A pavonice do cartola
José Cruz
Em entrevista ao Esporte Essencial (aqui), o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, disse a Lei Agnelo Piva foi conseguida por ele. Não é a primeira vez que Nuzman tenta essa paternidade. Falou isso numa audiência pública, na Câmara dos Deputados.
Conheci a história dessa lei quando Gil Castelllo Branco, assessor do então deputado federal Agnelo Queiroz, idealizou o projeto destinando 1,5% das loterias federais para os esportes olímpicos e paraolímpicos.
Aprovado na Câmara o projeto assinado por Agnelo foi para o Senado. Foi quando o senador Pedro Piva (PSDB/SP) apresentou proposta idêntica, mas em vez da destinação de 1,5 ele extrapolou: 10%.
Os projetos de Agnelo e Piva, foram “apensados” (bonito, né?) com relatoria do deputado Gilmar Machado (PT/MG), que fixou o percentual de 2%. Aprovado, o projeto se transformou em lei, sancionada por FHC. É a tal “Lei Agnelo Piva” que só no ano passado garantiu R$ 160 milhões ao COB.
A grande sacada desse projeto é que o governo não desembolsaria um só tostão, pois os 2% do total das loterias para os esportes olímpicos e paraolímpicos sai do prêmio das loterias. E assim é até hoje. Não fosse isso, FHC não teria sancionado o projeto.
Pérolas
Da entrevista ao Esporte Essencial, selecionei duas respostas de Nuzman a repórter Fabiana Bentes de Rengifo. Confiram:
Como o COB recebe recursos públicos, não seria prudente divulgar cargos e salários proporcionalmente ao recebimento destes recursos públicos?
Nuzman – A forma de divulgação de dados referentes à Lei Agnelo/Piva pelo COB atende às orientações do Tribunal de Contas da União.
Quem o senhor poderia considerar um opositor à sua altura, mesmo não estando dentro das normativas de eleição do COB?
Nuzman – Eu adoraria conhecer (risos).
Duas questões:
O dinheiro da Lei Piva é “público”. Logo, deve ser pública a sua aplicação. É que não interessa a Nuzman divulgar esses “detalhes”, porque ele se considera soberano, como, um dia, João Havelange também se considerava o “rei sol”. Deu no que deu.
Nuzman reforça essa condição de “ser único” na resposta seguinte, quando diz desconhecer quem possa vencê-lo. Como se mais ninguém, Brasil afora, fosse capaz de presidir o Comitê Olímpico.
É a tal ditadura do cartola, que foge à norma democrática. A perpetuação no cargo vicia o dirigente, e ele age como se a inteligência humana se resumisse à sua cabeça.