Blog do José Cruz

Ary Graça deixa o Banco do Brasil em situação constrangedora

José Cruz

Em 23 anos de parceria com o Banco do Brasil, esta não é a primeira vez que a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) coloca o seu maior investidor em situação constrangedora, como a de agora, em que se aguarda o resultado de uma auditoria sobre a gestão financeira de Ary Graça.

A primeira situação tensa foi em dezembro de 2000, quando negociavam o patrocínio para a temporada 2001. Ary Graça queria aumentar o valor do contrato, mas o Banco do Brasil resistiu e concedeu 70% do IGPM – Índice Geral de preços do mercado -, R$ 17,2 milhões, à época. Ary não gostou e ameaçou romper o contrato, me contaram dois personagens daquele momento, conforme reportagem que publiquei no Correio Braziliense.

Ary Graça insistiu e acenou com a proposta recebida de dois poderosos patrocinadores, o Bradesco e a TAM. Mas a rescisão do contrato, não se consumou devido às penalidades para quem deixasse de honrar o acordo. E, também, porque o Banco do Brasil mostrou as suas cartas: se perdesse o vôlei, investiria pesado no handebol, modalidade mais praticada nas escolas do país, com o apoio da televisão. Na estratégia de marketing, não é nada positivo colocar a marca do parceiro em situações como essas, mas os resultados do vôlei, em quadra e na areia compensavam as desavenças.

Frágil

Nesse panorama, Ary Graça se fragilizou diante da direção do banco. E, a partir de janeiro de 2003, já no governo Lula, passou a cotejar o novo diretor de Marketing, Henrique Pizzolato, de quem se tornou amigo. No ano passado, condenado no processo do Mensalão, Pizzolato fugiu do Brasil, mas está preso na Itália. É outra história.

Em fevereiro de 2005, nova provocação de Ary Graça. Em decisão unilateral, criou uniformes para as seleções masculina e feminina, com camisas nas cores preto e rosa. A direção do Banco alegou que não tinha aprovado o modelo e isso poderia gerar pesada multa à CBV. Mais um recuo de Ary Graça, diante da frustrada inovação, mas era insistente a provocação para encerrar o contrato porque havia vantagens de assinar com o Bradesco. A principal, é que os valores e prestações de contas não estariam sujeitos às auditorias do Tribunal de Contas da União.

Silêncio

Talvez por essas derrotas nas relações institucionais, Ary Graça não tenha feito referência ao Banco do Brasil nos dois volumes que escreveu sobre “Estratégia Empresarial, modelo de gestão vitorioso e inovador na CBV”. Os livros foram em parceria com Istvan Karoly Kasznar, PhD em administração de negócios, pela Universidade da Califórnia.

Sem qualquer análise, o espaço reservado ao Banco é em forma de depoimentos de ex-diretores da área de marketing, mas não há uma só referência dos autores à importância dessa parceria, inédita no esporte nacional e decisiva para o sucesso da modalidade.

Da mesma forma, Ary Graça não faz referência aos R$ 3,5 milhões que recebeu do Ministério do Esporte, para reformas no Centro de Treinamento de Saquarema (foto). Nem sobre os R$ 2 milhões anuais que recebia (hoje são R$ 3,5 milhões) das loterias federais, via Comitê Olímpico do Brasil.  saquaremaO vôlei se tornou profissional e “modelo” de gestão vitoriosa, mas sustentado por verbas públicas. E, agora, sem se conhecer o resultado da auditoria na gestão de Ary Graça, não se pode confirmar um “modelo vitorioso”, ao contrário do que ocorre nas quadras.

Por enquanto, estamos diante de um modelo suspeito de gestão financeira.