Teremos os Jogos, mas a ditadura olímpica persiste
José Cruz
Em assembleia, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) atualizou seu estatuto adaptando-o à nova legislação, com mandato de quatro anos e apenas uma reeleição para os cartolas.
Também apresentaram propostas modernizadoras, mas não emplacaram. Com isso, o atual presidente, Carlos Nuzman, no cargo há 20 anos, mantém o domínio sobre o grupo no melhor estilo feudal. Por exemplo, só pode se candidatar à presidência do Comitê quem é membro da assembleia há cinco anos, como se fora dali não houvesse inteligência esportiva capaz de disputar o cargo. Numa entrevista Nuzman disse que é isso mesmo, que só ele tem tal capacidade, e fez do COB seu reduto intocável.
Enquanto isso…
Na mesma assembleia, os cartolas instituíram o voto-atleta nas decisões do COB. Porém, exclusivo para o presidente da Comissão de Atletas, atualmente o campeão olímpico de vôlei de praia, Emanuel. Um voto apenas é nada no contexto de milhares de competidores federados e que são, de fato, os responsáveis pelo movimento esportivo como um todo. Por isso, o voto de Emanuel será prática inexpressiva.
Tirem os atletas de uma competição de atletismo, de natação, de judô, de um campeonato de vôlei ou de basquete, enfim, e o evento fracassará, as instituições se tornarão inúteis (muitas já o são) e os cartolas morrerão de fome.
Sem atleta o esporte não existe! Mas sem a unidade deles fica tudo como está. E aí se revela mais uma fragilidade do movimento olímpico, a falta de lideranças.
Toda esta absurda situação agride a liberdade esportiva e fortalece a ditadura dos gestores. O olimpismo, que se sustenta também no princípio da educação e do respeito mútuo, ignora, no Brasil, preceitos históricos da democracia e da livre disputa por cargos. A vaidade e o autoritarismo ainda imperam.