Blog do José Cruz

O jogo oculto dos espertos

José Cruz

Uma inesperada movimentação na política do esporte mundial agitou o final de 2011 e continua neste novo ano.

Começou com a surpreendente saída de João Havelange do colegiado do Comitê Olímpico Internacional (COI). Decano do esporte brasileiro, todo poderoso ex-presidente da Fifa, o cartola que expandiu o futebol pelo mundo, Havelange, agora, está em silêncio. E quem dele se aproxima a resposta é comum: “Nada a declarar”.  Inacreditável, mas não tivesse ele tomado a iniciativa extrema, poderia até ser expulso do COI. Do que são capazes os “senhores dos anéis” para salvar os seus dedos…

Da Suíça vem a notícia de que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, terá que revelar o conteúdo do dossiê ISL. Saberemos, então, os detalhes sobre o escândalo de corrupção na entidade, envolvendo, entre outros, Havelange e Ricardo Teixeira.

O conteúdo do dossiê da ISL é a novidade, mas a denúncia de que esporte e corrupção são íntimas é antiga.

Desde 1992, o jornalista  Andrew Jennings denuncia ao mundo que, enquanto o esporte provoca “emoções” – enlouquecendo torcedores nas arquibancadas –, nos bastidores, os poderosos do jogo da bola promovem a corrupção e a lavagem de dinheiro internacional, com a cumplicidade de silenciosos governos.

Enquanto isso…

Também em silêncio movimenta-se o bastidor olímpico brasileiro com a notícia de que o presidente Carlos Arthur Nuzman terá que se afastar da entidade, em abril.

Os jornalistas Eduardo Ohata e Bernardo Itri, da Folha de S.Paulo, noticiam que lançar uma candidatura de oposição a Nuzman é um “quebra-cabeça”.

Por que será que para a oposição o jogo é difícil, escondido, com cascas de bananas pelo caminho?

Repare, caro leitor, estamos falando de “olimpismo”, o histórico movimento internacional  que surgiu para difundir, também, os princípios da educação, da democracia, da solidariedade, da transparência, enfim.

Em resumo:  nos bastidores dos espertos ainda se observa a ditadura dos cartolas. A democracia, também por isso e por silenciar tantos atletas, ainda não chegou ao esporte. Lamentavelmente.

Faço essa rápida retrospectiva para demonstrar que tanta movimentação e denúncias estão intimamente ligadas aos valores do esporte, nem  tão transparentes como se divulga. Os valore$, na prática, são outro$.

A partir dos Jogos de Los Angeles, 1984, quando os russos responderam ao boicote norte-americano na Olimpíada de Moscou, quatro anos antes, as emoções do mais alto, do mais forte, do melhor, do mais completo atleta passou a ter objetivos que, no bom inglês, quer dizer “business”.

E é nesse contexto que se inserem, por exemplo, as construções esportivas, como os 12 novos que surgem no Brasil, entre eles o de Brasília.

Aqui, o governador Agnelo Queiroz trata a população como ignorante, incapaz de se aperceber que não é possível gastar um bilhão de reais numa obra inútil, para meia dúzia de jogos. Porque, de resto, o estádio de 70 mil lugares ficará sem utilidade. Não há estudo que demonstre sua viabilidade econômica no pós-Copa. E quem pagará por sua conservação? Ou: haverá conservação ou ficará ao abandono, como os demais patrimônios esportivos da capital?

Portanto, essa é mais uma dispendiosa peça nesse contexto do esporte mundial, de enganações e falcatruas, de corrupção e exploração dos espertos.