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O desafio do Turismo
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José Cruz

2011 registrou dois recordes: o de número de estrangeiros entrando no país (5,5 milhões) e o recorde de divisas (US$ 6,7 bilhões). Na outra ponta, a saída de divisas – com viagens de brasileiros ao exterior – bateu em US$ 20 bi.”

Oportuno artigo do jornalista Luiz Nassif, em seu blog. Peço licença ao autor para repercuti neste espaço, pois o assunto “turismo” – às vésperas de grandes eventos esportivos – pouco se discute.

Coluna Econômica – 11/01/2012

Por Luis Nassif

Nos próximos anos, 600 mil turistas novos entrarão no país, para acompanhar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Dependendo da maneira como forem recebidos, poderão ser 600 mil propagandistas ou 600 mil críticos espalhando suas opiniões pelas redes sociais.

Essa a preocupação maior de Flávio Dino (PCdoB), presidente da Embratur.

Apesar da formação jurídica, Dino se destacou por preocupações gerenciais em várias áreas. Como juiz federal de direito, foi dos primeiros a adotar modernas formas de gestão em sua vara. Essa experiência ajudou-o a montar o sistema de estatísticas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Dino considera que o país vive alguns paradoxos. Nunca se viajou tanto, de entrada e de saída. 2011 registrou dois recordes: o de número de estrangeiros entrando no país (5,5 milhões) e o recorde de divisas (US$ 6,7 bilhões). Na outra ponta, a saída de divisas – com viagens de brasileiros ao exterior – bateu em US$ 20 bi. Só o déficit na conta turismo consumiu metade do superávit comercial brasileiro. Parte devido ao câmbio favorável (ao turista brasileiro), parte devido à melhoria de renda do brasileiro.

O desafio a que Dino se propõe é transformar o turismo em tema nacional. Hoje em dia, a atividade corresponde a 3,6% do PIB. São números crescentes e um enorme potencial de geração de emprego e renda. O momento é de construir uma agenda que use as janelas de oportunidade da Copa e das Olimpíadas.

O maior ganho (ou perda) do país será o pós-evento: o saldo de imagem que ficará depois da festa. Para tanto, a preocupação maior não serão as obras – que sairão de qualquer modo, mas a maneira como os turistas serão recebido e, também, o custo interno do turismo.

No planejamento da Embratur, as duas prioridades serão, primeiro, garantir maior equilíbrio no balanço do turismo; segundo, garantir competitividade para o produto turístico brasileiro.

O trabalho está sendo montado em torno de três eixos:

Promoção: publicidade, mídia digital e relações públicas, voltadas aos mercados considerados mais propícios: 17 países prioritários, os 15 maiores emissores de turismo, mais México e Canadá. Hoje em dia há maior compreensão sobre a importância da América do Sul para o turismo brasileiro. Apesar da globalização, os fluxos turísticos são fundamentalmente intrarregionais: o turismo do México depende dos EUA; o de Cuba, do Canadá; e o da Europa, dos europeus. EM 2010, apenas 46% do turismo externo brasileiro era originário da América do Sul, contra 85% do turismo norte-americano no México e 83% dos europeus na Europa.

Apoio à comercialização: existem linhas de crédito do BNDES para hotelaria. A novidade será o apoio aos vôos charters, para diversificar portões de entrada e pluralizar oferta.

Competitividade propriamente dita. Apesar de o câmbio ser um fator de pressão, há outros pontos que precisam ser levantados, como a desoneração tributária, diz Dino. Sua intenção é incluir o turismo no Plano Brasil Maior lançado para setores exportadores.

A Câmara do Turismo

Depois de incluir a atividade no Brasil Maior, conseguir medidas para parques temáticos, turismo receptivo, hotelaria. Por exemplo, isenção para a aquisição de rodas gigantes e outros equipamentos temáticos, não fabricados no país. Para articular o plano, pretende montar uma modelo parecido com a câmara automotiva, reunindo todos os setores representativos da atividade.

Estratégia digital

No caso dos voos charters, a ideia será abrir um edital para estados que formatam seus programas. Os recursos servirão para os estados negociarem com as operadores de voo. A parte mais relevante das verbas publicitárias será para aplicativos no Facebook, que permitam aos operadores de turismo apresentar suas ofertas. Para apoio local, serão montados 13 escritórios em vários países.


Desperdiçando a dádiva
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José Cruz

Por Geraldo Hasse

O futebol é uma caixinha de negócios

Tanto no hemisfério norte (onde as colheitas já foram feitas) quanto no hemisfério sul (onde as lavouras estão plantadas), a pausa da virada do calendário foi substituída pela correria comprista inventada pelo comércio, a indústria e o turismo. Nesse ritmo acelerado do Natal e Ano Novo, a maioria das pessoas perde o contato consigo mesma em nome de uma confraternização mais ou menos forçada.

Pode não ser exatamente assim para todos, mas a aceleração festeira provoca acidentes, bebedeiras e confrontos nas estradas e nas ruas, principalmente – que nada têm a ver com o genuíno espírito do Natal, inspirado nas lendas em torno do nascimento de Jesus, matriz das igrejas cristãs. Por isso muita gente se sente naturalmente inclinada a perguntar como se sentiria o próprio Cristo se voltasse ao mundo no século XXI.

Agnósticos, ateus ou cristãos podem tirar suas próprias conclusões sobre o tema exposto nos dois parágrafos acima  no fundo, trata-se da alienação de si –, mas duvido que Jesus, em seu hipotético retorno, não lamentasse o desperdício da dádiva de viver.

No hemisfério norte, as pessoas se recolhem ao interior de suas casas para se abrigar do frio, que provoca o colapso da vegetação; no hemisfério sul, a natureza fica exuberante, cheia de flores, e o calor convida aos banhos e passeios junto ao mar, rios e lagos.

Não usufruir dessa diversidade de situações oferecidas pela Natureza é uma espécie de pecado; alienar a própria natureza pessoal em nome da competição pelo consumo ou por altas posições sociais, eis um pecado pior ainda; já destruir o patrimônio natural, herança de todos, é um crime que não merece perdão, ainda mais no momento em que a ciência relaciona diversas catástrofes climáticas como um troco aos exageros econômicos.

A subjugação da natureza e a subordinação da humanidade aos interesses empresariais são uma sacanagem que se institucionalizou mesmo se sabendo que a matriz ideológica desse pensamento o pensamento único, parido pelo neoliberalismo gerou a atual crise em que se debatem as economias mais bem estruturadas do planeta.

Tudo pelo negócio poderia ser o eslôgan que sintetiza tudo isso e que se estende a todos os campos do mundo. Aí está a própria Fifa, instalada na Suíça, comportando-se como uma multinacional que, a pretexto de promover o esporte, dá prioridade ao business.

Parafraseando o ex-jogador Pepe, que falava das surpresas de muitas partidas, o futebol é uma caixinha de negócios. Nem por isso, entretanto, faz sentido o Brasil autorizar a venda de bebidas alcoólicas em estádios durante a Copa de 2014, como parece que vai rolar nos tapetões de Brasília.

Se isso acontecer, será um retrocesso semelhante à reforma do Código Florestal, alterado para favorecer a economia, com prováveis perdas para o patrimônio natural, coisa que, talvez, só poderá ser confirmada dentro de décadas.

Tanto no caso do esporte quanto no do agronegócio, as mudanças legais obedecem a acordos ou lobbies que atendem a interesses predominantemente estrangeiros. Nesses dois campos vê-se a mão sinistra de políticos do PCdoB. Patrola-se assim a autoestima nacional, como se os reformistas ­na realidade, conservadores aliados aos negociantes internacionais estivessem a nos dizer: “Brasileiros, caiam fora, aqui quem manda somos nós!””

LEMBRETE DE OCASIÃO

”A intervenção totalitária do imperialismo na economia brasileira desvirtua seu funcionamento, subordinando-a a fatores estranhos e impedindo sua estruturação normal na base das verdadeiras e profundas necessidades da população do país.””

Caio Prado Junior (comunista) na página 280 de sua História Econômica do Brasil, l5ª edição, Brasiliense, 1972 (1ª edição em 1945)

Geraldo Hasse é jornalista gaúcho e colaborador deste blog


Bolsa Atleta poderá ter R$ 80 milhões em 2012
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José Cruz

Com novas regras, a Bolsa Atleta 2012 tem R$56 milhões garantidos no orçamento do Ministério do Esporte.

Mas poderá chegar a R$ 80 milhões, pois foi pedida suplementação de R$ 24 milhões, ao Ministério do Planejamento.

Paralelamente, será feita uma releitura da Portaria nº 164, de 6 de outubro de 2011, com critérios para inscrições dos bolsistas, visando a possíveis mudanças. Para melhor, claro.

A portaria em questão tem avanços, mas também exigências que podem prejudicar atletas, principalmente os paralímpicos.

Por exemplo, estabelece como critério mínimo que as provas de determinada modalidade devam ter, no mínimo competidores de seis estados.

“Acontece que o paradesporto é composto por sua própria natureza e em grande parte por micro-modalidades. São deficientes que competem em modalidades específicas, divididas em classes e sub-classes, de acordo com o grau da lesão e comprometimento de cada atleta, que recebem uma classificação funcional”, escreveu um atento leitor.

Por exemplo:

Entre os olímpicos, os 100 metros no atletismo é uma prova para todos. Já nos paralímpicos ela se divide entre visuais, amputados, mentais, paralisados cerebrais e cadeirantes. E esses se subdividem em suas respectivas classes de lesões. Uns enxergam menos, outros nada! Uns tem a perna amputada abaixo do joelho; outros, bem acima. E cada uma dessas deficiências se enquadra numa classificação, o que dificulta, muitas vezes, ter atletas de seis estados diferentes na mesma.

O efeito disso é que muitos atletas que hoje são beneficiados pela Bolsa Atleta poderão perdê-la, pois várias modalidades serão esvaziadas pela falta de quórum – seis atletas por prova.

Assim, para não ficarem prejudicados, os atletas deverão migrar para outras provas que tenham maior número de competidores. Ou seja, atletas com potencial de pódio vão inchar outras categorias e diminuir, claro, as chances de o Brasil conquistar maior número de medalhas em provas onde tem atletas com potencial. No Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara, 82% dos medalhistas recebem a Bolsa Atleta.

Essa é uma das avaliações que Marco Aurélio Klein, do setor de Bolsa Atleta do Ministério do Esporte, determinou fazer, para possível atualização.

Uma das evoluções no sistema é o que contempla com a continuação da Bolsa atletas que tenham tido resultado expressivo. Por exemplo, um bolsista que conquiste o campeonato mundial, olímpico ou paralímpico não precisará renovar a inscrição, que será automática.

 


Copa 2014 – O Brasil não é a África: e daí?
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José Cruz

Contrariando as previsões progressistas e números otimistas na pré-Copa da África do Sul, veja a situação naquele país, um ano e seis meses depois do evento:

“Os únicos sul-africanos que realmente desfrutam de uma “vida melhor” são os 3 milhões integrantes da classe média negra – apenas 6% da população de 49 milhões de habitantes. Aproximadamente 40% da população (20 milhões de pessoas) vive abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos de 50 euros por mês.”

O texto completo sobre este assunto está no Esporte em Rede.


Sobre demolidores e picaretas
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José Cruz

Enquanto no restante do país os clubes se prepararam para os campeonatos regionais, em Brasília ainda não há data prevista para o início da competição.
Pior: a Federação Brasiliense de Futebol está sob intervenção. Deve prestações de contas de dinheiro público que recebeu de governos passados.
O “rolo” é enorme, vem do tempo do ex-governador Joaquim Roriz, e não há previsão para soluções imediatas.
No entanto, é nesta cidade de futebol pobre e inexpressivo que se constrói estádio para 75 mil pessoas.
O governo insiste em dizer que é uma “reforma”. Mentira.
O antigo Mané Garrincha foi demolido – aliás, tentaram implodir, mas a obra resistiu e foi derrubada na base da picareta. E como Brasília é farta em “picaretas”, o governo de Agnelo Queiroz conseguiu demolir rapidamente o resistente concreto.

Barbaridades
Tecla batida essa de estádios de futebol para a Copa 2014. Mas não se pode silenciar,  pois é um desperdício de dinheiro público só comparado ‘as barbaridades dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, cujas instalações ficaram quatro anos sem serventia.
Exemplos

O primeiro estádio que Brasília foi o “Pelezão”, homenagem ao Rei Pelé, inaugurado em1965.  A área foi doada à Federação de Futebol, isto é, o terreno era público, para ali construir um belo campo de futebol, 25 mil lugares.

Certo dia, os cartolas locais decidiram vender o Pelezão para um grupo de empreiteiros – devoradores do cerrado – liderados pelo ex-vice-governador Paulo Octávio.

E lá se foi o Pelezão, numa negociata feita às escuras. E o dinheiro arrecadado não se sabe o destino. Há suspeitas de que serviu para enriquecer o bolso de quem dirigia o futebol local naquela época. Um trambique daqueles!

Hoje, no local do histórico estádio Pelezão constroem um valorizadíssimo condomínio, onde um apartamento de dois quatros custa em torno de R$ 1,2 milhão.

Como se observa, a jovem Brasília idealizada por JK, reconhecida como patrimônio Mundial, está entregue aos demolidores que, na emergência, apelam para picaretas.

Sugestão

Que o novo estádio Mané Garricha, em construção, tenha redobrada a estrutura de concreto, para resistir picaretas do futuro. Afinal, sabe lá o que vai passar pela cabeça dos cartolas ou dos governadores que virão…


Festa da bola: “Vida que segue”
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José Cruz

Que toda a exposição que Neymar terá, agora como autor do gol mais bonito de 2011 – e que gol! –, consagrado pela eleição da Fifa, contribua para despertar nos jovens o desejo de termos um país esportivo com mais dignidade e politicamente mais sério.

Passado e presente

Em 1958 acompanhei por um radinho de pilha – a extraordinária invenção da época – a primeira conquista brasileira de um título mundial. Brasil 5×2 Suécia. Em 1962, na conquista do bicampeonato, no Chile, tínhamos outra grande invenção, o vídeo-tape!

Hoje, acompanho pela TV, ao vivo, a festa da Fifa, premiação aos melhores do mundo de 2011, a “Bola de Ouro” da Fifa.

Essa transição da tecnologia em cinqüenta anos é espetacular e emocionante. Tão emocionante como o futebol que nos leva à arquibancada ou nos prende a uma cadeira, na torcida pelo espetáculo da bola, por um gol como os de Neymar, uma jogada como as de Ronaldinho Gaúcho, enfim.

Festão

Festa de luxo em Zurique com presença de personalidades internacionais.

O Brasil teve dois representantes, o que demonstra a “unidade”  das autoridades políticas do futebol no país da Copa 2014: Ronaldo, pela CBF, e Pelé, anunciado como o “Atleta do Século”. Nossos dois fenomenais ex-jogadores brasileiros estão, agora, em campos políticos opostos.

No discurso, Sua Majestade apresentou-se como representante da presidenta Dilma Rousseff. Governo e CBF, cada um na sua…

Poder

A festa da Fifa é o ponto final de uma temporada que demonstra o poder do futebol e atende aos poderosos patrocinadores. E que “poderosos”! Coca-Cola, Adidas, Emirates, Sony, Visa, Hyundai.

Por aqui as coisas vão mal. Tanto, que nem Havelange nem Ricardo Teixeira deram as caras na festa da Fifa, logo onde já tiveram seus dias de glória… E, por tantas “glórias recebidas”, agora são indesejados por lá.

Não que Blatter, o poderoso chefão, seja flor de odor agradável, ou que a hipocrisia esteja afastada da Fifa. Mas Blatter é o dono da bola e do campo de jogo. Logo…

Balanços

É neste contexto que o Brasil se apresenta atualmente em sexto lugar no ranking mundial de seleções de futebol.

Mesmo assim, teve aumento de 57% em suas receitas de patrocínios entre 2008 (R$ 104,7 milhões) e 2009 (R$ 164,9 milhões), valores que devem crescer quando conhecermos o balanço de 2011.

Já o futebol nacional teve receita de R$ 566 milhões em 2009, aí incluídos recursos gerados pelos clubes e pela CBF. Resultado: crescimento de 274% nos últimos oito anos, revela Amir Somoggi, da BDO RCS Auditores Independentes, de São Paulo.

Diferenças

Números, festas, homenagens, muito dinheiro, glamour. Tudo isso faz parte do cenário futebolístico internacional, que esconde nas emoções do jogo da bola fenomenais falcatruas e intensa corrupção.

Do que li e ouvi de autoridades no último ano, não tenho mais dúvida de que o esporte em geral e o futebol em particular movimentam uma fenomenal máquina de lavar dinheiro, enriquecendo uma elite movida pelo esforço dos atletas e promovendo projeção social ilusória.

Ronaldo, Pelé, Neymar, Messi, enfim, são protagonistas de luxo desse espetáculo esportivo-econômico-financeiro que se tornou emocionante e bilionário, mas de exaltação para poucos.

Porque, afinal, do lado de cá, por exemplo, outro astro da bola que já esteve no topo dos melhores do mundo, Ronaldinho Gaúcho, está ofuscado. E nesse mundo de festas e valores não consegue, sequer, receber do Flamengo os seus salários em dia. Três meses de atraso. Mas o clube fala em novas contratações.

Vida que segue…

Em 2001, documentos oficiais da CBF revelavam que apenas 3,7%  dos jogadores profissionais brasileiros recebiam mais de 20 salários-mínimos (R$ 151,00 à época).

Mais: em 1996, 81% dos profissionais do país recebiam até dois salários mínimos, número que saltou para 84,8% em 2000. Os dados estão no relatório da CPI da CBF Nike, e, apesar do tempo passado, essa realidade em termos percentuais não mudou muito até hoje.

Como diria João Saldanha: “Vida que segue”.


O Jogo das Estrelas e a Lei de Incentivo
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José Cruz

No dia 29 de dezembro publiquei que o Jogo das Estrelas, tradicional evento anual liderado pelo ex-craque Zico, teve apoio de R$ 8,4 milhões da Lei de Incentivo ao Esporte.

A assessoria da Associação Golden Goal, promotora do evento, contestou: a Lei de Incentivo participou com apenas R$ 444.304,00, via doações do Bradesco.

Imediatamente apresentei os formulários oficiais onde estavam as informações – ainda hoje disponíveis. Neles constam os R$ 444 mil do Bradesco acrescido do seguinte dado: “Total  captado: R$8.415.550”

Proponente: Associação Golden Goal –12.338.829/0001-88

Título do Projeto:Jogo das Estrelas 2011
Nº SLIE:1102480-15-UF:RJ
Nº do Processo:58701.002736/2011-66Estimativa Público:1040090
Valor Aprovado para Captação (R$):444.304,00Prazo para Captação:24/11/2011 a 20/12/2011
Data da Publicação:24/11/2011Manifestação Desportiva:SNEAR
QUEM PATROCINOU ou DOOU

Data da Captação

Valor Captado (R$)

Patrocinador: BRADESCO AUTO/RE COMPANHIA DE SEGUROS

13/12/2011

44.304,47

Patrocinador: BRADESCO CAPITALIZACAO SA

13/12/2011

100.000,00

Patrocinador: BRADESCO SAUDE SA

13/12/2011

200.000,00

Patrocinador: BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S/A

13/12/2011

100.000,00

Total Captado (R$):

8.415.550,59

Em seguida, fiz contato com a assessoria do Ministério. A resposta foi a seguinte: “Para o Jogo das Estrelas foram captados, efetivamente, R$ 444.304,47.” Os valores foram publicados no Diário Oficial da União.

Dúvidas

Feita a correção,  ficaram dúvidas.

Afinal, porque o Ministério do Esporte informa, oficialmente, que foram captados R$ 8,8 milhões se, de fato, foram R$ 444 mil, como registra a planilha?

Diante da dúvida, a resposta do Ministério, via assessoria de imprensa, não foi esclarecedora: “É a metodologia usada!”; “A forma como está, de fato, mais confunde do que esclarece”;  Como está, acaba que os números não batem!”

Real

É muito estranho que um órgão do governo federal trate de forma tão amadora informações assim.

Diante disso, consultei outras captações registradas na página do Ministério e a confusão se repete. Em resumo, estamos diante de uma “metodologia” que divulga dados não confiáveis.

Pior:

O dinheiro da Lei de Incentivo  que o Ministério do Esporte administra não lhe pertence.

É dinheiro que o governo federal abre mão, via Imposto de Renda, para contribuir no desenvolvimento do esporte. E é assim que os burocratas tratam a verba pública? Que confiança pode-se ter nos relatórios sobre tal assunto?

Repetição?

A situação – que é gravíssima – sugere que estamos diante de outro caso similar ao recente escândalo do programa Segundo Tempo, ainda investigado pela Polícia Federal, Ministério Público, Procuradoria Geral da União.

Os servidores que cuidam da Lei de Incentivo são da época do ex-ministro Orlando Silva. E foi sob essa gestão que os órgãos de fiscalização do governo constataram diversas irregularidades, como fraudes, desvios de dinheiro, incentivos a campanhas políticas, etc.

O ministro Aldo Rebelo, que substituiu a Orlando Silva para fazer “faxina” e acabar com as suspeitas de corrupção, precisa, urgentemente, se atualizar sobre a forma de trabalho dos setores que repassam verbas públicas a terceiros.

Porque, repito, o Ministério do Esporte não tem sistema confiável de fiscalização. Não tem pessoal habilitado para ir aos locais e ver se o dinheiro está sendo efetivamente usado nos objetivos para os quais foi liberado. Os desmandos do Segundo Tempo são exemplares neste sentido. O Tribunal de Contas da União tem, aí, um excelente produto para começar o ano.

Isso sem falar nos critérios que são usados para aprovar os projetos, porque, até agora, a elite do esporte é quem se beneficia da Lei de Incentivo. Justamente a que já tem acesso a variadas fontes do governo federal.


O jogo oculto dos espertos
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José Cruz

Uma inesperada movimentação na política do esporte mundial agitou o final de 2011 e continua neste novo ano.

Começou com a surpreendente saída de João Havelange do colegiado do Comitê Olímpico Internacional (COI). Decano do esporte brasileiro, todo poderoso ex-presidente da Fifa, o cartola que expandiu o futebol pelo mundo, Havelange, agora, está em silêncio. E quem dele se aproxima a resposta é comum: “Nada a declarar”.  Inacreditável, mas não tivesse ele tomado a iniciativa extrema, poderia até ser expulso do COI. Do que são capazes os “senhores dos anéis” para salvar os seus dedos…

Da Suíça vem a notícia de que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, terá que revelar o conteúdo do dossiê ISL. Saberemos, então, os detalhes sobre o escândalo de corrupção na entidade, envolvendo, entre outros, Havelange e Ricardo Teixeira.

O conteúdo do dossiê da ISL é a novidade, mas a denúncia de que esporte e corrupção são íntimas é antiga.

Desde 1992, o jornalista  Andrew Jennings denuncia ao mundo que, enquanto o esporte provoca “emoções” – enlouquecendo torcedores nas arquibancadas –, nos bastidores, os poderosos do jogo da bola promovem a corrupção e a lavagem de dinheiro internacional, com a cumplicidade de silenciosos governos.

Enquanto isso…

Também em silêncio movimenta-se o bastidor olímpico brasileiro com a notícia de que o presidente Carlos Arthur Nuzman terá que se afastar da entidade, em abril.

Os jornalistas Eduardo Ohata e Bernardo Itri, da Folha de S.Paulo, noticiam que lançar uma candidatura de oposição a Nuzman é um “quebra-cabeça”.

Por que será que para a oposição o jogo é difícil, escondido, com cascas de bananas pelo caminho?

Repare, caro leitor, estamos falando de “olimpismo”, o histórico movimento internacional  que surgiu para difundir, também, os princípios da educação, da democracia, da solidariedade, da transparência, enfim.

Em resumo:  nos bastidores dos espertos ainda se observa a ditadura dos cartolas. A democracia, também por isso e por silenciar tantos atletas, ainda não chegou ao esporte. Lamentavelmente.

Faço essa rápida retrospectiva para demonstrar que tanta movimentação e denúncias estão intimamente ligadas aos valores do esporte, nem  tão transparentes como se divulga. Os valore$, na prática, são outro$.

A partir dos Jogos de Los Angeles, 1984, quando os russos responderam ao boicote norte-americano na Olimpíada de Moscou, quatro anos antes, as emoções do mais alto, do mais forte, do melhor, do mais completo atleta passou a ter objetivos que, no bom inglês, quer dizer “business”.

E é nesse contexto que se inserem, por exemplo, as construções esportivas, como os 12 novos que surgem no Brasil, entre eles o de Brasília.

Aqui, o governador Agnelo Queiroz trata a população como ignorante, incapaz de se aperceber que não é possível gastar um bilhão de reais numa obra inútil, para meia dúzia de jogos. Porque, de resto, o estádio de 70 mil lugares ficará sem utilidade. Não há estudo que demonstre sua viabilidade econômica no pós-Copa. E quem pagará por sua conservação? Ou: haverá conservação ou ficará ao abandono, como os demais patrimônios esportivos da capital?

Portanto, essa é mais uma dispendiosa peça nesse contexto do esporte mundial, de enganações e falcatruas, de corrupção e exploração dos espertos.


Gastos no estádio Mané Garrincha superam investimentos na saúde e na educação no DF
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José Cruz

O governo do Distrito Federal aplicou, em 2011, R$ 257 milhões no setor “esportes”, principalmente no novo estádio Mané Garrincha, para a Copa 2014.

O valor é cinco vezes o destinado para a área de educação (R$ 52,3 milhões). E o dobro da saúde (R$ 126 milhões).

Pior: para a segurança pública foram destinados apenas R$ 21 milhóes, isto é, a metade do aplicado em 2010, ainda no governo de Rogério Rosso, conforme reportagem de Ana Maria Campos, no Correio Braziliense. A crimininalidade cresce na capital da República e 444 pessoas morreram em 2011 em acidentes de trânsito. Mesmo assim, a construção de um estádio de futebol continua sendo prioridade do governador petista.

Um ano depois de ter assumido e ainda no cargo, Agnelo Queiroz repete o roteiro do ex-governador Joaquim Roriz.

Em 2000, Roriz ignorou projetos de saúde e de educação para construir a ponte JK, a terceira sobre o Lago Paranoá, no Distrito Federal.

A luxuosa “pinguela”, orçada inicialmente em R$ 39 milhões, custou R$ 180 milhões aos cofres públicos. Com o superfaturamento, programas de saúde foram suspensos e dezenas de pacientes morreram por falta de atendimento nos hospitais públicos. Há várias reportagens sobre o assunto.

E para 2012?

Para este ano, Agnelo Queiroz continua ignorando os flagelos da educação e a precariedade dos sistema de saúde. E dá prioridade às obras do estádio de futebol, numa cidade em que o esporte é inexpressivo.

O principal time, o Brasiliense, disputa apenas a Série C do Campeonato Brasileiro. Seus jogos não conseguem motivar nem dois mil torcedores… Mas o estádio Mané Garrincha terá 70 mil lugares!!!

Para este ano estão reservados em torno de R$ 500 milhões para as obras do Mané. Já para os projetos da área de saúde a previsão é aplicar R$ 443 milhões, enquanto educação ficará com R$ 359 milhões.

Ou seja, o Mané Garrincha terá 13% a mais de verba do que a saúde, e 39% acima do destinado à educação, revelou o jornalista Chico Santana, em seu blog.

Enquanto isso…

“O Ministério Público investiga o súbito e insólito interesse da turma do governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, em comprar clubes de futebol”, revelou a revista Veja. Aqui.


A estranha e oculta aplicação da verba pública do esporte
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José Cruz

A saída ou não de Carlos Nuzman do comando do Comitê Olímpico – discussão que está na rede – envolve um componente valioso: dinheiro, muito dinheiro, como nunca o esporte nacional teve disponível. Isso sem falar na grama que vem por aí por conta dos Jogos Rio 2016…

Ficou lá atrás o tempo das vacas magras. Hoje há fontes governamentais em abundância fornecendo valioso capital financeiro, mas sem um controle eficaz do Estado, o que sugere desperdício, projetos dúbios, duplicidade de aplicação do dinheiro e suspeitas de corrupção.

Para manter o esporte olímpico e paraolímpico em atividadenossas instituições têm as seguintes fontes:

  1. Lei Piva – 2% das loterias federais  (R$142,7 milhões em 2010)
  2. Lei de Incentivo ao Esporte (R$ 300 milhões anuais)
  3. Orçamento do Ministério do Esporte (2 bilhões)
  4. Oito estatais – BB, Caixa, Petrobras, Infraero,Eletrobras, BNDES, Correios, Casa da Moeda  – (R$ 177 milhões , em 2011).
  5. Bolsa Atleta (R$ 30 milhões anuais)

Ministro bonzinho

Apesar dessa fartura disponível que é destinada ao COB, CPB, confederações e clubes formadores de atletas, em outubro do ano passado, pouco antes de ser exonerado do Ministério do Esporte, o então ministro Orlando Silva, liberou R$ 25 milhões para várias confederações – R$ 11 milhões só para o COB – , a pretexto de “preparar a equipe olímpica”…

Há quem garanta que a liberação desse dinheiro motivaria os cartolas apoiarem a permanência de Orlando no Ministério do Esporte, em plena crise de denúncias de corrupção. Não adiantou, caiu.

Dúvidas

É interessante a seguinte análise:

As confederações recebem esse dinheiro com base em projetos  para “preparação de atletas para os Jogos Olímpicos de 2012”. E o dinheiro vem da Lei de Incentivo, dos patrocinadores, do Ministério, enfim. E o COB também diz que o dinheiro é para preparar atletas…

No entanto, os principais clubes fornecedores de atletas para a delegação olímpica, o Minas Tênis, de BH, e o Pinheiros, de São Paulo, também captam recursos da Lei de Incentivo com o mesmo objetivo:  “preparação de atletas olímpicos”.

Em 2010, o Minas Tênis captou R$ 9,9 milhóes. Já o Pinheiros conseguiu R$ 9,6 milhões este ano.

Logo, o que faz a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos com os recursos que recebe, da Lei Piva, da Lei de Incentivo e dos R$ 13 milhões de patrocínio dos Correios?  E o judô? E o tênis e as demais confederações? Não há conflitos ou objetivos comuns nos projetos de variadas fontes?

Confusão

Essas colocações nos revelam como é confusa a relação entre as entidades do nosso esporte. É cada uma por si. Isso sem falar que a Confederação Brasileira de Clubes também passou a ser beneficiada por verbas públicas (agora em lei), com o mesmo objetivo: “Formação de atletas olímpicos”.

No bom português, estamos na Casa da Mãe Joana. E enquanto os senhores gestores não demonstrarem claramente onde é que estão aplicando todo o dinheiro que recebem, ficam as suspeitas de que a gestão é relaxada ou há corrupção, pois os resultados ainda são pífios, insignificantes, inexpressivos. Principalmente porque a iniciação esportiva continua sem ver a cor do dinheiro. E o Ministério do Esporte, que deveria ser o lider na transparência, também esconde o que é público.

Precisamos saber – e digo isso também como contribuinte dessa conta bilionária – quem está fazendo o quê! Onde o dinheiro está sendo aplicado efetivamente?

O Ministério do Esporte tem a obrigação de trazer esses dados a público, pois o esporte está com sua economia estatizada, porém sem
controle, o que favorece a farra, o desperdício, os desmandos.

E, assim como o Ministério, o Comitê Olímpico é responsável pela confusão. Ou ele é o órgão central normatizador da política do esporte de
rendimento e age como tal ou é omisso, como o Ministério do Esporte, diante do uso do bem público de forma tão dispersa e suspeitamente sem rumos bem definidos, sem planejamento integrado, sem metas ou prioridades. Náo temos isso.

Insisto:  o esporte vive numa fartura de dinheiro sem igual, mas numa desordem institucional histórica, para a qual não há interesse em dar rumo. Ou seja: quanto pior o controle, melhor.

Mais: de que vivem os gestores do esporte? Sem salários? Prestam serviços gratuitos às suas confederações? Não há compensação financeira por tantas horas de trabalho em prol do esporte? Caso contrário, se há salários – e eu sou partidário de que todo o gestor deve receber  — quem está pagando? O dinheiro do patrocinador ou o dinheiro público? Isso é real? Isso é legal?

Abram as contas! Os senhores têm OBRIGAÇÃO de prestar contas do dinheiro PÚBLICO que recebem. Porque esconder a aplicação da grana? Estranho, muito estranho.