Blog do José Cruz

Prezado Ministro Aldo Rebelo

José Cruz

Por Walter Guimarães

Escutei vossa entrevista no programa Bom Dia Ministro, da EBC, na sexta-feira, com a participação de radialistas de todo o Brasil.

O Senhor mostrou um grande conhecimento de fatos ocorridos em todas as regiões, passando da Batalha do Jenipapo, no Piauí, à viagem de canoa de Pedro Teixeira pelos rios amazônicos, além do sonho “brasiliense” de José Bonifácio, etc e tal.

Em determinado momento V.Excia. explanou sobre “problemas civilizatórios” do país.

Desculpe-me a ousadia, Caro Ministro, de um desportista apaixonado e torcedor de arquibancadas, mas não concordo com a seguinte colocação, quando se referiu aos atrasos nas obras para a Copa 2012. Assim:

“ … um deles é o do atraso. A gente atrasa até para sair de casa para o cinema, para o restaurante, é correndo que o menino vai para a aula, está certo? Fica esperando um se aprontando, que não terminou. Então, isso é uma coisa da nossa cultura, mas tudo funciona. Se você comparecer a um galpão preparatório de uma escola de samba no Rio de Janeiro, em São Paulo, você aposta que não vai ter desfile nenhum, mas, quando é no dia do desfile, a escola está lá, bonita, pontual, organizada. Então, essa é uma característica do nosso povo e da nossa civilização”.

Senhor  Ministro, com tal afirmação, deixo de lado o devido pronome de tratamento protocolar e hierárquico. Mas eu não me atraso para sair de casa, e conheço muitas pessoas que não se atrasam para cumprir seus compromissos, com os filhos, inclusive.

Desculpe-me discordar, mas isso não é coisa da nossa cultura. Se a organização da Copa e dos Jogos do Rio-2106 atrasarem, como ocorreu no Pan-2007, isto é, sim, da cultura de nossos gestores. Quem sabe, devido o histórico desleixo dos que têm certeza de que, ainda assim, não serão punidos por relaxar em seus compromissos.

Além disso, na mesma entrevista, outra manifestação me deixou indignado. E posso falar assim, pois o Senhor é um representante do povo no exercício da gestão pública. É, antes, um deputado que passou pelo vestibular das urnas, portanto com aval do eleitor.

Por isso, Senhor Ministro, considero total falta de respeito um ministro de Estado afirmar que os céticos em relação ao sucesso na organização da Copa possuem “complexo de vira-latas”. Garanto que a maioria deles também conhece muito bem a história do país na organização de eventos esportivos para assim se posicionarem.

Aí vai uma pequena memória sobre os “desastres” que já abrigamos:

– Mundial de Patinação Artística, em Brasília, com poças de água na área de exibição dos atletas e o evento sendo atrasado á espera que a chuva cessasse.

– Mundial de Futsal, também em Brasília, com estudantes da rede de ensino nas arquibancadas, por total falta de público, devido a péssima organização e divulgação.

Mundial de Handball, com arquibancadas igualmente às moscas, sem atrativo para o torcedor.

Pois é, Senhor Ministro. No lugar da erudição, da verborragia de fatos históricos discorridos na entrevista, gostaria de escutá-lo falando de dados concretos sobre o desporto nacional.

Onde estão os planejamentos dos ciclos da Matriz de Responsabilidade relativos à segurança, tecnologia da informação, saúde, fornecimento de energia, telecomunicações, dentre outros, que o Tribunal de Contas da União cobra há três anos?

Onde está a atualização do portal de transparência da Copa, obrigatória para a liberação de recursos?

Onde estão os projetos executivos dos estádios e obras de mobilidade?

Esse atraso, Senhor Ministro, é próprio da pasta que o Senhor herdou.

Para concluir:

Permita-me a ousadia de sugerir que reflita melhor ao afirmar que os promotores do Ministério Público são limitados e sem conhecimento para compreender “que é preciso combinar a razão da preservação com a razão do desenvolvimento, do crescimento do país, que o crescimento também é um fator importante de democratização”.

Senhor Ministro, por favor, não me agrida dessa forma, como se eu fosse um “vira-lata” ignorante.

Caso contrário, serei obrigado a questioná-lo sobre suas limitações e falta de conhecimento na área de gestão do esporte.

Walter Guimarães é jornalista e colaborador deste blog