Blog do José Cruz

Arquivo : março 2012

Boa notícia: “Brasileiro da Silva” no pódio de ouro Mundial
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José Cruz

Nome bem brasileiro e com perfil simples e demonstrando humildade, Mauro Vinícius Hilário Lourenço da Silva conquistou neste sábado, aos 26 anos,  a medalha de ouro na prova do salto em distância no Campeonato Mundial Indoor, que termina amanhã, em Istambul, Turquia.

Atleta de Presidente Prudente, interior paulista, saltou duas vezes 8,23m. Com essa marca ele se candidata a ser finalista nos Jogos Olímpicos de Londres, em julho próximo.

O recorde mundial da prova dura 21 anos e é do norte-americano Mike Powell, com 8,95, registrado  no Mundial do Japão.

Orientado há oito anos pelo técnico Aristides Junqueira, Duda, como é conhecido, já havia saltado 8,28m na prova de qualificação, na sexta-feira.

“Duda demonstra uma técnica correta de saltar, com os dois calcanhares tocando juntos o chão”, avaliou Fernando Franco, técnico do Centro de Estudos de Atletismo. “Mas o que me impressionou é que se trata de um atleta simples. Nada de roupas vistosas, brinquinhos na orelha, óculos escuros. Nada disso. Demonstrou personalidade e humildade diante dos adversários”.

Com esse resultado, Duda deverá ser convidado para os GPs da Federação Internacional de Atletismo e isso contribuirá para ele manter regularidade em suas marcas, pois terá como competidores os melhores do mundo que, com certeza, estarão nos Jogos de Londres.

A última medalha de ouro que o Brasil havia conquistado no masculino indoor foi há um quarto de século, em 1987, com Zequinha Barbosa, nos 800m.

Evolução das marcas

Confira a evolução das marcas de Duda nos últimos anos, segundo Fernando Franco:

2005   7,39m

2007   7,61m

2008   8,10m

2009   7,94m

2010   8,12m

2011   8,27m

Apoio

O pódio deverá render Bolsa Atleta do Ministério do Esporte e mais R$ 8 mil mensais para Mauro, vindos do Programa de Apoio Caixa a Atletas de Alto Nível, administrado pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

O orçamento da CBAt para este ano é de R$ 26 milhões, sendo R$ 16 de patrocínio da Caixa, R$ 3,2 milhões da Lei Agnelo Piva, R$ 5 milhões do Ministério do Esporte e R$ 1,8 milhões de patrocínios gerais.

Para saber mais:

Uol Esportes

CBAt

 


CGU mostra primeiras provas de corrupção que Orlando Silva pedia
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José Cruz

Quando foi demitido do Ministério do Esporte, em outubro, por não ter, entre outros compromissos, fiscalizado o dinheiro que liberava, o ex-ministro se disse “injustiçado”.  Pedia “provas” de fraudes na sua pasta.

Agora, cinco meses depois da demissão, as provas estão surgindo.

A Controladoria-Geral da União (CGU) divulga as entidades que receberam dinheiro federal e desviaram a grana.  Entre elas, oito, por enquanto, conveniadas do Ministério do Esporte. Total do calote esportivo: R$ 7,2 milhões. Serão realizadas tomadas de contas especiais para saber o destino do dinheiro público.

Dos R$ 7,2 milhões, R$ R$ 3,1 milhões foram para apenas uma entidade, o Instituto Contato, de Florianópolis. Atenção!

Memória

Até aqui, isso não é nem a ponta o iceberg do volume de irregularidades que foram praticadas na gestão Orlando Silva. E o atual ministro, Aldo Rebelo, chegou à pasta com essa missão: limpar a área.

Nessa lista do CGU não consta, por exemplo, o convênio de R$ 5 milhões do Ministério do Esporte com a Federação Paulista de Xadrez, denunciado neste blog, em 2010.

O dinheiro seria para projetos do Segundo Tempo, mas até a Polícia Federal precisou entrar em campo para investigar, a pedido da procuradora federal Heloisa Maria Fontes Barreto, de Piracicaba (SP).

Instituto Cidade

E tem o caso do Instituto Cidade, de Juiz de Fora (MG), que deveria desenvolver o projeto Pintando a Cidadania, mas o dinheiro também desapareceu e até a Polícia Federal foi chamada para tentar achar o rumo da corrupção.

Um dos casos mais rumorosos que envolve ONGs – ainda não foi liberado pela CGU – é o que aproxima ex-ministro do Esporte, e atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ao policial João Dias. À época, Orlando Silva era secretário executivo do Ministério, imediato de Agnelo. A confusão envolve desvios de R$ 3 milhões.

Provas

Depois que foram exibidos vídeos do ex-governador do Distrito Federal, Roberto Arruda, recebendo grana por baixo dos panos, provas de corrupção passaram a ter a imagem como referência.

Foi nisso que o ex-ministro Orlando Silva se baseou para dizer que a pasta que dirigia era transparente, pois faltavam “imagens”.

Porém, o corrupto público se identifica, também, pela omissão. E no caso do Ministério do Esporte isso é farto. O Segundo Tempo não tinha controle do dinheiro que liberava, faltava fiscalização.

Ranking

Não é novidade: a corrupção no Brasil é fartíssima. Estamos em 73º lugar num ranking de 183 nações. Os casos são tão freqüentes –  e cada um maior que o anterior –  que acabamos nos esquecendo da história recente de vários escândalos.

Porém, no caso do esporte, esse assunto não sairá da pauta deste blog.

Espero que os órgãos de fiscalizam consigam demonstrar, ao final das investigações, como o dinheiro público financia espertos de ocasião, inexperientes gestores e candidatos políticos que usam a máquina federal em benefício próprio.

A lista da CGU das entidades sob investigação está aqui


Não é piada, é um acinte
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José Cruz

Então, ficamos assim:

Ricardo Teixeira se afasta da CBF, mas continua à frente do Comitê da Copa;

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, aceita as desculpas da Fifa;

O governo esquece as agressões. E o chute no traseiro entra para o folclore do futebol internacional.

A 820 dias da abertura da Copa volta-se ao trabalho.

Tudo muito bem integrado.

Confiram:

Quarta-feira:

36 fiscais da Fifa visitaram o estádio BeiraRio, em Porto Alegre; o ministro Aldo estava vendo as obras em Pernambuco;

Ontem:

A turma da Fifa visitou Curitiba, mas o ministro ficou em Brasília, despachando.

Hoje:

A comissão da Fifa estará em Cuiabá, enquanto Aldo Rebelo visitará o Maracanã.

Segunda-feira:

Os fiscais estrangeiros vão a Natal, e o ministro estará no Clube Pinheiros, em São Paulo, falando sobre Bolsa Atleta.

É evidente uma crise de relacionamento entre o governo e a Fifa agravada pelo entulho Ricardo Teixeira. Porém, todos evitam bolas divididas.

Talvez por isso, quando falou em um pontapé no traseiro dos brasileiros, esse tal de Jerome queria dizer que a Fifa devia demitir o Brasil e levar a Copa para outro lugar. Algo como Chicago!

Contrastes

No domingo fará um ano da tragédia japonesa com várias cidades atingidas por terremoto, tsunami e catástrofe nuclear. Tudo ao mesmo tempo.

Agora, a televisão mostra as imagens de ontem e as de hoje.

É extraordinária a recuperação de estradas, enormes pontes, edifícios, linhas de metrô, o povo na rua, a produção voltou, tudo funciona.

Há estragos a recuperar, mas o que já fizeram impressiona. Custo das obas: 200 bilhões de euros.

Por aqui,  sol brilhando, não conseguimos fazer um linha rápida entre o aeroporto e o centro de Brasília. E O trem bala Rio-S.Paulo ficará pronto em 2022…  São menos de R$ 50 bilhões em jogo.

Em Porto Alegre, a Andrade Gutierrez marombou durante oito meses até dobrar o orçamento da reforma do estádio BeiraRio, que passou de 150 para 300 milhões de reais. E ainda tentou levantar 205 milhões no Banrisul sem querer dar garantias totais.

Em Brasília, o estádio que custaria R$ 650 milhões passará de R$ 1 bilhão…

Enquanto isso…

O Tribunal de Contas da União faz alertas mensais paras barbaridades Brasil afora por conta das obras da Copa. Diz, textualmente, que teremos “elefantes brancos”… isto é, estádios imprestáveis depois de 2014!

A Controladoria Geral da União, o Senado Federal e o Ministério do Esporte não conseguem divulgar dados atualizados dos gastos bilionários. Batem cabeça em plena era da tecnologia da informação e enterram, de vez, a tal “transparência da Copa …”

Diplomacias, visitas, desculpas, projetos, legados, licenças, mentiras, uma grande enrolação.

Não é piada, é um acinte.

O torcedor-pagador se irrita e esquece a fiscalização, facilitando que as maracutaias avancem.

Atualizado às  10h40

Para que não fique a minha opinião exclusiva – mesmo porque, este blog, desde o início, é um espaço democrático para debates – registro a manifestação que acabo de receber da assessoria do ministério do Esporte:

“Os desencontros entre a equipe da Fifa e o ministro Aldo Rebelo não se devem ‘a crise institucional que se criou. Mas porque o ministro está concluindo um roteiro por todas as cidades-sedes.

Além disso, diz a assessoria, não é comum o ministro acompanhar a equipe técnica da Fifa em suas vistorias de rotinas e, também, Aldo Rebelo tem, em Brasília, compromissos que precisam ser atendidos.

Está aí o registro oficial.


Lei Geral da Copa, um “chute no traseiro” do povo brasileiro
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José Cruz

Nota de Repúdio à aprovação da Lei Geral da Copa na Comissão Especial da Câmara dos Deputados

A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) divulgou nota repudiando a forma como os assuntos relativos ao megaevento estão sendo conduzidos no país.

A ANCOP é formada pelos Comitês Populares nas 12 cidades-sede da Copa: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Confira a nota da ANCOP

 

 


FIFA tenta driblar a imprensa no BeiraRio
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José Cruz

Por Geraldo Hasse

A FIFA, o Internacional e a Prefeitura de Porto Alegre jogaram na retranca, ontem, obrigando uma centena de repórteres a correr inutilmente atrás dos 36 membros da comitiva de técnicos do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014 em sua visita ao Gigante da BeiraRio, o estádio escalado para os jogos da capital gaúcha.  

Alegando estar em Porto Alegre em missão técnica, voltada para a solução de problemas de infraestrutura nas áreas de saúde, transporte e telecomunicações, os visitantes foram isolados dos jornalistas, que só tiveram acesso a dois executivos — Fulvio Danilas, diretor da FIFA no Brasil; e Ricardo Trade, diretor de operações do COL – escalados para “um comunicado” sobre a verificação semestral de rotina sobre todos os estádios da Copa.

Reflexo momentâneo, talvez, da situação anômala do BeiraRio, que virou um território meio sem dono, prestes a ser ocupado por um exército de trabalhadores a serviço da Construtora Andrade Gutierrez, a esperada “entrevista coletiva” dos dois técnicos da FIFA&COL não foi feita na sala de imprensa do clube, que só tem 40 lugares; ocorreu sob empurrões e protestos na porta de entrada do centro de convenções do Gigante.

Mesmo que se procurasse, não haveria no BeiraRio lugar mais contraindicado para passar informações à imprensa. Ficou claro que a intenção era evitar perguntas sobre o atraso nas obras de reforma do BeiraRio, a contenda entre o Inter e a Construtora Andrade Gutierrez e, principalmente, a crise de relacionamento entre a FIFA e o governo brasileiro.

Com Danilas e Trade de pé diante de dezenas de microfones e câmeras, tendo a seus pés algumas repórteres ajoelhadas, a cena valeu como thriller da des(organização) que permeia os preparativos da Copa 2014.

Segundo Trade, a visita desta quarta-feira atendeu a um calendário de monitoramento semestral de obras. Em setembro, quando voltarem, os técnicos contratados pela FIFA checarão, por exemplo, o andamento de dez obras previstas para execução este ano em Porto Alegre.

Quanto ao BeiraRio, cuja reforma não saiu da estaca zero, é considerada pelo COL como “no mesmo nível das outras sedes”.

Candidato sorridente

Diante da retranca dos membros da FIFA e do COL, quem acabou dando o serviço aos repórteres foi o prefeito José Fortunati. Gremista e candidato à reeleição em outubro de 2012, ele estava sorridente no BeiraRio:

 “Depois da reunião desta manhã, eu retirei muito da minha cautela e desconfiança quando ao estádio de Porto Alegre na Copa”, disse, salientando que há prazo para preparar o BeiraRio, cuja reforma é, “ao lado da Arena da Baixada”, em Curitiba, “a obra mais simples da Copa”.

 Quem tranquilizou Fortunati foi o presidente do Inter, Giovanni Luigi, que esteve presente na abertura da reunião desta quarta-feira com o COL e a FIFA. Segundo Luigi, o contrato entre o clube e a Construtora Andrade Gutierrez deve ser assinado no máximo até a próxima segunda-feira; as obras começam já-já; e os engenheiros da AG já estão integrados às reuniões técnicas promovidas pelo COL.

 Nesta quinta, a caravana FIFA&COL vai estar em Curitiba, sexta em Cuiabá, sábado em Manaus e segunda-feira em Natal.

 Geraldo Hasse é jornalista


Ricardo Teixeira se fortalece na Comissão de Esporte da Câmara
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José Cruz

Em baixa na cotação política e em queda no prestígio esportivo, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ganhou um reforço para, quem sabe, conseguir recuperação no futebol.

Ontem, o deputado baiano José Rocha (PR) foi eleito presidente da Comissão de Turismo e Esporte na Câmara Federal. O vice-presidente da CBF para o Centro-Oeste, Weber Magalhães acompanhou a cerimônia e cumprimentou o eleito.

Ex-presidente do E.C. Vitória, José Rocha, 63 anos, integra a Bancada da Bola e foi o relator da Nova Lei Pelé, que atendeu às pretensões dos cartolas nos artigos que tratam das relações dos clubes com jogadores.

Em seu quinto mandato consecutivo, o médico José Rocha, eleito por unanimidade, disse que sua amizade com Ricardo Teixeira “não tem nada a ver com o mandato parlamentar”.

Rocha e Teixeira: amigos, amigos, acordos à parte

Sobre a crise institucional entre o governo brasileiro e a Fifa, José Rocha apoiou a manifestação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ao pedir substituição de interlocutor da entidade internacional. “Antes de tudo, deve haver respeito entre as instituições”, afirmou o deputado.

Além de José Rocha, foram eleitos o primeiro vice-presidente da comissão, deputado Afonso Hamm (PP-RS), e a terceira vice-presidente, deputada Luci Choinacki (PT-SC).


Deputado Romário já aceita pedido de desculpas da Fifa
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José Cruz

O deputado Romário sugere que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, aceite o pedido de “desculpas” do presidente da Fifa, Joseph Blatter, encerrando logo o episódio do “chute no traseiro dos brasileiros”, conforme disse o secretário geral da entidade, Jerome Valker.

“Todos temos o direito de errar. Eu errei”, afirmou Romário.

“O pedido de desculpas mostra o grau de dignidade do presidente da Fifa ao ato arrogante e mal-educado de seu secretário”, afirmou.

             Romário quer esquecer “chute no traseiro”, e sugere que ministro faça o mesmo

Romário, que este ano esteve com Blatter discutindo sobre a crise entre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e suas relações com a Fifa, afirmou que poderia ser contrário ao pedido de desculpas, “pois eu critiquei logo a manifestação grosseira do secretário-geral ( Jerome Valker).”

Porém, sua posição, agora, é outra, e sugere:

“O ministro Aldo Rebelo deve aceitar o pedido de desculpas”, disse o deputado.

Segundo a assessoria do Ministério do Esporte, Aldo Rebelo deverá se manifestar nesta quinta-feira sobre a mensagem enviada pelo presidente da Fifa, pedindo desculpas pela grosseira manifestação, e, quem sabe, acabar com o conflito diplomático-esportivo entre o promotor da Copa 2014 e o governo do país-sede.

No sábado, Aldo Rebelo chegou a dizer que o governo não receberia mais Jerome Valker e que a Fifa indicasse outro interlocutor.


Chute no traseiro: a terapia do progresso
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José Cruz

Pode parecer eficiência dos parlamentares, coisa rara, sabe-se bem. Mas pode ter sido, também, reação ao grosseiro recado do secretário-geral da Fifa.

A verdade é que, depois que Jerome Valcke disse que brasileiro merecia um chute no traseiro, as excelências trabalharam e a Comissão Especial aprovou a Lei Geral da Copa.

Memória

Certa vez, o ex-presidente Lula mandou o brasileiro parar de reclamar, tirar a bunda da cadeira e ir trabalhar.

Hoje, o noticiário em geral diz que o Brasil é a sexta potência na economia mundial.

No esporte, a Seleção avançou para o quinto lugar no ranking da Fifa.

Moral da história: contra a malandragem, chute no traseiro; a reação e o progresso são imediatos.

Se a moda pega!!!


O financiamento do esporte e o bem público
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José Cruz

Por Alan Pessotti

Advogado e ex-atleta

Ultimamente temos visto obras e investimentos esportivos de todo tipo, feitos por parte do Estado, diretamente ou através de incentivos fiscais. Também temos visto denúncias de corrupção envolvendo o esporte em geral, e o TCU tem cumprido seu papel e fiscalizado e emitido relatórios alarmantes sobre as contas das entidades esportivas.

Mas, digamos que vivamos em um país ideal, sem corrupção. Todas as contas estariam perfeitas, não haveria superfaturamento, tráfico de influência nem desvios de dinheiro público, todas as obras estariam dentro do orçamento e todos os projetos aprovados por leis de incentivo fiscal atenderiam os requisitos legais. Isto faria com que todos fossem aparentemente legais, mas na realidade não o são.

Tomarei como exemplo duas situações aqui citadas: a aprovação do incentivo fiscal para a escola de pilotos do Galvão Bueno e o estádio de Brasília para a C opa do Mundo.

Existem princípios constitucionais e legais que regem a administração pública. Estão explicitados na Constituição Federal, em seu art. 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”.

Além disto, o princípio da supremacia do interesse público está permeado em toda a Constituição e nas leis.

Vamos aos casos concretos. Os citados exemplos podem atender o princípio da legalidade e obedecer aos requisitos legais. Também atende o da publicidade, senão nem estaríamos falando sobre isto.

No caso da escola de pilotos, será que atende o princípio da impessoalidade ou foi aprovado apenas por ser um projeto de alguém famoso?

Certamente, o princípio da eficiência não é obedecido simplesmente por ser muito dinheiro para atender pouca gente, e gente que não precisa de incentivo. Nesta situação vejo a aprovação como um ato que fere o princípio da moralidade pela desimportância coletiva da modalidade esportiva.

Finalmente, quebra-se o princípio da supremacia do interesse público, simplesmente por não agregar absolutamente nada à população em geral. Ou alguém acha que vão colocar centenas de alunos de escolas públicas para pilotarem?

Quanto ao estádio de Brasília, é claramente desatendido o princípio da eficiência, pois será uma obra gigante que estará praticamente sem uso devido ao histórico desportivo/futebolístico do DF.


Copa e Olimpíada: remoções de famílias, no Rio, repercurtem na imprensa estrangeira
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José Cruz

Repercutem na imprensa internacional as remoções arbitrárias e truculentas de famílias, no Rio de Janeiro, para que o espaço seja ocupado por obras que signficarão o “progresso da Copa e da Olimpíada”. O mesmo ocorre em outras capitais.

Nos últimos 16 meses, milhares de famílias da “Cidade Maravilhosa” foram arbitrariamente removidas de suas casas ou estão ameaçadas em comunidades como Restinga, Vila Harmonia, Largo do Campinho, Rua Domingos Lopes, Rua Quáxima, Favela do Sambódromo, Morro da Providência, Estradinha, Vila Recreio 2, Vila Autódromo e Arroio Pavuna, segundo os Comitês Populares da Copa.

Não são casos isolados. Uma busca no YouTube renderá mais de cem vídeos documentando remoções violentas.

Em sua edição de ontem, o jornal The New York Times destacou, em matéria de capa, a situação das 170 mil pessoas ameaçadas de remoção forçada de suas casas em todo o Brasil por causa das obras ligadas à Copa de 2014 e às Olimpíadas de 2016.

Conforme já foi denunciado pelos Comitês Populares da Copa no dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil, as remoções representam um flagrante desrespeito à legislação e aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil para a defesa dos direitos humanos no país.

Hoje, membros do Comitê olímpico Internacional vão monitorar obras, no Rio, as obras. Também estarão com o prefeito Eduardo Paes em reunião fechada na Sede do Comitê Organizador dos Jogos, na Avenida das Américas, 899 – Barra da Tijuca.

Perguntas sem resposta

Os comitês populares da Copa querem saber?

1) A Prefeitura do Rio tem condições de continuar negando – apesar dos relatos na imprensa, dos documentos judiciais, e dos muitos vídeos de denúncia – que violações de direitos humanos foram cometidas nas remoções forçadas de comunidades como a Restinga, Vila Recreio 2, Favela do Metrô, Vila Harmonia, Largo do Campinho, e outras? O que está sendo feito para remediar a situação dessas famílias?

2) Se os reassentamentos estão sendo feitos dentro dos limites da lei, como alega o Poder Público, porque vocês não conseguem provar esta afirmação com uma simples divulgação de uma lista completa de todas as comunidades ameaçadas de remoção no Rio hoje, assim como os nomes, os valores de remuneração e locais de reassentamento de todos as famílias que já foram reassentadas desde 2009? Isso deve, no mínimo, ser disponibilizado para a Defensoria Pública.

3) O padrão das remoções forçadas no Rio tem sido a “derrubar primeiro, definir o reassentamento depois”. Enquanto isso, o “aluguel social” de R$ 400 não é suficiente para as famílias se manterem até que outra opção seja encontrada. A relatora da ONU, Raquel Rolnik, tem defendido um reassentamento “chave por chave”, em que nenhuma família seja despejada de sua casa antes de ter participado (e concordado) com um reassentamento. Em todas as nossas pesquisas, não conseguimos encontrar nenhum caso em que isso tenha ocorrido. Vocês podem citar um único exemplo em que a comunidade atingida teve seu reassentamento completamente finalizado antes que suas casas foram destruídas?

4) Na Favela Metrô e na Estradinha, as famílias vêm vivendo em meio a escombros perigosos há mais de um ano no que mais parece uma cena de guerra. Como vocês podem justificar demolições parciais de comunidades quando ainda existem famílias vivendo nelas? O que o Poder Público fará para remediar a situação no Metrô e na Estradinha imediatamente? O Poder Público pode se comprometer a pôr um fim definitivo à prática de demolições parciais até que todos os moradores estejam de acordo com as opções de reassentamento e devidamente reassentados?

Remoções no Brasil são pauta da imprensa internacional

Outros órgãos da imprensa internacional, como o The Guardian, The Huffington Post, Al-Jazeera e El País, já denunciaram as remoções, assim como a Anistia Internacional e própria Relatora da ONU para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik. As denúncias chegam agora ao jornal mais influente do mundo, aumentando a pressão nas autoridades cariocas por mais transparência, novas práticas, e o fim definitivo das remoções ilegais sob qualquer pretexto.

Os Comitês Populares da Copa não acreditam em desenvolvimento que viole os direitos humanos. Por isso, na última visita do COI em novembro de 2011, foi entregue pelo Comitê Popular Rio uma carta e um DVD com essas mesmas denúncias e até agora não houve resposta adequada. Espera-se que a matéria do NYTimes reacenda o debate sobre o real legado dos megaeventos esportivos e abra uma nova oportunidade para a imprensa nacional fazer as perguntas que continuam sem resposta.

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