Má gestão do futebol desperdiça oportunidades de empregos e negócios bilionários
José Cruz
Enquanto isso cresce a dívida fiscal dos clubes, mas Caixa Econômica busca alternativas para a Timemania, tornando-a mais atrativa a fim de que o torcedor-apostador ajude a pagar a elevada conta
Pentacampeão em campo, a gestão do futebol brasileiro ainda é amadora e precária. Desperdiça oportunidades de lucros e prejuízos e dívidas.
Por exemplo, do potencial de R$ 7,9 bilhões disponíveis para explorar em negócios são gerados apenas R$ 2,1 bilhões. E dos 2.000.000 de empregos diretos, indiretos e induzidos ofertados pela cadeia produtiva do futebol só 371.000 são concretizados. O potencial é real e o desperdício evidente por falta ações, apesar da proximidade de grandes eventos mundiais.
A conclusão é do coordenador de projetos da Fundação Getúlio Vargas, Pedro Trengouse, que, ontem, apresentou números e sugestões sobre o setor, na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados.
A audiência pública foi proposta pelo deputado Deley, ex-craque do Fluminense, para tentar salvar a agonizante Timemania. Mas o desinteresse dos presidentes e gestores de clube ficou claro: dos 80 convidados menos de 10 compareceram para debater. Isso demonstra que os cartolas, em geral, querem mesmo é solução de governo e não um projeto integrado que passa, obrigatoriamente, pela profissionalização de das administrações dos clubes.
Ironia
Ironicamente, enquanto a Comissão de Esporte discutia sobre os rumos das finanças do jogo da bola, perto dali uma CPI investigava o passado da “bola” liderada pelo silencioso de ocasião, Carlos Cachoeira, um ex-eficiente gestor do jogo,bingos, inclusive, conduzindo com zelo o rateio de suas falcatruas e corrupções com dinheiro público, conforme investigações da Polícia Federal.
Vamos ao jogo
O motivo principal da audiência pública era debater sobre uma nova fórmula para que os clubes devedores de R$ 2 bilhões ao fisco melhor se beneficiem da Timemania.
Essa loteria, criada em 2008, repassa 22% de sua arrecadação para abater no débito fiscal das entidades do futebol que refinanciaram seus débitos com o FGTS, INSS e Imposo de Renda.
Porém, o elevado valor da aposta e os baixos prêmios oferecidos não motivaram os torcedores, que preferem loterias mais atrativas, como a Megasena. Resultado: a Timemania não ajudou, e o débito cresceu gravando o problema para clubes e governo federal.
Gestão
A má gestão também contribui para o endividamento dos clubes. Os débitos oficiais não são divulgados porque envolvem sigilos garantidos em lei.
Um estudo realizado por Pedro Trengrouse, a pedido do Ministério do Esporte, estimou que o passivo geral dos clubes alcance R$ 3,5 bilhões, entre parcelamentos tributários, dívidas com funcionários e tributos, com instituições financeiras e passivos diversos. É muito para o potencial de faturamento que o futebol brasileiro dispõe.
A situação tornou-se tão grave que, segundo um estudo da FGV, realizado a pedido do Ministério do Esporte, identificou-se que para cada R$ 1 real do patrimônio do clube há uma dívida de R$ 1,6.
Porém, o problema da dívida fiscal – renegociada em 2008 com 240 meses de prazo para pagar, depois de perdoados 50% das multas – estaria resolvido se, em vez do lançamento da Timemania, o governo tivesse optado pelo refinanciamento através de uma loteria mais atrativa, como a Megasena.
Na avaliação de Pedro Trengrouse, o futebol é superavitário, lucrativo. “Já o endividamento registrado deve-se, em parte, ao uso das receitas do futebol para investimentos em esportes olímpicos”, explicou Trengrouse. Será? Sobre isso estou levantando informações e escreverei oportunamente.
Solução
A Caixa Econômica Federal – administradora das loterias – já trabalha em alternativas para uma “remodelagem da Timemania”, onde o escudo dos clubes seriam mais valorizados, com melhor a oferta de prêmios, segundo o diretor de Loterias, Gilson Braga.
Paralelamente, uma comissão com representantes dos ministérios da Fazenda, Educação, federações, CBF e Ministério Público atuarão junto à Caixa para ajudar na busca de solução que estanque o crescimento da dívida fiscal e retribua melhor o apostador, na prática o agador do calote fiscal futebolístico que se formou ao longo dos anos.