Endividado, DF terá que receber a F-Indy ou pagar multa milionária
José Cruz
Texto atualizado às 22h, ao final
Uma semana depois de empossado, o governador do Distrito Federal,Rodrigo Rollemberg, suspendeu a realização da 45ª Corrida de Reis, em 10km, a segunda mais antiga do país, atrás da São Silvestre. A medida deve-se à precariedade do cofre herdado do governo de Agnelo Queiroz: dívida de R$ 3,5 bilhões e saldo bancário de R$ 64 mil, conforme números oficiais.
Porém, para outra corrida, orçada em mais de R$ 100 milhões, o governador não terá a mesma ousadia, pois se trata da prova de abertura do calendário da Fórmula Indy, no dia 8 de março, no Autódromo de Brasília, em reforma (foto). A venda de ingressos para o evento internacional começa hoje.
Decisão
Mesmo com a cidade em total desordem, segurança precária, sistema de saúde falido e milhares de servidores em greve, com salários atrasados, Rollemberg terá que honrar o contrato com o Grupo Bandeirantes, promotora da Indy no Brasil. Caso contrário, pagará multa de US$ 70 milhões (R$ 189 milhões).
“A decisão do governador é realizar a corrida. Vamos fazer a corrida”, disse o futuro presidente da Terracap, Alexandre Navarro Garcia, que assumirá o cargo na próxima semana. “O contrato para a corrida, por cinco anos, é interessante para o Distrito Federal e há uma multa de 70 milhões de dólares (R$ 190 milhões) pelo distrato”, afimou.
A Terracap é a estatal que cuida das transações das áreas pertencentes ao governo do Distrito Federal. É a mesma empresa que abriga o novo Estádio Mané Garrincha, construído ao custo de R$ 1,6 bilhão. Agora, a Terracap administra e financia as obras de reforma do Autódromo Nelson Piquet, local da Indy.
Custos
Para receber a Fórmula Indy, o então governador Agnelo Queiroz assinou contrato com o Grupo Bandeirantes, em junho do ano passado. O compromisso foi de US$ 38 milhões, em torno de R$ 102 milhões, em quatro parcelas. O valor foi dividido em partes iguais entre o Governo do Distrito Federal e a Terracap: R$ 51 milhões para cada entidade.
“A Terracap já pagou três das quatro parcelas (R$ 12,75 milhões cada uma). O GDF não pagou nada, disse Alexandre Navarro, um administrador de empresas, com especializações, natural de Marília (SP), há 32 anos morando em Brasília.
O valor total das obras no Autódromo ainda não é público, mas estima-se em R$ 40 milhões. Apenas a cobertura da nova pista está orçada em R$ 18,4 milhões. Além disso, correrá por conta do Governo local despesas com a instalação de arquibancadas e boxes temporários (desmontáveis), compra de pneus para a proteção dos carros durante a corrida, operações de segurança, limpeza etc.
O trabalho de recapeamento da pista não para nem nos domingos: faltam apenas 52 dias para a prova, que deixou de ser realizada em S.Paulo
Apelo
A reportagem apurou que, poucos dias depois de eleito governador do Distrito Federal, no segundo turno, Rodrigo Rollemberg recebeu a visita de diretores do Grupo Bandeirantes. O apelo foi no sentido de que ele não suspendesse a prova da Indy, pois o prejuízo seria muito grande, com o pagamento de multas contratuais, principalmente. O compromisso foi acordado. Agora, Brasília convive com a dualidade de extremos: uma capital endividada e com greves, devido a atrasos salariais, enquanto se prepara para receber uma prova milionária que consumirá boa verba pública.
Suspensões
A situação financeira deixada por Agnelo Queiroz é tão precária, que Rollemberg negocia junto ao Governo Federal a antecipação de R$ 412 milhões do Fundo Constitucional. Além disso, o governador precisou tomar medidas extremas, como suspender o verbas para o Carnaval. Antes, ele há havia declinado de sediar a Universíade, em 2019, para não pagar direitos de R$ 78 milhões, atrasados há dois anos.
E não há certeza de que os salários de janeiro sejam pagos integralmente, pois as receitas neste mês estão bem abaixo das despesas.
ATUALIZAÇÃO
Às 22h recebi atualizações ao texto acima, enviadas pela assessoria do presidente da Terracap, Alexandre Navarro, que transcrevo a seguir:
Onde se lê: “O contrato para a corrida, por cinco anos, é interessante para o Distrito Federal e há uma multa de 70 milhões de dólares (R$ 190 milhões) pelo distrato”, afimou.
Leia-se: Segundo Navarro, a prova da Indy é importante para o Distrito Federal, mas é preciso resolver os problemas apontados pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas do DF.
Onde se lê: “O compromisso foi de US$ 38 milhões, em torno de R$ 102 milhões, em quatro parcelas.”
Leia-se: O compromisso foi de US$ 16 milhões (cerca de 38 milhões de reais), em quatro parcelas.