Blog do José Cruz

Arquivo : junho 2014

Aos trancos e barrancos
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José Cruz

Havia uma trave no meio do caminho, que mudou toda a história da classificação: no chute do atacante chileno, no último minuto da prorrogação, e no pênalti. É do jogo, claro.

Havia mais – e o principal: um goleiro que se redimiu, Julio César, o responsável pela classificação.

Nas entrevistas, Felipão dizia que a Seleção melhorava a cada jogo. Mas, contra o Chile, o que era aquilo que em campo?

Um fiapo de time! Um fiasco? É um grupo para ser campeão? Tem qualidade técnica e equilíbrio emocional?

Depois que sofreu o empate o time de Felipão se perdeu. Que jogadas foram exibidas que nos faça acreditar em algo melhor? É possível mudar? Há gente para mudar? Tempo? Só saberemos na segunda-feira, porque amanhã é folga coletiva. Bah!

O Brasil está nas quartas-de-final. Aos trancos e barrancos, o torcedor sobrevive ao sonho do hexa. Melhor que isso, só os feriados que vêm por aí.

 


Suarez tinha que ficar, porque esse é o padrão Fifa
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José Cruz

Por Fabiana Bentes

Editora-chefe do portal Esporte Essencial

 

Aquela mordida no ombro foi espetacular, um resumo de tudo o que representa a Fifa. Nunca vi um jogador executar um movimento tão significativo e de acordo com a entidade. Veio por trás, montou no que estava incomodando, mordeu sem piedade para garantir vantagem e depois caiu, estatelado no chão cheio de “dor”, com um teatro invejável como se ele fosse um pobre coitado. Afinal, o ombro do italiano estava incomodando e havia machucado sua protuberante dentição.

Mas, aos olhos e comportamentos da FIFA, o que Suarez fez de errado? Nada! E eu concordo com a defesa dos advogados de Suarez! Suarez não fez nada, ele sequer mordeu! A tecnologia e as reações dos próprios jogadores não existiram, tudo foi uma questão de má interpretação!

Pense comigo. Por que os uruguaios iriam condenar seu jogador já que eles utilizariam em sua defesa o mesmo antídoto de hipocrisia generalizada padrão FIFA, que sempre garantiu à entidade anos de um império corrupto de valores em todos os sentidos? Por que haveria de ser diferente com Suarez?

Mas dentro desse mundinho há a verdadeira hipocrisia que somente os legítimos hipócritas são capazes de representar. É aquela que todo mundo passa a acreditar que uma entidade hipocritamente correta agiu de forma adequada para garantir o fair-play, o respeito entre os jogadores e por aí vai.

Faça-me o favor!

A coisa fica tão grotesca que um verdadeiro hipócrita nunca consegue ser justo, não faz parte da sua índole e extrapola na sua ânsia de mostrar-se correto.

Então, ressalto um comentário feito pelo advogado Alberto Murray,  que foi árbitro da Corte Arbitral do Esporte, na Suíça, o Tribunal maior das questões esportivas de todas as modalidades, inclusive a FIFA.

A FIFA errou feio, entretanto, quando proibiu Luiz Súarez de estar junto da sua delegação, obrigando-o a abandonar a concentração do Uruguai, com escolta policial e proibí-lo de assistir aos jogos no estádio, não no banco de reservas, mas das cadeiras, como um cidadão comum. Ao fazer isso, a FIFA extrapola sua jurisdição e fere o direito natural do cidadão de ir e vir. A FIFA quer ir além do que lhe compete e mete os pés pelas mãos. Nunca vi a FIFA de Blatter ser assim tão rigorosa com os seus próprios membros e com os presidentes de Federações nacionais e continentais pilhados em atos de roubalheira e corrupção.“

Pois é. Pelo padrão que o esporte deveria seguir Suarez foi expulso corretamente porque ele é reincidente, mas, pelo padrão que a Fifa segue, Suarez deveria ter ficado como se não houvesse punição amanhã, porque, na verdade, para a Fifa, nunca haverá.

Quer moleza e dar o exemplo com o erro dos outros, senta no pudim.

Para saber mais:  http://www.esporteessencial.com.br/

 


O eficiente padrão Fifa
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José Cruz

Chove torrencialmente em Recife e o trânsito está travado neste 15º dia de jogos da Copa do Mundo. Ruas alagadas assustam, principalmente, os moradores de regiões mais pobres, informam os repórteres que por lá circulam.

chuva

Mas o gramado da Arena Pernambuco é padrão Fifa e está intacto, e o jogo Estados Unidos x Alemanha se realiza sem problemas. A drenagem do terreno foi feita com esmero técnico.

Essa é a diferença que tanto se discutiu na pré-Copa: se para um estádio de futebol receber quatro ou cinco jogos é possível qualidade nos serviços, porque o mesmo não é dispensado à população, que há décadas sofre com as inundações periódicas? Que políticas de longo prazo tivemos, Brasil afora, para evitar ou, no mínimo, amenizar a catástrofe das águas?

Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Paraná já passaram por isso logo no início da Copa. E quem se lembra dos que perderam suas casas e, até hoje, estão desabrigados?

Enquanto isso…

No mesmo padrão desse histórico desleixo governamental, o Bom dia Brasil de hoje mostrou que 40 mil alunos de 1.300 escolas do Paraná ainda não receberam os livros de português, matemática, ciências, geografia e história. Em Brasília ocorre o mesmo “fenômeno”…

A imagem da reportagem, numa escola de Maringá, mostrou a professora escrevendo no quadro o capítulo da lição do dia, enquanto os alunos copiavam para, só então, começarem a estudar. Isso acontece em tempos de informações instantâneas, dos eficientes tabletes etc. Mas, no Brasil da “Copa das Copas” nem o livro didático está disponível.

Porém, nos estádios padrão Fifa, todos vibram “num só ritmo”…

Que tal?


As chuteiras de ouro de Neymar
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José Cruz

Neymar usará chuteira dourada, no jogo contra o Chile, sábado, no Mineirão.

É modelo exclusivo, informam os companheiros da Folha de S.Paulo. Depois da Copa, a preciosidade custará R$ 1,2 mil, no mercado

chumar

E lembrar que Pelé, Rivelino, Tostão, Garrincha, Sócrates, Zico, Gerson, Júnior, Falcão … e por aí vai, usavam chuteiras de couro duro e batiam aquele bolão…

Reserva, mas com classe

Na Copa de 1950, Nilton Santos ficou na reserva porque não quis trocar a chuteira velha pela nova. Ele conta isso no seu livro, “Minha bola, minha vida”:

Já no Sul-Americano, o técnico Flávio Costa implicou com minha chuteira e comentou:

– Sua chuteira tem o bico muito mole para ser de um beque (como era chamado o jogador de defesa).

Argumentei que tinha sido convocado por ele, com o futebol que jogava com aquela chuteira. Não foi o bastante, ele retrucou:

– Beque meu joga com chuteira de bico duro e não dribla. E na hora do “bico”?

Não tive mais argumentos, pois não tinha a tal “hora” comigo. Eu não sabia chutar de bico (chute forte, sem precisão, para aliviar a defesa). Na época, todo jogador de defesa usava esse recurso. Só que eu, talvez por não gostar de jogar na defesa, não aprendi a dar de “bico”. Por isso, fiquei na reserva, com o protesto do Zizinho, que era meu incentivador e achava que eu deveria ser o titular porque sabia tocar bem a bola.”

Só jogava nos treinos coletivos. Nos treinamentos, só dava eu e o Nena – um beque central do Internacional de Porto Alegre. Ele gostava de mim e me chamava de menino. Às vezes, dizia assim:

– Como é que você está menino?

Eu dizia: “Estou bem”.

E ele: “Então vamos engrossar o treino”?

E não tinha para ninguém”.

Craques & marketing

Agora, a chuteira dourada Neymar tem o seu nome gravado, nome do filho, do pai, da mãe, da namorada, CPF, RG, data de nascimento, grupo sanguíneo, prefixo do helicóptero dele, email e por a vai…

E lembrei a simplicidade dos jogadores “daquelas” Seleções, que também foram craques, quando o jogo da bola era mais importante que marcas & marketing.

Sugestão de leitura:

“Minha bola, minha vida” – depoimento de Nilton Santos sobre a carreira dele.

Editora Gryphus


Basquete, subsidiado por verba pública, está fora do Mundial Sub-19
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José Cruz

Não há dúvidas de que a Seleção Brasileira de Futebol é a síntese da paixão esportiva nacional. Mas em 19 dias acabará a Copa do Mundo e voltaremos à rotina das demais modalidades e do nosso “prestigiado” Brasileirão.

Mas, enquanto a bola rola no terreno da Fifa, há um outro Brasil esportivo se preparando – ou não – para os campeonatos mundiais do ano que vem. Lembrando que daqui a 773 dias teremos os Jogos Olímpicos Rio 2016. Será a vez de estarmos atentos às braçadas de César Cielo, aos saltos de nossos ginastas, aos jogos das Seleções de Vôlei, Basquete, Handebol, enfim.

E daqui a 53 dias teremos os Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanjing, China, competição de 28 modalidades para estudantes de 15 a 18 anos. Nessa ocasião conheceremos a nova geração de atletas brasileiros.

Enquanto isso…

A Seleção Brasileira masculina de basquete Sub-18 está fora do Campeonato Mundial Sub-19, em 2015, repetindo a ausência de 2009. Na sexta-feira, o Brasil foi eliminado no último jogo, pela República Dominicana, 72×69.

Quem conta essa história em detalhes é o companheiro Fábio Balassiano, em seu blog Bala na Cesta.

Memória 

Lembro que a CBB (Confederação Brasileira de Basquete), dirigida por Carlos Nunes, demonstra nos últimos anos “gestão temerária”, conforme análise de especialistas em seus balanços contábeis.

E como a CBB é sustentada por recursos públicos ( R$ 14 milhões este ano, do Ministério do Esporte), seria bom que o governo se manifestasse sobre as metas que fixou ao liberar as verbas para a Confederação de Basquete.

E não podemos esquecer que a Seleção de Basquete adulta perdeu o Sul-Americano, classificatório ao Mundial da Espanha, em agosto. Porém, a Confederação de Basquete foi “convidada” pela Federação Internacional para preencher uma das quatro vagas finais.

Ironicamente, o “convite” foi pago pela CBB, mas o valor oficial não foi revelado.


O suspeito sucesso da Copa sem planejamento
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José Cruz

A revista Carta Capital publicou artigo criticando a “manipulação da mídia”, que fez previsão pessimista para a Copa do Mundo e o atual “sucesso” do evento.

Ignorar a confraternização dos torcedores e a alegria nos jogos – e suas surpresas – seria “burrice”, como diria Felipão. Mas a festa está mais para a “grã-fina”, personagem de Nelson Rodrigues, que nem sabia quem era a bola. E é aí que a imprensa concentra seus repórteres, na emoção do futebol, enquanto o outro Brasil continua sua rotina de mazelas, entre elas a corrupção e a exploração sexual infantil, duplicada em Fortaleza. E o que dizer dos 300 quilômetros de engarrafamento em São Paulo, com torcedor no trânsito por até três horas, em pleno jogo Brasil e México? E os R$ 4 bilhões cortados dos investimentos em mobilidade urbana?

Mais: para a festa de sucesso, onde assalariado e torcedor de arquibancada não entram, 150 mil pessoas foram removidas para dar lugar a obras nos arredores de estádios.

Modelo suspeito

O “pessimismo” alardeado por Carta Capital foi publicado em todo o Brasil e no exterior, a partir de auditorias do Tribunal de Contas da União, que um ano antes da Copa ainda “cobrava planejamento” do Ministério do Esporte, entre eles para as telecomunicações. E alertava para o risco de projetos superfaturados como ocorrera no Pan 2007. De outra parte, qual o grande projeto para “vender” o turismo brasileiro aos visitantes e fortalecer a imagem do país no exterior?

Portanto, o “sucesso” na competição revela mais uma surpresa: além da eliminação da campeã Espanha e da surpreendente vitória de Costa Rica sobre a Itália, o Brasil apresenta ao mundo a sua Copa sem planejamento e de transparência suspeita.

Ironicamente, um dos legados da Copa é esse: o governo deu uma banana ao planejamento. Já vimos isso no Pan 2007. Depois, vêm o abandono, as demolições das instalações esportivas e o desprezo aos usuários de áreas públicas para o esporte. E diante da impunidade crônica a festa fica mais turbinada por verbas públicas.

Em Brasília, uma semana antes da abertura da Copa, os “responsáveis” pela obra do estádio Mané Garrincha – de espetaculares R$ 1,7 bilhão – fizeram às pressas um “puxadinho” de água de um reservatório próximo, para evitar vexame em dia de casa cheia. Algo como “faz pela metade” que uma nova contratação completa o serviço. A “Casa da Mãe Joana”, como escreveu Gil Castello Branco, da Associação Contas Abertas, serve para isso. Escreveu mais, e com dados oficiais: “O custo dos estádios equivale a dois anos de investimentos federais em Saúde ou à instalação de 2.263 escolas.”

A propósito, em sete arenas, os governos estaduais assumiram dívidas de R$ 2,3 bilhões junto ao BNDES. Divulgar sobre essa realidade foi falta de profissionalismo ou manipulação da imprensa como afirma Carta Capital que, inclusive, fez reportagens críticas a respeito?

Enquanto isso…

A Fifa nunca esteve tão rica, e nesta Copa terá renda de R$ 9 bilhões. E quando os “donos da bola” retornarem à Suíça, internamente voltaremos às nossas mazelas, como a estagnação da economia e a péssima qualidade dos serviços públicos, falta de saneamento, estádios vazios no Brasileirão, transportes sucateados, negociação da dívida fiscal de R$ 4 bilhões dos clubes de futebol, atrasos nas obras para os Jogos Rio 2016, hospitais lotados, falta de livros nas escolas, apesar de o primeiro semestre já ter terminado. E tudo isso será motivo de discursos para as  eleições, já de suspeitas coligações partidárias.

Será, então, a hora de a imprensa sair do campo de jogo e se voltar para o balanço da festa. O resultado estará nos relatórios do Tribunal de Contas da União. Pra quê?


Lars Grael, campeão ocidental da classe Star, e os Jogos Rio 2016
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José Cruz

Dos campos de futebol da Copa do Mundo para os mares do mundo afora, porque o esporte não se resume ao valorizado jogo da bola, e o Brasil está a oitocentos e poucos dias de receber os jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. E um dos objetivos comuns na Copa e na Olimpíada é “legado”

Campeão

Competindo com alguns dos principais nomes da vela mundial, o brasileiro Lars Grael venceu o Campeonato Hemisfério Ocidental da classe Star, encerrado na sexta-feira, em New Hamshire, Estados Unidos.

Estavam na raia, entre outros, a lenda Augie Diaz, o atual campeão mundial John Mac Causland, o proeiro brasileiro tricampeão mundial Bruno Prada e o campeão olímpico americano Brian Faith. Que tal?

Lars velejou com um barco emprestado e contou com o reforço do proeiro americano Brad Nichol, que já conquistou o título máximo da classe no país. Desde o início a dupla andou na frente, conquistando três primeiros lugares, dois segundos e um quarto lugar.

Esse é o terceiro título internacional de Lars na classe Star em 2014, após as conquistas da Levin Memorial e da tradicional Bacardi Cup, ambas em Miami (EUA) em dupla com o proeiro Samuel Gonçalves.

Legado

Por esse desempenho e pela história que já escreveu para o esporte, Lars Grael, assim como seu irmão, Torben, têm autoridade para se manifestar sobre as regatas que serão realizadas na ainda poluída Baía de Guanabara, nos Jogos Rio 2016.

“O que temos que fazer é encarar o problema de frente. Negar a existência do problema e afirmar que as águas da Baía já se encontram acima dos padrões internacionais, é faltar com a verdade, O nosso objetivo é contribuir, e oferecer nossa experiência, com conhecimento de causa. Temos que fechar um pacto de compromisso que estabeleça metas para a melhoria da Baía de Guanabara, e proporcionar ao País, pelo menos, algum legado dos Jogos Olímpicos 2016.”

A mensagem completa está aqui


A Copa já está ganha
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José Cruz

Jaime Sautchuk

Jornalista

Ganhe quem ganhar, a Copa do Mundo de Futebol já deu vitória ao povo brasileiro. Ao final da sua primeira fase, o maior evento esportivo do mundo demonstrou nossa capacidade realizadora, fortaleceu o sentimento de brasilidade e, acima de tudo, forçará mudanças significativas na administração do esporte no Brasil.

Começa pelo fato de que dos 23 atletas convocados para a seleção canarinho, apenas quatro (Fred, do Fluminense, Jô e Victor, do Atlético Mineiro, e Jefferson, do Botafogo) jogam no Brasil. Isso é fruto de uma visão instalada em nosso futebol que qualifica o jogador como um produto de negócios, uma fonte de renda dos times e da cartolagem, não como desportista.

Essa visão precisa mudar. E a mudança tem que começar por um controle maior sobre a atividade dos times e principalmente das entidades esportivas. Ou seja, as federações estaduais afiliadas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), já que tanto a matriz quanto as filiais são verdadeiros antros de bandidos.

O Ministério do Esporte foi criado, em 2002, justamente para normatizar e fiscalizar tanto o futebol como os esportes olímpicos. Para pôr ordem na casa, enfim. Ou seja, o governo tem instrumentos para fazer com que a legislação existente, que é boa, seja aplicada.

Ademais, são estatais as principais empresas patrocinadoras dos esportes no Brasil (Banco do Brasil, Caixa, Petrobrás etc.), que podem pressionar pelo lado econômico.

Mesmo que se aceite o argumento dos cartolas de que as deles são entidades privadas, o governo tem instrumentos para impor regras ao jogo. Afinal, se todos os setores da atividade econômica seguem normas, por que o dos esportes não pode?

Também o Congresso Nacional pode ajudar. Por exemplo: falta uma lei que diga claramente como serão eleitos os dirigentes das entidades esportivas e até mesmo dos clubes. Hoje, os clubes elegem suas direções de formas obscuras, dando direito a voto a uma minoria de torcedores, que são aqueles que supostamente contribuem com grana.

Esses dirigentes é que escolhem os comandantes das federações estaduais e do DF. E só os presidentes dessas 27 entidades é que escolhem a camarilha da CBF, no caso do futebol. Isso é um absurdo, mas é o esquema que perpetua a mesma máfia de João Havelange, Ricardo Teixeira, Zé Maria Marin e seus apaniguados.

A Copa vem demonstrando que o torcedor quer ver jogos. Estádios lotados até nos jogos mais insignificantes, de Norte a Sul do país, não me deixam mentir. É certo que os preços dos ingressos não são lá muito acessíveis, mas isso não se reproduz nos campeonatos nacionais.

Fica, portanto, a estranheza de jogos do brasileirão, com times de grandes torcidas, como Flamengo e Corinthians, contarem com meia dúzia de gatos pingados nas arquibancadas. E esta seria uma importante fonte de receita para os clubes.

A resposta é óbvia, pois nossos craques jogam no exterior. Em verdade, hoje os times brasileiros são meras escolinhas de futebol, cuja função é produzir craques para jogarem lá fora. Ou produzir meninos de rua lá fora, pois os agentes levam muitas crianças que não dão certo no esporte e ficam perdidas mundo afora.

Pela legislação em vigor, menores de idade só podem sair do país com autorização dos pais. Mas esse documento é obtido com facilidade, já que muitos pais entregam os filhos por qualquer trocado para gastar nos mercados ou botecos. O correto seria a justiça conferir caso por caso.

Mas, mesmo os que dão certo, tem a agravante de que lá, em muitos países da Europa, eles desaprendem o futebol solto, bonito, em troca de uma eficiência esquemática que retira deles o nosso brilho. E a Copa já deixou claro que há um retorno ao futebol-arte.

A comprovação disso é que Espanha e Inglaterra foram mandadas embora logo no segundo jogo da Copa. Mas o nosso time fica igualmente travado, querendo imitar esse futebol europeu, burocrático, sem se soltar, como é a nossa marca. Esse é, por certo, o grande ensinamento desta Copa.

Só falta saber se alguém nas esferas de poder já pegou o espírito da coisa.


Em plena Copa, Rio 2016 coloca as barbas de molho
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José Cruz

Em pleno Mundial de Futebol e dúvidas sobre o futuro dos estádios “elefantas brancos”, o movimento olímpico brasileiro se antecipa a um debate que está sempre na ordem do dia: legado. Há poucos dias, o Globo publicou mensagem, tipo comercial, com foco no “legado das Olimpíadas de Londres 2012”.

Em meia página, a matéria abordou sobre um seminário, com a participação de especialistas ingleses que trabalharam nos Jogos de Londres. Um título chamou atenção:

“No Rio de Janeiro, tudo vai dar certo”.

Em seguida, outro alerta:

“Sucesso depende de uma abordagem integrada” – entre governo federal e a prefeitura carioca.

Fantasma

O Brasil optou por receber grandes eventos esportivos e, em seguida, apareceu o fantasma: “e depois?” A indagação faz sentido. Afinal, o desastroso exemplo do Pan- 2007 ainda é recente.

O principal estádio daquele evento, o Engenhão, está fechado para reforma, porque a cobertura estava desabando;

O Velódromo de R$ 16 milhões foi destruído e vão erguer outro, de R$ 150 milhões. Lá, a cobertura também ameaçou ruir, segundo relatório do Ministério do Esporte;

O Brasil está sem laboratório credenciado para exame antidoping. Os exames são realizados no exterior;

E já se sabe que a Baía de Guanabara não será mesmo despoluída, segundo o prefeito do Rio. Os velejadores terão que desviar de boias e do lixo na área de competição.

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Dúvidas

Para não ficar no esquecimento, aqui vai a “memória” de sempre:

Qual o aproveitamento que prefeitura e governo do Rio de Janeiro deram às instalações do Pan? Houve um programa para usar os espaços pela comunidade, por atletas e clubes formadores? Qual a ação efetiva do Ministério do Esporte nessa questão, pois foi o governo federal o principal financiador das despesas do Pan?

A reportagem em O Globo é uma espécie de “alerta” do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016. Algo como que chamando os governos federal, estadual e municipal a também se preocuparem com o pós-evento, a fim de que o Comitê Olímpico e o Comitê Organizador dos Jogos não sejam responsabilizados pelo desperdício de espaços, como já ocorreu com Pan 2007.

O pior é que, a oitocentos e poucos dias da Olimpíada no Rio de Janeiro, não temos nem uma discussão sobre esses assuntos. Nada! Até porque, encerrados os Jogos, os políticos e cartolas serão outros. E os que vierem que respondam sobre os desperdícios públicos de sempre.


Criador da Camisa Canarinho vibra com vitória da Celeste
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José Cruz

“Foi um sofrimento do começo ao fim. Depois do empate da Inglaterra, eu não esperava mais a vitória. Só conseguimos porque tem esse jogador extraordinário, Luis Suárez. Que loucura esse cara. Ele operou o joelho há um mês e hoje faz esse jogo? Não tirou o pé nunca! Bah!”

ssschhhAldyr Garcia Schlee, criador da camisa Canarinho (1953) e torcedor da Celeste, sobre a vitória do Uruguai contra a Inglaterra – 2 x 1

 Entrevista

Estive em Montevidéu três vezes. Belas visitas e, pelas boas lembranças, torci pela Celeste, contra a Inglaterra. Que vitória! Mas, principalmente, para homenagear o amigo e companheiro jornalista, Aldyr Garcia Schlee, criador da camisa Canarinho, verde-amarela, em 1953, ardoroso torcedor da Seleção Uruguaia.

Os desenhos que Schlee criou, até chegar à arte final da camisa da Seleção Brasileira, ilustram a capa do excelente livro “Futebol, o Brasil em Campo”, do inglês Alex Bellos.

AlexBellosAs camisas amarelas de Aldyr tiveram tanto sucesso que são, possivelmente, o mais reconhecível uniforme esportivo do mundo. É difícil imaginar o futebol brasileiro sem elas”, escreveu Bellos em seu livro.

 

E o que achas do atual modelo do uniforme da Seleção Brasileira?

– Uma coisa horrível. Recuperaram o velho “pijaminha”, como aquela golinha horrorosa. Desmoralizaram a camisa Canarinho, – disse Schlee.

Torcedor do Brasil de Pelotas, Schlee, um exímio jogador de futebol de mesa, veste a camisa Celeste. Ele nasceu na cidade de Jaguarão (RS), fronteira com o Uruguai, onde também se criou, quando guri. Daí surgiu essa identidade de torcedor pela Seleção Uruguaia.

Jornalista, escritor premiado, tradutor, professor universitário, Schlee, 79 anos, acompanhou o jogo desta quinta-feira contra a Inglaterra como todos os outros das demais Copas, desde 1950: “Com um caderninho,   fazendo anotações”, disse ele.

Apaixonado por futebol e bom de debates sobre esquemas táticos, esse “caderninho” é histórico. “Anoto tudo: escalação dos times, substituições, árbitros, bandeirinhas, técnicos, gols, local do evento, esquemas táticos, enfim”, disse Schlee.

E a vitória sobre a Inglaterra?

– Foi um grande jogo., mas um sofrimento do começo ao fim. Depois do empate da Inglaterra, eu não esperava mais a vitória. Só conseguimos porque tem esse jogador extraordinário, Luis Suárez. Ele ganhou o jogo, sem dúvida! Que loucura esse cara. Ele operou o joelho há um mês e hoje faz esse jogo. Não tirou o pé nunca! Bah!

E agora? Qual a expectativa? O fantasma de 1950 …

– Não sei, não sei. Agora não sei mais nada. Vamos para o próximo – encerrou Schlee, lá no interior do Rio Grande, numa rápida conversa por telefone.