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CGU investiga crise no vôlei. Ministério do Esporte corta verbas
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José Cruz

A CGU (Controladoria Geral da União) já investiga as denúncias de irregularidades na gestão financeira da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), a partir do relatório de uma auditoria “confidencial e reservada” que apontou, também, favorecimento em negócios com ex-diretores da entidade. É mais uma ação que ajudará passar a limpo a gestão do ex-presidente Ary Graça, desde 2012 presidente da Federação Internacional de Vôlei.

A revelação foi do advogado Neuri Barbieri (foto), vice-presidente da CBV, que responde em nome do presidente Walter Pitombo Laranjeira, de 82 anos, ausente por motivo de saúde.

neuri

Em reunião com jornalistas, hoje, no Rio de Janeiro, Neuri explicou como as denúncias repercutiram na rotina da CBV, inclusive com a possibilidade de rompimento de contrato com o tradicional parceiro, Banco do Brasil. Para dar novos rumos à gestão administrativa e financeira, CBV encomendou novo modelo à Fundação Getúlio Vargas, ao custo de R$ 1,6 milhão. “Não queremos mais correr riscos”, resumiu Neuri. “Estamos aqui para fazer voleibol”, completou o diretor de marketing, Renan Dal Zotto, ex-craque e técnico de vôlei.

Corte em contratos

A situação na Confederação mais premiada dentre as modalidades olímpicas é tão grave que até o Ministério do Esporte cortou verbas para o vôlei. Dos R$ 42 milhões solicitados no ano passado para serem executados este ano foram liberados somente R$ 2,5 milhões, isto é, cerca de 5% do solicitado.

“Esse corte no pedido foi conseqüência da crise? Não sabemos, mas repercutiu no nosso trabalho e planejamento”, disse Neuri Barbieri. Para 2015 foram encaminhados ao Ministério projetos que envolvem R$ 25 milhões, contemplando vários segmentos, como capacitação de treinadores, por exemplo.

Omissão

Mas, afinal, o que levou a CBV, até então modelo de gestão no desporto brasileiro? Foram vários fatores, segundo Neuri. A omissão dos presidentes de federações foi uma delas. “Tínhamos bons resultados das seleções e, por isso, confiávamos na gestão de Ary Graça, que era do estilo centralizador. As federações foram omissas”, afirmou.

Em entrevista acompanhada pelos demais diretores da CBV, Neuri Barbieri lembrou que os contratos que provocaram o escândalo no vôlei, como pagamento de comissão a ex-diretores para intermediar patrocínios, nunca foram apresentados em assembléia. Neuri é presidente licenciado da Feeração Paranaense de Vôlei.

Novidade

A gestão financeira das confederações brasileiras sempre foi um mistério devido à falta de transparência, principalmente a partir de 2003, quando o governo do PT abriu as torneiras para o esporte de alto rendimento, financiando projetos de convênios com o Ministério do Esporte, Lei de Incentivo, patrocínio estatal (BB, Caixa, Correios, Infraero, Eletrobras, Petrobras etc).

Ao ser se conhecer que diretores da CBV se beneficiavam do cargo para faturar em nome de suas empresas, como já foi divulgado, o escândalo ganhou proporções, porque se tratava de má gestão na confederação tida como “modelo”.

Mas surpreende, também, que as questões sejam agora colocadas de forma tão clara, sem meias-palavras, como na entrevista de hoje, em que os prejuízos e perspectivas da modalidade foram colocadas, com detalhes, como contarei em outra mensagem, além da reportagem do companheiro Vinícius Konchinski. Essa transparência que parece surgir coincide com a chegada do jornalista Jandry Vicentin à chefia da assessoria de imprensa da CBV.

Neuri colocou à disposição o relatório de auditoria – “reservado e confidencial” – pedindo que evitassem divulgar dados de seu conteúdo. Mas, numa passada pelo documento, observei que o principal já havia sido divulgado pelo jornalista Lúcio de Castro, da ESPN Brasil.

O que falta

O detalhe é que essa auditoria da CGU se limita à gestão de Ary Graça. E a que veio antes, de Carlos Arthur Nuzman, o idealizador do modelo que até então vigorava? Sem suspeitas, mas com direito a pedir “transparência”, porque falamos de verbas públicas, essa é a investigação histórica que ainda nos falta. Não só no vôlei, mas em todas as confederações, cuja fiscalização é ignorada pelo doador maior, o Ministério do Esporte.


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