De que riem os poderosos?
José Cruz
Texto inspirado na poesia de Affonso Romano de Sant´Anna, escrito na transição do regime militar para a democracia, mas que se adapta, 50 anos depois, à ditadura dos cartolas, agora com direito a salários pagos com verbas públicas
Em 18 de fevereiro o Comitê Olímpico Brasileiro realizará assembleia para atualizar seu estatuto à nova legislação, que permite apenas uma reeleição das diretorias de instituições do esporte. Imagino que Carlos Nuzman e a cartolagem estejam rindo barbaridade!
Tarde, desgraçadamente tarde, chega essa mudança que soa como “avanço”. O estrago está feito, senhores, e no bom português o buraco, há muito, é mais embaixo, e é aí que esses demolidores atuam sem constrangimento.
Riem os poderosos porque fizeram gato e sapato em suas gestões. “Gato” no bom sentido, claro! Mas o que construíram, principalmente nos últimos 10 anos, quando tivemos um Ministério exclusivo para o esporte? Destruíram, antes, como fizeram com o Velódromo do Pan. E o que dizer do Engenhão, estádio de sete anos mas já fechado para reformas em plena Copa do Mundo?
Assim, esses senhores zombaram irônica e debochadamente dos ministros do Esporte de ontem e de hoje. Foram cúmplices da irresponsabilidade por nãotermos um plano e esporte para o país. Mas Nuzman sempre agradou essa gente com placas de prata enormes, textos brilhantes e aplausos de numerosas plateias.
Com esses brindes de ocasião, o eterno presidente do COB domina ministros e assessores. Mudar o estatuto nada mais é do que incentivar o riso largo, pois os problemas são outros e muito mais graves. Corrupção, por exemplo. E quem combate essa praga?
Vejam o caso do basquete. Eliminado da seletiva para o Mundial, o presidente da CBB, Carlos Nunes, pagará R$ 3 milhões pelo “convite”! Convite ou compra de vaga?
E de onde sairá essa grana? Não esquecendo que se trata de uma confederação que já foi acionada judicialmente para pagar suas contas. Mesmo com essa “folha exemplar” arrancou R$ 13 milhões do Ministério do Esporte. Sinceramente, mas não é um bom motivo para que os poderosos continuem rindo?
E o que dizer do presidente da Confederação de Tênis, que desviou R$ 400 mil de um convênio público e enfiou notas fiscais frias na prestação de contas? Até hoje não se sabe quem ficou com essa grana, mas o distinto senhor está aí e vai se candidatar a mais oito anos de mandato e, como os demais, com salário garantido saindo dos cofres públicos.
E qual a liderança esportiva nacional enfrenta esses senhores do sorriso largo? Formamos atletas capazes de se indignarem com os abusos do poder e reagir diante do deboche olímpico? Ou silenciaram na expectativa do pagamento da próxima bolsa?
Por tudo isso, transcrevo os primeiros versos de uma exemplar poesia de Affonso Romano de Sant´Anna, escrita na transição do regime militar para o democrático, mas que se adapta à ditadura da gestão do esporte. Diz assim:
“De que riem os poderosos?
Tão gordos e melosos?
Tão cientes e ociosos?
Tão eternos e onerosos?
Porque riem atrozes
Como olímpicos algozes,
Enfiando em nossos tímpanos
Seus alaridos e vozes?
Leia a poesia completa, vale a pena e tem tudo a ver com o momento do nosso esporte
Para entender mais sobre o mandato dos cartolas sugiro a leitura do texto escrito pelo advogado Alberto Murray Neto. Aqui