Blog do José Cruz

Arquivo : abril 2014

Rio 2016: o estranho atraso na matriz de responsabilidade
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José Cruz

A dois anos da realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, cai a terceira executiva de expressão  na estrutura do evento.

Maria Silvia Bastos, presidente da Empresa Olímpica Municipal, pediu demissão do cargo. Ela seguiu Márcio Fortes, que há um ano deixou a presidência da Autoridade Pública Olímpica, o órgão federal dos Jogos.

Em 2010, o secretário-geral do Comitê Organizador dos Jogos, Carlos Roberto Osório, até então um dos executivos de confiança de Carlos Arthur Nuzman, também se afastou da estrutura olímpica.

A ainda inacabada “matriz de responsabilidade” é apontada como o motivo da saída de Maria Silvia Bastos. Suposição, mas faz sentido.

Há poucos dias, representantes do Comitê Olímpico Internacional reclamaram a falta desse importante documento, que define quem é o responsável pelos investimentos financeiros nas diferentes obras projetadas, já que as obras estão divididas entre os governos federal, estadual e municipal.

Nos Jogos Pan-Americanos de 2007 faltou essa matriz, e 80% da conta de R$ 4 bilhões gastos naquela ocasião foram parar no Palácio do Planalto.

Disputas políticas

O atraso na definição da matriz de responsabilidade deve-se, principalmente, a disputas políticas dos três níveis governamentais, que evitam assumir compromissos bilionários. Mas o atraso na elaboração desse documento contribui, também, para que algumas obras sejam superfaturadas.

A estratégia é conhecida. Na medida em que o prazo de entrega das obras se aproxima, os governos se vêem obrigados a pular etapas importantes de licitações para cumprir os cronogramas. É nessa ocasião que ocorrem os superfaturamentos, e até pagamentos em dobro e por serviços não realizados, como constatou o Tribunal de Contas da União nas auditorias dos Jogos Pan Americanos.

Por tudo isso, passa a valer o chavão, “imagina depois da Copa…”


Copa 2014: o legado oficial e o imaginário
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José Cruz

Sugiro a leitura do artigo do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, para melhor entender  o texto que publico.

http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/03/31/transparencia-dos-gastos-publicos-e-um-dos-legados-da-copa.htm

Legado?

Em 2001, o deputado Aldo, então presidente da CPI da CBF Nike, comportou-se como verdadeiro fiscal do bem público.Vasculhou com eficiência e em detalhes as falcatruas da economia do nosso futebol. E publicou, sem complexo de vira-latas, a podridão encontrada, que cheira mal ainda hoje.

Passou o tempo e, agora, diz o ministro em seu artigo que a “transparência é legado da Copa”. Com o devido respeito, Ministro Aldo, mas transparência não é legado, é obrigação do gestor.

Mas não temos essa transparência alardeada. O próprio Tribunal de Contas da União repetiu as dificuldades para a obtenção de informações no seu próprio Ministério, o atraso na liberação de dados não só da Copa, como das demais despesas ministeriais.

Enfim, são pontos de vista, mas eu não mudei de opinião. Nem por isso me sinto um vira-latas de estimação, que sacode o rabo quando vê o dono, mas um cão de guarda, que rosna contra os abusos do Poder. E que abusos!!!


Os desaparecidos
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José Cruz

O esporte em geral e o futebol em particular foram eficientes armas para esconder atrocidades aos opositores do regime militar, que impôs a ditadura por 21 anos.  Em memória das vítimas do golpe de 31 de março de 1964.

 

Affonso Romano de Sant´Anna

De repente, naqueles dias, começaram
a desaparecer pessoas, estranhamente.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Os atores no palco
entre um gesto e outro, e os da platéia
enquanto riam.
Não, não era fácil ser poeta naqueles dias.
Porque os poetas, sobretudo
– desapareciam.

Cai um dia em desgraça
a mais torpe ditadura
quando os vivos saem à praça
e os mortos da sepultura.

A poesia completa  está aqui.


Dinheiro público financia ditadura do cartola
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José Cruz

A Confederação Brasileira de Tênis (CBT) realiza neste sábado sua primeira assembleia do ano, presidida por Jorge Rosa que, por sinal, está sendo investigado pela Polícia Federal.

O processo é demorado. Foi desmembrado para consultas em outros três estados mais o Distrito Federal, e corre em segredo de Justiça na capital paulista.

Por extensão, os membros da assembleia  de hoje  – presidentes de federações –,  que validam os atos do presidente, estão na mesma rota de suspeição. Jorge é o cartola que mudou o estatuto da CBT para se manter no poder por tempo indeterminado. Agora, quer acabar com eleição para os cargos de diretoria. Ele escolhe os nomes e pronto.

É a ditadura da confederação privada que se sustenta com dinheiro público. Baita negócio!

Rompimento

Parceiro por mais de duas décadas de Jorge Rosa, o empresário Ricardo Marzola rompeu com o amigo. Na última conversa que tiveram, Rosa confidenciou que estava sendo “roubado”.  Pior: que até extratos bancários foram adulterados para acompanhar a prestação de contas da verba aos Correios, patrocinador do tênis.

Jorge desmente esse diálogo. Assim, para que não fiquem dúvidas, o setor de prestação de contas dos Correios pode pedir os extratos bancários originais da CBT e confrontá-los com as cópias apresentadas nas prestações de contas. Não precisa nem de polícia para fazer isso.

A reportagem sobre esse novo escândalo, que fiz com o companheiro Rafael Sampaio, do UOL Esporte, em São Paulo, está aqui.

Desmandos

É um novo capítulo da corrupção no esporte, onde as estatais, patrocinadoras, têm suas marcas envolvidas num lamaçal de denúncias de corrupção, quando o objetivo seria o de se vincular aos atletas, resultados e pódios.

Vôlei, handebol, ciclismo, futsal, basquete, tênis, taekwondo, futebol … a festa é grande, e daí?  Quem tem poder e autoridade para conter essa avalanche de desmandos da cartolagem?

Não, não contem com o Ministério do Esporte, pois ali a preocupação é controlar a torneira de onde sai parte da grana que alimenta um dos braços da corrupção esportiva.


No país olímpico, o esporte está na lama
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José Cruz

O presidente da Federação Aquática do Rio de Janeiro, Marcos Firmino, pediu demissão, foi pra casa. Com dívidas trabalhistas e enormes problemas financeiros a federação vive um drama na sede dos Jogos Rio 2016.

O administrador da federação, José Ricardo Bahiana Fernandes, suspendeu todas as competições até encontrar um novo presidente. Prejuízo para o calendário e, principalmente, atletas.

Essa notícia é divulgada enquanto atletas fazem vaquinhas para cuidar da saúde, para viajar e competir. Mas temos cinco mil bolsistas no Ministério do Esporte…

Enquanto isso…

As confederações estão riquíssimas, mas, muitas, atoladas em suspeitas de enorme corrupção. Há anos!!!

Um grupo de irresponsáveis deputados (há alguns responsáveis, acredite!) vai aprovar um projeto de lei que perdoa a dívida fiscal de R$ 4 bilhões dos clubes de futebol. Mas não querem nem saber quem embolsou a grana, há mais de dez anos! As excelências são cúmplices da imoralidade administrativa do esporte.

Os mesmos deputados sabem que as federações de todos os esportes, Brasil afora, estão falidas!!! A estrutura do esporte faliu, está um caos, um caco, uma imundice! E qual a ação efetiva do Ministério do Esporte para enfrentar essa realidade? E do Comitê Olímpico?

Essa falência se deve, também, porque dirigentes se aventuraram nas apostas de bingos esperando ganhar muito dinheiro. Isso não ocorreu e a dívida fiscal milionária ficou para o esporte pagar.

Toda essa realidade é culpa dos próprios presidentes de federações, que com seus votos mantêm os presidentes de confederações em gestões viciadas e suspeitas.

Os presidentes de federações nunca trabalharam para combater a estrutura frágil e corrupta que o olimpismo se tornou no Brasil.

Veja o recente escândalo no vôlei: seleções fortes e premiadas, mas com federações, clubes e campeonatos pelas tabelas.

Apesar dessa desordem, o dinheiro abunda. Dinheiro público! Está claro o motivo para que essa estrutura permaneça, porque a desordem incentiva a corrupção.

Mas somos um país olímpico!!!


Imagina depois da Copa!
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José Cruz

Condenado a três anos de prisão em regime aberto – poderá passear à vontade – o deputado Asdrúbal Bentes renunciou ao mandato e desfalcou a Comissão Especial do Proforte, que votará o projeto de lei para perdoar a dívida fiscal dos clubes de futebol, coisa de R$ 4 bilhões…

Bentes chegou a ser presidente da Comissão de Turismo e Desporto. Até ontem, integrava a tropa de choque que defende os interesses dos cartolas no Congresso Nacional.

Essa condenação do deputado, a fortíssima marcação da CBF nos parlamentares e a presença de amigos de Carlinhos Cachoeira na Comissão do Proforte mostra bem o ambiente onde nosso esporte  é debatido, na Câmara Federal.

E não tenho dúvidas:  as excelências perdoarão os caloteiros, embalados pelas motivações e legados da Copa do Mundo. São patriotas, antes de tudo. Mas os leitores terão, neste espaço, o nome dos deputados bonzinhos que ajudaram a sacramentar o calote fiscal.

 Enquanto isso…

“Comemora-se” hoje um ano sem o estádio Engenhão. Apenas seis anos depois de inaugurado, o “legado” do Pan 2007” foi fechado, porque estava desabando.

As empreiteiras estão feliz da vida.

Imagina depois da Copa!

Bah!


Tênis: títulos suspeitos
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José Cruz

No sábado, a CBT, Confederação Brasileira de Tênis realizará a primeira assembleia do ano para apresentar o balanço financeiro de 2013.  E poderemos conhecer sobre as receitas e despesas da entidade, especialmente no que diz respeito ao faturamento com os “títulos de capitalização”.

Em 2012, a CBT não prestou contas dessa receita, e isso é gravíssimo. Afinal, onde foram aplicados os recursos dessa fonte, numa instituição que tem 80% de seu orçamento cobertos por verbas públicas?

Quem lucrou e de quanto foi o faturamento vindo da venda desses títulos, que de capitalização não têm nada? Indaguei isso à diretoria da Confederação, mas não me responderam. Fica, agora, pedido público para que expliquem.

Em 2013, a CBT concedeu o direito para que as federações estaduais também se beneficiassem da venda desses títulos. Mas seria oportuno que o Ministério Público e a Polícia Federal investigassem esse negócio, porque há suspeitas de ilegalidade e propaganda enganosa, pois atrai o comprador para um produto que não existe.

Seguinte:

Em tese, ao adquirir um “título de capitalização” o comprador paga mensalmente uma pequena parcela mensal, que se acumula e, ao final de um ano, lhe é restituído o montante com os juros do período. É uma espécie de economia forçada, com a vantagem de também concorrer a prêmios semanais.

Mas no tênis e no “CapitalCap” a jogada é diferente.

O comprador-apostador não capitaliza absolutamente nada! 100% do dinheiro “capitalizado” vai para a Federação Brasiliense de Tênis, por exemplo e para outras federações, nos demais estados. Assim como já foi para a CBT, em anos passados. O sujeito compra a cartela para concorrer apenas aos prêmios. É iludido sobre a tal capitalização, pois a atendente não o informa sobre o destino do dinheiro e esse detalhe importante aparece escondido, na cartela, com aquelas letrinhas que ninguém lê.

Isso não é jogada legal no esporte e, principalmente, envolvendo entidades que estão intimamente vinculadas ao movimento olímpico.

Os anúncios da ilusão

http://www.capitalcap.com.br/

http://www.capitalcap.com.br/resultados.html

 


Vôlei: a festa continua
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José Cruz

Qual a fronteira entre o “esporte olímpico”, representativo do Brasil, e o “esporte negócio”? em qual o Estado deve se envolver e quais os seus limites de financiamento? 

Mais um capítulo sobre os bastidores da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), mostra como a perpetuação dos cartolas serve de trampolim para cargos maiores. A reportagem, de Lúcio de Castro, revela que a CBV financiou o agrado de Ary Graça aos eleitores que o fizeram chegar à presidência da Federação Internacional de Vôlei. Custo da festa, em Angra dos Reis: R$ 575 mil.

Sem fronteiras

O detalhe é que a fonte de renda da CBV é pública. É dinheiro da União que sustenta essa estrutura,  onde as seleções são destaques e moedas valorizadas para os cofres da CBV.

Mas qual a fronteira entre o “esporte olímpico”, representativo do Brasil, e o “esporte negócio”? em qual o Estado deve se envolver e quais os seus limites de financiamento? Na falta disso, a festa se torna permanente e, pior, sem fiscalização.

Nossas confederações são riquíssimas, com os cartolas, inclusive, recebendo salários, o que está certo, mas qual a origem do dinheiro para sustentar esses senhores?

No outro lado, federações e clubes estão falidos, enfraquecendo a estrutura do esporte de rendimento. Mas não se vê uma só ação de governo, protetor da elite, para mudar essa situação.

Donos do poder

O episódio da CBV não é exclusivo. É comum entre essas entidades, principalmente na época em que os balanços anuais são apresentados e, com agrados, aprovados.

Por isso, os cartolas sentem-se donos, proprietários das entidades que dirigem. E sem oposição, pois atletas e técnicos tremem falar sobre esses assuntos.

Como diz o senador Cristovam Buarque, “dirigente é uma função e a confederação que dirige não é sua propriedade”.

Mas as evidências mostram o contrário, eles são os donos, os proprietários. E o Estado, provedor financeiro, mas omisso no planejamento e na fiscalização, avaliza a ilegalidade  incentivando a corrupção.


Jorge Rosa quer dirigir sozinho a Confederação de Tênis
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José Cruz

O presidente da Confederação Brasileira de Tênis, Jorge Lacerda Rosa, quer concentrar poderes, no melhor estilo ditatorial.

Além do presidente, mais ninguém será eleito para a diretoria. Os cargos serão preenchidos por livre escolha dele, Jorge Rosa. A proposta será votada na assembléia de sábado próximo, dia 29, conforme o edital de convocação.

Isso é um risco para a gestão do esporte, pois quem não rezar pela cartilha do presidente dançará.

 

Jorge Rosa, presidente da CBT – (foto de Fernando Dantas – Gazeta Press)

 

Coincidentemente, no dia seguinte ao da assembléia, 30 de março,  completam-se 50 anos do golpe militar que fechou o Congresso Nacional e sepultou a democracia por longos anos. A abertura foi “lenta e gradual” e os direitos políticos reconquistados graças às manifestações de rua. E no caso do esporte, onde estão as manifestações dos atletas?

A linha dura no esporte em geral e no tênis em particular não se democratizou. Ao contrário, continuou como nos anos de chumbo, sem democracia, com o Congresso Nacional fechado ou dominado pela força militar.

É o estilo Nuzman, presidente do Comitê Olímpico (que foi candidato a deputado pela Arena), chegando às confederações. O estranho nesse processo é que todas as entidades do esporte olímpico são sustentadas por verbas públicas. Muito estranha essa conjugação de ditadura e dinheiro oficial.

Pior:

Na mesma assembléia da CBT, no sábado,os presidentes de federações votarão sobre “o salário dos dirigentes”! – que serão pagos com verbas públicas.

Sob suspeita

Quem propõe tudo isso, Jorge Rosa, responde a uma queixa-crime que tramita no Ministério Público de São Paulo.

O processo, número 134.001.003152;2011-81, atualmente sob investigação da Polícia Federal, é tão grave que está em segredo de Justiça. As investigações envolvem, entre outras denúncias, falsificação de estatuto e o uso de contas correntes laranjas, por Jorge Rosa, à frente da Confederação Brasileira de Tênis.

Observação

Não publico a manifestação de Jorge Rosa porque ele não responde minhas mensagens. Optou pelo silêncio.


Nuzman, ex-candidato da Arena, mantém espírito da ditadura no esporte
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José Cruz

“As pessoas têm medo de falar porque são retaliadas, refiro-me ao que testemunhei. O esporte brasileiro ainda vive nos anos de chumbo, nunca mudou. Da ditadura militar ao MDB; do partido do Collor ao partido do Itamar; do PSDB ao PT, a única coisa em comum entre eles é o presidente do COB.” (Bebeto de Freitas)

 

Em O Globo e globo.com, hoje, mais uma entrevista que é valiosa contribuição à história do esporte brasileiro, com depoimento do técnico de vôlei, Bebeto de Freitas (vice-campeão olímpico pelo Brasil, 1984, e campeão mundial pela Itália, 1998).

A reportagem ressuscita uma história que explica a perpetuação de Carlos Arthur Nuzman na presidência do Comitê Olímpico Brasileiro.

Nos “anos de chumbo”, como era chamado o regime militar, que impôs censura e implantou terror no Brasil, Nuzman foi candidato a deputado pela Arena, o partido dos generais. E está à frente do COB há 19 anos, bem ao estilo militar que ele se aliou, que governava sem eleições para presidente da República, pois não admitia oposição.

Para os mais novos: havia só dois partidos, a Aliança Renovadora Nacional, Arena, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de Ulysses Guimarães, que evoluiu para o PMDB. Nuzman optou pela “ordem unida”.

Com muita pressão popular veio a “abertura política”: os exilados voltaram ao Brasil,  reconquistou-se a democracia, o Congresso Nacional foi reaberto, eleições presidenciais com voto direto, enfim, institucionalizou-se a corrupção (mas é outra historia). Mas no COB de Nuzman a ditadura continuou. Até hoje, Ele mudou o estatuto com artigo que limita o lançamento de opositores.

A entrevista completa de Bebeto de Freitas em  www.globo.com está aqui:

http://oglobo.globo.com/esportes/bebeto-de-freitas-volei-nao-se-surpreendeu-com-esse-escandalo-11956525