Blog do José Cruz

Arquivo : novembro 2014

O esporte de alto rendimento e as experiências escolares
Comentários Comente

José Cruz

Por André Luís Normanton Beltrame

O que seria a escola, se não uma instituição social ligada às relações entre educação, sociedade e cidadania? Abordando desta forma, o que pensar de projetos e práticas pedagógicas esportivas neste âmbito? Não deveriam ter diálogo com os interesses e anseios da comunidade que a circunda e a sociedade, num contexto mais amplo?

Mesmo sendo a Constituição bem clara no seu artigo 217 e no Decreto nº 7.984/2013, quando fala sobre esporte educacional, o país ainda peca por não operar de forma adequada a iniciação esportiva nas escolas. 7250

O caso é grave, está na “esteira” do que o país tem construído como legado ao povo. A gênese que se manifesta, encontra abrigo em uma narrativa “biologizante” – quando o aluno se torna atleta e sua aula vira treino – que prioriza o alto rendimento. Isso ocorre, inclusive, com o esporte escolar, que historicamente submete-se à hierarquia de modelos do esporte adulto, e acaba tornando-se a mesma coisa.

Utilizando o “academiquês”, ao se oferecer o esporte assim, erroneamente tratamos o assunto sob a perspectiva ontológica e não epistemológica, como deveria ser.

Isto não acontece do nada. Pelo contrário, é bancado por políticos e dirigentes esportivos que tratam a questão baseada no orgulho e representatividade e não no que deveria ser, o seu dever social. Não tratam de modo isonômico o esporte educacional, de participação e o de rendimento, levando em conta suas especificidades e características, como propalado nos debates realizados na I e II Conferências Nacionais do Esporte, em 2004 e 2006.

Trago esta percepção, de modo mais elaborado, depois de uma investigação recente, realizada ao longo de dois anos. Convivendo com professores, coordenadores e alunos, de um projeto esportivo, participei de reuniões e eventos esportivos, procurando observar como na verdade o trabalho vinha sendo feito; quais seriam seus objetivos e se atenderiam de alguma forma pressupostos do esporte educacional.

Acabei percebendo que, ao invés de fomentar a prática de seus participantes, dentro de um contexto subjetivo, prevalecendo o reconhecimento do outro e valorizando a empatia com o esporte, o projeto conduzia a uma “objetificação”, onde a aula, inundada de metas por resultados, acabava substituindo o que deveria ser uma experiência educativa de fato para uma busca estressante por medalhas, patrocínios e Bolsas-Atleta.

Percebi, finalmente, que este modus operandi traduzem, assim, fielmente o poder simbólico das competições adultas, o que formata a Educação Física Escolar e o Esporte em algo que deve seguir códigos e normas das instituições esportivas somente, sem outras possibilidades.

André Luís Normanton Beltrame é professor de Educação Física há 14 anos pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Atualmente está Doutorando em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília.


Bancada da CBF ganha reforço externo na Câmara
Comentários Comente

José Cruz

Com o quadro político nacional conturbado pelo escândalo da Petrobras e disputas partidárias na formação do ministério, está difícil votar o projeto de lei sobre a dívida fiscal dos clubes de futebol. O projeto deverá ser apreciado só em 2015, quando 198 novos deputados assumirão, renovando a Câmara em 38%.

O adiamento favorece a cartolagem, agora reforçada por Eurico Miranda, novo presidente do Vasco. mirandaoooEurico (foto) conhece tudo sobre a dívida fiscal dos clubes de futebol, pois foi um dos que ajudou nesse calote. Certo é que a participação dele nessa negociação mudará o diálogo com o Bom Senso F. C, principalmente. Será mais duro, com certeza.

Confissão de dívida

Este ano, numa audiência pública na Comissão de Esporte da Câmara, Eurico contou que os cartolas (ele, inclusive) não repassavam ao governo os valores arrecadados dos atletas e funcionários. O tempo passou, a dívida cresceu e houve incidência de juros e correções. Resultado: débito extraoficial de R$ 4 bilhões.

Reforço

Ex-deputado federal, Eurico Miranda tem trânsito facilitado na Câmara dos Deputados e fortalecerá a tropa de choque que defende os interesses do futebol, atualmente liderada pelo deputado Vicente Cândido (PT/SP).  Na semana passada, Eurico visitou o presidente da CBF, José Maria Marim, e o futuro, que assume em março, Marco Polo del Nero. Devem estar afinando o “diálogo”…

A próxima semana, a 15 dias de encerrar os trabalhos legislativos, será decisiva para a definir as principais votações, mas dificilmente  o projeto de lei da renegociação da dívida fiscal entrará na ordem do dia antes do recesso parlamentar.


O que esperar do ministro do Esporte?
Comentários Comente

José Cruz

Com o anúncio da equipe econômica, a presidente Dilma começa a mostrar a cara de seu novo ministério. Aldo Rebelo (foto) continuará à   frente do Esporte? aldo

Independentemente de nomes, a Olimpíada Rio 2016 é a principal meta do governo no setor. Nesse processo, o Ministério continuará sendo apenas repassador de recursos públicos. O Comitê Olímpico do Brasil já cuida da equipe de competição, e a Autoridade Pública Olímpica dá ritmo às obras das arenas, com envolvimentos da Prefeitura do Rio de Janeiro e do governo do Estado. O que sobra para o Governo se não financiar as despesas?

Projeção

Ao final de 2018 completaremos 16 anos de PT, correspondendo a quatro ciclos olímpicos. O governo até poderá exibir evolução de atletas no quadro de medalhas. Se isso ocorrer, será com base em modelo que privilegiou o competidor de ponta, ali concentrando o grosso do dinheiro público. Mostraremos resultados ilusórios, como se fôssemos uma real potência esportiva, mas sem que tivéssemos criado um modelo de fortalecimento dos clubes, com garantias de confiança para atleta em início de carreira.  Continuamos capengas neste sentido e não há perspectivas de mudança. Precisaríamos de decisão de governo e vontade política. Temos isso?

Assim, o nome do futuro ministro pouco representará em termos de evolução, apesar do forte envolvimento financeiro do Estado com o esporte em geral, o futebol profissional, inclusive.


O esporte a serviço da lavagem de dinheiro
Comentários Comente

José Cruz

A “Operação Trevo” da Polícia Federal está desmontando uma quadrilha de lavagem de dinheiro que agia em 13 estados e usava o esporte como disfarce.

O grupo promovia sorteios semanais a partir da venda de títulos de capitalização, repassando parte da arrecadação para entidades beneficentes de fachada ou federações de tênis.

O ponto de partida da ação policial foi Pernambuco, com 12 mandados de prisão temporária, 24 de prisão preventiva, 57 de busca e apreensão e 47 mandados de sequestro de valores foram cumpridos.

capssPara a polícia, os valores arrecadados eram repassados às entidades filantrópicas de fachada ou instituições esportivas, fazendo com que o dinheiro ilícito retornasse ao grupo, numa operação que caracteriza lavagem de dinheiro.

Em 2012, a parceria dos sorteios era com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT). A partir de 2013, as beneficiadas foram as federações estaduais. Porém, não se tratava de “capitalização”, mas sorteio, apenas. Na própria cartela havia um aviso, em letras minúsculas: o dinheiro “capitalizado durante o ano” seria destinado integralmente à federação de tênis dos estados envolvidos.

Além de Pernambuco, a operação da polícia se estendeu por Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em Brasília, a Federação de Tênis já esta sendo investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal.

Depois do escândalo dos bingos, proibidos por lei, essa é a nova forma de usar instituições esportivas para lavagem de dinheiro. É assim que a Confederação de Tênis, filiada ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), e federações estaduais filiadas, acabam fortalecendo a ação de quadrilhas criminosas de lavagem de dinheiro.


O esporte na rota da corrupção
Comentários Comente

José Cruz

Não são só empreiteiras. As parcerias entre estatais e instituições do esporte também precisam ser investigadas. Banco do Brasil, Caixa, Infraero, Correios, Eletrobras e Petrobras são as investidoras de ponta. Há muitos anos.

Agora, começo a entender: estranhamente, bem antes de estourar o escândalo atual, a Petrobras já não respondia minhas indagações. Eram pedidos de informações muito simples, como os valores investidos nas modalidades patrocinadas. Como ocorre no Ministério do Esporte, o silêncio já estava decretado.

Com o escândalo agora também investigado nos Estados Unidos, os envolvidos se entregando e até apresentando provas de pagamento de propinas, surgem suspeitas sobre as relações da Petrobras com o esporte, além dos tradicionais “investimentos”. Por exemplo, o lobista Fernando Soares “Baiano”, preso, foi dono de uma academia famosa, no Rio de Janeiro, vendida em 2013 para um empresário, em transação limpa, conforme divulgou a imprensa carioca. real-ok

Meio campo

Mas era através dessa academia, que Baiano chegava a dirigentes esportivos, alguns de influência expressiva, promovendo a aproximação com assessores e o próprio Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal, preso em março deste ano, mas já em prisão domiciliar, o tal que abriu o bico e deu no que se está vendo. Os detalhes dessas relações, em forma de “consultorias” deverão ser revelados pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista der Inquérito). “Deverão”, porque estamos falando de políticos…

Silêncio

Esse escândalo confirma que procediam as indagações sobre operações nebulosas envolvendo dinheiro público nos milionários negócios do esporte, desde o Pan 2007. Já sabemos sobre as propinas olímpicas e para a escolha de sede de Copa do Mundo. A própria preparação do Rio 2016 esconde casos nebulosos, como a construção do campo de golfe, obras no Engenhão, as destruições do Velódromo, da pista de atletismo Célio de Barros, do Autódromo da Barra, do Estádio de Remo da Lagoa etc. Os órgãos de fiscalização do governo, por mais eficientes que sejam, não conseguem acompanhar a velocidade da corrupção em geral, e o esporte, com o apelo das “emoções”, acaba no esquecimento.

Os R$ 6 bilhões gastos no último ciclo olímpico são insignificantes diante dos bilhões revelados no escândalo da Petrobras. Mas é dinheiro “do público”, do “contribuinte”, que precisa de esclarecimento rigoroso sobre os seus rumos.

Auditorias em todos os segmentos e instituições beneficiadas pela Lei de Incentivo ao Esporte, convênios com o Ministério do Esporte, Bolsa Atleta, patrocínio das estatais, Lei Piva, salários dos cartolas pagos com verbas públicas e por ai vai.

Teremos isso?


Nada a ver
Comentários Comente

José Cruz

Os artistas da agência paulista Birdo Produções se inspiraram na fauna e na flora brasileiras e misturam “ficção e realidade” para criaram os mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Esses bichinhos, nascidos em telas de computadores, não traduzem a riqueza da diversidade da flora e fauna nacionais. Isso sem falar nas sugestões de nome, “Oba” e “Eba”. Por que não “Toma Lá” e “Dá cá”?

MASCOTE

Inesquecíveis

O urso Micha, nos Jogos de Moscou, 1980, e o tigre Hodori, Seul, 1988, continuam sendo referências. E ficamos por aí.

Misha

 

Hodori

O Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 poderia ter aproveitado o assunto para divulgar nas escolas ensinamentos sobre o significado dos Jogos Olímpicos e sua importância para o Brasil. Um trabalho com o Ministério da Educação incentivando a participação de milhares de alunos, universitários, inclusive, descobrindo-se, quem sabe, talentos artísticos e criativos ainda sem chances de exibirem suas artes. O legado da participação popular, pelo menos, estaria garantido.

Logotipo

O marca dos Jogos Rio 2016 já tinha sido motivo de polêmica, pois sugere arte estilizada do quadro “A Dança”, do francês Henri Matisse. A mesma arte já havia sido grosseiramente copiada pela fundação norte-americana Telluride.

O QUADRO DE MATISSE                                                                                                        Simbolo

midia_matisse_a-danca


“Golpe de valor”, o feito do ano no esporte
Comentários Comente

José Cruz

O COB (Comitê Olímpico do Brasil) realizará a tradicional festa dos destaques do esporte em 16 de dezembro.

Há novidades, indicando renovações, como as campeãs mundiais Martine Grael e Kahena Kunze, na vela, e Ana Marcela Cunha, na maratona aquática. E a surpresa, Marcus Vinicius D’Almeida, de 16 anos, vice mundial no tiro com arco.

Independentemente de pódios, o COB deveria homenagear outro jovem talento, o paulista Guilherme Forman Murray (foto). murray

O feito

Aos 12 anos, esse esgrimista foi o autor de um dos mais belos gestos que sintetizam todos os outros resultados no esporte, pódios e medalhas, inclusive.

Como já noticiei, Guilherme disputava aos oitavas de final do Panamericano de Esgrima, em Aruba, no Caribe. Poderia avançar no certame, mas ao ter validado um toque, Guilherme alertou o árbitro que não havia tocado o adversário com o florete, arma que disputa. O árbitro acatou, Guilherme perdeu o ponto e saiu da competição.

Caráter , ética e educação mostram o verdadeiro “espírito olímpico” difundido pelo COB. Mas foram, principalmente, nos ensinamentos da família e dos técnicos, no Club Athletico Paulistano, que Guilherme aprendeu a respeitar o adversário. Guilherme é bisneto do corredor Sylvio de Magalhães Padilha, ex-presidente do COB, morto em 2002.

Guilherme Murray é campeão brasileiro e sul-americano, e por seu feito fora do pódio a Associação de “Panathlon Clubes”, que defende os valores do esporte, homenageou o jovem brasileiro.

O feito do garoto teve repercussão nacional. Discreto, ele comentou:

“O pessoal no Brasil não está muito acostumado com isso (a lisura no esporte). Não fiz nada de mais, apenas o correto”.

Na minha avaliação, o gesto de Guilherme é o “feito do ano” no esporte.


Corrupção no Ministério do Esporte não ficou no esquecimento
Comentários Comente

José Cruz

A corrupção, que está na ordem do dia da política econômica e policial, incentivou-me pesquisar sobre casos famosos denunciados na área do esporte.  O programa “Segundo Tempo” tornou-se referência no setor e provocou, inclusive, a demissão do então ministro Orlando Silva (foto), eleito deputado federal por São Paulo. Orlando silvaEle fechou os olhos e não investigou as denúncias de desvio das verbas que liberava.

A Justiça leva de oito a dez anos para concluir uma investigação e mandar os ladrões para a cadeia, como demonstrado no Mensalão. Portanto, muitos dos casos registrados no Segundo Tempo ainda são investigados por órgãos de governo. Além disso, falamos de “misérias”, pouco mais de R$ 100 milhões desviados…  enquanto a corrupção dos tempos modernos está pra lá de bilhões, valores mais atrativos para notícia de jornal, inclusive.

O ponto de partida para essa investigação de longo prazo que reinicio é o relatório da CPI da ONGs, no Senado Federal, de outubro de 2010. No período analisado pelos senadores, as ONGs do esporte receberam R$ 106 milhões. Mas não há no relatório da CPI referências aos principais casos do Ministério do Esporte. Faz sentido, pois o relator da Comissão de Inquérito, que elabora o documento final, foi o senador Inácio Arruda, que é do PCdoB, partido que ocupa o Ministério do Esporte desde 2003.

Há outras formas de desviar o dinheiro do esporte. A Bolsa Atleta, por exemplo, provocou a criação de uma indústria de documentos falsos para que supostos competidores ganhem dinheiro fácil, aproveitando a falta de controle do Ministério do Esporte.

Pouquíssimos funcionários com capacitação cuidam da prestação de contas da Lei de Incentivo ao Esporte e das verbas liberadas por “convênios”, o que acaba facilitando a ação dos ladrões, como ocorreu na Confederação Brasileira de Tênis, neste blog registrado com provas.

É nesse panorama que as empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras construíram espaços esportivos para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, Copa do Mundo e, agora, comandam o espetáculo para a Olimpíada de 2016. Reportagem do UOL Esporte detalha sobre isso.


O esporte em berço esplêndido. Aplausos para o ministro
Comentários Comente

José Cruz

Entre colegas parlamentares e num ambiente fraterno, com trocas de elogios e gentilezas, o ministro Aldo Rebelo exibiu o panorama do esporte nacional, nesta quarta-feira, na Câmara dos Deputados, algo na base da “ordem e progresso”. Em audiência pública na Comissão de Esporte, o ministro voltou a exaltar a festa do futebol, a segurança e alegria populares na Copa do Mundo. AldoRabelo1

Aldo Rebelo também anunciou o “legado antecipado” dos Jogos Olímpicos Rio 2016, graças à construção da rede de centros de treinamento de alto rendimento e cobertura de dez mil quadras esportivas. O esporte em berço esplêndido, como nunca!

Enquanto isso…

Três meses depois da Copa, está claro que o Brasil “funcionou” apenas para os 30 dias de jogos. Agora, os desmandos são evidentes, na economia e nos serviços públicos, principalmente. O Brasil da Copa foi peça montada para turista ver.

Legado antecipado

Sobre “legados” olímpicos anunciados pelo ministro Aldo: são reais as obras, mas estão inseridas em que plano de longo prazo? Que garantias se tem de continuidade desses espaços, depois de 2016? De onde sairão os recursos para manutenção dos centros de treinamentos?  Sem os Jogos Olímpicos, não teríamos esses investimentos?

A propósito…

Em 1997 o governo federal criou a “Rede Cenesp”, centros de ciência e pesquisa do esporte, vinculados às universidades. Em 2003, esses ricos espaços acabaram. A rede rompeu, coincidentemente com a chegada do PCdoB ao Ministério do Esporte. O abandono dos centros e equipamentos é retrato negativo do legado do desperdício.

Está claro que o governo trabalha em cima de projetos emergenciais. Precisamos ficar no top 10 dos países olímpicos e tudo se volta para isso, o dinheiro, inclusive.

Mas não há um projeto de esporte de longo prazo, com garantias orçamentárias. Sem exageros, vivemos a mesmice do século passado e, por isso, o discurso do ministro Aldo Rebelo é sem novidade, porque ele, também como deputado, é ator desse cenário repetitivo de longo prazo.

Finalmente

No discurso oficial de quarta-feira, não se observou em Aldo Rebelo o tom melancólico de despedida, dos que estão deixando a Esplanada dos Ministérios, neste fim de governo.

De repente, a exemplo de Dilma, consagrada pelo voto, Aldo continuará ministro, prestigiado pelo dom de controlar a nau do esporte nas águas agitadas dos megaeventos.


Petrobras: escândalo anunciado é alerta para os Jogos Rio 2016
Comentários Comente

José Cruz

Em maio deste ano, auditores do TCU elaboraram um relatório sobre os principais investimentos do governo, nas obras dos Jogos Rio 2016, inclusive. O documento foi encaminhado ao Congresso Nacional.

Fora do esporte, o item 90 desse relatório alerta para um “possível prejuízo da Petrobras”, decorrente de suas relações empresariais nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, entre outras.

Os alertas vêm de 2008! Há seis anos, portanto.

petrobras Agora, a Petrobras protagoniza o maior escândalo de corrupção que se tem notícia no país. Sem exageros, o escândalo foi anunciado.  Está no relatório do TCU, sobre a tal Refinaria:

“Nessas auditorias foram encontrados indicativos de sobreavaliação dos custos, restando em discussão, após análises de manifestações dos responsáveis, possíveis pagamentos indevidos da ordem de R$ 600 milhões nos contratos indicados. Nas mesmas obras, em fiscalizações supervenientes, evidenciaram-se outros indícios de superfaturamento, relacionados à adoção de critérios de reajustes contratuais inadequados, que podem ter ocasionado prejuízos adiciona is aos cofres da Petrobras de cerca de R$ 370 milhões.”

 E o esporte?

Essa clareza de informações é típica dos relatórios do TCU. Da mesma forma alertaram nas obras para os Jogos Pan-Americanos de 2007, cujos resultados efetivos ainda carecem de transparência pública.

A correlação do escândalo da Petrobras com o esporte vem a propósito das inúmeras obras para os Jogos Rio 2016. Ali estão sendo colocados recursos públicos, como os que o próprio TCU discrimina em seu documento de fiscalização. Até maio deste ano, o governo já havia repassado os seguintes valores para obras conduzidas pela Prefeitura do Rio de Janeiro:

 RIO 2016/ REPASSES FEDERAIS/em R$ milhões
Centro Olímpico de Tênis175,40
Velódromo Olímpico119,00
Centro de Esportes Aquáticos225,30
Centro Olímpico de Handebol178,00
TOTAL 697,70

 

Seria oportuno que as autoridades do Ministério do Esporte lessem, agora, os relatórios pelo TCU sobre esses repasses, para que não sejam “surpreendidos”, no pós-Jogos, com notícias de superfaturamentos ou corrupção e, quem sabe, evitando mais um “escândalo anunciado”.

* Colaborou o repórter Daniel Brito, do UOL Esporte, em Brasília.