Vereador Orlando Silva: como a verba pública elege um político de ocasião
José Cruz
Formado na liderança estudantil, com passagem pela presidência da UNE, o baiano Orlando Silva torna-se vereador em São Paulo, pelo PCdoB. Primeiro suplente, ele ocupará a vaga do vereador Netinho, que assumirá a Secretaria da Igualdade Racial.
Orlando Silva entrou para a política pela porta do oportunismo e mãozinha dos amigos. Primeiro, tratou de arrumar espaço no Ministério do Esporte, onde foi desalojando titulares em alguns cargos, até chegar à cadeira maior, de ministro.
Lá fez estripulias, algumas que entraram para o folclore das bobagens ministeriais: pagou com cartão de crédito do governo uma tapioca de R$ 8,30. No outro extremo dessa guloseima Orlando gastou R$ 460 num jantar de restaurante da moda em São Paulo.
Em seguida, usou o mesmo cartão para se hospedar em luxuoso hotel do Rio de Janeiro com a esposa, filha e babá. Custo da conta aos cofres públicos, R$ 5,6 mil, conforme registrou a imprensa. Em janeiro de 2008 ele era o quinto ministro que mais gastava com o cartão corporativo do governo federal. Em determinado momento, devolveu R$ 30 mil aos cofres do governo para tentar corrigir os abusos e absurdos.
E entre viagens e gastanças não construiu nada para o esporte brasileiro. Ao contrário, deixou prejuízos, pois não foi capaz de montar estrutura para fiscalizar a grana pública que liberava.
Só no ano passado, a CGU determinou a devolução de R$ 50 milhões ao Ministério do Esporte, dinheiro que não chegou ao seu destino.
Em outra canetada, o então ministro Orlando liberou mais de R$ 2 milhões para a Federação Paulista de Xadrez desenvolver o projeto Segundo Tempo. O escândalo por conta desse projeto e outros, como destinação de recursos para municípios onde havia candidatos do PCdoB, provocou a suspensão de repasses logo que o ministro Aldo Rebelo assumiu o Ministério.
Faço esses relatos – e há dezenas de outros, se preciso – para demonstrar como os oportunistas da Esplanada se dão bem sem seus objetivos. Passam pelo Executivo, não constroem nem contribuem para o desenvolvimento do setor e acabam ganhando vaga no legislativo, depois de arranjos partidários para beneficiar os companheiros.
Isso é comum em qualquer partido, em qualquer tempo; e oestrago que fazem e fica no esquecimento.
Orlando deveria ter saído candidato a deputado federal na eleição anterior, mas o então presidente Lula pediu que ele ficasse no ministério. Saiu mais tarde, já no governo Dilma, no topo de escândalos de corrupção.
Desempregado, foi para São Paulo, candidatou-se a vereador e não se elegeu. Mas acaba de ser beneficiado pela saída de Netinho, também do PCdoB, para uma secretaria. Orlando é o primeiro suplente e lá vai ele para a Câmara de Vereadores começar sua carreira de político profissional.
Agora, Orlando Silva tem trabalho. Ou melhor, tem um emprego, o trabalho é outra história.
E lá se foram oito anos de desperdício, pois ele esteve na pasta desde o primeiro dia de criação do Ministério do Esporte.
Pra quê?
Justamente para isso, para construir sua carreira política às custas de verbas públicas em projetos nem sempre executados. Como tantos outros, Esplanada afora, ontem e hoje, independentemente de partido.
E o TCU que se vire para explicar os desperdícios. Mas até chegar ao relatório final, o vereador de hoje já será senador da República. E estará capacitado para ser ministro outra vez.
Já vimos este filme. Foi assim com Lula, com FHC, Itamar, Collor, Sarney …….