Blog do José Cruz

Arquivo : setembro 2014

Rio 2016: investimentos privados superam os públicos
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José Cruz

rio parqueNo atigo Autódromo de Jacarepaguá é construido o Parque Olímpicos

Dos R$ 6,5 bilhões investidos até julho na preparação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro 65% (R$ 4,2 bilhões) vieram da iniciativa privada. E 35% (R$ 2,2 bi) são verbas públicas dos três governos – federal, estadual e municipal – envolvidos no consórcio dos eventos. Em janeiro último, essa proporção era de 74% para investimentos privados e 26% públicos.

Os dados foram apresentados pelo presidente da APO (Autoridade Pública Olímpica), general Fernando Azevedo e Silva. Ele vibra com esse resultado até agora, pois nos Jogos Pan-Americanos 2007 foi decisiva a participação das verbas de governos.

No Pan, não havia uma instituição como a APO. O trabalho ficou concentrado no Ministério do Esporte, então sob o comando de Orlando Silva. As disputas políticas-partidárias prejudicaram a preparação do Rio ao evento continental, e a conta maior dos R$ 4 bilhões investidos foi paga pelo governo federal.

Enquanto isso…

O prefeito do Rio de janeiro, Eduardo Paes, se queixa da “paralisia do governo federal e implicações no cronograma dos Jogos Rio 2016, devido à campanha eleitoral”, como revelou meu colega Ilimar Franco, em O Globo, hoje.Mas o general Fernando tranquiliza: “Estou confiante, pois as obras estão em andamento, num modelo enxuto e eficiente”.

Rumos

“Depois de arrumar a casa, agora é pensar no legado”, afirmou Fernando Azevedo e Silva. “Arrumar a casa” foi quando ele chegou à APO, no Rio, em novembro do ano passado, e começou reformular a equipe.

Uma das atribuições da APO está na cláusula quarta – “dos objetivos e finalidades” – da Lei 12.396/2011, que criou a Autoridade Pública Olímpica: “ planejamento referente ao uso do legado dos jogos”.

Para tanto, o general Fernando vai a Londres nos próximos dias conhecer como as autoridades inglesas tratam desse assunto, já que a os Jogos daquele país, em 2012, são uma das referências em termos de megaeventos esportivos. Enfim, o badaladíssimo “legado” entra na pauta brasileira com boa antecedência.


Na capital da Copa das Copas, hospitais ficarão sem refeições
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José Cruz

estadio-nacional-brasilia-maquete1-440x279Em Brasília, onde o Governo do Distrito Federal gastou R$ 1,6 bilhão na construção de um estádio de futebol com72 mil lugares, a empresa fornecedora de alimentos para os funcionários de 16 hospitais e quatro UPAS (Unidades de Pronto Atendimento) vai paralisar os serviços. Motivo: o governo, de Agnelo Queiroz, deve R$ 20 milhões à indústria de alimentação “Sanoli”, sendo R$ 8 milhões de julho e R$ 12 milhões de agosto.

Esse é o efeito do arrocho nas contas do governo distrital, um mês e meio depois de o Brasil ter realizado a “Copa das Copas”. Em 2013 e início deste ano, o governador Agnelo Queiroz determinou remanejar em torno de R$ 200 milhões dos orçamentos das Secretarias de Saúde, Segurança e Educação, para reforçar o caixa das obras do estádio Mané Garrincha.

Alerta

Em nota distribuída nos hospitais da cidade, no sábado passado, a direção da Sanoli advertiu que “sente-se no dever de esclarecer que se viu obrigada a paralisar os serviços de alimentação nos refeitórios dos hospitais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal”.

Disse mais:

“Temos percorrido todos os caminhos administrativos e burocráticos na busca de uma solução para que o pagamento fosse regularizado, e notificamos judicialmente a Secretaria de Saúde, no último dia 4”.

Ontem, a assessoria da Sanoli informou, por telefone:

Temos matéria prima para no máximo 15 dias. Além de não termos o dinheiro que nos é devido, nos falta crédito, enquanto não pagarmos os nossos compromissos. Vamos suspender o fornecimento de alimentos, na medida em que os suprimentos forem acabando; primeiro para os funcionários, depois para os acompanhantes hospitalares e finalmente os doentes”.

Enquanto isso…

A assessoria da Secretaria da Saúde nega:

“Não há nenhum motivo para que a empresa Sanoli suspenda o fornecimento de refeições aos hospitais do DF, uma vez que a Secretaria de Saúde vem realizando os pagamentos regularmente. Desde o início deste governo, em 2011, a Secretaria de Saúde pagou a empresa Sanoli cerca de R$ 350 milhões. Na semana passada, foi feito um repasse financeiro de quase R$ 4 milhões à empresa. Para essa semana está agendado outro repasse no valor de R$ 8 milhões.”

Mas…

A assessoria da Sanoli confirmou, ontem à noite, que existe o débito de R$ 8 milhões, referente a julho. E ainda falta pagar agosto.

Vitimas da Copa

Os problemas na rede pública de saúde da capital da República são tão graves que doentes morrem sem receber atendimento ou por falta de medicamentos, fato que se tornou comum Brasil afora.

O mais recente caso no Distrito Federal é de 14 de agosto, quando um bebê de três meses, com pneumonia, aguardava vaga em uma UTI no hospital de Planaltina, nos arredores da capital. Ele morreu sem receber o tratamento adequado, apesar de a Justiça ter determinado a internação do paciente.


Senhores do Vento
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José Cruz

“Adrenalina, humor, suspense e muita aventura levam o espectador, mesmo se leigo em esportes náuticos, a acompanhar com interesse e emoção a aventura dos protagonistas, torcendo por eles nos momentos mais dramáticos, vibrando com eles nas vitórias e se surpreendendo com o resultado final” (Isabella Nicolas, diretora do documentário “Senhores do Vento”)

vento

O destaque cultural da Semana JK de Vela, encerrada ontem, foi o lançamento em Brasília do documentário “Senhores do Vento”. É uma produção de 95 minutos sobre a participação brasileira na Volvo Ocean Race – Regata Volta ao Mundo, com imagens impressionantes da participação do barco Brasil 1, sob o comando de Torben Grael, na edição da prova, 2005/2006.

O documentário registra a ousadia desses velejadores na dura competição de oito meses, quando enfrentaram as adversidades da natureza em alto mar por até dez dias, “combinando grande velocidade com excepcional resistência física e emocional”, resumiu a jornalista Isabella Nicolas, produtora e diretora do “Senhores do Vento”. A epopeia do Brasil 1 é um dos orgulhos da história do esporte no Brasil como um todo e da vela, em particular.

Regata

Num fim de semana de clássicos no futebol, de grandes eventos internacionais – Brasil x Cuba, no vôlei, Brasil x Argentina, no basquete, US Open de Tênis etc – reservei a manhã de domingo para acompanhar competição na qual o Brasil tem tradição olímpica, mas ainda sem torcida, a vela. A regata foi no Lago Paranoá, em Brasília, valorizada pela presença de dois medalhistas olímpicos, os irmãos Torben e Lars Grael.

A tradicional Semana de Vela JK terminou com a regata final do Campeonato Brasileiro da Classe Star, com 18 duplas. A vitória ficou com Torben Grael e Guilherme Almeida. Torben, dono de cinco medalhas em olimpíadas, é o chefe da seleção brasileira de vela aos Jogos Rio 2016. Na raia, outro medalhista olímpico, Lars Grael, o que demonstra a importância do evento realizado no Iate Clube e o privilégio de ver esses atletas em competição.

Estranho

Num país de oito mil quilômetros de litoral e fartura de águas interiores, soa estranho não se ter tradição nos esportes náuticos. Além de nossas origens estarem nos ousados navegadores portugueses, principalmente. Mas, afinal, apesar dessa fartura de água também não temos o peixe – o produto de origem animal mais rico em proteínas – na alimentação escolar de nossos estudantes.

Como diz Lars Grael, os terrenos e imóveis de frente para o mar são os mais valorizados no país, mas a convivência de seus moradores com a natureza ali frente não passa da areia da praia ou das primeiras ondas.


Um jovem desportista orgulha o Brasil
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José Cruz

Mesmo sem um expressivo título internacional no esporte, o esgrimista Guilherme Murray é notícia de primeira página: “Foi normal o que fiz”

murray  Duas semanas depois de ter participado do Campeonato Pan-Americano de Esgrima, em Aruba, quando chegou às oitvas-de-final, ele continua brilhando no noticiário, mais pelo comportamento ético do que pelo pódio que poderia ter conquistado.

Representante do Club Athletico Paulistano, Guilherme, de 12 anos, foi campeão infantil de esgrima em 2012, e disputava o bicampeonato no Pan-americano em Aruba. Quando enfrentava o peruano Felipe Scaccabarozzi, o juiz concedeu um ponto ao brasileiro, que o garantiria avançar às quartas-de-final.

Surpresa

Em ato incomum, Guilherme alertou o árbitro que não havia tocado o oponente. O ponto foi retirado e ele voltou para casa. E foi assim, mesmo sem pódio, que ele se tornou conhecido, a ponto de chegar à capa do jornal Folha de S.Paulo, ontem.

“Não fiz nada de mais, apenas o correto”, resumiu o esgrimista, que tem sangue de desportista famoso: ele é bisneto de Sylvio de Magalhães Padilha, que morreu em 2002, mas fez história no atletismo, nas provas de 110m e 400m com barreiras, sendo depois presidente do Comitê Olímpico do Brasil.

Exemplo raro

O feito de Guilherme é o mais recente exemplo que se pode ter do “jogo limpo”, o tal “fair play”, principalmente nas categorias menores, onde o esporte tem, também, caráter educacional. A trapaça, o golpe baixo, o disfarce, enfim, tão comuns no esporte em geral, foram trocados pela ética, numa manifestação sincera: “Foi normal o que fiz”.

Esse tipo de manifestação “acontece toda hora” entre esgrimista. Apesar disso, seu feito precisa ser valorizado como exemplo de como o esporte contribui, de fato, para a formação do caráter dos jovens. “Falar a verdade é normal na esgrima e deveria ser assim em todos os esportes”, disse ele ao repórter da Folha de S.Paulo.

Para saber mais

http://tvuol.uol.com.br/video/conheca-guilherme-murray-o-esgrimista-exemplo-de-honestidade-04020E9B3270E0895326

 


Atletismo nas alturas! Na China, claro
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José Cruz

Agência Reuters

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Em Tiantai, na província de Zheijiang, na China, foi inaugurada uma pista de 200 metros, para iniciação dos alunos da escola fundamental.

A notícia completa está aqui

Enquanto isso…

… o Rio de Janeiro ficou privado de sua principal pista de atletismo, no estádio Célio de Barros, abaixo. Toda a área foi asfaltada e serviu de estacionamento para a “frota Fifa”, na “Copa das Copas”. E ninguém foi preso por essa agressão a uma área pública do esporte, com prejuízo para mais de 300 atletas

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Na memória:

O Velódromo de R$ 15 milhões, que abrigou as provas do Pan 2007, foi destruído. Já os atletas…

O principal estádio, depois do Maracanã, o Engenhão, está fechado para reformas, há dois anos, pois a cobertura estava desabando, apesar de ter apenas sete anos …

O laboratório antidoping, da UFRJ, perdeu o credenciamento internacional, e estamos há menos de dois anos dos Jogos Rio 2016.

O estádio de Remo da Lagoa Rodrigo de Freitas foi entregue à iniciativa privada. Já os atletas…

O Brasil não tem uma política de esportes. Prioridades, metas e dinheiro só para os atletas que têm chance de pódio na próxima Olimpíada.

Dos R$ 400 milhões anuais que o governo coloca à disposição do esporte, através da Lei de Incentivo, são apresentados projetos que totalizam R$ 250 milhões, no máximo. E a captação de recursos é em torno de R$ 100 milhões. Ou seja, temos um desperdício anual de R$ 300 milhões que não são usados por falta de bons projetos, principalmente.


A fartura financeira e a falência institucional do esporte
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José Cruz

Impressiona o contraste entre os recursos que abastecem o alto rendimento nacional – R$ 6 bilhões no último ciclo olímpico –   e a miséria financeira e carência administrativa nas federações estaduais.

Esse distanciamento se fortaleceu a partir de 2003, quando o então presidente Lula da Silva criou o Ministério do Esporte, gerenciado por ministros inexpressivos para o gigantismo dos problemas do setor.

Os recursos públicos que abastecem os clubes de ponta do país – Sogipa, Pinheiros, Minas Tênis, e por aí vai – conflitam com os destinados às confederações, levantando dúvidas sobre a real missão dessas entidades. E nessa conjugação quem se dá muito mal são os clubes menores e federações estaduais, frágeis também administrativamente, que acabam perdendo seus expoentes para os que detêm o poder financeiro.

Evasão

Em Brasília, a evasão de judocas expõe essa realidade. A cada campeonato brasileiro, os melhores são convidados para vestir as cores de uma grande agremiação nacional. E lá vão eles, atraídos por vantagens – legais, é verdade – que aqui não têm.

Por exemplo: a judoca Erika Miranda ganhou bronze no recente Mundial da Rússia. Ela é natural de Brasília, mas há seis anos luta pelo Minas Tênis. Ketleyn Quadros, bronze nos Jogos Olímpicos de Londres e Luciano Carvalho, com pódios internacionais, também são candangos, mas lutando por Minas Gerais. E assim ocorre no basquete, no vôlei, no atletismo etc, em poderosas agremiações Brasil afora.

Futuro

A discussão para se atualizar o sistema nacional de esporte é urgente. O problema é que estamos a ano e meio dos Jogos Olímpicos, prioridade nacional. Mas não podemos fechar os olhos para a crise institucional efetiva, a partir da falta de estruturas administrativas na base, onde se pratica o esporte que revela o atleta.

Dúvidas

Além disso, não podemos afirmar que a Lei de Incentivo é instrumento de fortalecimento e valorização do esporte. Sete anos depois de sua criação, não temos avaliação rigorosa sobre o cumprimento de seus objetivos.

E não há certeza de que a Bolsa Atleta seja paga para efetivos competidores, porque não se tem a elementar fiscalização na aplicação desses recursos a quem de direito. E não creio que o Conselho Nacional de Esportes se entusiasme com a necessidade de promover o debate pra mudanças radicais que se precisa.

Terá o grupo “Atletas pelo Brasil” ânimo para centralizar o debate e levar ao futuro presidente da República um diagnóstico da realidade, sugerindo-lhe que se definam as indispensáveis competências do Estado e dos órgãos gestores?

E o próximo governo honrará o artigo 217 da Constituição Federal, que determina aplicação de recursos públicos “prioritariamente no desporto educacional”, ao contrário do alto rendimento, como agora?

Ironicamente, apesar da fartura financeira e do potencial de atletas de que dispomos o panorama institucional do nosso esporte é falido e com perspectivas desoladoras.


Rio 2016: golfe, um campo minado de suspeitos buracos
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José Cruz

Foto: Alex Ferro / Comitê Rio 2016)

campo-golfe-2016-rio2016-alexferro2-1  Um dos mais agressivos empreendimentos para os Jogos Rio 2016, a construção do campo de golfe, na reserva ambiental de Marapendi, na região da Barra da Tijuca, tem mais furos de suspeitas irregularidades que os 18 buracos para a tradicional competição, como demonstram os integrantes do movimento carioca “Golfe para quem”?

A mais recente denúncia demonstra, com documentos obtidos nos arquivos do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações), que aquela valorizada área pertence ao governo federal.

Em construção acelerada, o campo de golfe está em litígio desde 1970, há praticamente meio século. Mas decisões políticas do prefeito Eduardo Paes atropelam as ações judiciais.

Hoje, ao meio dia, com reprise à meia noite, o Sportscenter apresentará a segunda reportagem da série. Imperdível, para que se observe como os interesses olímpicos-imobiliários atropelam áreas públicas e normas judiciais.

 Pior:

A obra do campo de golfe invade expressiva área da Mata Atlântica. O projeto se caracteriza por crime ambiental, sem que os governantes da cidade ou do estado do Rio de Janeiro tomem qualquer iniciativa.

E depois dos Jogos…

Quem se responsabilizará pela gestão do campo de golfe?

Será entregará à iniciativa privada, como ocorreu com o Estádio do Remo da Lagoa, fechando o espaço público para a população?

Será asfaltado para estacionamento dos condomínios de luxo, nos arredores, como fizeram com o estádio de atletismo Célio de Barros?

Ou será destruído, como o Velódromo do Pan 2007?

Para saber mais

Vejam estas reportagens, dos companheiros Marcelo Gomes e Roberto Salim, da ESPN, e a do repórter Vinicius konchinski, do UOL Esporte:

http://espn.uol.com.br/video/437036_com-documentos-irregulares-campo-olimpico-de-golfe-e-construido-no-rj-em-terreno-do-governo-Federal?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

 

http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/esporte/2014/08/24/campo-de-golfe-da-rio-2016-entra-na-mira-da-justica-e-nova-polemica.htm

 

http://esporte.uol.com.br/rio-2016/ultimas-noticias/2014/01/29/orcamento-olimpico-mostra-que-custo-de-obras-dobrou-desde-candidatura.htm


COB recebeu R$ 104 milhões das loterias no primeiro semestre
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José Cruz

dindim  O Comitê Olímpico do Brasil recebeu R$ 104 milhões das loterias federais no primeiro semestre, contra R$ 80 milhões registrados no mesmo período de 2013. Se no segundo semestre for mantido o volume de apostas, o esporte de alto rendimento chegará ao final de 2014 com R$ 208 milhões, no mínimo. No ano passado, o COB recebeu um total de R$ 162 milhões das loterias, na chamada “Lei Piva”.

Esse dinheiro não é único para a preparação de nossas equipes em todas as categorias. Outros R$ 400 milhões estão disponíveis na Lei de Incentivo ao Esporte. Há o patrocínio das estatais, Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero e Correios. O Ministério do Esporte também abastece as confederações através de convênios, num investimento público nunca visto na história esportiva do Brasil.

Porém…

Essa fartura sugere, de novo, desconfianças sobre a gestão do dinheiro público. Estão sendo aplicados devidamente? Quem garante? A propósito, os recursos das loterias para os Comitês Olímpico e Paraolímpico são auditados pelo Tribunal de Contas da União.

A suspeita é porque o Ministério do Esporte não tem estrutura para fiscalização. E se a corrupção ocorre em vários órgãos do governo, porque não no Esporte, onde o contribuinte está vibrante e com as emoções das disputas, dos pódios e das medalhas?

Há dois anos, o Tribunal de Contas da União fez auditoria no Bolsa Atleta e encontrou bolsistas que não competiam mais … E a corrupção no Segundo Tempo, cuja investigação ainda ocorre? E o escândalo na Confederação de Tênis, que apresentou nota fiscal fria de R$ 420 mil? Quem ficou com a grana? O Ministério não sabe. Portanto…

Enquanto isso…

Na semana passada, a gaúcha Mayra Aguiar ganhou medalha de ouro no Mundial de Judô. O clube de Mayra, a Sogipa, de Porto Alegre, comemorou e agradeceu ao principal parceiro, a “Oi”, pelo apoio ao seu projeto de judô, que tem outros patrocinadores: o Governo do Rio Grande do Sul, o Banco do Estado (Banrisul), e a Fundação de Esporte e Lazer.

Então, se esses patrocínios se destinam a preparar judocas da elite, qual o papel da Confederação de Judô, que concentra os recursos da Lei de Incentivo, das loterias e da patrocinadora Infraero e de convênios com o Ministério do Esporte? O mesmo vale para as demais confederações e os clubes que preparam os atletas também podem se manifestar. Quem paga o quê para quem? O governo tem o controle desse sistema em que o dinheiro público se mistura com o de origem privada para objetivos e programas comuns?

Por isso, os presidentes de federações estão desesperados, pois administram o caos diante da fartura no andar de cima. Afinal, senhores do esporte, do governo e fora dele, onde está a transparência nesse tempo de vacas gordas?


Joaquim Cruz questiona sobre o real legado dos megaeventos
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José Cruz

 

Por Joaquim Cruz

Ouro nas Olimpíadas de Los Angeles, 1984; prata em Seul, 1988, nos 800m

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Dizem que quando vivemos num ambiente ruim por muito tempo ficamos míopes e perdemos o sentido das coisas corretas. Será que nos adaptamos ao Brasil “pequeno” e de dificuldades que os políticos criaram para nós?

O setor de saúde não é bom, desde quando eu brincava nas ruas de Taguatinga, em Brasília. Em 1981 perdi o meu pai por falta de atendimento no pronto socorro da cidade. No ano passado, o meu irmão mais velho faleceu. Ele também não recebeu atendimento adequado em um hospital, carente de profissionais e equipamentos necessários para tentar salvar vidas. Hoje, doentes morrem na porta de prontos-socorros e isso parece não nos assustar mais, pois se tornou rotina.

Eu não lembro se a educação na minha época de estudante era boa ou ruim. Mas, pelo menos, tínhamos o esporte no segundo período para incentivar a juventude e isso fazia a diferença. Hoje, nossos adolescentes crescem da noite para o dia, e a juventude torna-se adulta fora de época. Crianças viram mães muito cedo, assumem responsabilidades de formar famílias e se afastam dos estudos. As dificuldades se multiplicam, chegam os conflitos e a família se desfaz. Com certeza a educação e o esporte poderiam ter feito a grande diferença nas vidas de tantas garotas que assumem compromissos maternos precocemente.

O esporte na escola, que por muito tempo abrigou os saudosos Jogos Escolares, piorou nas últimas décadas. O Ministério do Esporte tentou amenizar a falta de atividade física nas escolas com o programa Segundo Tempo, mas sem a participação do Ministério da Educação. O fracasso foi inevitável.

Benefícios

Estou cansado de ouvir os nossos políticos falarem sobre “os benefícios do esporte…”, “o legado do esporte” na forma de futuro próximo. “O Pan deixará legados…”; “A Copa do Mundo deixará um legado…”; “O principal legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 será…” e por aí segue.

Mas, esta semana, o nosso ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a Copa do Mundo foi responsável pela queda da produção industrial, em julho. O brasileiro trabalhou menos. Devido a isso, o governo arrecadou menos impostos. Para a economia o legado foi esse, menos dinheiro nos cofres públicos. E imagino que escolas e hospitais já sofrem o reflexo disso. Mas fizemos a “Copa das Copas…”

A cultura do futebol é muito forte para contestá-lo, mas só quando a economia nos afeta é que caímos na real e observamos que o tal “legado” não é tão grande quanto nos venderam. Qual foi o grande projeto de esporte do governo do município do Rio ou do Estado do Rio de Janeiro para estudantes e população após os Jogos Pan e Parapamamericanos? Agora, tentam nos vender o “legado olímpico e paralímpico”, sem que tivéssemos sentido o efeito da primeira promessa, há sete anos!

No meu entender, o legado dos Jogos de 2016 começou bem antes de 2 de outubro de 2009, quando o Rio ganhou o direito de sediar a Olimpíada e Paralimpíada. Porém, já se passaram cinco anos e estamos debatendo sobre os legados pós Jogos, sem termos nos beneficiado dos benefícios que deveríamos ter tido, como os do Pan e Parapan.

Legado não deveria ser somente o resultado final de um evento ou ação, mas todo o processo coletivo de mudanças, com a inclusão da escola e da universidade brasileiras nesse processo. Planejamento, definição de prioridades, fixação de metas também são legados bem antes dos Jogos, durante e depois. Mas ainda estamos debatendo sobre as mudanças no esporte nacional que deveriam ter acontecidos há cinco anos. Se não existe o legado do “antes e durante” não devemos nos iludir com um que sonhamos após a Copa do Mundo, Olimpíada ou Paralimpíada.

Potência Brasil

Já tivemos os Jogos Pan e Parapan Americanos, em 2007, a Copa das Confederações, os Jogos Mundiais Militares, a Copa do Mundo… E agora, nessa pausa de megacompetições, nossos candidatos à eleição de outubro não tocam nesses assuntos, “educação, esporte, saúde”. Será que o eleitor não quer discutir também sobre isso? Será que, desiludidos das promessas, já se adaptou a um Brasil “menor”, de pouca qualidade de vida para muitos e de desesperança para tantos, a juventude, principalmente?

Se é assim, lamento muito, pois o mundo vê o meu Brasil como uma grande potência! E é, com certeza. Mas quem dará rumos a essa potência sem garantir prioridade à educação integral dos jovens? Façam isso, senhores políticos, e o legado virá ao natural.

Nota do blogueiro: Joaquim Cruz mantém em Brasília um Instituto que leva o seu nome, dirigido por Ricardo Vidal, promovendo projetos de atletismo como o do Clube dos DescalS.O.S e o programa Rumo ao Pódio Olímpico.