Blog do José Cruz

Arquivo : agosto 2014

Atletas, os inocentes úteis à corrupção no esporte
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José Cruz

jackie

 

 

  “Sobre as dificuldades (na Confederação de Vôlei) relativas ao que saiu na imprensa, nós não sabemos realmente o que aconteceu. Então, nem posso lhe falar muito concretamente”.

(Jaqueline, estrela do vôlei, ao jornal Folha de S.Paulo)

 

 

No vôlei, uma vitória de rotina, com a Seleção Brasileira feminina chegando ao 10º título do Grand Prix.  No tênis, duas conquistas raras, ambas nos Jogos Olímpicos da Juventude, na China: prata em simples, com Orlando Luz, que voltou ao pódio em duplas para receber a medalha de ouro, ao lado de Marcelo Zormann.

Enquanto isso

Essas conquistas – comum no vôlei, inédita no tênis – ajudam a ofuscar, temporariamente, as denúncias de corrupção nas Confederações dessas modalidades.

No vôlei, o vice-presidente da Confederação, Neuri Barbieri, abriu o jogo na semana passada para mostrar “transparência”. Ficou a ideia de que o assunto se esgotava. Mas não. As denúncias são graves, houve beneficiados na própria CBV e familiares do ex-presidente Ary Graça, envolvendo dinheiro público, do Banco do Brasil, principalmente. E quem continua no comando da entidade são personagens históricos da confederação. Isenção para dar novos rumos?

No tênis, o presidente Jorge Rosa é ator de um processo do Ministério Público de São Paulo, cuja investigação policial está no fim. Brevemente teremos novidades sobre esse gestor, que já fraudou prestação de contas no Ministério do Esporte, como aqui demonstrei com provas oficiais.

Poderia evoluir para outras confederações, mas todas as denúncias nos levariam a um ponto comum: a longevidade dos presidentes em seus cargos o que provoca gestão viciada.

Nesse contexto, leiam o que disse a estrela Jaqueline, do vôlei, hoje, na Folha de S.Paulo, ao ser indagada sobre as denúncias de corrupção na CBV:

 “Sobre as dificuldades relativas ao que saiu na imprensa nós não sabemos realmente o que aconteceu. Então, nem posso lhe falar muito concretamente”.

A declaração vem de quem dá sustentação ao esporte, mas ignora o viciado sistema, sustentado por verbas do governo federal. Isso também facilita a corrupção, agora ofuscada pelos pódios de silenciosos e obedientes atletas.


Copa provoca queda na arrecadação e compromete programas sociais do governo
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José Cruz

Com forte apelo comercial, os megaeventos repercutem, também, no desempenho da economia. Para mais ou para menos. Com a Copa do Mundo, o governo fez projeções para mais. Porém, iludiu-se, porque os números mostram que perdemos.

Depois da euforia sobre a “Copa das Copas”, os jornais revelam que o baixo recolhimento de tributos em julho foi o pior resultado para este mês, desde 2010. E isso aconteceu porque tivemos menos dias úteis em julho. Caiu a produção industrial e, consequentemente, a arrecadação.

Com esse desempenho para baixo falta dinheiro até para os programa Bolsa Família e Seguro Desemprego, que não podem falhar neste momento de campanha eleitoral.  Documentos oficiais mostram que, desde julho, a Caixa Econômica Federal reclama que os repasses do     governo são insuficientes para atender aos programas sociais. bolsa

 Resultado:

quem assume a diferença é a Caixa, mesmo contrariando normas do Banco Central, como mostra reportagem da Contas Abertas. Veja aqui

 

Enquanto isso…

… o secretário de Saúde do Distrito Federal, Elias Miziara, foi exonerado pelo governador Agnelo. Miziara declarou na quinta-feira que “a população tem o mau hábito de procurar hospitais à noite”, provocando filas enormes nos hospitais.

 

Apesar da esdrúxula declaração do ex-secretário, a verdade é que os problemas na área da saúde em Brasília e no Brasil se acumulam há décadas. E no Distrito Federal, em particular, a omissão de agora contrasta com a construção de um estádio de futebol de quase R$ 2 bilhões. A saúde ficou em segundo plano, porque o dinheiro foi para o concreto de 72 mil lugares.

Dois meses depois da festa da “Copa das Copas” o torcedor cai na real e o governo tropeça no rombo de suas contas. Portanto, o discurso eufórico de que fizemos o melhor evento de todos os tempos foi do tipo “para inglês ver”.


Botafogo faturou apenas um quarto da renda no jogo com Fluminense
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José Cruz

Mandante no clássico com o Fluminense, o Botafogo pagou R$ 1.667.495,00 para jogar em Brasília, no domingo passado, pelo Campeonato Brasileiro e ficou com apenas um quarto da renda.

Resumo:

Renda bruta

   R$ 2.252.700,00
Despesas   R$ 1.667.495,00
Botafogo   R$    585.205,00
 botafogo

 

A questão é: o Botafogo teria essa renda líquida se tivesse jogado no Rio de Janeiro? Compensa jogar em Brasília?

Despesas

Algumas despesas são “fixas”, como as taxas das Federações Carioca (10% – aos times que jogam fora do Rio) e Brasiliense (5%).

Outras estão no contrato: R$ 455.382,34 para a empresa “Bilheteria Digital”, que bancou o jogo no Distrito Federal.

O aluguel do estádio custou R$ 337.905,00 (15% sobre renda bruta, segundo o Governo do Distrito Federal).

Mas há despesas muito estranhas (conforme o borderô):

CONTAVALOR R$
Despesa Operacional     20.000,00
Despesa Operacional Estádio     57.904,00
Despesa do Jogo       8.000,00
Ingressos Promocionais     74.600,00
Despesa Botafogo FR       3.500,00
Total   164.004,00

 

Perguntei à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que elaborou o borderô do jogo, quem foram os beneficiados com os valores acima, mas não obtive resposta.

Estranho
E o que significam os R$ 174.248,00 pagos a título de “Despesas Pré-venda e venda de ingressos”? Quem recebeu esse valor?

Para pensar

O total de impostos pagos nesse mundo de dinheiro foi de apenas R$ 121.451,98. Isso mesmo, da renda bruta de R$ 2.252.700,00,  5,4% foram para imposto

Lembrando que 5% corresponde ao INSS, é de lei. Será que o Botafogo recolheu esse valor, como determina o Decreto 832/93, ou empurrou para a renegociação da dívida fiscal que está em andamento?

Enfim, está aí o resumo do borderô de um clássico do futebol brasileiro, para ser questionado pelo torcedor, nessa época em que se fala em “mudança de gestão clubística”, “transparência”, “seriedade”, “padrão Fifa”….  Temos isso?

Esta mensagem resume uma contestação, mas é preciso aprofundar a investigação sobre cada item revelado para melhor se entender os bastidores de um clássico.

Estou preparando artigo sobre a renda de outros jogos para comparar com este borderô do Botafogo, enquanto espero respostas da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro.

 


CGU investiga crise no vôlei. Ministério do Esporte corta verbas
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José Cruz

A CGU (Controladoria Geral da União) já investiga as denúncias de irregularidades na gestão financeira da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), a partir do relatório de uma auditoria “confidencial e reservada” que apontou, também, favorecimento em negócios com ex-diretores da entidade. É mais uma ação que ajudará passar a limpo a gestão do ex-presidente Ary Graça, desde 2012 presidente da Federação Internacional de Vôlei.

A revelação foi do advogado Neuri Barbieri (foto), vice-presidente da CBV, que responde em nome do presidente Walter Pitombo Laranjeira, de 82 anos, ausente por motivo de saúde.

neuri

Em reunião com jornalistas, hoje, no Rio de Janeiro, Neuri explicou como as denúncias repercutiram na rotina da CBV, inclusive com a possibilidade de rompimento de contrato com o tradicional parceiro, Banco do Brasil. Para dar novos rumos à gestão administrativa e financeira, CBV encomendou novo modelo à Fundação Getúlio Vargas, ao custo de R$ 1,6 milhão. “Não queremos mais correr riscos”, resumiu Neuri. “Estamos aqui para fazer voleibol”, completou o diretor de marketing, Renan Dal Zotto, ex-craque e técnico de vôlei.

Corte em contratos

A situação na Confederação mais premiada dentre as modalidades olímpicas é tão grave que até o Ministério do Esporte cortou verbas para o vôlei. Dos R$ 42 milhões solicitados no ano passado para serem executados este ano foram liberados somente R$ 2,5 milhões, isto é, cerca de 5% do solicitado.

“Esse corte no pedido foi conseqüência da crise? Não sabemos, mas repercutiu no nosso trabalho e planejamento”, disse Neuri Barbieri. Para 2015 foram encaminhados ao Ministério projetos que envolvem R$ 25 milhões, contemplando vários segmentos, como capacitação de treinadores, por exemplo.

Omissão

Mas, afinal, o que levou a CBV, até então modelo de gestão no desporto brasileiro? Foram vários fatores, segundo Neuri. A omissão dos presidentes de federações foi uma delas. “Tínhamos bons resultados das seleções e, por isso, confiávamos na gestão de Ary Graça, que era do estilo centralizador. As federações foram omissas”, afirmou.

Em entrevista acompanhada pelos demais diretores da CBV, Neuri Barbieri lembrou que os contratos que provocaram o escândalo no vôlei, como pagamento de comissão a ex-diretores para intermediar patrocínios, nunca foram apresentados em assembléia. Neuri é presidente licenciado da Feeração Paranaense de Vôlei.

Novidade

A gestão financeira das confederações brasileiras sempre foi um mistério devido à falta de transparência, principalmente a partir de 2003, quando o governo do PT abriu as torneiras para o esporte de alto rendimento, financiando projetos de convênios com o Ministério do Esporte, Lei de Incentivo, patrocínio estatal (BB, Caixa, Correios, Infraero, Eletrobras, Petrobras etc).

Ao ser se conhecer que diretores da CBV se beneficiavam do cargo para faturar em nome de suas empresas, como já foi divulgado, o escândalo ganhou proporções, porque se tratava de má gestão na confederação tida como “modelo”.

Mas surpreende, também, que as questões sejam agora colocadas de forma tão clara, sem meias-palavras, como na entrevista de hoje, em que os prejuízos e perspectivas da modalidade foram colocadas, com detalhes, como contarei em outra mensagem, além da reportagem do companheiro Vinícius Konchinski. Essa transparência que parece surgir coincide com a chegada do jornalista Jandry Vicentin à chefia da assessoria de imprensa da CBV.

Neuri colocou à disposição o relatório de auditoria – “reservado e confidencial” – pedindo que evitassem divulgar dados de seu conteúdo. Mas, numa passada pelo documento, observei que o principal já havia sido divulgado pelo jornalista Lúcio de Castro, da ESPN Brasil.

O que falta

O detalhe é que essa auditoria da CGU se limita à gestão de Ary Graça. E a que veio antes, de Carlos Arthur Nuzman, o idealizador do modelo que até então vigorava? Sem suspeitas, mas com direito a pedir “transparência”, porque falamos de verbas públicas, essa é a investigação histórica que ainda nos falta. Não só no vôlei, mas em todas as confederações, cuja fiscalização é ignorada pelo doador maior, o Ministério do Esporte.


Vôlei abre as portas para conversar com jornalistas
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José Cruz

O presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Walter Pitombo Laranjeiras (foto), e demais diretores receberão a imprensa para um bate-papo, amanhã, quando também será apresentada a nova equipe de comunicação da entidade.

Pitombo

Nesse encontro, espero conhecer o relatório da auditoria que avaliou a gestão do presidente anterior, Ary Graça. A CBV, como as demais confederações e todas as entidades que praticam o esporte de alto rendimento, são sustentadas por verbas públicas: Ministério do Esporte, Lei de Incentivo, Lei Piva, estatais, além de recursos municipais e estaduais, e isso sugere transparência total.

No ano passado, a CBV registrou o recebimento de R$ 31 milhões em convênios federal, estadual e municipal. E outros 29 milhões de patrocínios, aí incluído o Banco do Brasil, principal parceiro, conforme registro no balanço de 2013.


Guga, o visionário, e a precoce aposentadoria de Tiago Fernandes
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José Cruz

O mais jovem talento do tênis brasileiro, campeão do Aberto da Austrália juvenil, em 2010, Tiago Fernandes, 21 anos, pendurou a raquete. Não conversa com os jornalistas, mas se sabe que ele decidiu estudar engenharia civil, em Alagoas, sua terra natal.

Para tratar uma “pubalgia”, Tiago (foto) afastou-se das quadras por meio ano. Sua posição no ranking da ATP despencou, desmotivando seu retorno. E  voltamos à pergunta de rotina: temos massificação no tênis ou continuaremos a nos surpreender com destaques esporádicos e de carreira efêmera?

tenis                                                foto : Paulo Cleto/ig.com.br

E quem responde essa indagação? O Ministério do Esporte, que abre os cofres para o alto rendimento? O Comitê Olímpico do Brasil? A Confederação de Tênis, que recebe muita grana dos Correios, patrocinador, mas com gestão suspeita, a ponto de ser investigada pela polícia e Ministério Público de São Paulo?

Enfim, não é só com dinheiro que se promove esporte e atletas. Os gestores, esses suspeitos senhores que se perpetuaram em suas cadeiras, são os principais responsáveis, com o governo federal, financiador da fartura e da desordem simultâneas.

Enquanto isso…

“O que faltava ao Brasil para se tornar potência olímpica”? – indaguei a Gustavo Kuerten, nos Jogos de Sidney, 2000.

Naquela Olimpíada, seis medalhas de prata e seis de bronze, retornamos sem ouro, o que motivou escrever um artigo, “O cavalo empacou”. Tratava-se de uma referência ao refugo de Baloubet du Rouet, o milionário cavalo de Rodrigo Pessoa, que decidiu não saltar os obstáculos, na última prova em que tínhamos chance de ganhar um ouro. O Brasil simbolizava isso, um país empacado no esporte.

Ouvi vários atletas, técnicos e dirigentes – Lars Grael, Magic Paula, Coaracy Nunes, Joaquim Cruz, enfim – sobre “o que faltava ao Brasil para se tornar uma potência olímpica”. A resposta foi comum: “falta apoio” . E por apoio entenda-se “dinheiro”. Era o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e, de fato, tempos de vacas magras para o esporte.

Porém, a resposta de Guga surpreendeu:

Pô, cara! Se o Brasil vai investir muito dinheiro no esporte para ser potência olímpica, acho que primeiro tem que investir na educação e saúde. Mas educação com esporte, porque aí a saúde melhora para os guris”.

Guga se aposentou e, ironicamente, mesmo com prestigiada carreira, coroada com o tricampeonato de Roland Garros, não contribuiu para que o tênis evoluísse. O governo mudou e o que veio também não fez o casamento de “educação, esporte, saúde…” Continuamos empacados como em 2000, com a diferença de que, agora, há fartura de “apoio”, o cofre está aberto. Isso é real.


Lei de Incentivo ainda é inexpressiva para a democratização do esporte
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José Cruz

Com R$ 74,6 milhões, o futebol é a modalidade que mais captou através de projetos à Lei de Incentivo ao Esporte (LIE), entre 2007 e 2013. O judô aparece em segundo lugar, com R$ 19,4 milhões, e os desportos aquáticos em terceiro, com R$ 17,6 milhões. Esses dados estão no estudo “A lei de Incentivo fiscal e o (não) direito ao esporte no Brasil”, autoria de quatro especialistas em políticas de esportes, Wagner Barbosa Matias, Pedro Fernando Avalone Athayde, Edson Marcelo Hungaro e Fernando Mascarenhas (*).

Chama atenção no estudo a concentração de recursos da LIE na região Sudeste, economicamente a mais forte do país, onde estão as confederações de alto rendimento já  beneficiadas por patrocínios de empresas estatais, recursos do Ministério do Esporte, através de “convênios”, e verbas da Lei Agnelo Piva, via COB. E o Ministério do Esporte, gestor da Lei de Incentivo, conhece bem sobre essa concentração de recursos.

Parte deste estudo foi publicado no ano passado, mas volto ao tema para sustentar, com análise de especialistas, o artigo anterior, de sexta-feira, sobre o mesmo assunto. Inclusive, porque são recursos financeiros públicos, e não se pode deixar esse debate e controle esfriarem.

A seguir, um resumo do estudo e perfil dos autores, com link para o texto:

                          A Lei de Incentivo ao Esporte: montante e destino dos recursos

A Lei nº 11.438/2006 contribui pouco para a democratização do esporte no país. Essencialmente com a referida Lei, o Estado deixa de arrecadar os recursos que são públicos e direcionar conforme as demandas sociais e são as empresas que decidem quais projetos receberão incentivos.

Conforme o TCU (2013, p.2), a Lei de Incentivo ao Esporte é uma forma simplificada de uso dos recursos do fundo público, uma vez que estes não seguem os “trâmites e controles orçamentários estabelecidos, sendo executados diretamente por organizações não governamentais ou entes governamentais fora da esfera federal”.

Ao analisar o conjunto de empresas que doaram por meio da referida Lei (agosto de 2007 a agosto de 2013), percebe-se a hegemonia dos setores financeiros, petrolíferos e minerador. As três principais corporações doadoras são: Bradesco (R$ 88,8 milhões), Petrobrás (R$ 87,5 milhões) e Vale (R$ 74,7 milhões).

Neste período, o montante autorizado para captação foi de R$ 2,5 bilhões. Contudo, efetivamente só foi captada a soma de R$ 950,4 milhões  Destaca-se que o crescimento do volume de recursos se deu conjuntamente com o aumento do número de projetos aprovados, em especial, no âmbito do Esporte de Rendimento, o que se observa também no volume de recursos aprovados e captados.

O Ministério do Esporte, no momento de análise das propostas, não deve permitir a concentração de recursos “por proponente, por modalidade desportiva ou paradesportiva, por manifestação desportiva ou paradesportiva ou por regiões geográficas nacionais”.

Na distribuição regional dos recursos, percebe-se que mais de 80% do volume total angariado foi para instituições da região Sudeste. A concentração de recursos também ocorre por proponentes. As três entidades que mais se beneficiaram foram, respectivamente: a) Esporte Clube Pinheiros; b) Instituto Passe de Mágica; e, c) Círculo Militar. Ainda sobre a distribuição dos recursos, cabe destacar o COB, em quarto lugar, com mais de R$ 30 milhões.

No período analisado também houve a centralização de recursos em algumas modalidades. Percebe-se que 13% da renúncia fiscal da LIE foram encaminhados para os clubes de futebol e para judô e os desportos aquáticos (confederações).            

Quanto ao acompanhamento da execução dos projetos, as conclusões do TCU (2013) são preocupantes, sobretudo, no que se refere aos apontamentos acerca da fragilidade do monitoramento e da fiscalização exercido pelo Ministério do Esporte. Neste sentido, destaca a ausência de qualquer mecanismo de controle democrático.

O fato é que a renúncia fiscal para o esporte não significa a democratização do esporte. Tal fato somente poderá ocorrer quando for implantado o Sistema Nacional do Esporte e a vinculação de receita nas três esferas governamentais.

Parte dos dados do estudo está em: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/14771/1/2013_WagnerBarbosaMatias.pdf; e em: Matias, Wagner; Athayde, Pedro; Húngaro, Marcelo; Mascarenhas, Fernando. A Lei de Incentivo Fiscal e o (não) direito ao esporte.[S.I.:s.n], 2014.

*Os autores

Os autores desse estudo são os seguintes especialistas:

Wagner Barbosa Matias – Mestre em Educação Física (UnB). Servidor do Ministério do Esporte e professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Pesquisador do Grupo de Pesquisa e Formação Sociocrítica em Educação Física, Esporte e Lazer – AVANTE-UnB.

Pedro Fernando Avalone Athayde – Doutor em Política Social (UnB). Professor da Faculdade de Educação Física (UnB). Pesquisador do AVANTE-UnB.

Edson Marcelo Hungaro – Doutor em Educação Física (Unicamp). Professor da Faculdade de Educação Física (UnB). Líder do AVANTE-UnB.

Fernando Mascarenhas – Doutor em Educação Física (Unicamp). Professor da Faculdade de Educação Física (UnB). Líder do Avante-UnB. Bolsista do CNPq, Brasil.


Lei de Incentivo ao Esporte desperdiçou 63% do disponível em oito anos
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José Cruz

Os R$ 400 milhões anuais disponibilizados pela Lei de Incentivo ao Esporte ainda não são usados integralmente. O desperdício médio anual passa de 60%.

leiDesde que foi criada, em 2007, até a presente data, a Lei de Incentivo teve R$ 3,2 bilhões disponíveis para aplicar em projetos de alto rendimento, educacional ou de participação.

Gestor da lei, o Ministério do Esporte aprovou projetos que totalizam R$ 3,1 bilhões. Desse total, R$ 1,1 bilhão foi captado, isto é, 37% do disponível. Em outras palavras, o esporte deixou de usar 63% de verbas provenientes do imposto de renda, fonte que abastece a Lei de Incentivo. A falta de conhecimento da legislação é um dos principais motivos para isso.

Resumo anual

     ANO

   APROVADO

   CAPTADO

2007

     62.749.237,00

    50.920.591,16

2008

   183.007.940,00

    82.213.742,01

2009

   312.673.159,00

110.827.972,41

2010

   555.103.687,00

193.220.302,28

2011

   585.319.794,00

221.041.368,15

2012

   566.523.264,00

211.927.072,79

2013

   634.074.185,00

229.645.871,20

2014

   228.183.485,00

    56.618.562,55

TOTAL   3.127.634.751,00   1.156.415.482,55
 

Conheça aqui o relatório da Lei de Incentivo, referente a 2013. Nele não se identifica as principais entidades beneficiadas. Nos esportes de alto rendimento, o futebol é o que mais capta, conforme demonstrarei em outro artigo.

Na prática

A Lei de Incentivo ao Esporte funciona assim:

A pessoa física que for pagar imposto de renda pode destinar 6% do valor devido para projetos esportivos. Já para as empresas o percentual é de 1%. Se uma montadora, por exemplo, for pagar R$ 5 milhões de imposto de renda, poderá destinar R$ 50 mil para um determinado projeto de esporte educacional, de alto rendimento ou de participação.

As regras para usar esse recurso estão neste link:

http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/secretaria-executiva/lei-de-incentivo-ao-esporte/legislacaolie

LEIA AMANHÃ:

A Lei de Incentivo Fiscal e o (não) direito ao Esporte no Brasil


Eurico Miranda ressuscita. É a “renovação” do futebol
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José Cruz

Depois das “Copa das Copas”, a reovação do nosso futebol, liderada pela presidente Dilma Rousseff, ganhou ontem um “novo” personagem: Eurico Miranda. Ele está pronto para voltar à presidência do Vasco da Gama, como contam os repórteres Bruno Braz e Pedro Ivo Almeida, do UOL, no Rio de Janeiro.

A reportagem começa assim:

“Hostilidades, “boca de urna”, pressão, ameaças, dedos no rosto, cervejas e charutos. Foi neste ambiente, cercado de muita tensão, insegurança e quase agressão a Roberto Dinamite e outros dirigentes, que os conselheiros do Vasco decidiram, na noite desta quarta-feira, pela não continuidade do mandatário no cargo máximo do clube, o que foi considerado uma vitória para o candidato Eurico Miranda e seus correligionários.”

Memória

Eurico Miranda liderou a tropa de choque dos cartolas na CPI da CBF Nike, em 2001, quando rasgou o relatório final, para votar o relatório alternativo dos dirigentes.

Naquela CPI, o então deputado Eduardo Campos, que ontem morreu em acidente aéreo, apoiava o presidente da CPI, o hoje ministro Aldo Rebelo, e o relator, Sylvio Torres, numa tentativa efêmera de dar rumos à gestão do futebol.

“Eles (Eurico e bancada da bola) estão aqui para defender o Ricardo Teixeira. Não vamos, de maneira alguma, permitir isso.”
Em meio a tumulto generalizado, gritos e acusações, Aldo Rebelo encerrou a CPI, e Eurico Miranda colocou em votação o texto pró-cartolas, que venceu com facilidade. Porém, sem valor, pois o documento não foi votado em plenário, e a CPI acabou em pizza.

CPI no Senado

Na mesma época, o então senador Geraldo Althoff , relator da CPI do Futebol, pediu ao Ministério Público Federal o indiciamento do presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama, deputado federal Eurico Miranda, por crimes de falsidade ideológica, delitos tributários e eleitorais e tentativa de obstrução dos trabalhos de investigação.

As CPI da Câmara e do Senado, que escancararam a corrupção no futebol, ficou só nos relatórios, que foram enviados à Polícia Federal, ao Ministério Público, ao Banco Central etc.

Morte e ressurreição

Ironicamente, a porteira para a ressurreição do mais famoso cartola do Vasco da Gama, Eurico Miranda, se abriu no mesmo dia em que um jovem líder político, o ex-deputado Eduardo Campos, morreu em acidente aéreo.

Preferências partidárias à parte – até porque não tenho qualquer vínculo político – a morte de Eduardo Campos enfraquece ainda mais a já frágil renovação política brasileira. Ao mesmo tempo, fortalece o que há de mais arcaico na gestão do futebol, como se viu na assembleia do Vasco, ontem.

E agora, vai?

Para saber mais – CPIs

http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2001/12/04/cpi-pede-indiciamento-e-processo-de-cassacao-para-eurico-miranda


Ary Graça deixa o Banco do Brasil em situação constrangedora
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José Cruz

Em 23 anos de parceria com o Banco do Brasil, esta não é a primeira vez que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) coloca o seu maior investidor em situação constrangedora, como a de agora, em que se aguarda o resultado de uma auditoria sobre a gestão financeira de Ary Graça.

A primeira situação tensa foi em dezembro de 2000, quando negociavam o patrocínio para a temporada 2001. Ary Graça queria aumentar o valor do contrato, mas o Banco do Brasil resistiu e concedeu 70% do IGPM – Índice Geral de preços do mercado -, R$ 17,2 milhões, à época. Ary não gostou e ameaçou romper o contrato, me contaram dois personagens daquele momento, conforme reportagem que publiquei no Correio Braziliense.

Ary Graça insistiu e acenou com a proposta recebida de dois poderosos patrocinadores, o Bradesco e a TAM. Mas a rescisão do contrato, não se consumou devido às penalidades para quem deixasse de honrar o acordo. E, também, porque o Banco do Brasil mostrou as suas cartas: se perdesse o vôlei, investiria pesado no handebol, modalidade mais praticada nas escolas do país, com o apoio da televisão. Na estratégia de marketing, não é nada positivo colocar a marca do parceiro em situações como essas, mas os resultados do vôlei, em quadra e na areia compensavam as desavenças.

Frágil

Nesse panorama, Ary Graça se fragilizou diante da direção do banco. E, a partir de janeiro de 2003, já no governo Lula, passou a cotejar o novo diretor de Marketing, Henrique Pizzolato, de quem se tornou amigo. No ano passado, condenado no processo do Mensalão, Pizzolato fugiu do Brasil, mas está preso na Itália. É outra história.

Em fevereiro de 2005, nova provocação de Ary Graça. Em decisão unilateral, criou uniformes para as seleções masculina e feminina, com camisas nas cores preto e rosa. A direção do Banco alegou que não tinha aprovado o modelo e isso poderia gerar pesada multa à CBV. Mais um recuo de Ary Graça, diante da frustrada inovação, mas era insistente a provocação para encerrar o contrato porque havia vantagens de assinar com o Bradesco. A principal, é que os valores e prestações de contas não estariam sujeitos às auditorias do Tribunal de Contas da União.

Silêncio

Talvez por essas derrotas nas relações institucionais, Ary Graça não tenha feito referência ao Banco do Brasil nos dois volumes que escreveu sobre “Estratégia Empresarial, modelo de gestão vitorioso e inovador na CBV”. Os livros foram em parceria com Istvan Karoly Kasznar, PhD em administração de negócios, pela Universidade da Califórnia.

Sem qualquer análise, o espaço reservado ao Banco é em forma de depoimentos de ex-diretores da área de marketing, mas não há uma só referência dos autores à importância dessa parceria, inédita no esporte nacional e decisiva para o sucesso da modalidade.

Da mesma forma, Ary Graça não faz referência aos R$ 3,5 milhões que recebeu do Ministério do Esporte, para reformas no Centro de Treinamento de Saquarema (foto). Nem sobre os R$ 2 milhões anuais que recebia (hoje são R$ 3,5 milhões) das loterias federais, via Comitê Olímpico do Brasil.  saquaremaO vôlei se tornou profissional e “modelo” de gestão vitoriosa, mas sustentado por verbas públicas. E, agora, sem se conhecer o resultado da auditoria na gestão de Ary Graça, não se pode confirmar um “modelo vitorioso”, ao contrário do que ocorre nas quadras.

Por enquanto, estamos diante de um modelo suspeito de gestão financeira.