Com R$ 130 milhões, atletismo patina. Atraso passa pelo Governo
José Cruz
O grande salto do atletismo – 2003
Em 2003, o então presidente da CBAt, Roberto Gesta de Melo, promoveu um seminário com especialistas, que decretaram “O grande salto do atletismo brasileiro”. Ao acertarem o foco para o Pan-Americano de 2007, não decidiram quem faria a massificação para a descoberta de talentos. Até hoje, Esporte e Educação batem cabeça com programinhas, que terminam logo no mês seguinte por falta de verba. Se falta verba para o livro escolar…
A grande mentira – 2004
“O que ocorrerá nas escolas do Brasil, já fazendo os testes (de aptidão física), em crianças entre 7 e 15 anos de idade, servirá para a descoberta de talentos e a partir daí serão encaminhados para treinamento. Haverá recursos para a formação, então todos os talentos serão acompanhados e financiados” (Agnelo Queiroz, ex-ministro do Esporte, em dezembro de 2004)
O estágio atual
A CBAt recebeu investimentos públicos de R$ 130 milhões, nos últimos quatro anos, e quase a totalidade da verba foi aplicada no alto rendimento. Mesmo assim, terminou o Mundial de Pequim em 25º lugar. E o Ministério do Esporte está concluindo este ano a instalação de centros de treinamentos, inaugurando uns e fechando outros, como o de Uberlândia (MG).
Já a carência de renovações pode ser explicada assim: nos últimos oito Campeonatos Mundiais de Atletismo, o Brasil ganhou quatro medalhas, duas só com Fabiana Murer. Jadel Gregório, no salto em distância, e o revezamento 4×100 fecharam os pódios nacionais. Em 16 anos – oito mundiais e “todos” esses atletas no pódio. A ênfase é porque o foco é o pódio, segundo o governo federal e o COB, como se só isso formasse o perfil de um país esportivamente forte.
O DINHEIRO DO ATLETISMO
F O N T E S | R$ |
Caixa/Patrocínios (2012/2015) | 93.704.850,00 |
Lei Piva (2012/2015) | 13.000.000,00 |
Convênio Min. Esporte 2011 | 10.473.600,00 |
Bolsa Atleta (844 atletas) | 10.153.105,00 |
Bolsa Pódio (27 atletas) | 3.300.000,00 |
T O T A L | 130.631.555,00 |
Ironicamente…
Quando não havia dinheiro farto, o Brasil ganhou três medalhas (duas prata e um bronze) em um só Mundial, de Sevilha, 1999, Lei Piva, Bolsa Atleta, Lei de Incentivo, patrocínio da Caixa, Bolsa Pódio etc vieram na década seguinte …
Portanto, o resultado no Mundial de Pequim não foi um “fracasso inesperado”, mas a repetição do que ocorre desde 2001, e construído, também, na falta de estruturas e definições de competências das instituições do esporte.
O primeiro grande responsável por essa situação é o governo federal, via Ministério do Esporte, que liberou verbas sem que se tivesse estrutura para desenvolver a modalidade: as federações estão falidas e a carência de clubes e técnicos é real! Socorreram o emergencial, o grande evento seguinte, e não prepararam o longo e médio prazos.
A partir de 2003, Agnelo Queiroz, Orlando Silva, Aldo Rebelo e o atual, Hilton, foram omissos em planejamento sustentável. Fizeram e fazem o mesmo com outras modalidades, que já demonstraram incapacidade para gerir verba pública, como as de Basquete, Tênis, Taekwondo etc.
Talentos
Onde estão os talentos? A quem compete identificá-los? Carlos Nuzman já afirmou que isso não é com o COB. Mas, estranhamente, por que o COB cuida dos Jogos Escolares?
Descobrir talentos compete à CBAt? Ao Ministério? Às federações sem estrutura? ao clube da equina? Roberto Gesta de Melo ficou 27 anos no comando do atletismo e não conseguiu definir isso com ninguém. Os resultados daquela gestão repercutem na diretoria de agora, há dois anos no comando.
Enquanto isso…
Quando assumiu o ministério do Esporte, em 2003, o ministro Agnelo Queiroz decretou o “dia da descoberta de talentos”.
E lá foi ele para a rua, com meia dúzia de assessores, fita métrica na mão, medir a barriga e altura de tudo que é garoto que passava na frente dele, num domingo de sol em Brasília.
Cena mais ridícula impossível, e os resultados do atletismo, hoje, passam, também, por essas ideias maravilhosas.