Guga, o visionário, e a precoce aposentadoria de Tiago Fernandes
José Cruz
O mais jovem talento do tênis brasileiro, campeão do Aberto da Austrália juvenil, em 2010, Tiago Fernandes, 21 anos, pendurou a raquete. Não conversa com os jornalistas, mas se sabe que ele decidiu estudar engenharia civil, em Alagoas, sua terra natal.
Para tratar uma “pubalgia”, Tiago (foto) afastou-se das quadras por meio ano. Sua posição no ranking da ATP despencou, desmotivando seu retorno. E voltamos à pergunta de rotina: temos massificação no tênis ou continuaremos a nos surpreender com destaques esporádicos e de carreira efêmera?
E quem responde essa indagação? O Ministério do Esporte, que abre os cofres para o alto rendimento? O Comitê Olímpico do Brasil? A Confederação de Tênis, que recebe muita grana dos Correios, patrocinador, mas com gestão suspeita, a ponto de ser investigada pela polícia e Ministério Público de São Paulo?
Enfim, não é só com dinheiro que se promove esporte e atletas. Os gestores, esses suspeitos senhores que se perpetuaram em suas cadeiras, são os principais responsáveis, com o governo federal, financiador da fartura e da desordem simultâneas.
Enquanto isso…
“O que faltava ao Brasil para se tornar potência olímpica”? – indaguei a Gustavo Kuerten, nos Jogos de Sidney, 2000.
Naquela Olimpíada, seis medalhas de prata e seis de bronze, retornamos sem ouro, o que motivou escrever um artigo, “O cavalo empacou”. Tratava-se de uma referência ao refugo de Baloubet du Rouet, o milionário cavalo de Rodrigo Pessoa, que decidiu não saltar os obstáculos, na última prova em que tínhamos chance de ganhar um ouro. O Brasil simbolizava isso, um país empacado no esporte.
Ouvi vários atletas, técnicos e dirigentes – Lars Grael, Magic Paula, Coaracy Nunes, Joaquim Cruz, enfim – sobre “o que faltava ao Brasil para se tornar uma potência olímpica”. A resposta foi comum: “falta apoio” . E por apoio entenda-se “dinheiro”. Era o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e, de fato, tempos de vacas magras para o esporte.
Porém, a resposta de Guga surpreendeu:
“Pô, cara! Se o Brasil vai investir muito dinheiro no esporte para ser potência olímpica, acho que primeiro tem que investir na educação e saúde. Mas educação com esporte, porque aí a saúde melhora para os guris''.
Guga se aposentou e, ironicamente, mesmo com prestigiada carreira, coroada com o tricampeonato de Roland Garros, não contribuiu para que o tênis evoluísse. O governo mudou e o que veio também não fez o casamento de ''educação, esporte, saúde…'' Continuamos empacados como em 2000, com a diferença de que, agora, há fartura de ''apoio'', o cofre está aberto. Isso é real.