunciou ao cargo de presidente de Honra da Fifa, Ricardo Teixeira demitiu-se da CBF às vésperas da Copa 2014, José Maria Marin está com prisão domiciliar sob o comando da Justiça dos Estados Unidos, e Marco Polo Del Nero fez “demissão branca”, ontem

Havelange

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epa04707828 Brazilian lawyer Marco Polo Del Nero talks during a press conference at the headquarters of the CBF (Brazilian Soccer Confederation) in Rio de Janeiro, Brazil, 16 April 2015. Del Nero has been appointed the new president of the CBF with a four year term. EPA/MARCELO SAYAO

Entrosamento político

Tão íntimo é o entrosamento do futebol com políticos que o novo presidente da CBF é um deputado federal, Marcus Antônio Vicente. Trata-se de um saltitante politico, que já esteve na Arena – partido de sustentação à ditadura militar – PFL, PSDB, PPB e o atual PTB.

As relações do futebol com o Legislativo estendem-se através de outros dois deputados-cartolas – ou vice-versa, que dá no mesmo… –, como Vicente Cândido (PT/SP), que é diretor Internacional da CBF, e Marcelo Aro (PHS/MG), diretor de Ética e Transparência…

O entrosamento continua. Fernando Sarney é vice-presidente da CBF, sob o prestígio de seu pai, o ex-senador José Sarney, que também apoiou a ditadura. Fernando é filho dessa cultura.

Nos corredores, gabinetes e bastidores do Congresso circula como lobista o assessor legislativo da CBF, Vandembergue Machado.  Vandembergue é funcionário aposentado do Senado, amigo íntimo do presidente da Casa, Renan Calheiros, o que facilita o seu trânsito entre as excelências para fazer valer os interesses da CBF. Por exemplo, atrasar a pauta da CPI do Futebol.

Para isso, Vandembergue convence senadores, “amigos” do futebol, a se ausentarem das sessões para reduzir o quórum e inviabilizar decisões, nem sempre possíveis, pois sigilos já foram quebrados e o resultado mostra os caminhos da falcatrua. Daí o desespero de que a CPI avance.

É este conjunto de omissões propositais (?) e tráfico de influências do futebol com políticos que a Justiça dos Estados Unidos está desmoralizando de uma só vez, punindo lá fora o que o Estado Brasileiro deixou de cumprir há mais de dez anos.

 


As injustiças da Bolsa Atleta
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José Cruz

No contexto geral do esporte precisa-se questionar, insistentemente: compete ao Estado financiar o alto rendimento, que se tornou negócio milionário? Ou o Estado deve cumprir o artigo 217 da Constituição, que determina aplicar verbas públicas “prioritariamente” no desporto escolar?

Com o sexto lugar na marcha do Campeonato Mundial de Atletismo, em agosto, os brasileiros Caio Bonfim e Érica Sena (foto) credenciaram-se a receber a Bolsa Pódio, do Governo Federal, programa que tem orçamento de R$ 133 milhões, este ano.   caio bonfimPorém, a dupla poderá se candidatar ao benefício só no ano que vem. E receberá a primeira parcela pelo feito de agora, depois dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

Este estranho calendário, que usa resultados do ano anterior para benefícios atuais, é praticada há 10 anos pelo Ministério do Esporte, que resiste fazer correções no programa da Bolsa Atleta, a fim de evitar certos prejuízos aos beneficiados.

Debate

Participei de um debate sobre este tema na Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Senado Federal, na quinta-feira, com os senadores Romário (PSB/RJ) e Donizeti Nogueira (PT/TO), com o coordenador da Bolsa Atleta do ministério do Esporte, Mosiah Rodrigues, João Sena, treinador de marcha, e o atleta paralímpico, Luciano Reinaldo Rezende, do tiro com arco.

Apesar dos apelos dos senadores, na tentativa de corrigir o injusto critério, será difícil mudanças na legislação, regulada por lei, decreto, portaria e resoluções, para efeito imediato. Estes processos na administração pública são burocráticos e dependem, principalmente, da disponibilidade financeira, e ainda precisam passar pela aprovação do Conselho Nacional do Esporte, que se reúne apenas uma vez a cada semestre.

Enquanto isso…

… dos 27 competidores que recebem a Bolsa Pódio (até R$ 15 mil/mês), só dois chegam às finais no Campeonato Mundial de Atletismo deste ano …

… Mauren Maggi, ouro olímpico no salto em distância, 2008, anunciou que estava encerrando carreira, tornou-se comentarista de uma emissora de TV e continua recebendo Bolsa Atleta…

… o tenista Marcelo Mello, terceiro do ranking mundial, em duplas, já faturou, este ano, R$ 2,3 milhões em prêmios. Mesmo com esse desempenho profissional, recebe Bolsa Atleta de R$ 11 mil mensais e patrocínio (não revelado) dos Correios, patrocinador da Confederação Brasileira de Tênis.

Deve-se reconhecer que essas concessões são “legais”, ninguém está burlando a legislação. Mas demonstram que há distorçoes na lei, que precisam ser corrigidas urgentemente.

Origem e realidade

Quando foi criada, há dez anos, a Bolsa Atleta tinha o objetivo de beneficiar diretamente o atleta, que não via a cor do dinheiro de outras fontes financeiras do governo federal.

Com o passar do tempo, os patrocínios das estatais, principalmente, tornaram-se fartos, outras fontes surgiram. Atualmente, a Bolsa Atleta é mais uma parcela para os que já ganham muito, pois as provas internacionais oferecem, na maioria, expressivos prêmios em dinheiro. Enquanto os atletas que estão no início, na base, ou em evolução na carreira, têm rendimentos inexpressivos (R$ 370,00 mensais), comparados aos expoentes que faturam milhões, como no tênis, natação, canoagem, judô etc.

Na memória 

… faz 133 dias  que José Maria Marin, ex-presidente da CBF, está preso na Suíça.

… faz 105 dias do lançamento da primeira de cinco pesquisas do Diagnóstico do Esporte. E as outras?

… faz um ano e dois meses do final da Copa 2014, que teve R$ 1 bi de isenção fiscal. E o balanço financeiro do Comitê Organizador?

 


CPI da CBF está instalada. Romário é o presidente
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José Cruz

O senador Romário (PSB/RJ) foi eleito por aclamação para presidir a CPI da CBF, instalada hoje à tarde no Senado Federal. O relator será Romero Jucá (PMDB/RR). A primeira reunião de trabalho está marcada para 4 de agosto, na reabertura do Congresso Nacional, depois do recesso parlamentar.

A escolha de Romário e a indicação de Romero Jucá, realizada numa sessão relâmpago de 12 minutos,  ocorreu por acordo de lideranças, depois de conversas realizadas pela manhã.

Depois que o senador Omar Aziz, o mais velho dentre os parlamentares da CPI presentes, que presidiu a abertura dos trabalhos, anunciou o motivo da reunião, o senador mineiro Zezé Perrella (PDT)  indicou Romário para presidir a Comissão. “Romário trabalhou, colheu assinaturas para esta CPI, tem história no futebol”, afirmou Perrella.

“Quero fazer com o senador Jucá uma parceria para abrir esta caixa preta que se transformou o nosso futebol. Não merecemos o que está acontecendo, e os resultados demonstram a incapacidade e falta de profissionalismo na gestão do nosso futebol”, disse Romário.

A CPI está constituída pelos seguintes senadores

Humberto Costa (PT/PE), Zezé Perrella (PDT/MG) Donizeti Nogueira (PT/MG), Eunício Oliveira (PMDB/CE), Romero Jucá (PMDB/RR), Omar Aziz (PSD/AM), Álvaro Dias (PSDB/PR),  David Alcolumbre (DEM/AP), Romário (PSB/RJ), Fernando Collor (PTB/AL) e Ciro Nogueira (PP/PI).


Senado paga R$ 15 mil por palestra do ex-nadador Xuxa
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José Cruz

Na mesma  semana em que a área econômica do governo anunciou o corte de 70 bilhões no Orçamento da União – R$ 900 milhões no Ministério do Esporte –, com apertos nos programas sociais, da educação e da saúde,  o Senado Federal manteve as despesas supérfluas e pagou R$ 15 por uma palestra motivadora do ex-nadador olímpico, Fernando Scherer, o Xuxa.

A reportagem, de Marina Dutra, está no site dos Contas Abertas 


Xuxxa

Foto: Jeferson Rudy/Agência Senado

 


MP do futebol e o buraco nas finanças dos clubes: dívida de R$ 6,6 bilhões
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José Cruz

Se há uma coisa bem organizada no Brasil, é o futebol. A MP  enviada pela presidente Dilma foi para ajudar os clubes. … É preciso discutir. Para mim, ninguém tá certo nem errado”

(senador Omar Azis (PSD/AM), presidente de honra do Nacional do Amazonas).

Na audiência pública sobre a dívida fiscal dos clubes, o consultor de esportes, Amir Somoggi, mostrou  que o ano de 2014 foi o pior da história financeira do futebol, quando os clubes da Série A acumularam um déficit de R$ 598 milhões. Já o endividamento total somou R$ 6,6 bilhões. As principais dívidas são trabalhistas, bancárias, fiscais e com fornecedores.

Pior!

“As receitas desses vinte clubes não crescem há três anos, mas as dívidas evoluem”, disse Amir “Há uma dependência quase extrema das cotas de televisão, pois os patrocinadores não colocam mais recursos. Falta criatividade no marketing do futebol e os estádios continuam vazios”.

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E alertou:

“Daqui a alguns anos vamos estar falando em déficit de bilhões”! Amir Somoggi analisou os balanços de 2014 dos vinte principais clubes.

“As entidades do futebol insistem em um modelo de gestão sem racionalidade, insustentável e que caminha de lado. Mesmo que se resolva a questão fiscal, não se resolverá a gestão. Temos que forçar os clubes a reequalizar suas finanças. Se não repensarmos o modelo de administração do futebol brasileiro, ainda veremos clubes tradicionais fechando as portas”.

Modelo antigo

O advogado Pedro Trengrouse, da Fundação Getúlio Vargas, criticou a estrutura do nosso fuebol (clubes, federações, CBF). “Esse modelo foi criado na ditadura do Estado Novo, quando se determinou que seria uma única entidade a gerir o esporte.” Para ele, não adianta resolver o problema da dívida fiscal, porque o momento é de fragilidade dos clubes. “Essa discussão não pode ficar apenas na questão da dívida fiscal”, alertou.

O jornalista Walter de Mattos também acredita que a solução da dívida fiscal, previstas na MP 671, não é decisiva para solucionar os problemas gerais das finanças do futebol, amparados por sistema frágil e receita estagnada. Isso se deve, segundo Walter, a três questões preliminares: as federações e a CBF não se ocupam da melhoria do futebol; incapacidade para os clubes manterem bons jogadores no Brasil; e a baixa qualidade técnica dos jogos.

Por fora

Na audiência, realizada no Senado, terça-feira, ficou evidente que a maioria dos deputados e senadores da Comissão Mista não estão atualizados sobre o tema. Tivemos preciosidades assim?

“Se há uma coisa bem organizada no Brasil, é o futebol. A MP enviada pela presidente Dilma foi para ajudar os clubes. … É preciso discutir. Para mim, ninguém tá certo nem errado”, resumo do discurso do senador Omar Azis (PSD/AM), presidente de honra do Nacional do Amazonas.

Ou…

“Se o governo não ajudar agora, vai acabar! É só isso que se precisa, que o governo ajude o futebol! …” (Deputado Danrlei de Deus – PSD/RS).

Vai fechar

A reunião terminou com três parlamentares debatendo (foto). No plenário, apenas Andres Sanchez (PT/SP) ficou até o final, fora a presença protocolar do presidente da Comissão, Sérgio Petecão (PSD/AC)  e do relator, Otávio Leite (PSDB/RJ), e ausências importantes, como a do senador Romário (PSB/RJ).

Memória da CPI

A Medida Provisória é uma conquista do futebol…  Sou comunista, mas defendo um choque de capitalismo no futebol… Como enfrentar a desigualdade do futebol diante da realidade das desigualdades regionais”? (Deputado Orlando Silva (PCdoB/SP)

Sabe nada

Temos um futebol de mentira num país de hipócritas. A estrutura é desleal. Essa Medida Provisória é uma vergonha. O Mercadante é do meu partido (PT), mas ele não conhece nada disso … Sou da base do governo, mas está claro que o governo não quer ajudar… O maior problema dos clubes é a dívida trabalhista ... (Andres Sanchez – PT/SP)

Burrice

Deputado Deley (PTB/RJ):  “Estão me cutucando para ser presidente do Fluminense”

Deputado Andres Sanchez: “Não seja burro!

No próximo artigo: as contas dos clubes, segundo Amir Somoggi


As novas e boas “brigas” do senador Romário
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José Cruz

O ex-deputado Romário (PSB) e o jornalista gaúcho Lasier Martins (PDT) são os dois senadores com perfil de desportistas que assumiram o Senado Federal, ontem, sob o comando do reeleito Renan Calheiros (PMDB/AL).

Renan, que já se declarou “fã do Baixinho”, é amigo do ex-todo-poderoso Ricardo Teixeira, de quem Romário é inimigo e, por extensão, da própria CBF. rromrio

Teixeira não influencia mais, e o poder do atual presidente, José Maria Marin, está no final. Em abril, assumirá Marco Polo Del Nero, por quem Romário também não é “apaixonado”. Mas os poderes políticos da República e do futebol um dia se encontram e, então, é preciso conversar.

Não é só sobre os rumos dessa relação política-esportiva que se criam expectativas sobre o desempenho do senador Romário. Ele também atuará na Medida Provisória sobre a dívida fiscal dos clubes, atualmente em discussão por especialistas do governo e da sociedade.

Boa briga

Antes, a primeira “boa briga” de Romário – e do PSB – é tentar a presidência de uma das prestigiadas Comissões temáticas do Senado Federal.

As comissões mais importantes, como a de Educação, Cultura e Desporto, são destinadas aos partidos com maior bancada. O PSB tem sete senadores, estará na quinta ou sexta ordem de preferência. Além disso, o governo atua para que essa Comissão não seja entregue a parlamentares críticos, como Romário se mostrou, na Câmara dos Deputados. Principalmente agora, quando a educação está na prioridade da presidente Dilma Rousseff.

Mas, toda essa disputa dependerá, também, do prestígio e do jogo de cintura do “Baixinho”, principalmente junto ao amigo Renan, para tentar um lugar na privilegiada “janela”, mesmo tendo chegado agora ao Senado.


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