Dilma quer a imprensa longe das investigações sobre corrupção
José Cruz
Dilma, há dois meses:
“Prefiro o barulho da imprensa ao silêncio da ditadura”.
Dilma, ontem:
“Não é função da imprensa fazer investigação e sim divulgar informações”.
A presidente estava indignada com as perguntas dos repórteres sobre o escândalo da Petrobras etc e tal.
Certo é que, sem os repórteres investigativos teríamos nos jornais a repetição do Diário Oficial da União. É isso?
“Repórter tem que se comportar como cão de guarda, que rosna contra os abusos do poder, e não como cãozinho de estimação, que sacode o rabo quando vê o dono” — ensinou o jornalista escocês James Reston, morto em 1996, nos Estados Unidos, onde atuava e se tornou referência de sua geração.
No esporte
Comecei nessa área investigativa em 2000, quando nossos atletas não conquistaram medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Sidney. Quis saber os motivos e saí perguntando. Resposta comum: “falta apoio”. E por “apoio” era “dinheiro”.
Em 2001 veio a Lei Piva, que até hoje repassa dinheiro das loterias para o esporte. Em 2003 chega o governo Lula, e aí as torneiras foram abertas, agora sem controle. E com a criação do Ministério do Esporte, ali se instalou rica e lamentável fonte de jornalismo investigativo, a partir de Agnelo Queiroz, o primeiro ministro.
Investigando, cheguei à informação, por exemplo, que Agnelo teve todas as despesas de hotel, carro e telefone celular pagas nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003. E quem pagou? O órgão que Agnelo deveria fiscalizar, o Comitê Olímpico do Brasil.
Pior! Agnelo recebeu diárias do Ministério do Esporte para pagar suas despesas. Que tal? Deveria ter silenciado, diante do abuso do poder público, como sugere Dilma Rousseff?
Foi investigando que descobri que uma academia de Brasília recebeu R$ 2 milhões do projeto Segundo Tempo, cujo dono, João Dias, era amigo de Orlando Silva, então secretário executivo do Ministério, e cabo eleitoral do ex-deputado Agnelo.
Mas estou falando de “migalhas” no esporte, diante das denúncias de corrupções maiores nos governos de todos os tempos, Collor, Sarney, FHC, Lula e por aí vai.
Enfim, Dilma deveria ter a imprensa como aliada e até agradecê-la por descobrir desmandos e corrupções dos órgãos públicos que ela dirige e dirigiu. Porque, até a imprensa divulgar, Dilma “não sabia de nada”…
Para saber mais sobre a declaração de Dilma Rousseff