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Esgrima, com apenas quatro filiadas, escancara amadorismo olímpico
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José Cruz

Confederação Brasileira de Esgrima tem apenas quatro federações filiadas e, mesmo assim, o planejamento foge ao seu controle, a ponto de não conseguir executar, em dois anos, projeto de treinamento de atletas que se preparam para os Jogos Rio 2016 

Mas, a  má gestão da verba pública para o esporte não é exclusividade da direção da CBE (Confederação Brasileira de Esgrima), como publiquei ontem. As confederações de Tênis, de Vôlei, Basquete, enfim, já demonstraram que também são ineficientes e, em alguns casos, negligentes no uso de verbas. O próprio Ministério do Esporte deixou mofar, durante três anos, dinheiro para o treinamento de jovens atletas, via Confederação de Clubes, enquanto muitos acabaram abandonando a oportunidade da carreira esportiva.

Explicações

Há enganos que precisam ser reparados nas justificativas da direção da CBE, encaminhadas ao blog, sobre a devolução de quase R$ 1 milhão ao Ministério do Esporte. Por exemplo, sobre as mudança de datas em eventos internacionais, que teriam exigido aprovação de novo plano junto ao Ministério do Esporte. Na verdade, nenhuma das competições previstas no projeto original sofreu alteração de data.

Segundo a presidência da CBE, “O esporte de rendimento exige, por sua própria natureza, enorme dinamismo, ou seja, os planejamentos elaborados sofrem, na medida do tempo, ajustes, adaptações, alterações, dentre outras, de acordo com situações que escapam de nosso controle.”

Trata-se de uma modalidade gestora de apenas quatro federações: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Mesmo assim, com representatividade inexpressiva, o planejamento “foge ao controle” da direção da CBE?

Quando o gestor mostra-se incapaz para administrar recursos públicos é sinal que precisa de urgente mudança, para não dizer intervenção. Quantas outras confederações estão nessa situação?

E nada vai acontecer diante dessa omissão. Nem por ação do Ministério do Esporte – de quem não se pode esperar muito, mesmo –  nem dos atletas ou técnicos, eternamente omissos na disputa contra o cartola inoperante.

A propósito, a Confederação de Esgrima é a mesma que, patrocinada pela Petrobras, vende uniformes  aos seus atletas para que exibam a marca da estatal.

 

 


MP da dívida fiscal só para o futebol? e as federações?
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José Cruz

O veto da presidente Dilma aos artigos da medida provisória que beneficiariam as dívidas fiscais dos clubes de futebol foi um nocaute temporário nos deputados da Bancada da Bola, em geral, e da CBF, em particular. Ousados e abusados, pela arma do voto que detêm no Congresso Nacional, eles insistirão.dilma

 Mas…

A nota oficial divulgada pelo Ministério do Esporte refere-se à preparação de nova medida provisória para tratar da repactuação da dívida “dos clubes de futebol”.

E as confederações das demais modalidades? E as centenas de federações esportivas e clubes, principalmente, vítimas da exploração dos bingos e, por isso, também devedoras de milhões ao fisco? Ficarão de fora dessa “repactuação”? Por que apenas o futebol? Há ex-dirigentes que perderam seus patrimônios para pagar dívidas de federações que dirigiam. Outros estão com seus bens empenhados. Mas os cartolas do futebol na mesma situação continuam intocáveis…

O esporte precisa ser passado a limpo urgentemente. Precisa de uma revisão geral em toda estrutura, falida há anos, coincidentemente com o período em que o governo federal começou a liberar bilhõe$, que se concentraram na elite. Tivemos verbas não tivemos gestão planejada.

Enquanto isso…

Ao criar comissão interministerial para apresentar proposta de pagamento da dívida fiscal, está claro que o Palácio do Planalto deu um chega pra lá no projeto de lei apresentado pelo relator da Comissão Especial, deputado Otávio Leite. Perdeu-se um ano de debates e discussões para nada… O projeto ficará no esquecimento.

Mas isso tem alguns benefícios.

Por exemplo: no projeto de lei da Comissão Especial da Dívida Fiscal, os deputados incluíram a criação de mais uma loteria esportiva. Parte da arrecadação seria para sustentar escolinhas de futebol. Era um evidente trambique para enriquecer espertos em suas bases eleitorais.

Agora, na nova medida provisória, o Estado poderá limitar sua atuação especificamente na dívida fiscal. Isso é o que interessa.


A fartura financeira e a falência institucional do esporte
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José Cruz

Impressiona o contraste entre os recursos que abastecem o alto rendimento nacional – R$ 6 bilhões no último ciclo olímpico –   e a miséria financeira e carência administrativa nas federações estaduais.

Esse distanciamento se fortaleceu a partir de 2003, quando o então presidente Lula da Silva criou o Ministério do Esporte, gerenciado por ministros inexpressivos para o gigantismo dos problemas do setor.

Os recursos públicos que abastecem os clubes de ponta do país – Sogipa, Pinheiros, Minas Tênis, e por aí vai – conflitam com os destinados às confederações, levantando dúvidas sobre a real missão dessas entidades. E nessa conjugação quem se dá muito mal são os clubes menores e federações estaduais, frágeis também administrativamente, que acabam perdendo seus expoentes para os que detêm o poder financeiro.

Evasão

Em Brasília, a evasão de judocas expõe essa realidade. A cada campeonato brasileiro, os melhores são convidados para vestir as cores de uma grande agremiação nacional. E lá vão eles, atraídos por vantagens – legais, é verdade – que aqui não têm.

Por exemplo: a judoca Erika Miranda ganhou bronze no recente Mundial da Rússia. Ela é natural de Brasília, mas há seis anos luta pelo Minas Tênis. Ketleyn Quadros, bronze nos Jogos Olímpicos de Londres e Luciano Carvalho, com pódios internacionais, também são candangos, mas lutando por Minas Gerais. E assim ocorre no basquete, no vôlei, no atletismo etc, em poderosas agremiações Brasil afora.

Futuro

A discussão para se atualizar o sistema nacional de esporte é urgente. O problema é que estamos a ano e meio dos Jogos Olímpicos, prioridade nacional. Mas não podemos fechar os olhos para a crise institucional efetiva, a partir da falta de estruturas administrativas na base, onde se pratica o esporte que revela o atleta.

Dúvidas

Além disso, não podemos afirmar que a Lei de Incentivo é instrumento de fortalecimento e valorização do esporte. Sete anos depois de sua criação, não temos avaliação rigorosa sobre o cumprimento de seus objetivos.

E não há certeza de que a Bolsa Atleta seja paga para efetivos competidores, porque não se tem a elementar fiscalização na aplicação desses recursos a quem de direito. E não creio que o Conselho Nacional de Esportes se entusiasme com a necessidade de promover o debate pra mudanças radicais que se precisa.

Terá o grupo “Atletas pelo Brasil” ânimo para centralizar o debate e levar ao futuro presidente da República um diagnóstico da realidade, sugerindo-lhe que se definam as indispensáveis competências do Estado e dos órgãos gestores?

E o próximo governo honrará o artigo 217 da Constituição Federal, que determina aplicação de recursos públicos “prioritariamente no desporto educacional”, ao contrário do alto rendimento, como agora?

Ironicamente, apesar da fartura financeira e do potencial de atletas de que dispomos o panorama institucional do nosso esporte é falido e com perspectivas desoladoras.


Com dinheiro, boxe evolui, mas estrutura do esporte ainda é frágil
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José Cruz

O presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Mauro José da Silva, fez um apelo para que a  Câmara dos Deputados analise a situação caótica das federações esportivas. “Não sei como conseguem sobreviver”, disse ele, revelando que é no trabalho das federações – sediadas nas capitais –  que se revelam novos talentos.

A realidade das federações de boxe (uma em cada estado) é a mesma de todas outras modalidades, esportivas, olímpicas ou não: totalmente abandonadas, desprezadas na estrutura do esporte.

Com o passar dos anos, COB, confederações e clubes foram atendidos por legislações verbas públicas sempre atualizadas, mas em nenhum ato do governo as federações foram incluídas para que, bem estruturadas, se integrassem efetivamente ao sistema esportivo. Muitas estão falidas, outras foram fechadas e boa parte precisou trocar de nome para fugir da responsabilidade do trambique dos bingos. Há federações que hoje devem mais de R$ 1 milhão ao fisco!

Ausências

O apelo de Mauro José da Silva foi durante audiência pública na CTD (Comissão de Turismo e Desporto) da Câmara dos Deputados.

Porém, a mensagem não encontrou um só deputado em plenário, afora dois que estavam na mesa, o presidente da Comissão, Valadares Filho, e o ex-lutador Acelino Popó. Não é novidade, pois o desinteresse da maioria dos parlamentares por assuntos fora do futebol é comum na CTD.

Previsão

O boxe está cotado para conquistar pódio nos Jogos Rio 2016. Faz sentido a aposta: depois das medalhas de prata e dois bronze nos Jogos de Londres, neste ano o Brasil esteve no pódio de todos os 14 torneios internacionais que disputou.

“Foram torneios importantes, para os quais mandamos a primeira equipe. Para os torneios menores quem viaja é o segundo time, que está sendo preparado para os Jogos de 2020”, explicou Mauro José da Silva.

Mais: entre 2010 e 2013, só o Comitê Olímpico investiu R$ 10 milhões na modalidade, recursos da Lei Piva, segundo Jorge Bichara, gerente geral de Performance Esportiva do COB.

Além disso, a Confederação de Boxe tem o patrocínio da Petrobras, recurso que tem o Instituto Passe de Mágica como gestor. Mas os investimentos são em projetos distintos.

“A gerência de Planejamento do COB analisa os projetos que serão contemplados com recursos da Lei Piva e identifica a origem de outros recursos públicos naquela confederação”, explicou Bichara. “Dessa forma, não há duplicação de recursos num mesmo projeto”.

O boxe, enfim, segue a estratégia do judô, colocando seus melhores lutadores em importantes eventos internacionais, onde enfrentam alguns de seus possíveis adversários olímpicos. Conhecem seus estilos e melhor armam suas estratégias nas competições mais valorizadas.

As audiências públicas deste ano, na Comissão de Turismo e Desporto, têm sido riquíssimas em informações. Mas, lamentavelmente, sem a presença das excelências que, partir dos depoimentos, poderiam sugerir as mudanças de rumo necessárias nos assuntos que já foram apresentados.


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