Dilma ignora o lado podre do futebol e escorrega no discurso da Copa
José Cruz
Do discurso da presidente Dilma Rousseff na TV, festejando a Copa do Mundo, que começa amanhã, selecionei dois pontos:
“Os órgãos de fiscalização (TCU e CGU) estão analisando os gastos e se houver abusos os responsáveis serão punidos com o maior rigor”;
“Nossa Seleção está acima de interesses de qualquer grupo”.
Memória
Talvez a presidente não saiba que o TCU (Tribunal de Contas da União) fez auditorias nos gastos públicos dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. Os auditores identificaram a entrega de material esportivo depois do evento; pagamentos de faturas em dobro; pagamentos de faturas por serviços não prestados; pagamento de faturas por serviços ou material em quantidade menor que a encomendada. E, até hoje, sete anos depois, Presidente Dilma, ninguém “foi punido com o maior rigor” como a senhora sugeriu. E nem será, porque aquelas contas ficaram no esquecimento! Imagine “depois” da Copa!
Interesses de grupo
O ministro do Esporte, que imagino tenha lido o discurso previamente, poderia, também, ter poupado a presidente de dizer que “a Seleção está acima de interesses de qualquer grupo”.
O que mais se comentou nos últimos anos, aqui e mundo afora, foi sobre a corrupção na Fifa, em geral, e na CBF, em particular. A própria presidente Dilma fechou as portas do Palácio do Planalto ao então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para não vincular a imagem do governo a um cartola-símbolo da corrupção no futebol.
E o que dizer do faturamento milionário da CBF com a marca “Seleção Brasileira”, tanto em publicidade quanto em jogos amistosos? Quem se beneficia desse dinheiro, se não um grupo de espertos que explora o principal patrimônio esportivo-representativo do país e sem prestar contas a quem quer que seja sobre o destino dessa grana?
Bem antes de começar a Copa, os assessores poderiam ter presenteado a presidente Dilma com os dois livros de Andrew Jennings sobre a corrupção nos bastidores do futebol, para que se atualizasse sobre o que esconde de verdade o evento que vai presidir. Os livros são “Jogo Sujo” e, o mais recente, “Um jogo cada vez mais sujo – o padrão Fifa de fazer negócios e manter tudo em silêncio”.
Quem sabe, conhecendo um mínimo sobre a podridão do futebol, a poderosa máquina internacional de lavagem de dinheiro, promotora de calotes fiscais, de evasão de divisas, enriquecimentos ilícitos, corrupção, exploração de menores e de países-sedes da Copa, etc, a presidente Dilma entendesse melhor os “pessimistas” que agora critica. E, com certeza, não estaria aliada, com sorrisos largos, aos poderosos do jogo sujo.