Fifa interdita Centro Esportivo no DF e atinge dois mil usuários
José Cruz
A Copa do Mundo em Brasília prejudica a rotina de treinos de pelo menos dois mil freqüentadores do Centro Esportivo, a 500 metros do estádio Mané Garrincha.
Os principais atingidos são os alunos das escolinhas de natação, saltos ornamentais, pólo aquático e nado sincronizado, impedidos de freqüentar a piscina, há três semanas. E só retornarão em 1º de agosto, quando a Fifa devolver o estádio ao comando da Secretaria de Esporte do Distrito Federal e liberar a área nos arredores.
“Apesar de o Conjunto Aquático não interferir nas atividades do estádio, a Fifa exigiu que toda a área fosse desativada”, disse a mãe de duas nadadoras, que não quis se identificar, temerosa de perder a matrícula das garotas, porque fez críticas ao Governo local. “É incrível que isso aconteça, principalmente na pior época de seca em Brasília, quando a umidade cai a incríveis 13%”, disse um professor que atua no local.
História
Inaugurado na década de 1970, o “Centro Esportivo Presidente Médici” era um monumental conjunto de praças esportivas. O primeiro prejuízo para os desportistas e para a história do esporte na capital da República foi a destruição da pista de atletismo oficial.
No antigo “Mané Garrincha” também funcionava uma escolhinha de futebol, comandada pelo bicampeão mundial, Nilton Santos, morto no ano passado.
Fartura e desleixo
No Conjunto Esportivo, além do estádio de futebol, demolido para dar lugar a outro, com “padrão Fifa”, há um ginásio coberto com capacidade para 20 mil pessoas. Outro ginásio, o “Cláudio Coutinho”, para 10 mil pessoas, era uma piscina coberta, transformada em quadra de futsal e, hoje, depósito de entulhos, abandonado pelo Governo do Distrito Federal.
O conjunto tem, ainda, um autódromo em péssimo estado de conservação, seis quadras de futsal, quatro de basquete, seis de vôlei, 12 de tênis, todas inativas e abandonadas, com equipamentos (traves, tabelas e aros) destruídos e mato em volta. O local, sem segurança, tornou-se propício para a concentração de drogados, tudo a 500 metros do moderno estádio “padrão Fifa”.
O desleixo no Centro Esportivo vem de outros governos, acentuando-se no atual, de Agnelo Queiroz, quando o canteiro de obras do estádio Mané Garrincha avançou e destruiu as 12 quadras de tênis, o velódromo e as pistas de hipismo e de aeromodelismo.
Ironicamente, o engenheiro que viu esse complexo esportivo ser construído, Eduardo de Castro Mello, é filho do autor do projeto original do Mané Garrincha, Ícaro de Castro Mello, ex-atleta olímpico do atletismo, nos Jogos de Berlim, 1936.
Por ter trabalhado com o pai no primeiro projeto, Eduardo foi escolhido pelo ex-governador, José Roberto Arruda, para projetar o novo Mané Garrincha, que servirá ao Mundial de Futebol, daqui a 13 dias.
Brasília tem, agora, “moderno” estádio de futebol, de arquitetura mais arrojada, mas que contrasta com o abandono do restante do conjunto esportivo que o circunda, numa evidente falta de conservação, comprovado desleixo dos gestores públicos e demonstração da falta de políticas públicas para a prática de esportes pela população.