Blog do José Cruz

Arquivo : julho 2014

Deputado Romário reapresentará propostas para enquadrar CBF
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José Cruz

Em discurso na tribuna da Câmara, nesta quarta-feira, o deputado Romário (PSB/RJ) acusou a “Bancada da CBF” de atrasar a aprovação de propostas para fiscalizar a Confederação Brasileira de Futebol.

“Esse time, que não sabe nem fazer embaixadinha, está dando de goleada nos milhões de brasileiros que amam o futebol e  querem ver esse esporte administrado com seriedade e lisura em nosso país”, disse Romário. Em seguida, ele deu o nome de cada integrante desse “time” que defendem os interesses da CBF na Câmara: “São os deputados Rodrigo Maia, Guilherme Campos, Arnaldo Faria de Sá, José Rocha, Vicente Cândido, Jovair Arantes e Valdivino de Oliveira.”

Mudanças

Para Romário, depois do vexame da Seleção Brasileira, este é o momento para mudanças na estrutura do futebol. E pediu a reposição de artigos retirados da proposta original do projeto de lei do deputado Otávio Leite (PSDB/RJ), que trata da responsabilidade fiscal dos clubes, conhecido originalmente por “Proforte”.

Os artigos retirados estabelecem que o futebol brasileiro é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Dessa forma, fica declarada como de Especial Interesse Público a comercialização de quaisquer produtos ou serviços proveniente da atividade de Representação do Futebol Brasileiro.

Em decorrência, duas medidas serão tomadas:

“Uma é que, ao receber da Presidência da República a chancela de “Representante Oficial do Futebol Brasileiro”, a CBF ficará obrigada a divulgar todas as informações sobre as receitas obtidas com a comercialização desse patrimônio do nosso país. Desta forma, as contas da instituição estariam sujeitas a auditorias do Tribunal de Contas da União, quando requeridas pelo Poder Executivo ou pelo Legislativo”, disse Romário.

A segunda proposta: a CBF terá que contribuir com 10% sobre as receitas auferidas com a exploração do nosso futebol, destinado a um fundo de iniciação esportiva para crianças e adolescentes.

O deputado carioca, candidato ao Senado na eleição de outubro, disse que reapresentará essas propostas quando o projeto de lei do Proforte for discutido no plenário da Câmara dos Deputados, possivelmente em agosto.

A íntegra do discurso do deputado Romário está neste link:

http://www.romario.org/news/all/discurso-mudancas-futebol-brasileiro/

 


“Com brasileiro, não há quem possa!”
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José Cruz

 “O futebol é um espaço para a promoção da unidade nacional e, consequentemente, da superação das divergências regionais… Pelo futebol, se torna patente a civilidade do brasileiro, postura altamente valorizada e pré-requisito para a inserção do país no rol das grandes nações desenvolvidas” (José Lins do Rego)*

 

O Palácio do Planalto apresentou balanço positivo da Copa, colocando a presidente Dilma em evidência. Além da oportunidade do momento político, ela previu que teríamos “a Copa das Copas”, apesar do “pessimismo” da imprensa, no qual me incluo.

Reconhecendo o “espetáculo da bola”, mas lembro que o “pessimismo” foi, antes, de duas instituições intimamente envolvidas na preparação do país: a Fifa, cujo secretário-geral chegou a sugerir um “chute no traseiro”, para recuperar o angustiante atraso nas obras dos estádios, e do TCU (Tribunal de Contas da União), que em suas auditorias alertava para a falta de “planejamento” em vários setores, o que deveria provocar graves problemas durante o evento, também pela omissão de o Ministério do Esporte prestar informações solicitadas. Nesse panorama como fazer previsão otimista?

Agora, quando o mundo se volta para o Brasil e daqui leva imagem altamente positiva, é oportuna a leitura do romancista José Lins do Rego, que também foi dirigente do Flamengo e trabalhou na organização da Copa de 1950. A forma como ele explicou o futebol ajuda a entender este momento de euforia política-nacional, apesar da derrota nas quatro linhas.

Lins do Rego via o futebol como “um espaço para a promoção da unidade nacional e, consequentemente, da superação das divergências regionais”.

Ele também acreditava que “pelo futebol, se tornava patente a civilidade do brasileiro, postura altamente valorizada e pré-requisito para a inserção do país no rol das grandes nações desenvolvidas”. (*) Foi o que vimos, agora, mesmo 54 anos depois de Lins do Rego ter feito essas manifestações.

O que surpreende nessa avaliação positiva do governo – confirmada por pesquisa da Datafolha, e manifestações estrangeiras que nos colocam no andar de cima de país organizado – é que tivemos na Copa o que nos falta na rotina diária, como voos sem atraso, segurança, turistas transitando pelo Brasil sem qualquer problema etc, trânsito organizado etc.

Claro que as férias escolares ajudaram, e muito. O Congresso Nacional não funcionou, dezenas de reuniões e voos foram canceladas, feriadões todas as semanas durante um mês, etc. Mas, agora, se sabe que o Brasil “exemplar” é possível. Resta imaginar essa maravilha “depois da Copa”.

* Com o brasileiro não há quem possa! – Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues – ANTUNES, Fatima Martin Rodrigues Ferreira – Editora Unesp – 2004


Governo é o principal financiador do futebol
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José Cruz

Agora, com o fracasso do futebol o governo quer mostrar autoridade e fala sobre ameaças que não vai cumprir, como essa bobagem de “intervenção”.

 

O Congresso Nacional retorna às atividades amanhã. Como as excelências estão em campanha eleitoral para não perder a vaga, as sessões serão de “esforço concentrado”, isto é, votar o indispensável e não deixar o governo imobilizado. Tudo devidamente “negociado”…

É nesse contexto que poderá entrar em votação o projeto de lei de “responsabilidade do esporte”, o tal que prevê, entre outros benefícios, facilitar o pagamento do calote fiscal dos clubes de futebol, federações, confederações etc.

Paralelamente, o governo promete discutir sobre os limites de atuação da CBF. Bobagem! O projeto de lei da “responsabilidade esporte” previa maior rigor na fiscalização ao futebol. De repente, todos os artigos sobre o assunto foram retirados do projeto, resultado do fortíssimo lobby da CBF. A ordem partiu do Palácio do Planalto com apoio do Ministério do Esporte.

Agora, com o fracasso do futebol o governo quer mostrar autoridade e fala sobre ameaças que não vai cumprir, como essa bobagem de “intervenção”.

Mais:

O governo é o principal investidor no futebol: pela loteria federal, pela Lei de Incentivo ao Esporte, pelo patrocínio da Caixa, financiamentos do BNDES etc. Faz isso há 11 anos!  Financia, a partir de 2004, a formação de jovens atletas que são vendidos ao exterior e o dinheiro fortalece o patrimônio dos clubes. Agora, a presidente Dilma está “surpresa” com a saída de nossos talentos e quer rigor nessa prática que o ministro Aldo Rebelo conhece muito bem, desde 2001, quando presidiu a CPI da CBF Nike.

Estrutura

Temos um Ministério do Esporte, um Conselho Nacional do Esporte, uma Secretaria de Futebol. Temos orçamentos fartos, legislação exagerada e com forte intromissão do Estado nas questões do esporte. Temos atletas, mas não temos política alguma, porque somos frágeis na gestão e soberanos na corrupção.

O que vemos agora, por exemplo, é o Ministério do Esporte liberando dinheiro e mais dinheiro para preparar atletas aos Jogos Rio 2016, inclusive para instituições falidas e comprovadamente suspeitas no trato com o dinheiro público.

Quando o próprio governo libera a grana, fica evidente a falta de atribuições dos nossos órgãos esportivos, a ponto de o Ministério ser o repassador direto, numa duplicidade de ação e concorrência com as confederações e o próprio Comitê Olímpico Brasileiro. É uma jogada de política oportunista para fortalecer, em plena campanha eleitoral, o PCdoB, do ministro Aldo Rebelo.

É nesse panorama que vamos discutir sobre os rumos do futebol? Com esses mesmos personagens que criaram toda essa farsa em que a fartura financeira concorre com a falta de projetos, metas e planejamento?


No Dia Mundial do Rock, o tango dançou
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José Cruz

Com méritos, a Alemanha é campeã.

A conquista desse título dá ao brasileiro  – quem diria! –  motivo para festejar o que não conquistamos, e amenizar a dor dos 10 x 1, em dois jogos.

A realidade da “Copa das Copas” –  ou da “Copa do Povo” –  está na mensagem do jornalista Sérgio Siqueira:  “Lionel Messi é o Bola de Ouro da Copa; Neuer, o goleiro Luva de Ouro. E o Brasil é o entregador do ouro” …

E, no Dia Mundial do Rock, nada como ouvir a proposta de Raul Seixas:

Tente outra vez

Tente!
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!


O que significa isso?
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José Cruz

“Espero que o David Luiz não caia no anti-doping. Com certeza deram uma injeção de sossega-leão nele!!!”

Ricardo L. Gonçalves@RicardoLeyser 2 h

No twitter, depoimento de Ricardo Leyser Gonçalves, Secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento, do Ministério do Esporte.

Não foi uma conversa de arquibancada, mas de uma autoridade do governo federal, temendo que um jogador vá ao exame antidoping, pois deverá ser flagrado por uso de substância ilegal. Não é estranha essa manifestação?

O que mais sabe Leyser Gonçalves sobre uso de drogas no futebol?

Isso pode, Arnaldo?

 O apagão foi bem maior

Então, fomos ótimos onde se esperava o caos, e acabamos realizando a Copa das Copas. Mas há controvérsias.

E fomos péssimos onde se apostava ter um time campeão, porque não se combinou com o adversário, elementar ironia que Mané Garrincha, já há 50 anos…

Com dez gols em dois jogos, Felipão sepultou, de vez, a lembrança da “tragédia do Maracanã”.

O quarto lugar no Mundial realizado no Brasil ficará na ordem do dia do debate sobre futebol por mais 50 anos…

Pior …

a falta de “fair play” da Seleção Brasileira, que foi para o vestiário e deixou o campo na hora da premiação. Ficou feio e mostra como ainda somos amadores …

Entrevista final de Felipão

Esta equipe foi muito legal, muito boa. Brigou, teve chances….”

“Esta geração venceu a Copa das Confederações. Vai ficar marcada agora, só porque ficou em quarto lugar”?

“Os objetivos foram atingidos na medida em que passávamos de fase. Tivemos momentos muito bons. Os seis minutos de apagão aconteceram. No jogo de hoje (contra Holanda), não vejo como criticar a Seleção, que jogou bem”.

 


Dilma usa o futebol para fortalecer campanha
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José Cruz

Não precisa nem a Seleção Brasileira perder o jogo contra Holanda para que se fortaleça a determinação da presidente Dilma Rousseff de interferir na gestão do futebol.

Quando a presidente do Brasil anuncia que voltará a receber em seu gabinete jogadores e cartolas para discutir sobre os rumos do esporte, ela interfere naquilo que não é da sua competência. Que o governo acione os órgãos de fiscalização e faça valer a legislação, que é farta para punir o ilegal. Isso sim é de sua competência, mas aí o governo é historicamente omisso.

Com essa agenda, Dilma demonstra que não confia no Ministério do Esporte, mesmo com a pasta contando com uma Secretaria Nacional do Futebol e um Conselho Nacional do Esporte.

E o que justifica esse envolvimento presidencial, disfarçado de reação a uma goleada de 7 x 1?

O futebol tem fortíssimo apelo público e estamos em campanha eleitoral. E, ao assumir a liderança da discussão sobre os problemas do futebol, a presidente diz ao eleitor que o esporte é questão de Estado, e a solução para os seus problemas está no Palácio do Planalto. Perigosíssima medida, pois desmoraliza – mais – as já fragilizadas instituições do esporte.

Em segundo lugar, Dilma prepara terreno para amenizar a decisão antipática, que é a sanção de uma lei que beneficiará os clubes devedores ao fisco, algo em torno de R$ 5 bilhões. Ou seja, o governo vai facilitar a vida de caloteiros históricos com medidas de exceção, enquanto ao contribuinte comum são aplicadas as regras de mercado, sem apelação.

Finalmente:

O governo sinaliza para a criação de uma Agência Nacional do Esporte, o que já foi tentado no governo FHC mas que seria um desastre.

As agências reguladoras foram criadas a partir de 1996 para, com atuação técnica e autonomia, fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados pela iniciativa privada. Porém, no governo de Lula da Silva, essas instituições tornaram-se redutos políticos e cabides de emprego para os amigos. As agências de Telecomunicações, de Saúde, de Água de Petróleo etc são exemplos de inoperância e fracasso.

Já temos o Ministério do Esporte realizando o que não é de sua competência, liberando milhões de reais para clubes e confederações, ignorando o trabalho das instituições legalmente constituídas, como o Comitê Olímpico Brasileiro. Isso já é um tipo de intervenção do Estado, mas sem resultados efetivos, porque é eleitoreiro, burocrático e, principalmente, corrupto.

Portanto, diante da omissão do Congresso Nacional sobre as questões do Esporte – até porque o debate, ali, é suspeito – , temos a negociação e a decisão centralizadas no governo, que dá uma banana às instituições legal e democraticamente constituídas. Isso é um abuso de poder e ameaça real, que incentiva o fortalecimento da ditadura do esporte, em plena campanha eleitoral.


Governo ilude torcedor com medidas de mentirinha
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José Cruz

O blog da presidente Dilma Rousseff reproduz, na íntegra, artigo de José Dirceu, dando aval ao texto que diz, também:

Acreditamos que é isso, devemos aprender com a derrota e iniciar uma ampla reforma em nosso futebol, começando pela CBF – Confederação Brasileira de Futebol, mas mirando a própria FIFA, tão questionada e envolvida em polêmicas nos últimos tempos, tão necessitada, também ela, de passar por mudanças. De fundo.”

Façam isso, senhores, tentem intervir na gestão do futebol, e o Brasil será excluído de todas as competições da Fifa. Sem apelação!

Depois da desordem promovida por seus jogadores, aqui, na Copa, o governo da Nigéria criou uma comissão para dar rumo ao futebol. E a Fifa deu prazo para que essa comissão seja dissolvida até terça-feira, sob pena de banir a Nigéria dos seus eventos.

Não fosse a medida antipática de “intervir” numa instituição privada, a Constituição e a Lei Pelé, que regula o esporte, não permitem essa ação de governo. Por isso, surpreende que a presidente Dilma acolha essa discussão em sua página oficial.

Que o governo aplique a legislação nos órgãos de esporte e fiscalize a contabilidade e negócios dos clubes, com base em legislação específica; que suspenda o repasse de verbas públicas, benefícios, privilégios, enfim. Duvido que essa turma não se enquadre. Mas enquanto tiver parceiros dentro do Congresso e defensores no governo, a festa vai continuar, assim como discursos de mentirinha. O que estamos vendo é a extensão do “choro” com um pouco de indignação e o indispensável disfarce político.

Bom Senso

O Painel da Folha de S.Paulo diz que “Dilma Rousseff pedirá ao ministro Aldo Rebelo (Esporte) que se reúna com cartolas e representantes de atletas para negociar um pacote de consenso. Ontem ela sinalizou que voltará a receber o grupo Bom Senso FC.”

Está aí mais uma ação emergencial, com o governo atuando onde é competência da CBF. Isso é intervenção disfarçada. E perigosa!

O que precisamos, antes, é de uma discussão sobre o que queremos com o esporte de alto rendimento e qual a responsabilidade efetiva dos gestores. Qual a prioridade para aplicar os milhões disponíveis no orçamento, na Lei de Incentivo, no patrocínio das estatais, nas verbas das loterias? Para que valeram as três Conferências do Esporte, com discussão nacional e orientações valiosas, se nunca foram implantadas?

Conselho chapa branca

Para que serve o Conselho Nacional do Esporte, no qual a CBF também tem voz e voto?

Quantas vezes esse Conselho discutiu sobre uma política efetiva de esporte, cuja indústria já se revelou valioso instrumento para nossa economia? O Conselho já discutiu sobre o calote dos clubes, confederações e federações ao fisco?

Ao contrário, o Conselho Nacional do Esporte é um órgão chapa branca e decorador da estrutura do Ministério do Esporte.

Que o Conselho Nacional do Esporte seja fiscal de fato, e não um suspeito parceiro da ilegalidade.

Transparência e benefício

A gravíssima situação financeira do futebol não se resume na goleada de 7 x 1. Estamos assim, porque falta de transparência na gestão dos clubes, que pedem esmolas ao governo enquanto fazem transações milionárias de jogadores em paraísos fiscais.

E o que dizer da eterna dependência de apoio financeiro de uma única emissora de TV, que monopoliza a imagem e não permite a natural e saudável disputa de mercado? E quem discute sobre isso?

Qual a ação efetiva do governo quando retornamos de uma olimpíada com medalhas contadas? Há mobilização do Congresso Nacional, principalmente, para rever o sistema esportivo, que privilegia a elite, que beneficia o atleta rico e que exclui a periferia e o desporto escolar?

A discussão é mais embaixo. Mas não creio que será desta vez que teremos uma reforma como se precisa. Teremos, isso sim, mais um remendo, como de praxe. E na próxima Copa no Brasil, daqui a 50 anos…. voltaremos às lamúrias e ao milenar debate.


A festa saiu pela culatra
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José Cruz

A Copa no Brasil era projeto político-esportivo de Lula para ganhar prestígio internacional e apoiar Ricardo Teixeira à presidência da Fifa

Quando entregar a Taça Fifa ao campeão do mundo, no domingo a presidente Dilma encerrará o ciclo de um projeto do PT para o futebol que começou em abril de 2003. Esse projeto previa um “final feliz”, com a conquista do título, numa Copa que já se projetava para o nosso país.

Quatro meses depois de ter assumido a presidência da República, em 2003, o então presidente Lula da Silva determinou que o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, reabrisse o diálogo com Ricardo Teixeira, que presidia a CBF.

Com a podridão revelada pelas CPIs do Futebol e da CBF Nike, em 2001, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia fechado as portas do governo à CBF. Mais tarde, no Rio, Agnelo e o ainda prestigiado João Havelange acertaram o aperto de mãos entre Lula e Ricardo Teixeira.

Ex-torcedor de arquibancada e peladeiro convicto, Lula via no esporte, no futebol e na Seleção Brasileira potenciais recursos para fortalecer as ações de governo. E começou criando o Ministério do Esporte, mas que teve condução política e se revelou corrupto, como em outras pastas. Depois, editou o Estatuto do Torcedor, documento hoje ineficiente.

Em 2005, Lula criou a tão esperada Bolsa Atleta e, em seguida, a Lei de Incentivo ao Esporte, que disponibiliza em torno de R$ 300 milhões anuais no setor. As estatais – Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Inferaero, Correios, Eletrobras – aumentaram seus patrocínios para o vôlei, natação, atletismo, etc. Mais recentemente, até uma “Secretaria do Futebol” passou a integrar a estrutura do Ministério do Esporte.

Nesse contexto, a aproximação entre Lula e Ricardo Teixeira evoluiu para uma estratégia maior. Usando a Seleção Brasileira para promover “jogos da paz”, como ocorreu no Haiti, em 2004, e a imagem do nosso futebol no exterior, Lula ganharia prestígio internacional. E Ricardo Teixeira, por sua vez, teria o apoio político indispensável e de peso para se candidatar à presidência da Fifa.

Apoio

A ação palaciana foi desencadeada e teve valiosa sustentação: o projeto “Pintando a Liberdade” distribuía material esportivo a países pobres, nas visitas presidenciais. Bolas, redes, bolsas, agasalhos, etc eram produzidos por presidiários, projeto que evoluiu para o “Pintando a Cidadania”, pois presos não votam. Logo…

Paralelamente, o governo conquistou eventos esportivos: Pan-Americano de 2007, Copa das Confederações, Jogos Mundiais Militares, Jogos Estudantis Mundiais, Copa do Mundo, Olimpíada, Paraolimpíada e Universíade. Foi nesse período que escândalos internacionais também se sucederam, a ponto de varrer João Havelange e Ricardo Teixeira do mapa dos gestores do esporte. E a própria Fifa, de “modelos invejáveis” é citada com frequência no noticiário policial internacional, como ocorre no Brasil.

Já o Brasil esportivo não se preparou à altura para todas as festas. Faltaram políticas reais, e ainda hoje o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro batem cabeça na aplicação de verbas milionárias, numa disputa que demonstra falta de comando central. Para culminar, até a tão prestigiada e valorizada Seleção Brasileira fracassou na sua tentativa de conquistar o título no segundo Mundial realizado no Brasil, escancarando que a CBF de José Maria Marin é a extensão da farsa que foi Ricardo Teixeira.

É nesse circuito histórico, esportivo e partidário que caberá a presidente Dilma entregar a taça ao campeão do mundo, mas sem que o seu partido possa festejar o ciclo vitorioso do esporte, como havia sido projetado por Lula da Silva.


A pátria sem chuteiras também é campeã
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José Cruz

O autor é campeão do 800 metros do Troféu Brasil de Atletismo e vice sul-americano. Ironicamente, ele se encontra em Colônia, Alemanha, treinando sob a orientação do técnico Luiz Alberto de Oliveira, o mesmo que treinou Joaquim Cruz. De lá, Diego escreveu esse desabafo, com a paixão de atleta.

Por Diego Chargal 

“Por quê não torcer para um time de futebol é “não torcer pela pátria”?

Por quê todos ficam tão p da vida com você, se você recusa-se a ir a favor da mão?

Não vi ninguém com bandeira do Brasil quando o César Cielo e a Maurren Maggi ganharam ouro em Pequim.

Não teve buzinaço, não teve bandeirinha nas unhas, não teve folga pra ver eles competindo.

Não vejo ninguém torcendo pro Bellucci, no tênis. Para o campeão Olímpico Arthur Zanetti. Sara Menezes? Aposto que a maioria nem sabe quem é Sara Menezes.

E o Mauro do salto em distância, atual bicampeão mundial? Não teve carreata pra ele em Brasília.

São pequenos exemplos de atletas que foram campeões, mas os patriotas não viram.

Agora, você não torce pra um timezinho de futebol e todo mundo fica louco.”


A catástrofe é mais embaixo …
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José Cruz

A derrota do time de Felipão sintetiza a gestão do nosso esporte. Agora, antes de culpar o fracasso de nossos “craques” ou repensar uma “nova Seleção Brasileira” é preciso analisar o nosso modelo da gestão esportiva, que passa, obrigatoriamente, por todas as modalidades. O problema está aí!

Esse modelo foi implantado com boa fé em 2003, quando ganhamos um Ministério do Esporte. Mas veio a administração política e, claro, a fartura dos recursos financeiros sem limite e sem controle. Os ex-ministros Agnelo Queiroz e Orlando Silva também são responsáveis por ajudarem a construir esse modelo fracassado.

Poucos sabem, mas clubes de futebol, também financiados por patrocínio estatal, são os que mais captam recursos na Lei de Incentivo ao Esporte. E porque a indignação? Porque é dinheiro público financiando a iniciativa privada, o enriquecimento de empresários e espertos, que vendem para o exterior talentos formados com essa verba, que deveria ser aplicada prioritariamente em projetos sócio-educacionais-esportivos.

Mais:

O  futebol é uma atividade altamente corrupta. É uma lavanderia a céu aberto, revelou um relatório homologado pela Organização das Nações Unidas. Estão aí os livros, agora com fartura editorial, mergulhando nesse submundo, onde o Estado Brasileiro está intimamente metido.

Há quatro anos, o escocês Andrew Jennings já revelava sobre a fraude dos ingressos na Copa do Mundo. O escândalo que vemos no Brasil não é novidade. Méritos da polícia brasileira, por ter desbaratado a quadrilha internacional e provado o que tanto já se escreveu. Os senhores da Fifa, que participam da “Copa das Copas”, voltarão mais desmoralizada para sua sede, na Suíça, diante do escândalo dos ingressos.

Eis a questão:

Por que o governo federal tem que se envolver nessa atividade, cujos cartolas, há muito, são, também, cúmplice da ilegalidade. E o que dizer do Ministério do Esporte, que deveria agir como fiscal dessas instituições, mas delas se aproxima carinhosamente, numa relação suspeita?

Na semana passada, um grupo de cartolas se reuniu com políticos ligados a vários clubes para articular uma audiência com a presidente Dilma. Querem pedir a sanção de um projeto de lei, no qual está em jogo uma dívida fiscal de R$ 5 bilhões, junto ao INSS, Banco Central, Receita Federal, Fundo de Garantia. Com o apoio do Ministério do Esporte, querem legalizar do calote. Isso é um deboche diante do contribuinte em geral.

E assim são as demais modalidades: natação, vôlei, tênis, atletismo, enfim, todas sobreviventes de verbas públicas – Orçamento do Ministério do Esporte, Lei de Incentivo, Lei das Loterias, Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero, Casa da Moeda, Correios, Bolsa Atleta, enfim, injetando grana e mais grana em projetos, clubes e atletas inseridos num modelo corrompido e por isso suspeito, pois não há entrosamento nem diálogo entre os órgãos gestores públicos e privados.

Amanhã escreverei sobre o que essa derrota do futebol significa no projeto de governo, iniciado em 2003.

Enquanto isso…

… há outro Brasil e outras “catástrofes”, como escreveu o jornalista Renato Riella, ao qual peço licença para publicar, encerrando este artigo:

“Querem uma catástrofe verdadeira: se não chover muito, faltará água em São Paulo. Não brinquem com isso em meio a uma eleição”.