Medalhas, dinheiro e a pátria educadora
José Cruz
De que vale um terceiro lugar continental, diante da realidade falida da “pátria educadora”, do flagelo das escolas, da falta de incentivo aos professores, da ausência de espaços para a prática democrática da educação física, e com a maior parte das modalidades esportivas altamente elitizadas?
Ironicamente, quando o Brasil tem a sua maior delegação em Jogos Pan-Americanos – 590 atletas, em Toronto – e investimentos de mais de R$ 3 bilhões, cai em número de medalhas de ouro, comparativamente a Guadalajara, 2011. E, não evolui em pódios gerais: 141
PAN | OURO | PRATA | BRONZE | TOTAL |
Rio 2007 | 52 | 40 | 65 | 157 |
Guadalajara 2011 | 48 | 35 | 58 | 141 |
Toronto 2015 | 41 | 40 | 60 | 141 |
Este resultado, deve-se, em parte, à equipe renovada, que usou o evento como “estreia”, “teste”. De tal forma que, a dupla medalha de prata na plataforma de 10 metros, em Toronto – Ingrid Oliveira e Giovana Pedroso –, ficou em 15º na fase eliminatória, entre 16 conjuntos, no Mundial de Desportos Aquáticos, que começou no domingo, na Rússia.
Investimentos
Mas, crescemos em modalidades premiadas, algumas inéditas, como luta olímpica, natação feminina, levantamento de peso, rugby. Não dependemos mais “apenas” do vôlei, vôlei de praia, judô, vela… Evoluímos! E isso se deve aos mais de R$ 3 bilhões de dinheiro público destinados ao alto rendimento, e, também, à importação de 44 técnicos estrangeiros e a equipes turbinadas por atletas de outros países, agora verde-amarlos.
Enquanto isso…
Regredimos espetacularmente no atletismo, modalidade-mãe – correr, lançar, saltar … Com um ouro nos 5.000m, Juliana dos Santos marcou 15min45s97, pra lá das 100 melhores marcas do mundo, nesta temporada. É o resultado-síntese do atletismo, com apenas 13 pódios, e regressão de 43% ao resultado de Guadalajara 2011.
Da mesma forma, o tênis. Com equipe inexpressiva, sob o ponto de vista dos melhores do ranking brasileiro, a modalidade retrocedeu 32 anos na competição, quando voltou sem medalha dos Jogos de Caracas.
Realidade
Pelo empenho dos competidores, o esporte-espetáculo tornou-se negócio, business. Chama audiência na TV, que paga caro pela ''emoção'', que vende! É emprego, também, para centenas de atletas, que chegam a faturar mais de R$ 50 mil por mês só em patrocínios, ou 400 mil dólares (R$ 1,3 milhão) por ano, em prêmios de valorizados torneios internacionais de tênis, golfe, hipismo…
É isso que está em disputa, um negócio de marcas famosas. E é aí que o governo federal investe, com rumo específico, os Jogos Olímpicos Rio 2016, mas fora de um contexto maior e duradouro do esporte como política de Estado! De olho apenas no alto rendimento, não podemos dimensionar nosso potencial esportivo apenas pela conquista de finais, medalhas e recordes.
Neste contexto, recupero o que escreveu o professor Valter Bracht da Universidade Federal do Espírito Santo, neste blog:
Uma nação desenvolvida esportivamente é aquela em que todos cidadãos têm direito e acesso, de forma voluntária e livre, às práticas esportivas (e a outras práticas corporais não esportevizadas); assim como a eficiência do sistema de saúde não se mede pelo número de hospitais de alta tecnologia
Foto: uol.com.br