O esporte tem mensalão?
José Cruz
Acompanhando o julgamento do Mensalão ouvi do ministro Luiz Fux o seguinte voto:
“Concluo que a entidade bancária (Banco Rural) serviu de lavanderia de dinheiro em negócio fraudulentos, tenebrosos”.
E fico a pensar: nossas entidades do esporte, fartamente contempladas com dinheiro público, de várias fontes, lavam dinheiro?
Não sei. Sinceramente, não sei.
Nossas entidades do esporte têm mensalão?
Também não sei.
E por mais esdrúxula que seja, a dúvida é pertinente.
Porque, mensalão não é apenas o repasse promíscuo de dinheiro entre corruptos interessados, mas a troca de favores, convites para privilegiados eventos, viagens, mordomias etc.
O ex-ministro do Tribunal de Contas da União, Marcos Vinícius Vilaça, é exemplar neste sentido. Ele chefiou uma viagem da Seleção Brasileira ao exterior.
E quem era Marcos Vilaça, então ministro do TCU? Era o relator do processo do Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro.
Aí está a relação promíscua entre o fiscal da verba pública e entidade do esporte suspeita de corrupção e de evasão de divisas.
Transparência opaca
Além disso, a falta de transparência impede saber o que fazem com o dinheiro que sai do pagamento de impostos pelo público. Daí, “verba pública”.
Essa falta de transparência é bem diferente das prestações de contas dos beneficiados ao Tribunal de Contas ou Ministério do Esporte. Porque, nesses órgãos também não se têm acesso às tais prestações de contas. O jogo de empurra faz parte do esquema para desestimular a investigação.
No ano passado, por exemplo, a Controladoria Geral da União determinou que várias entidades devolvessem R$ 49 milhões aos cofres públicos. Dinheiro do Ministério do Esporte para o Segundo tempo que não chegou ao seu destino. Ficou pelo caminho …
Mas só ficamos sabendo disso quando da determinação final de processos de quatro ou cinco anos! E quantos não têm a mesma decisão, por influência política?
Por isso, comitês, confederações e demais associações esportivas contempladas com verbas do governo deveriam ser OBRIGADAS a publicar em seus sites como estão usando a verba.
Protestos e reclamações recentes de técnicos e atletas de que “o dinheiro não chega até nós” é indício gravíssimo de que algo está muito errado neste processo, mas até agora com total omissão e silêncio do Congresso Nacional, principalmente.
Isso sem falar que os resultados esportivos internacionais não são proporcionais ao volume crescente de verbas repassadas nos últimos anos.
Por tudo isso, fico a pensar se há “negócios fraudulentos e tenebrosos” – usando expressão do ministro Fux – no esporte brasileiro.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, poderia se interessar por este assunto.
Ou o Palácio do Planalto, na omissão de tantos.