Nilton Santos: belas lições, Amigo!
José Cruz
Hoje Nilton Santos completa 87 anos. Tenho carinho especial por ele, que com a Seleção Brasileira bicampeã, 1958/1962, me deram tantas alegrias.
Nilton morou em Brasília. Aqui, ele ia diariamente à sede da Associação dos Cronistas Esportivos, onde contava boas histórias de sua trajetória esportiva. Garrincha – o “compadre”, como dizia – estava sempre num episódio. Há quase 10 anos Nilton voltou a morar no Rio.
Certa vez, numa de minhas visitas, conversamos muito, do Flamengo até o Maracanã. Ao final fiz reportagem de página inteira para o Correio Braziliense mostrando como ele era reconhecido e admirado na rua, por torcedores em geral. Foi craque em campo e homem simples, de convivência amiga, como o bom carioca sabe viver.
Hoje, Nilton está internado numa clínica e passa pelo difícil outono de sua vida.
Naquela caminhada pela manhã carioca, quando passávamos por uma alameda, já próximo do Maracanã, ele dizia o nome dos passarinhos que ouvia cantar. Era uma de suas paixões desde guri.
De repente, Nilton me perguntou:
– Sabe por que pardal nunca quis aprender a cantar?
– Não sei, Nilton. Não sei nada de passarinhos – respondi
– Para não viver preso em gaiola…
A resposta é a síntese de Nilton Santos: um craque que jogou livre, solto, dominando seu espaço. Um craque que assinava contratos em branco. Talvez por isso não tenha feito fortuna, é verdade, mas se orgulhava do que o futebol lhe ofertou: prazer de viver.
Niltom foi muito feliz com o Botafogo, seu único time em toda carreira. Indagado sobre o futebol de sua época, ele respondia com um sorriso de saudade e uma pontinha de lágrima:
– Eu fazia o que gostava e ainda me pagavam!
Memória
Uma das histórias que Nilton Santos gostava de contar aconteceu em 1984, quando ele foi treinar o São Paulo, na cidade de Rio Grande, 300km ao sul de Porto Alegre.
Acostumado ao calor do Rio de Janeiro, Nilton enfrentava o rigoroso inverno gaúcho. Num domingo, o levaram para visitar a extensa praia do Cassino. O frio era intenso e Nilton nem saiu do carro.
De repente, viu um pinguim morto na beira da praia. Era a desculpa que precisava para romper o conrato:
– Olha, pessoal, se nem pinguim aguenta o frio daqui, o que é que estou fazendo nesta cidade?
Arrumou as malas e voltou ao sol da sua Cidade Maravilhosa.