Maratona de Boston: 20 anos do recorde de Carmem de Oliveira
José Cruz
''Boston tem charme. É a corrida mais antiga, depois da maratona olímpica. Boston atrai os principais nomes da elite mundial e naquele ano (1994) eu ainda era uma corredora desconhecida, mas estava lá. Também por isso, a marca é inesquecível”.
A maratona de Boston, nos Estados Unidos, que hoje realiza a sua 118ª edição, tem um significado especial para o nosso atletismo de rua. Foi nessa prova que, há vinte anos, Carmem de Oliveira tornou-se a primeira brasileira a correr os 42 km em menos de duas horas e meia. Ela fez a distância em 2h27min41s.
Até hoje, nenhuma brasileira conseguiu baixar essa marca. Quem chegou mais perto foi Márcia Narloch, 2h29min59s, em Hamburgo, 2004, e Adriana Aparecida, 2h29min17s, Tóquio, 2012.
Carmem terminou a prova de Boston em terceiro lugar. A campeã foi a alemã Uta Pippig, com 2h21min45s, que venceu nos dois anos seguintes, tornando-se tricampeã da centenária corrida.
O início…
Carmem começou a correr tarde, com 17 anos. Já era mãe, de Christianne, quando foi descoberta pelo técnico João Sena, numa competição colegial em Sobradinho, nos arredores de Brasília. Mas, logo no início, demonstrou resistência natural para as provas de longa distância.
“Prometi à família de Carmem que em seis meses ela seria uma campeã, a maior corredora do Brasil”, relembra Sena, sobre quando foi pedir autorização para que Carmem se tornasse atleta. “Mas isso dá dinheiro?” – indagou a corredora, sem saber nada sobre o mundo em que estreava.
Sena acertou. Fez todo o trabalho de base para provas de pista antes de entrarem nas competições de rua, onde o dinheiro dos prêmios, depois dos cachês e patrocínios, começou a aparecer. Os tempos e recordes vieram. Carmem foi treinar nos Estados Unidos, com Brian Appel, e se consagrou a principal atleta brasileira de todos os tempos, nas provas de pista e de rua.
Carmem foi também a primeira brasileira a vencer os 10 mil metros em Jogos Pan-Americanos. E foi a pioneira em vitória para o país na Corrida de São Silvestre, em 1995. Duas temporadas depois, ao completar 16 anos de competições, Carmem encerrou a carreira.
… e o fim
Hoje com 48 anos, casada com Paulo, Carmem não faz festa pelas marcas que detêm. Mas compara as “dificuldades daquele tempo com as facilidades de agora, quando há muito recursos incentivando os que estão iniciando carreira”.
“Na minha época eu precisava correr bem para vencer e vencendo chegava ao pódio, tinha prêmios, até conquistar um patrocínio, porque não havia outra forma de incentivo, nem Bolsa Atleta, nada! Todo aquele esforço era um misto de esporte e trabalho e eu, que era de família muito humilde, transformava os ganhos em salário”.
RECORDES BRASILEIROS DE CARMEM QUE AINDA PERSISTEM
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