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Arquivo : Lars Grael

Samuca, do Projeto Grael para o pódio internacional da Vela de competição
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José Cruz

“Nunca parei para pensar na possibilidade de ser campeão Mundial da Classe Star, mas nos últimos anos começamos a ver que tínhamos chance, mediante aos resultados em outros campeonatos”

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 Entrevista de Samuel Carvalho, o Samuca, de 28 anos, proeiro de Lars Grael, campeões mundiais da Star. A competição, encerrada em 9 de novembro, foi disputada na Argentina e projetou, de vez, em nível internacional, um ex-aluno do Projeto Grael, desenvolvido em Niterói, às margens da Baía de Guanabara, combinando ensinamentos de cidadania, esporte e alto rendimento

Blog – Como chegastes ao Projeto Grael?

Samuca – Todo inicio de semestre, professores e coordenadores do Projeto Grael vão às escolas públicas de Niterói e fazem palestras chamando os alunos para participar dos cursos oferecidos. Em 2001, eles foram à minha escola, Escola Estadual Machado de Assis, no bairro do Fonseca, em Niterói. Fiquei muito interessado e fui fazer uma aula experimental. Foi paixão à primeira vista. Eu tinha 13 anos. Logo depois, meu pai faleceu. Ele era o único que trabalhava em casa. Minha mãe estava desempregada e meu irmão tinha 14 anos. O Projeto além de me ensinar a navegar, foi fundamental no apoio psicológico na falta do meu pai.

E a rotina no Projeto?

Minha turma tinha aula duas vezes na semana, mas eu ia todos os dias para ajudar os professores, e sempre sobrava um barquinho para eu velejar também. Durante a parte da manhã eu tinha aulas na escola e à tarde estava no Projeto, onde fui aluno de 2001 até 2004.

O que você estudava?

Estudei e me formei na Escola Técnica Estadual Henrique Lage, como técnico em máquinas navais, em 2005. Em 2007, entrei para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e conclui o curso superior de Desenho Industrial.

Lembras da primeira experiência como velejador?

Aprendi as noções básicas de Vela no veleiro optmist. Nunca tive barco meu. Ainda aluno do Projeto, em 2002, recebi o convite de um dos professores para velejar com o pai dele em uma regata. Foi a minha primeira experiência fora do Projeto. Depois, essa mesma pessoa abriu um curso de vela e me chamou para ser monitor do curso que ele ministrava, com isso comecei a entrar no universo dos clubes e marinas, dando aula e participando de regatas amadoras.

Além do Projeto, qual outro apoio ou patrocínio recebidos à época?

Consegui a Bolsa Atleta algumas vezes, mas há dois anos que não recebo, pois ficou mais difícil de conseguir. Nunca tive patrocinador, mas sempre tive pessoas que ajudaram, para não gastar dinheiro, me dando carona até o clube, deixando eu dormir no barco quando não tinha dinheiro para voltar para casa e no dia seguinte voltar para o clube. A loja náutica Mencaps sempre me ajudou com descontos generosos e até me presenteando com peças para os barcos que eu velejava. Academias como a R1 Fitness, academia do Paulinho e a UP fitness sempre me apoiaram não cobrando a mensalidade. Todos esses apoios fizeram e fazem a diferença na minha saúde física e financeira.

E a parceria com Lars Grael, como surgiu?

Eu já velejava com o Lars no barco clássico dele, Marga da classe 6metros, de 1933. Ele me convidou para velejar de Star, em agosto de 2011, depois da parceria dele com Ronald Seifert. A dificuldade maior foi ter que ganhar 20kg, para ter o peso ideal (105kg) para ser proeiro.

Aí veio a campanha para chegarem ao título mundial…

Nunca parei para pensar na possibilidade de ser campeão Mundial da Classe Star, mas nos últimos anos começamos a ver que tínhamos chance, mediante aos resultados em outros campeonatos. No último ano, chegamos perto desse título, quando ganhamos três regatas do Mundial na Itália. Esse ano, quando fomos para a última regata em segundo lugar, com chances reais de ganhar o campeonato, o coração com certeza batia mais forte. Tive quer reformar a concentração nas manobras e regulagem do barco para tudo dar certo.  A ficha só começou a cair quando chegamos em terra… e ainda está caindo…. Foi realmente um feito sensacional na minha carreira e, com certeza, conquistar esse título ao lado do Lars não tem preço.

A classe Star não é olímpica. Tens alguma possibilidade de disputar vaga na equipe nacional para 2016 em outro barco?

 É muito difícil mudar de categoria, pois cada uma tem um biótipo diferente para os velejadores. Mesmo que me adapte a outra classe, esbarraria na parte financeira. Os barcos olímpicos são muito caros, têm os custos de viagem e campeonatos no exterior. Para essa olimpíada a classificação é por indicação em algumas classes e por somatório de resultado em outras. Dessa forma já precisaria estar velejando e com resultados nessa outra classe.

Finalmente: qual a importância do Projeto Grael para a descoberta de talentos. Samuca4

A maior importância do Projeto, ao meu ver, é na parte social, que foi a principal razão para ser formado. Muito mais que ser um campeão Mundial em uma das classes mais difíceis de velejar, em 17 anos de história do Projeto Grael, foi ter instruído mais de dez mil jovens utilizando a vela como ferramenta para educação, ajudando a moldar o caráter desses jovens e dando um rumo na vida deles. Muitos que passaram pelo Projeto Grael evoluíram na careira que escolheram, influenciados pela convivência dentro do Projeto. Este ano, um amigo que começou comigo no Projeto se tornou comandante de uma das barcas que faz a travessia Rio-Niterói.

Na foto, da esquerda para a direita, ainda  alunos, nos anos de aprendizado:

Jônatas Gonçalves, Samuca, Geovani Ribeiro e Rafael da Hora.

Atualmente, todos trabalhando atividades afins com a náutica

Nota do Blog

 O Projeto Grael, também com iniciativas na área do meio ambiente, tem 41 alunos e ex-alunos atuando em 14 empresas náuticas nacionais. Entre outros, Jônatas Gonçalves, irmão de Samuca, formado em Educação Física pela UFRJ, trabalha na área administrativa da Confederação Brasileira de Vela. Geovani Ribeiro é comandante de uma das barcas que fazem a travessia Rio-Niterói, e Rafael da Hora está na Secretaria de Vela do iate Clube do Rio de Janeiro.

Depoimento de Lars Grael

“O primeiro contato com Samuca foi quando ele e o irmão, Jônatas, chegaram ao projeto.  Chamava a atenção aqueles dois irmãos apaixonados pelo projeto. Os olhos brilhavam. Era, também, marca da dupla, a educação e a disciplina que receberam dos pais. Ambos se formaram no ensino superior em universidades públicas.

Mesmo tendo concluído o curso de formação, eles voltaram ao projeto e se voluntariaram a apoiar. Pegavam um velho veleiro da classe Panamerica “Sunfish” e ficavam velejando…  Passaram a ser chamados a tripular pequenos veleiros de Oceano como tripulantes e, assim, chegaram ao título brasileiro da classe amadora Ranger 22`.

Samuca sempre se apresentava como voluntário e, em 2009, já competiu como proeiro de Star do suíço Peter Erzberger, no Campeonato Sul-Americano . Era sua estreia na classe Star.

Em 2011, os organizadores da Regata Cape Town-Rio nos procuraram convidando o Projeto Grael a indicar quatro velejadores para tripular o barco sul-africano “City of Capetown”. Samuca foi um dos selecionados.

Era uma meta ousada para estes quatro jovens de Niterói alçar a uma regata transatlântica. Samuel despontou como o líder do grupo e, após período de treinamento em Cape Town, virou o “imediato” (sub-comandante) do barco. Eles venceram a regata e a façanha gerou matéria no Jornal Nacional.

Fomos prestigiar a premiação da regata no Iate Clube Rio de Janeiro, e Samuca surpreendeu com um belo discurso decorado em inglês.

 Ainda em 2011, convidei Samuel a ser meu novo proeiro de Star. Ele precisava ganhar 18kg, meta que atingiu rapidamente. Na primeira velejada, quebramos um mastro e ficamos à deriva de noite sob a Ponte Rio-Niterói. Não tínhamos o menor entrosamento. Logo depois, obtivemos expressivos vice-títulos nos Campeonatos do Hemisfério Sul (vencido por Robert Scheidt/Bruno Prada) e Norte-Americano, em Tampa (EUA), vencido pelo campeão mundial de 2009, o americano George Szabo. Era o início de uma parceria vencedora.” 

Para saber mais:

http://josecruz.blogosfera.uol.com.br/2015/11/familia-grael-coloca-projeto-nautico-brasileiro-no-topo-do-mundo/

http://www.projetograel.org.br/


Família Grael coloca projeto náutico brasileiro no topo do mundo
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José Cruz

Há duas semanas, a “saga de um campeão” continuou, quando Lars Grael sagrou-se campeão mundial da Classe Star, na Argentina, tendo como proeiro Samuel Gonçalves, o Samuca, ex-aluno do projeto náutico da família Grael, às margens da Baía de Guanabara, em Niterói

Samuca

Em 2001, Lars Grael escreveu “A saga de um campeão”, livro em que narra a sua trajetória de atleta e o acidente de 6 de setembro de 1998, quando uma lancha atropelou o seu barco, no litoral de Vitória. Lars teve a perna direita decepada. Chegava ao fim o sonho de conquistar a terceira medalha olímpica, nos Jogos de Sidney-2000, mas surgia nova trajetória de conquistas de títulos internacionais e ensinamentos às novas gerações, através de um projeto social criado em 1998

Previsão

“… Enquanto atuava como sparing (após se recuperar do acidente), analisava minhas chances de disputar os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, na classe Star, de barcos com quilha, que exigem menos movimentação e por isso permitem que o condutor seja um amputado de perna” – escreveu Lars Grael em seu livro, há 14 anos, o que motivou a seguinte entrevista:

BlogNo momento dessa narrativa havia esperança de voltares a ser destaque mundial, como agora, conquistando o Mundial na Classe Star?

Lars: Mínima sim, mesmo que fosse uma meta ambiciosa. A vitória do primeiro título Sul-Americano (após o acidente) em 2005 e o Troféu Benetti na Itália, em 2006, me deram a dimensão do possível. A medalha de bronze no Campeonato Mundial de 2009, alimentou este sonho.

Aos 51 anos, como avalias teu preparo físico para as constantes cambadas numa competição?

As cambadas (mudar a vela de lado) no Star não são tão simples, dado altura cruelmente reduzida da retranca deste barco desenhado em 1911. Por outro lado, por ter um cockpit estreito, permite que minha deficiência seja menos relevante do que em outras classes internacionais de veleiros de competição. Uma regata de campeonato mundial, gira em torno de 15 a 40 cambadas por regata, fora as manobras de Gybe (quando a cambada ocorre com Vento de Popa), e ainda, as manobras de deslocamento para raia e pré-largada. Preparo físico está adequado, mas pode melhorar… (sempre). Este esforço com 51 anos e considerando a deficiência, é questão de raça e muita força de vontade!!!

A conquista do Mundial teve significado maior por ter sido com um proeiro (Samuel Gonçalves), ex-aluno do Projeto Grael?  Como isso pode alertar o governo para a importância desse tipo de projetos?

Só a mídia pode contribuir com esta conscientização. O fato do proeiro campeão mundial ser oriundo de um projeto sócio/esportivo, é algo muito simbólico. Samuel tornou-se um grande velejador e acumula títulos na classe Star (Brasileiro; Sul Americano e Bacardi Cup), assim como, em 2011 conquistou a regata Cape Town to Rio como tripulante (e outros 3 alunos do Projeto Grael) do veleiro sul-africano “City of Capetown”

Você foi o idealizador e primeiro gestor do “Projeto Navegar”, no Ministério do Esporte. Quantos núcleos do Navegar ainda temos?

O Projeto Grael deu início às suas atividades práticas em agosto de 1998, um mês antes do meu acidente. O Projeto Navegar teve seu inicio no segundo semestre de 1999, com a implantação dos núcleos de Santarém (PA) e Brasília (DF). 19 núcleos foram instalados, mas infelizmente poucos mantem atividades, como, por exemplo, o núcleo de Ilhabela (SP) que é uma usina de novos velejadores, dos quais vários já consagrados na Vela.

Leia amanhã:

Quem é Samuel Gonçalves, o Samuca, que aprendeu a velejar no projeto náutico da Família Grael, e se tornou campeão mundial, como proeiro de Lars

Para saber mais:

http://www.projetograel.org.br/institucional/index.php


Baía de Guanabara: Pior que a magnitude do problema e negar sua existência
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José Cruz

MENOS!

Por Lars Grael

Na matéria do Fantástico da TV Globo de domingo, vimos o esforço do Secretário de Ambiente do Estado do RJ de tentar provar que a Baía já está limpa como as águas de Ipanema e da Barra.

A imagem de um mergulho na entrada da Baía de Guanabara, no momento da maré enchente (quando as águas mais limpas do mar, entram pela Baía) e em dia de lua cheia (maior amplitude de marés), é uma tentativa de confundir com uma realidade mostrada pela mesma emissora numa série de matérias.

BAÍA Seria como mostrar a foto,   tirada neste mesmo final de semana pelo Lourenço Ravazzano, na mesma entrada da barra em momento de maré vazante (quando as águas fétidas da baía saem para o mar), fosse o padrão normal. Muito pior que a magnitude do problema, é negar sua existência.

O artigo completo do velejador Lars Grael, sobre o mergulho do secretário André Correa está aqui

 

 


Lars Grael é vice continental na classe Star
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José Cruz

A uma semana de assumir a presidência da Comissão Nacional de Atletas, no Ministério do Esporte, o velejador Lars Grael voltou ao pódio das competições internacionais, desta vez para receber a medalha de prata, no campeonato do Hemisfério Ocidental da Classe Star, em Miami, prova em que ele defendia o título do ano passado. Ao lado do proeiro Samuel Gonçalves, Lars venceu a última das sete regatas, com a participação de 39 barcos de sete nações. O próximo compromisso dos brasileiros será o Campeonato Europeu, em Gaeta, Itália, de 2 a 7 de junho.

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A dupla campeã em Miami foi Brian Ledbetter (prata olímpica na classe Finn) e Joshua Revkin, dos Estados Unidos. Essa foi a quarta competição que  Lars e Samuel disputaram nos Estados Unidos, desde janeiro, e em todas foram ao pódio. Outro brasileiro, Bruno Prada, proeiro do norte-americano John Maccausland terminou a competição em quinto lugar.

Estrelas

Na prova estavam alguns dos mais expressivos velejadores mundiais, como o medalha olímpica e campeão mundial da Star, Paul Cayard. Ele já venceu a tradicional “Louis Vuitton Cup” e foi finalista da America´s Cup, como timoneiro do Il Moro de Venezia. Paul também venceu a primeira edição da Volvo Ocean Race, Regata Volta ao Mundo.

“Estamos felizes com o final da campanha norte-americana. Fomos terceiros colocados no Levin memorial, vice campeões do Midwiters, campeões da Bacardi Cup e agora vice-campeões do Hemisfério, que contou com alguns barcos brasileiros que também se destacaram, como o Marcelo Fuchs e o Dino Pascolato. Este foi o segundo título expressivo de abril. No início do mês, Lars e Samuel  conquistaram o Campeonato Brasileiro, disputado na Guarapiranga, em São Paulo.

Resultado final:

  1. Brian Ledbetter e Joshua Revkin, EUA, 15 pontos perdidos
  2. Lars Grael e Samuel Gonçalves, BRA, 27 pp
  3. Paul Cayard e Brian Terhaar, EUA, 42 pp
  4. Augie Diaz e Arnis Baltins, EUA, 43 pp
  5. John Maccausland e Bruno Prada, EUA/BRA, 44 pp

O primeiro desafio da Comissão Nacional de Atletas
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José Cruz

O Ministério do Esporte informa que a posse do velejador Lars Grael na presidência do Comissão Nacional dos Atletas será em 29 de abril. Está nos atletas a última esperança para mostrar um rumo ao setor, em nível de governo, principalmente para depois dos Jogos Rio 2016. Já do Conselho Nacional do Esporte não podemos esperar contribuição expressiva. Como nas gestões anteriores, o colegiado é obediente às decisões ministeriais.  E sob o comando do ministro George Hilton ainda nem se reuniu. Lars e George

Realidade

Conversando com gente de três escalões do Ministério do Esporte, ouvi manifestações do tipo: “O ministério está em frangalhos”;  “Funcionários que entram saem pouco depois por falta de trabalho ou de perspectivas”;  “O Ministério está sem comando, sem filosofia de continuidade, sem entrosamento entre os setores, sem diálogo entre os funcionários, sem intercâmbio entre os programas”.

Mais: está com o orçamento contingenciado, isto é, nada de gastos, o mal maior da Esplanada dos Ministérios a cada início de governo. A questão é que estamos a menos de 500 dias dos Jogos Rio 2016.

Essa “desordem institucional” é “natural” em todas as pastas, provocada pela chegada de políticos sem compromisso maior com os setores, acompanhados de seus assessores de ocasião.

Esse é o panorama da Pasta que reativará a Comissão de Atletas, que são idealistas, antes de tudo, conhecem os bastidores da disputa, as dificuldades para se tornar profissional, a burocracia dos órgãos de governo. A expectativa é se o Ministério terá quadros à altura para executar as propostas que desse grupo sairá.

Preliminarmente….

Diante do quadro institucional e financeiro do esporte, qualquer sugestão de mudança precisa, antes, de respostas fundamentais, como algumas que neste espaço já foram apresentadas:

O que quer o governo federal com o esporte em todos os seus níveis?

Compete ao Estado financiar o alto rendimento, o esporte profissional?

Por que não dar prioridade ao desporto escolar, no discurso oficial há mais de vinte anos?

Qual a competência e limites de atuação dos demais entes esportivos, inclusive em nível de Executivo, nos estados e municípios?

Enquanto isso…

Está atrasada oito meses a entrega da pesquisa nacional para “consolidar uma política de Estado para o esporte”.

O trabalho, ao custo de R$ 3,9 milhões, sob a coordenação da Universidade Federal da Bahia, deveria ter apresentado a primeira versão em agosto.

O perfil da realidade nacional abrange “infraestrutura do esporte”, “legislação, financiamentos públicos”, “recursos humanos” e “contribuições científicas disponíveis”.

Ainda sem data para divulgar.


Rio 2016, a Baía de Guanabara e a manifestação de Lars Grael
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José Cruz

Do velejador e medalhista olímpico Lars Grael, patrimônio ético do nosso esporte, recebi a seguinte mensagem, a propósito do eterno debate e indecisão governamental sobre a limpeza-despoluição da Baía de Guanabara, local das regatas dos Jogos Rio 2016

 

Lars

“Cabe esclarecimento quanto à noticia veiculada de que o Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael) “irá” receber recursos da Secretaria de Estado de Ambiente – SEA do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

 O regime de contratação anunciado seria “de caráter emergencial e sem necessidade de licitação”.  Primeiramente quero afirmar que fiquei surpreso ao tomar conhecimento da possível parceria pela mídia. 

Nosso irmão Axel é um ambientalista; Engenheiro Florestal;  ex Presidente do Instituto Estadual de Florestas – IEF; ex Presidente da FEEMA (atual INEA) e ex Secretário Adjunto do Estado de RJ de Meio Ambiente. Atualmente Axel é Vice Prefeito de Niterói e foi presidente do Instituto Rumo Náutico que é a Organização Social responsável pelo Projeto Grael (fundado em 1998).

Axel é um dos mais respeitados profissionais que dedica-se ao aos estudos dos problemas da Baía de Guanabara.

O projeto apresentado nesta 4ª Feira à SEA, é um dos mais completos e tecnicamente embasados projetos de contenção,  e ainda, captura de lixo flutuante da Baía de Guanabara.

Pessoalmente sou tecnicamente favorável a execução do projeto. A tecnologia proposta, foi implementada com sucesso por exemplo em: Baltimore tem ecobarreiras e ecobarco no Waterfront, Os canais de Amsterdam têm sistemas de retirada de lixo, O Tamisa tem, Roterdam tem, os canais da França tem…

 Temos que deixar claro que a despoluição é diretamente relacionada aos índices de saneamentos da região metropolitana do Rio de Janeiro. A meta de 80% era sabidamente utópica. Assumir o não cumprimento da meta, chega a ser uma virtude no sentido de os governos buscarem uma solução real e factível para a bela, porém,  poluída Baía de Guanabara.

 O que está em discussão não é a despoluição, das águas, mas a captura de lixo nas águas da Baía.

 A proposta da SEA neste caso, é um plano chamado por muitos de “paliativo”, porém, fundamental na redução de detritos flutuantes nas raias olímpicas da Vela de 2016. O eventual êxito deste projeto, gerará efeito positivo em 2 outras modalidades olímpicas: a Maratona Aquática e a parte da natação do Triatlo, ambos realizados em Copacabana e sob efeito das águas da Baía de Guanabara.

 O Instituto Rumo Náutico – IRN é uma organização social que tem suas origens no Projeto Grael, concebido em 1996 e implantado em 1998.

 Mais de 13 mil jovens tiveram acesso ao Projeto Grael. Mais que uma escola de Vela, é um projeto de inclusão social através da Vela, o Projeto Grael especializou-se na educação ambiental, início a Natação e no ensino técnico profissionalizante.

 O que está em discussão no Conselho Diretor do IRN, é se a entidade seria capaz de assumir obrigações e responsabilidades, originalmente do Estado do RJ.

 1503 dias se passaram e praticamente nada foi feito no sentido de solucionar o risco ambiental previamente conhecido da Baía de Guanabara.

 O Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG tardou mais de 2 décadas e poucos resultados são perceptíveis.

 Faltam menos de 500 dias para os Jogos Olímpicos Rio 2016 e nossa pergunta é: Dá tempo de despoluir? Provavelmente a resposta será NÃO, porém é possível reduzir o desgaste, se houver prioridade e vontade política nas obras de saneamento. É possível evitar a presença de lixo na raia Olímpica? Provavelmente não, mas é possível reduzir substancialmente a quantidade deste lixo.

 Nossa razão de ser (Core Business) do Instituto Rumo Náutico, é educar e capacitar para a mentalidade marítima e cidadania através da Vela.

 Seríamos capazes de solucionar a questão do lixo flutuante nas raias Olímpicas? Provavelmente não.

 O IRN não possui interesse e nem fica motivado por uma contratação emergencial sem a necessidade de licitação. Outras ONG`s; OSCIP`s ou empresas privadas podem fazê-lo com maior agilidade, conhecimento técnico, operacional e estrutura para tal.

 Como disse, sou favorável ao mérito, mas contra o IRN ser o gestor direto do referido projeto. Não é nossa vocação substituir o papel do Estado, mais ainda sob o risco institucional de uma dispensa de licitação.

 Podemos ajudar agregando conhecimento técnico e capacitando mão de obra.

 Gerir? Sou pessoalmente contra. O Conselho Diretor definirá nesta 2ª Feira. À partir de 2ª Feira, teremos uma posição definitiva se o IRN será gestor, ou, meramente apoiador do projeto.”

 Bons Ventos,

 Lars Grael

 Idealizador e fundador do Projeto Grael e atualmente e conselheiro do Instituto Rumo Náutico.


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