Blog do José Cruz

Arquivo : março 2012

Dinheiro público para show de Athina Onassis será investigado
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José Cruz

Em 2009, divulguei que o milionário evento de hipismo Athina Onassis Horse Show, anualmente realizado no Brasil, contava com verbas da Lei de Incentivo ao Esporte.

O dinheiro aprovado foi em torno de  R$ 6,5 milhões, mas o captado ficou em R$ 4,8 milhões.

Ou seja, dinheiro público que o governo abre mão para incentivar o desenvolvimento do nosso esporte destinou-se à bolsa promocional-esportiva de uma das mais ricas herdeiras do mundo, a senhora Athina Onassis.

Pior:

O projeto, apresentado pela Federação Paulista de Hipismo, justificava que o dinheiro serviria para o “desenvolvimento do hipismo brasileiro”.  Mas foi para o espetáculo que tem o apelo de “hipismo, moda, música e gastronomia”. Enganaram o governo.

Foi isso que me chamou atenção e comecei a pesquisar. Em 2008…

Resultado

Na sexta-feira, a assessoria do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, me informou que, de fato, “há indícios de irregularidades” no uso do dinheiro para a Federação Paulista de Hipismo, comparativamente à proposta do projeto.

Resultado: o ministro determinou a abertura de uma “Tomada de Contas Especiais” – investigação rigorosa –  e acionou a Controladoria Geral da União para saber o que ocorreu de fato, com a grana dos nossos cofres públicos.

Urgência

Diante de mais essa falha gravíssima, o ministro Aldo Rebelo precisa abrir um espaço na sua agenda de Copa do Mundo e fazer uma avaliação rigorosa nos critérios para liberar verbas da Lei de Incentivo.

Outro dia, comentei sobre o dinheiro público da mesma origem para a escola de pilotos de Galvão Bueno; depois, para a carreira do neto de Emerson Fittipaldi. Outros milhões e milhões saem dos cofres públicos para clubes de futebol profissional formarem atletas, negociando mais tarde,  enriquecendo seus patrimônios e o dos empresários.

E a Lei de Incentivo não foi criada para isso. Mas para incentivar o esporte na base, na iniciação. É aí que está nossa maior carência. Tanto, que o Comitê Olímpico não vê renovação na equipe para Londres 2012 e sequer arrisca projetar evoluções no pódio.

Volto a empregar a expressão “desordem institucional”. É isso o que temos diante da fartura de dinheiro disponível para o esporte e a total ausência de critérios para o seu uso, de prioridades e metas.

E só faltam quatro anos para 2016…

Agora, vai?


Verbas para o esporte: um desperdício olímpico
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José Cruz

Em 2000, nos Jogos de Sydney, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro,Carlos Nuzman, justificou a ausência de medalha de ouro naquele evento devido à falta de investimentos. Leia-se “dinheiro”.

Agora, 12 anos depois, ao prever que não teremos evolução nos Jogos de Londres, comparativamente ao desempenho de Pequim, quando ficamos em 23º lugar, o COB justifica: “Faltou tempo”. Foi o que disse Marcus Vinicius Freire, do COB, na coletiva preparatória aos Jogos de Londres, anunciando que não deverão surgir novos nomes nos pódios.

Estrutura

De 2000 até agora são 12 anos, três ciclos olímpicos e meio com o governo despejando grana no esporte de rendimento. Nesse tempo ganhamos um Ministério do Esporte – entregue a inexperientes no setor -, farta legislação, conselhos e consultorias, enfim.

Não foram só os cerca de R$ 800 milhões da Lei Agnelo Piva, entregues ao COB para preparar uma geração de atletas altamente competitiva. A partir de 2003 o Ministério do Esporte passou a distribuir muito dinheiro às confederações através de “convênios”.

Paralelamente, as estatais aumentaram seus orçamentos de patrocínios; veio a Lei de Incentivo, a Bolsa-Atleta, patrocinadores individuais etc.

Tivemos tempo, estrutura  e dinheiro, bolsas, incentivos, convênios, patrocínios. Faltou gestão integrada. Faltou liderança do Ministério do Esporte, inchado por desempregados políticos que não sabem distinguir entre um taco de golf e um de beisebol.

Faltou, principalmente, diálogo e entrosamento entre o governo, clubes, federações,confederações e Comitê Olímpico;

Faltou planejamento integrado. Faltaram metas e prioridades.

 Não adianta o COB ter estrutura de luxo e profissional se a turma de baixo está na Idade da Pedra; diante desse distanciamento não há diálogo produtivo. Não temos esse interâmbio hierárquico, técnico. Não temos comando!!!

Berros

Um dirigente me contou que em certa assembléia, Nuzman bateu com a mão na mesa e berrou: “Eu dou dinheiro a vocês (cartolas) e vocês não me dão resultados”!!! Que tal? Faltou tempo, presidente… São os senhores que agora reconhecem o que escrevo há anos… Além de dinheiro precisamos de uma politica para o esporte. Um plano, um planinho mínimo que seja.

Na ânsia de fazer de campeões propaganda política, o governo tornou-se  o principal financiador do alto rendimento olímpico e parolímpico. Não fez do esporte “questão de Estado”, mas peça de promoção partidária. E o Ministério do Esporte se tornou mero repassador de recursos. É o que há muito chamo de “desordem institucional”.

A Confederação de Desportos Aquáticos é exemplo neste sentido.Tem patrocínio milionário dos Correios. Recebe verbas do Ministério do Esporte e ainda pega recursos na Lei de Incentivo. Sem falar nos patrocínios particulares. E quem controla o uso ordenado dessa dinheirama? Quem fiscaliza sua aplicação? Quem tem acesso às prestações de contas? nós, contribuintes dessa festa, não fomos convidados para ver um só documento.

O que esperar, enfim, se o Ministério do Esporte tem a Copa do Mundo como prioridade e nem do planejamento desse evento consegue dar conta?

A quem reclamar, se o mesmo ministério, além da burocracia peculiar do serviço público, não tem esturutura qualificada para dialogar com os entes olímpicos que financia?

Gritar é preciso

Enfim, a se confirmar a previsão do COB estamos diante do caos olímpico. Pior: do desperdício, do descontrole, institucional e financeiro, porque o dinheiro é público, é nosso, por isso a gritaria faz sentido.

O que responde o Senhor Ministro – que passou anos etudando a legislação ambiental e, agora, comanda a organização de megaeventos esportivos, além de tentar devolver credibilidade ao ministério que herdou aos pedaços?

E o Conselho Nacional do Esporte, que ação tomará sobre tais declarações o COB?

E os debatedores da Conferência Nacional do Esporte, que em três eventos discutiram bobagens em convescotes festivos, quando  fixaram metas sem base sólida para alcançá-las? Pior: sem dialogar com os demais entes do setor!!!

Como reagirá o Conselho de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro sobre tais previsões de falta de evolução nos Jogos de Londres?

Que perguntas farão deputados e senadores da Comissão de Esporte na próxima audiência pública com o senhor Carlos Nuzman?

Tribunal de Contas e Controladoria Geral da União tomarão alguma providência?

E os Atletas pela Cidadania, não poderiam ser mais ousados numa ocasião dessas, já que têm nomes expressivos que podem se manifestar sem o medo de antes, quando eram sufocados pela ditadura dos cartolas? – que continua!!

O que diz o governo brasileiro, enfim, que financia o esporte para colher pérolas como essa?

O que discursará o deputado Romário, tão atento aos “roubos” nesta fase de preparação da Copa?

Afinal, paras que serviu os R$ 1,7 bilhão que o esporte olímpico recebeu, como um todo, só em 2010? Quem faz um balanço real dessa grana e é capaz de mostrar seus resultados efetivos?

Para saber mais: http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2012/03/29/mais-rico-cob-ve-brasil-estagnado-e-usara-londres-2012-como-laboratorio-para-rio-2016.htm

 


Afinal, de quem é a Copa?
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José Cruz

Por Pedro Athayde

Ontem, li uma matéria no jornal na qual o senhor Julio Grondona, vice-presidente Executivo da FIFA e a mais de 32 anos à frente da Associação de Futebol da Argentina, alertava as autoridades brasileiras de que a Copa do Mundo é da FIFA e não do Brasil. O país, através da concessão da toda poderosa FIFA, ganhou apenas o direito de sediar o evento.

Diante dessas palavras me pus a pensar: Mas, afinal, de quem é a Copa? Ingenuamente, pensei que o correto seria que a Copa pertencesse às seleções, seus jogadores, os torcedores, sobretudo aqueles do país onde ocorrerá o evento. Triste ilusão! Ingenuidade e correção são palavras que não constam no vocabulário e no cotidiano dos arcaicos e vorazes dirigentes da FIFA.

As discussões recentes sobre os preparativos para Copa envolvendo Governo Federal, CBF e FIFA reforçam as afirmações de Don Julio. Recentemente aprovado pela Câmara dos Deputados, o texto da Lei Geral da Copa, que vai ao Senado e poderá sofrer algumas alterações, deixa claro a supremacia dos interesses da FIFA nas decisões sobre a organização da Copa de 2014 no Brasil.

Então, poderíamos concluir que minha inquietação foi solucionada pelas próprias palavras do senhor Grondona? Creio que não! As palavras de Don Julio não evidenciam que os verdadeiros proprietários da Copa são os patrocinadores e parceiros comerciais da FIFA.

Para atender a sede por lucros exorbitantes e pela reserva de mercado de um seleto grupo de corporações, a FIFA tensionou e pressionou os parlamentares brasileiros para votarem a Lei Geral da Copa, argumentando que a aprovação deste documento estava bastante atrasada. Grosso modo, o texto atribui plenos poderes à FIFA e responsabiliza a União por possíveis falhas ou prejuízos.

E quanto aos torcedores brasileiros? Torcedores? Para a CBF e a FIFA essa é uma espécie em extinção, uma vez que para eles só existem consumidores. Aqueles com capacidade de pagar os altos preços dos ingressos e serviços prestados são bem vindos, aos demais resta a remota possibilidade de quem sejam agraciados com as “bondosas” cotas.

Pedro Athayde é estudante de doutorado do programa de Pós-Graduação em Política Social da UnB


Megaeventos e legados: os atletas entram em campo
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José Cruz

“Os megaeventos esportivos terão apenas 30 dias de duração. É necessário pensar, também, nos bnefícios de longo prazo que ficarão no Brasil. É isso o que queremos trabalhar com as prefeituras das 12 cidades-dedes e demais autoridades públicas” (Daniela Castro, diretora-executiva da Atletas pela Cidadania)

Para tentar tirar o poder público da histórica imobilidade educacional-esportiva, o grupo Atletas pela Cidadania vai à presidenta da República, Dilma Rousseff, em encontro que está sendo articulado pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo.

A idéia e mostrar à autoridade maior do pais os caminhos das relações entre educação e esporte – tão naturais mundo afora, inclusive em países de perfis extremos, como Estados Unidos e Cuba.

Liderados pelo ex-craque Raí, o grupo tem Lars Grael, Magic Paula, Pipoka, Joaquim Cruz, Luiza Parente, Nelson Aerts, Ricardo Vidal, Ana Moser, entre outros nomes que orgulham nosso ainda recente passado esportivo, e hoje desenvolvem projetos sociais utilizando o esporte na formação do caráter dos jovens.

Atraso 

Em meio às denúncias de corrupcão e financiamentos exdrúxulos e até suspeitos para a organização da Copa 2014, uma das principais perguntas não é respondida pelas autoridades: fora a gigantestca e bilionária estrutura física qual o legado para a sociedade brasileira como um todo e a juventude em particular?

É nesse panorama que Atletas Pela Cidadania entra em campo para tentar motivar o governo a agir e, principalmente, dar rumo a  uma questão importantíssima dos megaeventos, ainda ao largo dos debates e do planejamento, principalmente: “O que ficará para a sociedade”, indaga Raí.

Pesquisa

Ontem, Atletas pela Cidadania apresentou um diagnóstico, ponto de partida para o diálogo, sobre a realidade da prática da educação física no país. O trabalho, realizado  pelo Ibope, entrevistou professores e diretores de escolas e foi divido em quatro pilares: infraestrutura e realidade escolar, perfil do professor, prática de ensino do professor e interface com políticas públicas.  

 Sobre o diagnóstico escreverei artigo especial, pois há informações importantíssimas para analisar. Por exemplo, 98% dos professores ouvidos consideram a prática de educação física tão importante quanto as demais matérias curriculares, pois contribui para o desenvolvimento humano como um todo, intelectual e da saúde dos jovens.

Legados

“O dia que o país acompanhar o placar da educação com o mesmo interesse do placar do futebol teremos uma educação de futuro”, disse Tatiana Filgueiras, do Instituto Airton Sena — parceiro da pesquisa, com o Instituto Votorantim — lembrando citação do articulista Cláudio Di Moura Castro.

“Legado social dos megaeventos esportivos são os impactos positivos e de longa duração, que inclui a reestruturação do sistema nacional de esporte, a melhoria do acesso da população à prática esportiva e a presença do esporte de qualidde em todas as escolas públicas do país”, defendem os Atletas pela Cidadania.

 


Assim tá difícil …
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José Cruz

Nem nos recuperamos da morte de Chico Anísio e lá se vai Millôr Fernandes, outra referência do humor refinado.

Dele guardo uma publicação que tem sabedorias em cada frase de muita inspiração: “O livro vermelho do Pensamento de Millôr”. Não percam.

Lá, ele escreveu, entre outras preciosidades:

Falar em político preparado é relativo. Creolina também é preparado e serve para limpar latrinas“.

Atualizado às 17h20

Por Sérgio Siqueira 

Millôr foi o patrono dos cartunistas e o papa da escrita fácil. Seu século teve 87 anos de talento.

Do Sanatório da Notícia


Copa 2014: novo estádio de Brasília é considerado “reforma”
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José Cruz

O governo do Distrito Federal convenceu a Controladoria Geral da União (CGU) que o estádio Mané Garrincha passa por “reforma”.

Não é. É obra totalmente nova. Mas a fiscalização não está nem aí, porque o dinheiro não é federal, mas do orçamento local.

Detonaram o estádio antigo, na base da picareta, porque a implosão pifou. E o contribuinte pagou pelas bananas que não explodiram.

E como em Brasília não faltam picaretas, Agnelo Queiroz, o governador que conhece o setor, convocou especialistas. Aí, a picaretagem funcionou, veio tudo abaixo, não ficou pedra sobre pedra.

Em seguida, começaram a construir um novo estádio, com custo superior a R$ 1 bilhão. Já gastaram R$ 850 milhões.

O estádio era assim

E  vai ficar assim. Mas é apenas uma “reforminha”…

Enquanto isso…

O primeiro turno do Campeonato Brasiliense teve a média de 622 pessoas por jogo. Repito: 622 pessoas por jogo!!!

Mas o novo Mané Garrincha terá 72 mil lugares…

Pior:

O campeão do primeiro turno do Campeonato Brasiliense de 2012 – Taça JK –  não foi nem o Brasiliense nem o Gama, os principais times da cidade, mas um clube de Goiás, o Luziânia.

Convidado para disputar a competição, o visitante fez a festa completa na casa do adversário. Derrotou o Ceilândia na final, 3 x 2, no domingo.

Assim, o Luziânia candidata-se à inauguração do estádio de 72 mil lugares na Capital da República.

O time de Goiás  já temos, falta o adversário…


Copa 2014: “Faltou planejamento para os estádios”
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José Cruz

O que vemos são empreiteiras construindo obras gigantescas, caríssimas, via BNDES, e que de alguma maneira não vão colher benefícios diretos”

Do jornal Gazeta do Povo

Curitiba – Na opinião do diretor da área de consultoria esportiva da BDO RCS, Amir Somoggi, o Brasil se atrasou no planejamento para a Copa do Mundo. Isso fez o país perder a chance de captar investimentos para o futebol.

Nesse cenário, Somoggi, que fez uma auditoria sobre a viabilidade financeira da Arena da Baixada, garante que o estádio atleticano está um passo a frente dos demais – apesar de ter as obras mais atrasadas, de acordo com o TCU.

Será difícil os estádios brasileiros terem retorno do que foi investido?

O Brasil tem vários problemas centrais na questão da construção das arenas. A primeira é a megalomania do brasileiro. Nós não colocamos na ponta do lápis o que deveríamos ter feito em planejamento de estádio. A segunda questão é que a parte política é mais importante que a técnica. Já que é para investir R$ 1 bilhão em um estádio, que ele receba abertura e en­­cerramento. Mas isso poderia ferir acordos entre governadores, CBF, governo federal e Comitê Organizador Local. Tem uma terceira questão importante: grande parte dos clubes não vai se beneficiar tanto do novo ambiente dos estádios. Mas boa parte das praças esportivas não são dos clubes e os R$ 150 milhões que o estádio pode gerar não vão ficar para o time. Os clubes tinham de ser sócios nos projetos. O que vemos hoje são empreiteiras construindo obras gigantescas, caríssimas, via BNDES, e que de alguma maneira não vão colher benefícios diretos.

Então investir em estádios é uma operação de alto risco?

Aqui no Brasil se estipulou que estádio tem de custar R$ 600 milhões. Isso é um total absurdo. No mercado brasileiro talvez um ou dois clubes consigam aumentar sua receita ao ponto de ter valido a pena um projeto desses. Só que para nossa realidade gastar R$ 300 milhões já estava de bom tamanho e o retorno seria mais fácil. Agora estamos falando de estádio que não vai ter retorno, fora o valor a ser gasto com manutenção. Tem de ter um controle efetivo do que vai gastar para que isso não impacte negativamente nas finanças.

O Atlético pode ficar mais tranquilo quanto ao retorno do investimento na Arena da Baixada?

Com certeza. Falo isso pelos estudos que fizemos e pelo que tenho acompanhado. Até porque existe a participação do setor público. O clube é dono do estádio e o padrão de negociação é diferente. Na Alemanha quase 70% dos investimentos em estádios foi privado e aqui nós invertemos a lógica. O Atlético, por já ter uma experiência anterior em diversificar as receitas e trabalhar o estádio, contribuiu muito para que evoluísse. Por conta dos sócios, fatura muito mais que outros clubes como o Flamengo, por exemplo, que vive só de bilheteria. É um potencial muito grande para os clubes e esse é o grande desafio para o futuro.

 


Como a graça camufla “a gravidade da coisa”
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José Cruz

Quando a coisa tá complicada faça graça com ela. A graça que você faz com a coisa minoriza a gravidade da coisa

A mensagem estava entre tantas notícias que li e ouvi, neste fim de semana, relembrando lições Chico Anísio, muitas produzidas em tom sério  de crítica, que ele fazia com saber.

Sábio ministro Aldo Rebelo, que, imagino, conhecia a citação, pois humor é o que ele tem usado ao explicar problemas na preparação para a Copa.

E, entre uma graça e outra, transmite-nos o sentimento de tristeza ao vermos o tema sério tratado de forma fútil, vindo de onde se esperava autoridade e rigor.

Enquanto isso:

O companheiro Vinicius Segalla, do UOL Esporte, informou que o Ministério do Esporte pagou R$ 242,5 mil para a empresa HWC Empreendimentos organizar uma única entrevista coletiva, que apresentou Pelé como embaixador do Brasil para a Copa de 2014, no dia 29 de julho do ano passado, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

A mesma empresa, porém, já possuía um contrato com o Ministério do Esporte, no valor de R$ 338.982,42, para a prestação de “serviços técnicos para organização e realização de eventos”.

A despesa foi feita fora da matriz de responsabilidades e o TCU não ficou sabendo da generosidade ministerial.

Memória

Vejam como o circuito vai se fechando: há três anos o Tribunal de Contas da União cobra do Ministério do Esporte o planejamento dos segundo e terceiro ciclos da Copa 2014, com os respectivos responsáveis por assuntos como segurança, saúde, telecomunicações etc. E proibiu despesas fora da matriz de responsabilidades.

Mas o Ministério não cumpre a ordem. O próprio TCU já revelou em seu último relatório que a impressão é que a pasta de Aldo Rebelo não atenderá à determinação, fundamental para o controle dos gastos públicos e transparência nas despesas do governo.

Assim…

Lendo a notícia de Segalla, observa-se que faz sentido a resistência do Ministério, para que contratos possam ser feitos às escondidas, longe do controle oficial. O que é, sem dúvida, um ousado deboche na tentativa de desmoralizar o poder do TCU.

Paralelamente, justificam-se os discursos e entrevistas do ministro Aldo Rebelo, como a que foi comentada pelo jornalista Walter Guimarães, aqui publicada, em que ele faz graça com a “cultura do atraso brasileiro”.

Ou seja, em momento grave e inoportuno o ministro tenta ser engraçado no melhor estilo Chico – “quando a coisa está complicada faça graça com ela”. Mas, com isso, nos dá a dimensão do desmando que se tornou o planejamento bilionário da Copa, com riscos para o superfaturamento e o roubo, como já previu o deputado Romário.

 

 

 


Prezado Ministro Aldo Rebelo
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José Cruz

Por Walter Guimarães

Escutei vossa entrevista no programa Bom Dia Ministro, da EBC, na sexta-feira, com a participação de radialistas de todo o Brasil.

O Senhor mostrou um grande conhecimento de fatos ocorridos em todas as regiões, passando da Batalha do Jenipapo, no Piauí, à viagem de canoa de Pedro Teixeira pelos rios amazônicos, além do sonho “brasiliense” de José Bonifácio, etc e tal.

Em determinado momento V.Excia. explanou sobre “problemas civilizatórios” do país.

Desculpe-me a ousadia, Caro Ministro, de um desportista apaixonado e torcedor de arquibancadas, mas não concordo com a seguinte colocação, quando se referiu aos atrasos nas obras para a Copa 2012. Assim:

“ … um deles é o do atraso. A gente atrasa até para sair de casa para o cinema, para o restaurante, é correndo que o menino vai para a aula, está certo? Fica esperando um se aprontando, que não terminou. Então, isso é uma coisa da nossa cultura, mas tudo funciona. Se você comparecer a um galpão preparatório de uma escola de samba no Rio de Janeiro, em São Paulo, você aposta que não vai ter desfile nenhum, mas, quando é no dia do desfile, a escola está lá, bonita, pontual, organizada. Então, essa é uma característica do nosso povo e da nossa civilização”.

Senhor  Ministro, com tal afirmação, deixo de lado o devido pronome de tratamento protocolar e hierárquico. Mas eu não me atraso para sair de casa, e conheço muitas pessoas que não se atrasam para cumprir seus compromissos, com os filhos, inclusive.

Desculpe-me discordar, mas isso não é coisa da nossa cultura. Se a organização da Copa e dos Jogos do Rio-2106 atrasarem, como ocorreu no Pan-2007, isto é, sim, da cultura de nossos gestores. Quem sabe, devido o histórico desleixo dos que têm certeza de que, ainda assim, não serão punidos por relaxar em seus compromissos.

Além disso, na mesma entrevista, outra manifestação me deixou indignado. E posso falar assim, pois o Senhor é um representante do povo no exercício da gestão pública. É, antes, um deputado que passou pelo vestibular das urnas, portanto com aval do eleitor.

Por isso, Senhor Ministro, considero total falta de respeito um ministro de Estado afirmar que os céticos em relação ao sucesso na organização da Copa possuem “complexo de vira-latas”. Garanto que a maioria deles também conhece muito bem a história do país na organização de eventos esportivos para assim se posicionarem.

Aí vai uma pequena memória sobre os “desastres” que já abrigamos:

– Mundial de Patinação Artística, em Brasília, com poças de água na área de exibição dos atletas e o evento sendo atrasado á espera que a chuva cessasse.

– Mundial de Futsal, também em Brasília, com estudantes da rede de ensino nas arquibancadas, por total falta de público, devido a péssima organização e divulgação.

Mundial de Handball, com arquibancadas igualmente às moscas, sem atrativo para o torcedor.

Pois é, Senhor Ministro. No lugar da erudição, da verborragia de fatos históricos discorridos na entrevista, gostaria de escutá-lo falando de dados concretos sobre o desporto nacional.

Onde estão os planejamentos dos ciclos da Matriz de Responsabilidade relativos à segurança, tecnologia da informação, saúde, fornecimento de energia, telecomunicações, dentre outros, que o Tribunal de Contas da União cobra há três anos?

Onde está a atualização do portal de transparência da Copa, obrigatória para a liberação de recursos?

Onde estão os projetos executivos dos estádios e obras de mobilidade?

Esse atraso, Senhor Ministro, é próprio da pasta que o Senhor herdou.

Para concluir:

Permita-me a ousadia de sugerir que reflita melhor ao afirmar que os promotores do Ministério Público são limitados e sem conhecimento para compreender “que é preciso combinar a razão da preservação com a razão do desenvolvimento, do crescimento do país, que o crescimento também é um fator importante de democratização”.

Senhor Ministro, por favor, não me agrida dessa forma, como se eu fosse um “vira-lata” ignorante.

Caso contrário, serei obrigado a questioná-lo sobre suas limitações e falta de conhecimento na área de gestão do esporte.

Walter Guimarães é jornalista e colaborador deste blog


Ficaram as lições…
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José Cruz

Obrigado, Chico Anísio

Durante muito tempo pautei minha agenda para não perder programas de Chico Anísio.

Humorista refinado  – devastador, quando preciso –  debochou da classe política, que continua a mesma.

 

              “Não posso consertar nada, mas tenho obrigação de denunciar tudo” …