Blog do José Cruz

Arquivo : junho 2014

Dilma ignora o lado podre do futebol e escorrega no discurso da Copa
Comentários Comente

José Cruz

Do discurso da presidente Dilma Rousseff na TV, festejando a Copa do Mundo, que começa amanhã, selecionei dois pontos:

 

“Os órgãos de fiscalização (TCU e CGU) estão analisando os gastos e se houver abusos os responsáveis serão punidos com o maior rigor”;

“Nossa Seleção está acima de interesses de qualquer grupo”.

Memória

Talvez a presidente não saiba que o TCU (Tribunal de Contas da União) fez auditorias nos gastos públicos dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. Os auditores identificaram a entrega de material esportivo depois do evento; pagamentos de faturas em dobro; pagamentos de faturas por serviços não prestados; pagamento de faturas por serviços ou material em quantidade menor que a encomendada.  E, até hoje, sete anos depois, Presidente Dilma, ninguém “foi punido com o maior rigor” como a senhora sugeriu. E nem será, porque aquelas contas ficaram no esquecimento! Imagine “depois” da Copa!

Interesses de grupo

O ministro do Esporte, que imagino tenha lido o discurso previamente, poderia, também, ter poupado a presidente de dizer que “a Seleção está acima de interesses de qualquer grupo”.

O que mais se comentou nos últimos anos, aqui e mundo afora, foi sobre a corrupção na Fifa, em geral, e na CBF, em particular. A própria presidente Dilma fechou as portas do Palácio do Planalto ao então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para não vincular a imagem do governo a um cartola-símbolo da corrupção no futebol.

E o que dizer do faturamento milionário da CBF com a marca “Seleção Brasileira”, tanto em publicidade quanto em jogos amistosos? Quem se beneficia desse dinheiro, se não um grupo de espertos que explora o principal patrimônio esportivo-representativo do país e sem prestar contas a quem quer que seja sobre o destino dessa grana?

Bem antes de começar a Copa, os assessores poderiam ter presenteado a presidente Dilma com os dois livros de Andrew Jennings sobre a corrupção nos bastidores do futebol, para que se atualizasse sobre o que esconde de verdade o evento que vai presidir. Os livros são “Jogo Sujo” e, o mais recente, “Um jogo cada vez mais sujo – o padrão Fifa de fazer negócios e manter tudo em silêncio”.

Quem sabe, conhecendo um mínimo sobre a podridão do futebol, a poderosa máquina internacional de lavagem de dinheiro, promotora de calotes fiscais, de evasão de divisas, enriquecimentos ilícitos, corrupção, exploração de menores e de países-sedes da Copa, etc, a presidente Dilma entendesse melhor os “pessimistas” que agora critica. E, com certeza, não estaria aliada, com sorrisos largos, aos poderosos do jogo sujo.


PL que beneficia o calote fiscal dos cartolas será votado só em agosto
Comentários Comente

José Cruz

Atualizado às 22h05 (10 de junho)

Ficou para o segundo semestre a apreciação do projeto de lei sobre a dívida fiscal dos clubes. Na sessão da Câmara dos Deputados desta tarde, PSDB, DEM, PPS, SD e PSD declararam obstrução a todas as votações até que seja analisado o projeto (PDC 1491/14) que anula os efeitos do decreto presidencial (8.243/14) sobre a Política Nacional de Participação Social.

Segundo a Agência Câmara, “a manobra inviabilizou as votações do Plenário da Câmara dos Deputados durante a semana. Nesta quarta-feira será realizada sessão,mas apenas para debates.”

Além dos jogos da Copa do Mundo, a campanha para a eleição de outubro próximo atrapalhará a agenda legislativa. Dependendo do acordo de lideranças, a votação de projetos como o da dívida fiscal dos clubes poderá ser adiada para 2015.

Artigo original (publicado às 11h)

A dois dias da abertura da Copa do Mundo, as atividades no Congresso Nacional se arrastam, com reforço das festas juninas, propícias para tirar de Brasília políticos interessados no contato com as “bases”. Por isso, a extensa pauta de votações deve se esgotar hoje, porque amanhã é dia de voar para São Paulo, palco de Brasil x Croácia. E, depois, até 14 de julho, final do Mundial de Futebol, sabe-se lá que motivação terão as excelências para votar seja lá o que for.

É nesse ambiente que “poderá” entrar hoje (10 de junho) na pauta de votações o polêmico e suspeito projeto de lei sobre o refinanciamento da dívida fiscal dos clubes, R$ 4 bilhões, extraoficialmente.

A agitação política-esportiva deste momento é propícia para a aprovação do projeto. Além da euforia parlamentar com os jogos do Mundial de Futebol e o recesso parlamentar que se aproxima, faltará tempo para discussões sobre os benefícios diferenciados oferecidos aos cartolas caloteiros do fisco. O voto será “no grito”, como convém.

E como o PT, principal interessado em aprovar a proposta do relator, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), tem maioria no plenário, isso favorece as manobras regimentais para colocar o projeto em votação.

Na prática, há um “requerimento de urgência” para que o projeto do calote fure a fila, legalmente, claro, para ser votado logo. Depois irá ao Senado. Mas há outros três requerimentos, também de urgência, na frente. E cada um que for aprovado provoca a imediata votação do projeto de lei. Isso demanda tempo, atrasando a ideia de fazer o Proforte andar mais rápido. Inclusive, porque no meio dos trabalhos da Câmara haverá uma sessão do Congresso Nacional.

Especialistas na atividade legislativa não acreditam que o projeto de lei de Otávio Leite seja votado neste semestre. Deverá ficar para agosto. Mas entre políticos tudo é possível, principalmente quando está em jogo os interesses de deputados-cartolas, como o presidente da Comissão Especial do Proforte, Jovair Arantes (PTB/GO) e Vicente Cândido (PT/SP), inspirador da proposta, ambos intimamente vinculados a clubes de futebol devedores do fisco. Mas, o clima é de Copa. Logo, tudo é possível,

Conheça aqui o projeto de lei que irá à votação beneficiando mais de 100 clubes de futebol que não recolheram ao fisco as parcelas do Imposto de Renda, Fundo de Garantia e INSS.


Copa 2014: o lado oculto do jogo da bola
Comentários Comente

José Cruz

A quatro dias do jogo de abertura da Copa do Mundo o cenário já é outro, e as lentes da imprensa se voltam para as seleções que farão a grande e bilionária festa do futebol.

Esqueçam que a Fifa é uma caixinha de corrupção com ramificações mundo afora. Que o futebol é a maior lavanderia a céu aberto do mundo, explorando profissionalmente as emoções do jogo da bola.

Já não se fala sobre as obras de mobilidade urbana que ficaram pelo caminho. Ou dos R$ 4 bilhões cortados do orçamento, reduzindo de R$ 12 bilhões para R$ 8 bilhões as frentes de trabalho que ficariam como “legado”…

Esqueçam que a União terá que ressarcir a Fifa de qualquer prejuízo. Ou das mudanças no Estatuto do Torcedor para atender exigência dos patrocinadores. Ou da isenção fiscal para a Fifa e suas subsidiárias.

E que não se fale em legados, pois esses são frágeis, como ficou provado no Pan 2007. Ou Jogos Estudantis Mundiais.

Vamos para o campo de jogo, pois como dizem os marqueteiros, “futebol provoca emoções e emoções vendem”. Está provado, é assim. Na prática essa teoria tem um custo, que o governo se submeteu assumir.

Mas, no balanço final, nem o país anfitrião nem o torcedor entrarão no rateio do lucro bilionário do jogo da bola. Esse está reservado para poucos espertos. Ricardo Teixeira que o diga.


Copa 2014: os voluntártios da terceira idade
Comentários Comente

José Cruz

“Será que os idosos terão alimentação e hidratação diferenciada?”

Por Afonso Morais

Do Congresso em Foco

Apesar do questionamento na Justiça brasileira de que o trabalho voluntário da Fifa estaria desrespeitando leis federais, direitos fundamentais e de proteção ao trabalhador, 297 inscritos no Programa Brasil Voluntário, do Ministério do Esporte (ME), têm idade para ter comparecido à derrota mais dolorosa do futebol brasileiro: o famoso “maracanazo”, quando a seleção brasileira perdeu para a uruguaia na final do Mundial de 1950.

A matéria completa está neste link:

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/voluntarios-do-governo-para-copa-tem-ate-95-anos/

 


Ao “padrão Fifa” ainda falta o embalo brasileiro
Comentários Comente

José Cruz

De passagem rápida por Florianópolis e Porto Alegre e, agora, no interior do Rio Grande do Sul, observo uma realidade igual a de Brasília: desmotivação com o futebol, mesmo a seis dias da abertura da badalada e polêmica Copa do Mundo. Nada de verde-amarelo, apenas algumas vitrines com decorações, mesmo assim inexpressivas, calçadas sem as clássicas pinturas de artistas populares, nada! Converso com os motoristas de táxi e eles também não transmitem entusiasmo com a “festa” que vem por aí. Com a Seleção de Felipão até que as expectativas são boas. Mesmo assim, a euforia do torcedor é limitada.

Em cinco edições fomos às ruas festejar a conquista de títulos mundiais em terras estrangeiras. Agora, jogos em casa, o desânimo se abateu. Coincidentemente, a falta de motivação cresceu na medida em que as obras dos estádios avançavam e a imprensa testemunhava que a corrupção e o superfaturamento eram reais. Mais: que há “padrões” específicos para a qualidade do futebol bilionário, mas, internamente, ainda somos frágeis em planejamento, principalmente para os atendimentos básicos e indispensáveis do povão.

Jogo de íntima paixão nacional, tão bem descrito pelos estilos insuperáveis de João Saldanha e Nelson Rodrigues, o futebol “padrão Fifa” elitizou-se e deixou de lado o torcedor de arquibancada. Quem sabe esse é um dos motivos de tanta frieza e desmotivação. Temos estádios arquitetonicamente lindos. O do Internacional, às margens do Rio Guaíba, é um show. Iluminado, à noite, coloca a Arena do arquirrival Grêmio no chinelo.

Mesmo antes do primeiro jogo da Copa do Mundo, já se pode garantir que um dos principais legados desse evento, de R$ 8 bilhões de faturamento pela Fifa, é a conscientização do torcedor em geral. O governo em todos os níveis se mobilizou para atender exigências que, antes, eram só do contribuinte. Agora, sabe-se que pela pressão e alguns “chutes no traseiro” o Planalto Central reage e, mesmo lenta e precariamente, vai cumprindo acordos para dar padrão internacional ao jogo da bola.

E não há mais como esconder que o futebol provoca emoções e emoções vendem, muito. E nesse jogo de interesses comerciais e de faturamentos bilionários há falcatruas e roubos, como as confirmadas por Joana Havelange que conviveu intimamente com os bastidores da organização.

“O que tinha que ser roubado já foi”, compartilhou Joana, herdeira do DNA da família João Havelange e Ricardo Teixeira. Não há como ter dúvidas de tanta credibilidade. É a confirmação oficial da farsa financeira da Copa. E isso, com certeza, também ajudou a tirar o entusiasmo que ainda restava do torcedor iludido.


CBDE e CBDU receberam R$ 39 milhões do Ministério do Esporte
Comentários Comente

José Cruz

De 2011 a abril deste ano o Ministério do Esporte liberou R$ 39 milhões para projetos do desporto escolar e universitário, aproximadamente R$ 10 milhões por ano.

Os recursos foram aplicados pelas Confederações Brasileiras de Desporto Escolar (CBDE) e a Universitária (CBDU).

Conforme o Portal da Transparência, da Controladoria Geral da União, foram R$ 21.393.328,00 para a CBDE e R$ 17.685.312,00 para a CBDU. Os recursos pagaram a participação de equipes brasileiras em eventos de várias modalidades, no exterior, inclusive.

Vez por outra trago este assunto ao debate, porque desde que foi criado, em 2003, o Ministério do Esporte fez opção para o alto rendimento, contrariando o artigo 217 da Constituição Federal, que determina aplicação de verbas públicas no esporte, prioritariamente do desporto escolar.

Porém, essas aplicações financeiras são, na maioria, para eventos de representatividade, seleções de vários esportes, e não em planos de longo prazo inseridos numa política efetiva de participação da escola e da universidade brasileiras no contexto pedagógico, principalmente.

Legado…

Da forma como o governo financia a CBDE e a CBDU ficam dúvidas sobre a efetiva contribuição desses órgãos para o desenvolvimento e  fortalecimento do desporto escolar e universitário.

No ano passado, por exemplo, Brasília recebeu os Jogos Mundiais Estudantis. E o que tivemos foram arquibancadas vazias em ginásios de precária conservação e sem repercussão na imprensa. Legado zero, para usar a expressão da moda.

Na falta de diretrizes específicas, mas de cofre público aberto, fica a ideia de uma ação entre amigos do mesmo partido, beneficiando privilegiados atletas que aparecem esporoadiocamente, mas com desempenhos efêmeros e sem expressão para o fortalecimento do nosso esporte como um todo.


Legado olímpico, a estratégia dos espertos
Comentários Comente

José Cruz

Por Alberto Murray Neto

Especialista e estudioso dos assuntos olímpicos, Lamartine da Costa informa que já são sete as cidades que rejeitaram receber os próximos Jogos Olímpicos. E apresentou, também, um oportuno estudo sobre legados desse megaevento esportivo.

De fato, a história de que Jogos Olímpicos deixam legado é um grande engodo, que agora está sendo descoberta pelo povo e aonde a vontade popular, nos países democráticos, é respeitada.

Após o fracasso financeiro dos Jogos de Montreal, em 1976, que até pouco tempo atrás a Cidade ainda pagava o déficit, só mesmo uma ditadura como a da  URSS para assumir o evento em 1980. Para 1984 não havia nenhuma cidade disposta a sediar o evento.

Nessa situação, o COI (Comitê Olímpico Internacional) teve que flexibilizar o amadorismo, privatizar os Jogos e o departamento de marketing inventou a palavrinha mágica “legado olímpico”, para insistir que valeria a pena candidatar-se a sediar a competição.

Foi nessa ocasião que também começou a compra de votos no COI, quando os tais patrocinadores privados entraram de sola. Até então, nunca se tinha ouvido falar na palavra “legado”. Isso foi criado pela agência de marketing contratada pelo COI para revolucionar a imagem dos Jogos. E a estratégia foi tão correta que as discussões sobre “legado” tomam tempo valioso.

É ingenuidade achar que Jogos Olímpicos deixam legado. O que deixa legado são políticas públicas consistentes e de longo prazo. E sediar Jogos Olímpicos pode vir ao final de um processo de evolução.  Nenhuma cidade muda porque sedia Jogos Olímpicos.

Costumo ouvir bobagens como “Barcelona mudou por causa dos Jogos Olímpicos”. Besteira! Com, ou sem, Olimpíada a Espanha redemocratizada vinha passando por transformações positivas concretas, e Barcelona, Madrid etc já vinham mostrando expressivas melhorias.

Após anos de ditadura franquista, a Espanha vinha sendo remodelada e o plano diretor da Cidade de Barcelona já contemplava profundas alterações neste sentido. Os Jogos Olímpicos apenas fizeram parte de um projeto de Nação muito maior.

Como digo e escrevo frequentemente, o Rio sairá dessa “aventura olímpica” pior do que entrou. Esse projeto Rio 2016 não passa de uma intenção de um grupo de espertos de promover,  a partir das obras indispensáveis,  uma grande especulação imobiliária. Não é demais lembrar que sete anos depois dos Jogos Pan-Americanos não conhecemos o balanço financeiro oficial dos órgãos de fiscalização.

Basta ver o pedigree de quem está envolvido com isso para se ter a certeza de que será, junto com a Copa do Mundo de futebol, de um dos maiores escândalos financeiros da República.

Para saber mais

albertomurray.wordpress.com


Governo abre o cofre para as obras olímpicas
Comentários Comente

José Cruz

Um mês depois da bronca olímpica e repercussões internacionais negativas sobre o atraso nas obras para os Jogos Rio 2016, o governo federal abriu o cofre do financiamento público e começou a liberar a grana para estádios monumentais.

Só no mês de maio o Ministério do Esporte liberou R$ 261,4 milhões para quatro frentes.

OBRA

VALOR
Centro de Tênis72.828.390,00
Estádio Aquático87.822.793,00
Velódromo57.295.475,00
Ginásio para Handebol43.458.880,00
TOTAL261.405.538,00

 

Memória sobre o desperdício

Para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, o governo federal gastou R$ 62 milhões na construção do Parque Aquático e na importação da pista do Velódromo, segundo relatório oficial do Ministério do Esporte. Agora, serão R$ 140 milhões em novas instalações para os mesmos esportes.

O desperdício é evidente quando se lê o relatório do Ministério do Esporte, volume II, sobre o Pan 2007. Confiram:

“O velódromo é a única instalação do gênero coberta no Brasil. A pista , também a única de pinho siberiano no País, foi importada da Holanda por R$ 2,1 milhões. O pinho siberiano é um material de alta durabilidade e excelente acabamento, utilizado nos principais equipamentos que servem a eventos esportivos internacionais do ciclismo

Mas…

A instalação apresentou problemas apenas no evento-teste feito pela prefeitura, em 11 de julho de 2007, quando uma pequena parte do teto cedeu com o peso da chuva”.

Como se observa, no Brasil não adianta “material de alta durabilidade”…

Encerrados os Jogos, o Velódromo foi destruído. O tal “pinho com material de alta durabilidade” também foi destruído e lá se foram R$ 16 milhões gastos naquela obra. E ninguém foi preso por isso diante dessa irresponsabilidade do gestor público, com Secretaria Nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte à frente.

A propósito de Pan 2007, o principal estádio de futebol, depois do Maracanã, também está fechado em plena Copa do Mundo no Brasil, para conter a cobertura, que começou a desabar…


Copa 2014: … e já rolou a festa!
Comentários Comente

José Cruz

De repente, cresceu a movimentação em Brasília, num fim de semana ensolarado. Movimento que foge à rotina dos últimos dias. Não são protestos nem dança de índios, nem confronto de populares com a polícia. Mas movimento de operários limpando ruas, cortando a grama, plantando flores, aguando os jardins públicos, pintando meio fio, demarcando a pista sobre o asfalto novo, instalações de novos postes de iluminação em regiões até então escuras, policiais transitando por todos os espaços da cidade. Bendita “Fifa”!

Até o estádio Mané Garrincha, ganhou, apesar de um ano construído, um “puxadinho” de rede de água, como registrei, para reforçar o abastecimento da novíssima arena de R$ 1,6 bilhão. Porque os tanques de captação de água da chuva ainda não estão funcionando. Nem as placas de captação de energia solar foram instaladas. Nem a urbanização em torno do estádio está concluída! Mas isso é o de menos. O palco da abertura da Copa, em São Paulo, também não está pronto. Mas a bola vai rolar, com certeza.

Em cinco edições do Mundial de futebol fomos às ruas festejar a conquista do título maior. Agora, quando a festa é em casa, a torcida volta às ruas, mas sem a euforia de antes.Pior: dividida, como num Fla-Flu ou num Gre-Nal.

Os protestos e indignação populares, quem diria, pegaram o governo no contra pé, frustrando a proposta política que coroaria um governo de avanços sociais e econômicos, principalmente – e os tivemos, isso é inegável. Mas, também, para mostrar ao mundo que somos capazes de organizar um megaevento esportivo além do chinfrim Pan-Americano. Nisso falhamos.

E por falar em Pan, aí está a irônica comparação que mostra a grandiosidade do futebol, para uns, claro: só o lucro de R$ 8 bilhões, projetado pela Fifa é o dobro do que gastamos em todo o Pan, “míseros”, 3,6 bilhões – aí incluídos o superfaturamento, o pagamento por obras não realizadas, desembolso por material não entregue, etc. Palavra do TCU!

Enfim, a 11 dias da abertura do Mundial já podemos afirmar que vai ter Copa sem novos chutes no traseiro.

Vai ter fun fest, vai ter protesto, índio, torcedor com camisa amarela e ingresso na mão, buzina, vai ter contribuinte indignado, porque a festa vai rolar para uns e já rolou para outros, como repercutiu  a Senhora Joana Havelange, diretora do Comitê Organizador: “O que tinha que ser roubado já foi”. Faz sentido. Ronaldo, de tantas alegrias, joga nesse time: “Não se faz Copa do Mundo com hospitais” … – lembram?

Padrão Fifa é isso aí.


Fifa interdita Centro Esportivo no DF e atinge dois mil usuários
Comentários Comente

José Cruz

A Copa do Mundo em Brasília prejudica a rotina de treinos de pelo menos dois mil freqüentadores do Centro Esportivo, a 500 metros do estádio Mané Garrincha.

Os principais atingidos são os alunos das escolinhas de natação, saltos ornamentais, pólo aquático e nado sincronizado, impedidos de freqüentar a piscina, há três semanas. E só retornarão em 1º de agosto, quando a Fifa devolver o estádio ao comando da Secretaria de Esporte do Distrito Federal e liberar a área nos arredores.

“Apesar de o Conjunto Aquático não interferir nas atividades do estádio, a Fifa exigiu que toda a área fosse desativada”, disse a mãe de duas nadadoras, que não quis se identificar, temerosa de perder a matrícula das garotas, porque fez críticas ao Governo local. “É incrível que isso aconteça, principalmente na pior época de seca em Brasília, quando a umidade cai a incríveis 13%”, disse um professor que atua no local.

História

Inaugurado na década de 1970, o “Centro Esportivo Presidente Médici” era um monumental conjunto de praças esportivas. O primeiro prejuízo para os desportistas e para a história do esporte na capital da República foi a destruição da pista de atletismo oficial.

No antigo “Mané Garrincha” também funcionava uma escolhinha de futebol, comandada pelo bicampeão mundial, Nilton Santos, morto no ano passado.

Fartura e desleixo

No Conjunto Esportivo, além do estádio de futebol, demolido para dar lugar a outro, com “padrão Fifa”, há um ginásio coberto com capacidade para 20 mil pessoas. Outro ginásio, o “Cláudio Coutinho”, para 10 mil pessoas, era uma piscina coberta, transformada em quadra de futsal e, hoje, depósito de entulhos, abandonado pelo Governo do Distrito Federal.

O conjunto tem, ainda, um autódromo em péssimo estado de conservação, seis quadras de futsal, quatro de basquete, seis de vôlei, 12 de tênis, todas inativas e abandonadas, com equipamentos (traves, tabelas e aros) destruídos e mato em volta. O local, sem segurança, tornou-se propício para a concentração de drogados, tudo a 500 metros do moderno estádio “padrão Fifa”.

O desleixo no Centro Esportivo vem de outros governos, acentuando-se no atual, de Agnelo Queiroz, quando o canteiro de obras do estádio Mané Garrincha avançou e destruiu as 12 quadras de tênis, o velódromo e as pistas de hipismo e de aeromodelismo.

Ironicamente, o engenheiro que viu esse complexo esportivo ser construído, Eduardo de Castro Mello, é filho do autor do projeto original do Mané Garrincha, Ícaro de Castro Mello, ex-atleta olímpico do atletismo, nos Jogos de Berlim, 1936.

Por ter trabalhado com o pai no primeiro projeto, Eduardo foi escolhido pelo ex-governador, José Roberto Arruda, para projetar o novo Mané Garrincha, que servirá ao Mundial de Futebol, daqui a 13 dias.

Brasília tem, agora, “moderno” estádio de futebol, de arquitetura mais arrojada, mas que contrasta com o abandono do restante do conjunto esportivo que o circunda, numa evidente falta de conservação, comprovado desleixo dos gestores públicos e demonstração da falta de políticas públicas para a prática de esportes pela população.