Blog do José Cruz

Arquivo : agosto 2012

Conselho de Educação Física sugere mudanças nos critérios de distribuição de medalhas olímpicas
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José Cruz

O presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, defendeu mudanças no critério de classificação do quadro de medalhas olímpicas, substituindo a distribuição de prêmio por modalidade para contemplar os atletas.

A seleção campeã no futebol, por exemplo, não contaria apenas uma medalha na classificação, mas 11. O vôlei teria seis e assim por diante.

As mudanças sugeridas podem ser adotadas pelo Brasil, pois o quadro de medalhas não é reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional, mas “uma invenção da mídia”, afirmou o dirigente. Da mesma forma, a disputa nos Jogos é entre atletas e não entre países, conforme a Carta Olímpica.

Leia os argumentos de Seteinhilber na notícia da Agência Câmara .

Leis

Em outra manifestação, o professor Lamartine Pereira da Costa, da Universidade de East London, no Reino Unido,  criticou o excesso de leis que regulamentam o esporte brasileiro, caso único no mundo, segundo ele.

“São tantas leis que muitas vezes elas atrapalham para que se tenha evolução no esporte”, afirmou. Por exemplo, o dinheiro pode estar indo para a instituição esportiva em vez de ser aplicada no atleta.

Confira.


Olimpíada e o mensalão da mequetrefe
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José Cruz

Em Londres, são tristes algumas explicações de nossos atletas que ficaram pelo caminho nos Jogos Olímpicos.

Em Brasília, acompanhar os advogados de defesa da turma do Mensalão é voltar aos melhores momentos da Escolinha do Professor Raimundo.

Em Londres, o vento tornou-se um dos culpados de nossas fraquezas. Perdemos, não saltamos, desconcentramos, erramos, enfim, porque o vento … foi contra…

Em Brasília, advogados muito bem pagos argumentam que inocentes senhores, seus clientes,  foram explorados por espertos corruptos que saquearam os cofres públicos.

Ninguém sabia que, ao emprestar o nome, estaria envolvido num escândalo que fede ainda hoje. Ninguém é culpado de nada. Quanta injustiça!

O deboche é tão escancarado que um advogado argumentou que sua cliente acusada de integrar a quadrilha do mensalão era uma “funcionária mequetrefe”. Uma simples “preenchedora de cheques”… cujo destino dos valorizados talões ignorava…

“Mequetrefe”?

É o seguinte, segundo o Dicionário Houaiss:

“- indivíduo intrometido, dado a meter-se no que não é de sua conta; enxerido

– indivíduo de caráter duvidoso; patife, mariola, biltre

– indivíduo sem importância, inútil, insignificante; borra-botas, joão-ninguém.”

Como diria um famoso filósofo,  com a porta fechada para não entrar vento:

“Não é nada, não é nada, não é nada mesmo!”


Atletismo decepciona até nas declarações de Maurren
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José Cruz

Depois que o vento prejudicou o desempenho de Fabiana Murrer, foi a vez de Maurren Maggi apresentar uma estranha desculpa ao torcedor brasileiro, contribuinte maior da delegação que está em Londres:

Estava muito bem preparada. Vinha fazendo treinos muito bons e não sei o que aconteceu. Me desculpa Brasil…”.

Quem sabe os compromissos com os patrocinadores expliquem a presença de Maurren na pista, mesmo fora de suas condições ideais. Mas desculpas assim são frágeis para uma medalhista de ouro que defendia o bicampeonato olímpico.

Memória

Recuperei informações do professor Fernando Franco, do Centro de Estudos de Atletismo. Ele cantou a pedra de cada desastre dessa frágil delegação de atletismo.

Maurren não participou de grandes eventos nesta temporada, não estava em ritmo de prova, quem sabe devido às contusões que enfrentou. Aos 36 anos, ela precisava se poupar para competir em Londres. Isso tudo é explicável.

Maurren não fez nenhum salto de sete metros este ano. Fez 6,85m em maio e nas duas provas seguintes ficou na casa dos 6,60m. É pouco para quem tinha sete adversárias marcando até 7m com regularidade.

A brasileira fez história no esporte e não precisava ir para o sacrifício dessa forma.

Ainda faltam algumas provas  maratona e revezamentos, mas está claro que não temos projeto para o atletismo.

De saída

É nessa realidade que o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Roberto Gesta de Melo, está de saída. Na hora de formar o time para 2016 a bomba vai estourar na mão  de seu substituto, José Antônio Martins, que assumirá em janeiro.

Gesta atravessou os governos de Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma. E não conseguiu abrir o diálogo para dar rumo ao atletismo brasileiro. Patinou na mesmice durante 25 anos, e com desculpas frágeis como as de Maurren.


Os rumos do atletismo
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José Cruz

Recebi este comentário de Adroaldo Quintela, um apaixonado estudioso do atletismo que previa dificuldades para Maurren Maggi. Não deu outra. Confiram as propostas desse brasiliense para desenvolver a modalidade

 Adroaldo Quintela

 

 

Excelente análise sobre o pífio desempenho do Brasil no Atletismo Olímpico apesar dos R$26 milhões disponíveis para a CBAt, dos quais R$24,0 milhões de recursos públicos (R$16,0 milhões da Caixa).

 

Gostei da proposta da CPI do Esporte Olímpico. Está na hora da sociedade brasileira debater abertamente as mazelas do esporte.

 

Minha esperança de medalha no atletismo foi para ralo quando Fabiana perdeu o rumo em Londres. Se ganharmos um bronze com a Maurren vai ser uma bela surpresa.

 

Ponderações

 

R$26 milhões não é muito para a gama de modalidades do atletismo, comparado com o que o Brasil investe no vôlei, no futebol masculino, na natação, no basquete e no judô.

 

A iniciativa privada investe pouco no atletismo, apesar da Lei de Incentivos. Atletismo no mundo é esporte nobre. No Brasil é esporte de pobre.

 

Há pouca informação na mídia sobre atletismo. A maioria das pessoas acha que atletismo se resume a corridas de rua e de pista.

 

Corridas de rua cresceram 500% nos últimos cinco anos em nosso país. Virou diversão da classe média e não há conexão com o esporte de alto rendimento nem com a formação de atletas da base olímpica.

 

Como podemos ser Top 10 Olímpico se:

 

12.000 escolas brasileiras não dispõem de instalações para a prática de esportes.

 

Há um déficit de 60 mil professores de educação física.

 

Educação física não é disciplina obrigatória em todos os níveis de ensino.

 

Menos de 5% dos recursos da lei de incentivos são destinados efetivamente para projetos de esporte, educação e inclusão em áreas de vulnerabilidade social.

 

Projeto

 

Recentemente, começamos a trabalhar voluntariamente com atletismo sustentável no Distrito Federal. Temos plena convicção de que 2016 será um pouco melhor do que 2012, porque não houve o tão falado e pouco praticado investimento na base. Mas podemos dar um salto qualitativo a partir de 2020. O trabalho liderado por Joaquim Cruz com a preparação de 30 jovens corredores para as Olimpíadas de 2020 é uma luz no fim do túnel.

 

 

Adroaldo Quintela é um estudioso de política pública para o esporte, que prepara o lançamento do PAS – Parceiros do Atletismo Sustentável, em Brasília.


Caminho para os gastos olímpicos
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José Cruz

O interesse por confrontos de clubes e de seleções distorceu os preceitos amadoristas do esporte

Walter Ceneviva

Publicado no jornal O Estado de S.Paulo, domingo

Entre 750 e 780 anos antes de Cristo, começaram os Jogos Olímpicos na Grécia, estritamente no amadorismo. O único prêmio entregue aos vencedores era a coroa de louros. Mas o amadorismo não durou muito tempo -as equipes representavam as cidades e a vontade de vencer acabou interferindo na beleza ética do espírito olímpico. A participação de grandes atletas gerou até o financiamento de equipes, afastando a exclusiva participação não profissional. Esse é padrão atual do desporto brasileiro.

Desde o século 19, o crescimento do interesse pelos confrontos dos clubes e das seleções (hoje estimulado por competentes profissionais de várias áreas) distorceu os preceitos amadoristas. Levou a quebras éticas nos confrontos. Predomina, na prática, o privilégio do desporto profissional. Transpostas para o presente, as informações que a pesquisa histórica levantou sugerem que o profissionalismo, aceito no Brasil, não é só invenção dos promotores de disputas esportivas. É comum ver na TV combates que parecem violentos, mas incluem golpes treinados para serem espetaculares.

Sob outro ângulo cabe pensar por que os Jogos Olímpicos de Londres não trouxeram, ao menos ainda, muitos sucessos para atletas de nosso país. Alguma coisa está errada. Causa aparente: autoridades do desporto preferem a monocultura do futebol profissional, que lhes dá mais lucro e cartaz, a contribuir para as práticas amadoras.

Os privilégios do esporte profissional levaram o Brasil a editar a Lei Geral da Copa de 2014. Fez concessões variadas, a ponto de até aceitar a revogação, durante o próximo campeonato mundial, de normas do Código de Defesa do Consumidor, com benefícios para a Fifa (Federação Internacional de Futebol). Elas incluem vistos e permissão de trabalho para seus indicados.

Pode ser que sejam confirmadas as previsões de grandes lucros para o Brasil nos próximos certames do futebol profissional. Não justificarão, porém, a desatenção com a Constituição, no referente ao amadorismo, para favorecer rendimentos de clubes, dirigentes e futebolistas. Desatenção que sacrifica o financiamento do esporte educacional e amador. Esquece o inciso 2º do art. 217 da Carta Magna, que manda observar “a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional”. Prioritária, veja bem.

Nesse mesmo campo, a “Revista do Advogado”, da Associação dos Advogados de São Paulo, de julho, divulgou número intitulado “Contratos”, que inclui texto de Márcia Serra Negra, Ulisses Simões da Silva e André de Martini Menossi. Eles discutem, entre outros assuntos, a aceitação, pelo Brasil, de restrições impostas pela Fifa, chegando a normas do direito do consumidor, para excluir a responsabilidade da entidade por gastos acrescidos, oriundos dela.

A prioridade constitucional sugere remédios aptos para aumentar o número de atletas amadores, mas os interesses econômicos predominam para estimular simpatias e antipatias alheias ao valor atlético. Também foi assim em períodos da Grécia clássica. A rivalidade crescia e a vitória a qualquer custo inspirou condutas estranhas à esportividade, sem levar à melhor qualidade atlética. A lei sugere que os critérios atuais de aplicação dos dinheiros públicos, para o esporte, sejam repensados.


O povo é um “ignorante” olímpico
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José Cruz

Rosicleia Campos, técnica de judô, disse que, em termos olímpicos, “o povo é ignorante”. O desabafo está no site da revista Época.

Em tese, faz sentido. Até porque sua manifestação ocorreu num momento de extrema emoção diante do fracasso de muitos brasileiros em terras londrinas.

As arquibancadas vazias no Troféu Brasil de Atletismo, última seletiva olímpica, é um dos sintomas da “ignorância” nacional.

A ausência de público e estudantes nas principais competições de natação também é indicativo da tal “ignorância”.

O abandono das instalações do Pan 2007 é outra prova da “ignorância” política.

Acostumado com a Seleção de Futebol – essa sim, inserida na cultura dos “entendidos” em esporte – o brasileiro não entende as dificuldades, primeiro, para se tornar atleta juvenil. Depois, para evoluir na carreira. E a partir do instante em que um competidor chega à delegação olímpica, o resultado passa a ser esperado. E cobrado.

Pior: a própria mídia, amparada por patrocínios de empresas que investem nesses atletas, ajuda a construir o “ídolo”, e aí cresce a pressão.

Mas o buraco é mais embaixo, cara Rosicleia, técnica que participa de uma geração de resultados no judô. E técnicos e atletas estão, também, no contexto da “ignorância” nacional.

Não temos o espírito de classe entre essas categorias. Há um jogo de disputas por baixo dos tapetes, de tentativas de superação entre uns e outros, próprias do esporte, mas, muitas vezes, ignorando a própria a ética.

Falta diálogo ente os atletas da própria categoria; faltam denúncias das barbaridades praticadas pelos cartolas. O silêncio e a omissão predominam. É cada um por si.

O Comitê Olímpico Brasileiro tem um “Conselho de Atletas”. Qual dos seus integrantes conhece a realidade na base, na iniciação? Duvido que algum desses ilustres senhores tenha descido de seus pedestais de famosos para dialogar com quem está enfrentando o inferno da iniciação, sem patrocínio e Bolsa Atleta desvalorizada. Assim, como podem defender a categoria em suas necessidades? Ai, também, cara Rosicleia, identifica-se a “ignorância” olímpica.

E se formos desfiando o novelo chegaremos ao ponto de partida: educação. Se faltam condições às escolas para a prática da elementar “educação física”, indispensável para a formação de uma cultura esportiva, não é de admirar que o brasileiro se reúna só a cada quatro anos para vibrar e… cobrar.

E a cobrança, Rosicleia, faz sentido. Porque é o “ignorante” do torcedor que paga a conta bilionária do esporte.

As principais fontes de financiamento do esporte olímpico são verbas públicas. E se há dinheiro há 11 anos – dois ciclos olímpicos e meio – e faltam resultados, é porque algo está mal. E muito mal, mas de cuja identificação dessas mazelas não conta com a participação de técnicos e atletas para alertar e contestar nossas autoridades e, principalmente, o “torcedor ignorante”.

O ponto de partida de um país olímpico está na escola. Mas o Brasil, por imposição do COB e aval do governo, foi na contramão dessa lógica mundial.

Assim, nos tornamos olímpicos na teoria, mas na prática ainda estamos na idade da pedra.

Fazemos projeções de medalhas para tentar desmontar os argumentos dos críticos de uma realidade que se renova a cada quatro anos.

Mas não conseguem iludir a “ignorância esportiva” sobre o jogo de interesses que o esporte esconde.

Porque, uma coisa são os Jogos, histórica Olimpíada. Outra, são os negócio$…

E é desse negócio que técnicos e atletas também participam, com a conta paga pelo “ignorante torcedor”.

Enquanto isso, na escola, isolada desse contexto, a garotada iludida agita a bandeirinha do patriotismo esportivo.

Confira a bronca de Rosicleia


Dia de Maurren Maggi tentar o bi olímpico
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José Cruz

Fernando Franco

Depois do fracasso de Fabiana Murer no salto com vara, “prejudicada pelo vento”, as esperanças do atletismo olímpico voltam-se para Maurren Maggi: nesta terça-feira, salto em distância a partir das 15h05 (de Brasília), buscando o bicampeonato olímpico.

Para se classificar, Maurren terá que saltar 6,70 ou ficar entre as 12 primeiras. Este ano, sua melhor marca é 6,85, que a coloca em 15º lugar no ranking mundial. Sete adversárias saltaram na casa dos 7m, este ano.

Brittney Reese, dos Estados Unidos, líder do ranking, com 7,23m, é a atual campeã mundial e uma das 32 adversárias da brasileira.

Em 2008, Maurren saltava com regularidade nas várias provas que participou. Fez mais de quatro saltos acima de 6,80m. Este ano, marcou 6,85 em maio e nas duas competições seguintes chegou a 6,60m.

Ou seja, diante da falta de regularidade crescente a situação é bem diferente da de 2008. Vamos torcer.

Dardo

A terça-feira no torneio de atletismo olímpico começará com Laila Ferrer e Silva. Ela vai disputar o grupo A da fase de qualificação do lançamento do dardo, a partir das 6h (de Brasília).

Passará à final quem marcar 62m ou ficar entre as 12 primeiras. Aos 30 anos, a melhor marca de Laila é 60,21m, este ano, em junho.

No salto triplo masculino, Jonathan Henrique Silva disputará a qualificação, de olho nos 17,10m ou ficar entre os 12 primeiros, para ir à final.

Jonathan é o sétimo do ranking deste ano (17,39m) mas não tenho ilusão de que será finalista. No Troféu Brasil marcou 16,47 e não voltou a materializar sua melhor marca.

Oftalmologista

Do que vi até agora, sugiro  que o Comitê Olímpico ou a Confederação de Atletismo mandem avaliar a visão de nossos atletas. O Brasil é o único país que tem competidor com óculos escuros, inclusive à noite… Será marketing disfarçado ???

Rosangela Santos foi a única atleta até agora a melhorar seu resultado. Materializou um excelente 11s07s nos 100m, novo recorde brasileiro. Ao disputar a semifinal outra grande marca 11s17, ou seja, seus dois melhores resultados do ano foram em Londres, o que demonstra que ela se preparou para evoluir nos Jogos.

Fernando Franco dirige o Centro de Atletismo, em Brasília


Zanetti, o ouro que veio da escola
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José Cruz

Está no site do campeão Arthur Zanetti

  “Em 1997, Por indicação do professor e com autorização da mãe, Arthur fez o teste no clube SERC Santa Maria em São Caetano do Sul. Foi aprovado e representa o clube até hoje.

O professor de Educação Física detectou no aluno, Arthur Zanetti, qualidades e características físicas apuradas que correspondiam com aquelas procuradas pelos profissionais do alto rendimento na ginástica artística.”

 Está aí o resultado da prática de educação física nas escolas.Professor atento, e o aluno foi encaminhado para o clube, onde se profissionalizou.

A transição ocorreu ao natural e cofirma a tese que tanto tem se debatido neste espaço.

Mas quantos Zanetti estão escondidos, Brasil afora, pela falta dessa elementar atividade física?

Com a palavra o Ministério da Educação, o do Esporte, o Palácio do Planalto.

 

 


Jogos Olímpicos do Rio: o que esperar do Brasil em 2016?
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José Cruz

Wilson Teixeira Soares

O que esperar dos atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016? Os que não se ufanam estão a desconfiar que pouco, muito pouco. Como está acontecendo nos Jogos de Londres. Encerrada a primeira semana de competições, o Brasil encontrava-se em 27O lugar, atrás de países como o Cazaquistão. Mas de acordo com a aritmética ilusionista dos que comandam o Comitê Olímpico Brasileiro desde antes do nascimento de Matusalém, ao cabo do evento terá embolsado exatas 15 medalhas.

Respeitado esse número mágico, está, é evidente, complexo para a delegação brasileira submeter-se ao vaticínio. Se cumprida a primeira metade da competição os brasileiros conseguiram faturar apenas seis medalhas, o que significa menos de uma a cada dia de disputas, encerrados os Jogos – e caso os atletas brasileiros não melhorem seu rendimento – talvez sejam conquistadas doze medalhas.

É possível, no entanto, que esse número chegue a 13. Talentos esportivos que conseguem vencer todas as dificuldades no Brasil para se tornarem atletas de alto rendimento sempre aparecem. Em qualquer país do mundo. Não é, em absoluto, uma especialidade brasileira. Que desde que o mundo é redondo (o mundo só se tornou redondo depois que Galileu provou a esfericidade do planeta; antes, para a humanidade, era plano) comemora sucessos episódicos, como os de Adhemar Ferreira da Silva, apenas para citar um exemplo.

Há alguns anos, o choro dos que dirigem, entra década sai década, as entidades de administração do esporte era de que o esporte no Brasil carecia de apoio, de recursos, de verbas, de dinheiro. Essa carência, hoje, inexiste. As burras do Comitê Olímpico Brasileiro estão cheias, fornidas pela Lei Piva e também pela Lei de Incentivo ao Esporte. Sem falar nos recursos das estatais. E quem se der ao trabalho de visitar a sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, constatará que o comitê paira no primeiro mundo.

Por que, então, o Brasil, em matéria de esporte de alto nível, de alto rendimento, não se torna uma potência? Talentos motores para todos as modalidades, existem. E cabedal científico, em termos de preparação atlética, medicina e biomecânica, igualmente, está à disposição de quem queira investir com sensibilidade, discernimento e objetividade. A equipe inglesa Sky, de ciclismo, que deu ao inglês Bradley Wiggins o título de campeão do Tour de France deste ano, fez o dever de casa e um britânico, pela primeira vez na história do mais famoso giro ciclístico do mundo, ganhou a prova.

Identificar talentos motores e burilá-los ao longo de 12 anos exige mais do que discursos, mais do que as mesmas declarações de sempre de que o desempenho do Brasil nos Jogos recém-encerrados foi a melhor da história. Exige planejamento de longo prazo. E o abandono do discurso fácil de que à falta de medalhas os atletas brasileiros, apesar de não terem conseguido subir ao pódio, abiscoitaram muitos diplomas na qualidade de finalistas.

Descobrir talentos motores implica a existência de uma política esportiva capaz de realizar um trabalho de longo curso, ininterrupto, que independa de nomes, de favores, de eternização nos cargos. Mas cumprir tal tarefa, em apenas quatro anos é impossível.

Cada casa tem uso, cada roca tem seu fuso. Investir na base deveria ter sido a solução para o Brasil, em 2016, nos Jogos do Rio, apresentar resultados de primeiro mundo? Sim, essa é uma necessidade indiscutível. Mais importante do que realizar investimentos regulares na base, no entanto, é democratizar, com urgência, o acesso de todas as crianças à prática do esporte.

Para tanto, é imprescindível modificar a Lei das Diretrizes e Bases da Educação, a fim de estabelecer neste diploma legal que a prática do esporte, no contra-turno escolar, é obrigatória até os 18 anos de idade. Talentos que, uma vez identificados, devem ser sujeitos das necessárias condições para que possam evoluir. Oferta que tem de abranger desde o acesso à educação formal à especialização na modalidade adequada ao talento motor de cada um.

É fato concreto, no entanto, que pedagogos inúmeros são avessos à prática do esporte que deságua em competição na escola, por entenderem que estimular crianças a competir é um instrumento contraproducente em termos educacionais.

O ser humano tem, no entanto, uma disposição natural para a competição. Junte-se um bando de crianças, divida-se esse bando em dois times de rua, bote-se uma bola de meia à disposição e o racha tem início. Só quem nunca jogou uma pelada na vida desconhece que um time, sem camisa, sem tênis, só de calção, vai se matar para ganhar do outro. E faturada a vitória, a gozação acontecerá. Sempre foi assim e sempre será.

Faltam, hoje, quatro anos para os Jogos Rio 2016. Um novo ciclo olímpico não começará tão logo seja apagada a chama que queima sob o céu de Londres. Já teve início nos centros esportivos das grandes potências.

Ao longo desse ciclo, acontecerão os Jogos Panamericanos, em 2015. E, como sempre, os atletas brasileiros faturarão muitas medalhas, como ganharam nas últimas edições dos Pan. O que levará o torcedor brasileiro a acreditar que nossos atletas descobrirão minas de ouro em 2016.

Os que, com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo, analisarem os resultados colhidos pelo Brasil em Londres e avaliarem os investimentos na descoberta de talentos motores, no esporte de base e, também, a política de compadrio do Comitê Olímpico Brasileiro na distribuição dos fartos recursos que o Estado brasileiro destina ao esporte, não terão razão para serem otimistas.

Mas uma coisa é certa: o discurso apologético, ainda que infundado, dos sempiternos dirigentes esportivos brasileiros prognosticará sucessos e vitórias retumbantes. Que, como está a acontecer em Londres, não acontecerão.

Wilson Teixeira Soares, jornalista, ciclista, membro do grupo ciclístico Coroas do Cerrado, ex-assessor especial do Ministério do Esporte e Turismo, ex-coordenador do Conselho Nacional do Esporte.


Atletismo também fracassa, apesar do orçamento de R$ 26 milhões
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José Cruz

Confederação Brasileira de Atletismo teve orçamento de R$ 26 milhões este ano, sendo R$ 24 milhões de dinheiro público

Só a Caixa, patrocinadora oficial, aplicou R$ 16 milhões

Nunca foi tão oportuno, tão necessário, tão indispensável criar a CPI do Esporte Olímpico

Que sábado!

Rosângela Santos não se classificou para a final dos 100m. Mauro Vinícius da Silva ficou em sétimo, no salto em distância.

Kissya da Costa, do remo, foi flagrada no doping.

Já a campeã mundial, Fabiana Murer, reclamou que o vento estava forte para o salto com vara. E falhou…

No dia anterior o barulho na piscina atrapalhou Cesar Cielo. Descansar no luxuoso Crystal Palace não foi bom …

Potencial

Grande resultado de Mauro, o Duda, que chegou à sua primeira final olímpica. Campeão mundial indoor ele tem potencial para 2016. Sujeito simples, fala sério, é realista, não diz bobagens quando analisa seu desempenho.

Mas é muito pouco para o tamanho do Brasil, apesar de ainda faltarem as provas de maratona e revezamento.

Principalmente porque, para preparar a equipe olímpica, a Confederação Brasileira de Atletismo teve orçamento de R$ 26 milhões este ano, sendo R$ 24 milhões de dinheiro público. Só a Caixa, patrocinadora oficial, aplicou R$ 16 milhões na CBAt.

Tamanho menor

Dia após dia nosso potencial vai definhando e o tamanho olímpico do Brasil se aproxima da meta do presidente do COB, Carlos Nuzman: 15 medalhas. E olhe lá!!!

Carlos Nuzman foi quem, em Sidney 2000, pediu dinheiro para transformar o nosso esporte… E o dinheiro veio, ao$ monte$. Bilhõe$…

O mesmo Nuzman projeta o Brasil no top 10 nos Jogos Rio 2016. Mas avisa: além das medalhas que tradicionalmente ganhamos (vôlei, judô, vela, hipismo…) precisamos de resultados em seis novas modalidades.

Diante dos resultados de Londres está difícil cumprir tal projeção. Só neste sábado, a Grã Bretanha ganhou três medalhas de ouro no atletismo. Estamos preparados para, em quatro anos, termos tal desempenho? A  Rússia, atual 10ª colocada, já tem 28 conquistas, três de ouro.

Veja bem o tamanho da encrenca que o Senhor se meteu, presidente Nuzman…

Novos rumos

O governo federal, maior financiador do esporte de rendimento, precisa agir. E o Congresso Nacional também. Nunca foi tão oportuna, tão necessária a criação de uma CPI do Esporte Olímpico.

Precisamos abrir a caixa do dinheiro público do esporte e tornar todas as despesas transparentes.

Precisamos saber a destinação dos recursos oficiais. Chega de argumentar que a prestação de contas está no TCU. Nós, contribuintes dessa conta bilionária temos o direito de saber onde foram parar mais de R$ 2 bilhões.

Foi numa CPI que presidiu que o agora ministro Aldo Rebelo conheceu as mazelas da CBF, desvios de dinheiro, enriquecimentos ilícitos, evasão de divisas, sonegações fiscais, enfim.

E agora, ministro, não há interesse em também investigar os bastidores da gestão do esporte, turbinado por dinheiro oficial?

Que não seja por curiosidade, mas por dever de ofício, por obrigação de zelar pelo bem público.

O Senhor tem duplo compromisso, com a nação, por ser próprio de seu cargo de ministro e íntimo de seu mandato parlamentar.