Blog do José Cruz

Atletismo: o que esperar da nova geração?

José Cruz

Com uma delegação de 23 atletas, o Brasil retornou do Mundial de Atletismo Júnior de Eugene, nos Estados Unidos, com duas medalhas, ouro, com Izabela Silva, no lançamento do disco; e bronze, com Matheus de Sá, no salto triplo. Ficamos em 13º lugar dentre os 168 países participantes e os 34 que conquistaram pódio.

Já no “Placing Table”, que classifica os países atribuindo pontos da primeira à oitava colocação em cada prova o desempenho do Brasil foi ainda mais tímido: 17º lugar, atrás do Quênia, da Etiópia, Cuba e Bahrein. E empatados com as superpotências esportivas Trinidad e Tobago e Uganda.

O atletismo é modalidade totalmente financiada por verbas públicas e em 2013 encerrou o ano com R$ 31 milhões de receita, entre convênios, patrocínio da Caixa e repasses das loterias federais. Cerca de 200 atletas recebem Bolsa do Ministério do Esporte.

O Mundial de Atletismo Júnior, para competidores de até 19 anos, é a vitrine da nova geração, e no evento desfilaram atletas que deverão estar nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Mas o Brasil, apesar de ter 40 milhões de estudantes disponíveis para a prática esportiva, patina na formação de atletas devido à falta de políticas públicas.

Fora do pódio, os melhores resultados do Brasil foram os quarto lugares de Thiago André,  nos 800 e 1500m, e o oitavo de Núbia Soares, no salto triplo.

Velocistas

Nas provas de velocidade, no programa individual, o Brasil não esteve em uma só final. Principal esperança, Tamiris de Liz, bronze no Mundial Juvenil de Barcelona, há dois anos, ficou em sexto na semifinal, atrás de uma equatoriana, uma venezuelana e uma da Guiana. Nos 100m rasos masculino, Vitor Hugo Silva dos Santos, finalista da prova no último Mundial Sub-17, no ano passado, também ficou em sexto e não avançou à final. E nos 200m rasos, Vitor Hugo, que havia conquistado a prata na prova no último Mundial Sub-17, ficou em último na sua bateria semifinal.

Esperança

Thiago André terminou em quarto lugar nas duas provas de meio fundo, 800m e 1.500m. Está aí um nome para dar seguimento à dinastia da década de 1980, com Agberto Guimarães, Zequinha Barbosa e Joaquim Cruz.

Fundo

Nas provas de fundo não qualificamos nenhum atleta para as finais. Nos 10.000m masculino, por exemplo, desde 1996 (e lá se vão 18 anos) o Brasil não sabe o que é colocar um atleta em uma final de Mundial, em todas as categorias! O interessante é que o calendário de corridas de rua no Brasil é farto em competições, mas isso não ocorre na pista onde cada vez os nomes são mais escassos.

Revezamentos

Nessa prova estivemos em apenas uma final, o 4x100m feminino. Mas, a exemplo das Olimpíadas, nossas atletas acabaram errando na passagem do bastão e foram desqualificadas.

Cabe aqui ressaltar um interessante dado:  Botsuana (país da África Meridional, com apenas 2,1 milhões de habitantes) qualificou suas duas equipes de revezamento masculino para o Mundial Juvenil, ao passo que o Brasil (200 milhões de habitantes) não conseguiu revelar e formar oito atletas com um nível razoável para disputar as provas de revezamento em Eugene.

Pistas

Atualmente, o Ministério do Esporte está investindo na construção de pistas de atletismo, Brasil afora, mas assim como em outras modalidades o país carece de técnicos, equipamentos, calendário farto de competições etc. Continuamos com os mesmos problemas de 1980, quando Joaquim Cruz deixou Brasília para ir treinar nos Estados Unidos. Com a diferença de que desde 2003 há muitos recursos financeiros disponíveis, mas isso não tem contribuído para a formação de equipes altamente competitivas.

Continuamos dependentes de revelações esporádicas, como o ouro de Izabela Silva. Federações falidas, clubes desinteressados, falta de gestores e de definições entre as competências da União, estados e municípios e o interesse do governo e COB de investirem no atleta de ponta fecham esse ciclo de problemas, que dura décadas.