A Fifa nunca mais será a mesma depois da Copa no Brasil
José Cruz
Na sede da Fifa, semana passada, a presidente Dilma Rousseff afirmou que ''estádios são obras relativamente simples”. Disse, também, que “haverá todo o empenho para ser a Copa das copas. Isso inclui estádios, aeroportos, portos”.
Essas duas curtas manifestações exibem o tom da ilusão e de como nossa presidente está distante da realidade de eventos esportivos gigantescos e bilionários. Impressiona, também, como seus assessores não a atualizaram sobre o que de fato ocorre nessa trágica preparação brasileira.
Para um país que têm empreiteiras construindo até hidrelétricas, mundo afora, de fato construir estádios é uma barbada. Difícil é fazer isso aqui, principalmente devido à corrupção endêmica e à falta de um órgão gestor central para a Copa do Mundo, eficiente e confiável. Não temos isso.
Ao afirmar que “haverá todo empenho” para realizar a Copa, Dilma Rousseff revela como o governo tratou com desleixo essa questão. Empenho, agora? Conquistamos a sede dos dois maiores eventos mundiais sem elaborar um único plano de formação de atletas, sem que se tenha o esporte como parceiro da atividade escolar, sem vincular o esporte a projetos sociais efetivos e não de caráter emergencial e apelo político. Nada! O material se sobrepôs ao humano, porque daí que sai o lucro superfaturado de muitos.
Aqui, é tão fácil construir estádios quanto destruí-los. Foi o que o próprio governo de Dilma Rousseff permitiu com o velódromo do Rio de Janeiro. E o que dizer do Engenhão, inaugurado há sete anos, mas já inativo, às vésperas da Copa do Mundo? E o estádio de atletismo Célio de Barros, abandonado?
Impressiona que todos os envolvidos nessas barbaridades destrutivas, recheadas de superfaturamentos e corrupção, continuem em seus cargos, tomando decisões e intimamente vinculados à preparação da Copa e Jogos Olímpicos.
Assim como Câmara e Senado, omissos diante dos confrontos sociais. O Legislativo é cúmplice, sim, dos saques oficiais, como as isenções fiscais concedidas à poderosa Fifa. As excelências agiram assim na esperança de receberem convites para os badalados camarotes VIPs da Copa. O órgão fiscalizador transformou-se em cúmplice da bandalheira.
Movimento de rua
Cresce na rede social o movimento “não vai ter Copa”. E não faltam motivos para essa ameaça indignada da população.
O então presidente Lula usou a Copa como apelo para fazer crescer a popularidade de seu partido. Afinal, futebol é a paixão brasileira. Mas o desleixo como o assunto foi tratado inverteu o interesse dos torcedores. Até porque, ir a um jogo do Mundial é exclusivo para quem pode pagar muito por um ingresso de luxo.
O próprio ministro Aldo Rebelo antecipou isso numa entrevista à revista Veja, no ano passado:
“Os novos estádios não foram feitos para o torcedor comum. Em dias de jogos da Copa esses torcedores não vão passar nem na frente deles”.
A irresponsabilidade de nossos dirigentes chegou a esse ponto. Portanto, aguentem as manifestações. Elas chegaram e vão crescer, enquanto a polícia já realiza operação tartaruga anunciando que está disposta a parar. E o futebol, quem diria, está apressando o caos em tempo que seria de muita festa.
A Fifa nunca mais será a mesma depois da Copa no Brasil.