Blog do José Cruz

A Universíade do calote

José Cruz

O calote que R$ 75 milhões que o governador Agnelo Queiroz aplicou na Federação Internacional de Esporte Universitário (FISU), provocando o cancelamento da Universíade 2019 em Brasília, foi o derradeiro capítulo de um governo que fracassou na sua política de esportes, de segurança, de saúde… Consultado sobre o assunto, a assessoria de Agnelo silenciou. Faz sentido.

Já o Ministério do Esporte não se manifesta porque, segundo a assessoria do ministro Aldo Rebelo, “não recebeu comunicação do Governo do Distrito Federal, responsável pela candidatura e realização dos Jogos Mundiais Universitários 2019.”  E a direção da Confederação Brasileira de Desporto Universitário (CBDU) aguardará a informação oficial do governo de Rodrigo Rollemberg (foto),  roooolque assumirá em 1º de janeiro, para ver junto à Federação Internacional de Desporto Universitário sobre os novos rumos da Universíade 2019.

Atitude corajosa

O advogado paulista Alberto Murray Neto, pai de atletas da esgrima, disse o seguinte sobre a decisão extrema do futuro governador, Rollemberg, abrir mão dos Jogos Mundiais Universitários, em Brasília:

''Esse ato mostra a irresponsabilidade financeira com que são tratadas as questões do esporte no Brasil, aliada à megalomania dos políticos e dos dirigentes. É melhor mesmo cancelar, do que gastar dinheiro que não se tem com essa competição, aumentando o rombo financeiro estatal e, ainda por cima, sem que legal algum fosse deixado ao Distrito Federal e ao Brasil. Acho uma atitude corajosa do novo governo. Agnelo Queiróz foi o que de pior aconteceu para o esporte, enquanto foi Ministro, e foi um péssimo governador. O legado de Agnelo pela política é que ele serve de exemplo daquilo que não se deve fazer. Não deixou nenhuma política esportiva de Estado para o esporte nacional, enquanto teve todas as condições de fazê-lo.

Falta de respeito

“É lamentável que se trate um evento esportivo internacional como a Universíade como uma festa de menor importância. Assim como ocorreu em Porto Alegre, na década de 1960, Brasília poderia registrar a passagem de uma competição esportiva que deixaria um legado intangível para várias gerações. Falta de respeito para com a sociedade e o esporte. É assim que vejo essa volta atrás dos gestores brasilienses”, afirmou a jornalista, professora de educação física da USP e pós-doutorada em psicologia social, Kátia Rúbio.

Brasília perdeu um grande evento

Depoimento de Diego Chargal, da equipe brasileira de atletismo, especialista nos 800 metros.

''Em 2005 participei do Universíade, em Izmir, Turquia. Fui quinto na final dos 800m. Um ano antes, corri os 800m no Mundial Juvenil de Atletismo, em Grosseto, Itália. A maioria dos atletas, pelo menos dos 800m, estaria na Universíade no ano seguinte, o que demonstra a importância dessa competição. Não só atletas que recém saíram do juvenil participam dessa competição. Do Brasil, nessa edição italiana, tivemos vários atletas olímpicos, como a ginasta Daiane dos Santos, Nathalia Falavigna, do taekwondo, Fabiano Peçanha, do atletismo, que havia sido bronze no Pan em 2003 e acabará de correr o Mundial de Atletismo em Helsinki, e Matheus Inocêncio que foi finalista em nos 110m com barreiras nos Jogos Olímpicos de Sidney e no Mundial de Helsinki. Está claro que o nível das provas é fortíssimo na Universíade. Brasília passa por um momento complicado, com salários atrasados em diversos setores do serviço público, falta de medicamentos e acessórios nos hospitais, trânsito caótico e um estádio que vale mais do que um elefante branco. Mas Brasília perdeu um grande evento ao abrir mão dos Jogos Mundiais Universitários de 2019.”