O esporte de alto rendimento e as experiências escolares
José Cruz
Por André Luís Normanton Beltrame
O que seria a escola, se não uma instituição social ligada às relações entre educação, sociedade e cidadania? Abordando desta forma, o que pensar de projetos e práticas pedagógicas esportivas neste âmbito? Não deveriam ter diálogo com os interesses e anseios da comunidade que a circunda e a sociedade, num contexto mais amplo?
Mesmo sendo a Constituição bem clara no seu artigo 217 e no Decreto nº 7.984/2013, quando fala sobre esporte educacional, o país ainda peca por não operar de forma adequada a iniciação esportiva nas escolas.
O caso é grave, está na “esteira” do que o país tem construído como legado ao povo. A gênese que se manifesta, encontra abrigo em uma narrativa “biologizante” – quando o aluno se torna atleta e sua aula vira treino – que prioriza o alto rendimento. Isso ocorre, inclusive, com o esporte escolar, que historicamente submete-se à hierarquia de modelos do esporte adulto, e acaba tornando-se a mesma coisa.
Utilizando o “academiquês”, ao se oferecer o esporte assim, erroneamente tratamos o assunto sob a perspectiva ontológica e não epistemológica, como deveria ser.
Isto não acontece do nada. Pelo contrário, é bancado por políticos e dirigentes esportivos que tratam a questão baseada no orgulho e representatividade e não no que deveria ser, o seu dever social. Não tratam de modo isonômico o esporte educacional, de participação e o de rendimento, levando em conta suas especificidades e características, como propalado nos debates realizados na I e II Conferências Nacionais do Esporte, em 2004 e 2006.
Trago esta percepção, de modo mais elaborado, depois de uma investigação recente, realizada ao longo de dois anos. Convivendo com professores, coordenadores e alunos, de um projeto esportivo, participei de reuniões e eventos esportivos, procurando observar como na verdade o trabalho vinha sendo feito; quais seriam seus objetivos e se atenderiam de alguma forma pressupostos do esporte educacional.
Acabei percebendo que, ao invés de fomentar a prática de seus participantes, dentro de um contexto subjetivo, prevalecendo o reconhecimento do outro e valorizando a empatia com o esporte, o projeto conduzia a uma “objetificação”, onde a aula, inundada de metas por resultados, acabava substituindo o que deveria ser uma experiência educativa de fato para uma busca estressante por medalhas, patrocínios e Bolsas-Atleta.
Percebi, finalmente, que este modus operandi traduzem, assim, fielmente o poder simbólico das competições adultas, o que formata a Educação Física Escolar e o Esporte em algo que deve seguir códigos e normas das instituições esportivas somente, sem outras possibilidades.
André Luís Normanton Beltrame é professor de Educação Física há 14 anos pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Atualmente está Doutorando em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília.