Olimpíadas Rio 2016, entre a realidade e a esperança
José Cruz
Por Aldemir Teles Dema
Professor de Treinamento Esportivo, na Escola Superior de Ed. Física da Universidade de Pernambuco
O título deste artigo é uma homenagem ao saudoso escritor, poeta e dramaturgo Ariano Suassuna que sentenciou:
“O otimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.
É assim, com esse pensamento, que devemos encarar as chances do Brasil ter sucesso nos próximos Jogos Olímpicos no Rio de janeiro em 2016. Assim estaremos precavidos de decepções semelhantes à sofrida com a campanha da seleção de futebol na recente Copa do Mundo, quando vendedores de sonho, especialmente a mídia e patrocinadores do evento, iludiram a muitos brasileiros, fazendo-os acreditar que o Brasil seria hexacampeão mundial.
Embora não seja tarefa fácil, é possível elencar alguns fatores que possam prever futuros resultados do país nos Jogos Olímpicos 2016. Por exemplo, a vantagem de competir no próprio país, os investimentos, a qualidade da participação das equipes nacionais nos campeonatos mundiais, nos períodos que antecedem as olimpíadas, as medidas e ações governamentais realizadas e a evolução do quadro de medalhas em olimpíadas a partir da confirmação da cidade sede.
Vamos focar, por enquanto, a evolução do quadro de medalhas do Brasil nas três olimpíadas recentes – 2004, Atenas; 2008, Pequim e 2012 em Londres – a seguinte após a confirmação em 2009 do Rio de Janeiro como sede em 2016.
A evolução do quadro de medalhas do Brasil será comparada com a evolução dos países sede China e Grã-Bretanha. Se alguém sugerir que estou mal intencionado ao escolher duas potências esportivas para a comparação, posso dizer que a forma com que outros países sede evoluíram é semelhante às apresentadas neste exemplo, embora com outros números.
A meta do Ministério do Esporte, definida em 2010, na construção do Plano Decenal de Esporte e Lazer, tem o pomposo titulo de 10 PONTOS, EM 10 ANOS PARA PROJETAR O BRASIL ENTRE OS 10 MAIS. Na quarta-feira recente, dia 23 o Comitê Olímpico Brasileiro anunciou que a meta do país para os Jogos de 2016 é entrar no top 10 da classificação geral e, para isso, quer subir ao pódio 27 vezes. Os dirigentes do COB admitem que o objetivo seja ousado. Eu diria improvável, no momento atual, mesmo assumindo que o pessimista é um chato, mas a realidade aponta para incertezas.
Para atingir a meta de estar entre os 10 primeiros colocados, o Brasil deverá obter entre 30 e 35 medalhas no total, sendo oito ou nove de ouro. Esses são os números aproximados de medalhas obtidos pelos países na 10ª posição em olimpíadas recentes. Ou seja, é preciso mais que dobrar o número de medalhas de ouro em relação a Londres (três ouros).
Recomendo aos gestores públicos e privados do esporte o importante estudo publicado em 2009, do respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre a eficiência da participação dos países nas Olimpíadas de Beijing, 2008.
Segundo esse Estudo do IPEA, de acordo com o nosso potencial, o Brasil deveria ter conquistado 20 medalhas de ouro, 18 de prata e 26 de bronze. Dessa forma teríamos conquistado a sexta colocação e não a 20ª no quadro de medalhas.
A avaliação considera a riqueza econômica do país, o tamanho da população e a esperança de vida ao nascer. O estudo revela a discrepância entre viabilidade econômica e a efetividade da política de esporte. Ou seja, temos potencial para muito mais. O problema está na equivocada política nacional de esporte, ou a falta dela.
O autor é Especialista em treinamento esportivo, pela Universidade Gama Filho e Mestre em neurociências pela UFPE.