Quem é o “mensaleiro” do esporte?
José Cruz
O ineditismo das prisões no processo do mensalão sugere imaginar que, um dia, os corruptos do esporte também serão julgados, no mínimo!
Insisto, sempre que oportuno, no caso da Confederação de Tênis, cujo presidente, Jorge Rosa Lacerda, prestou contas de R$ 650 mil ao Ministério do Esporte apresentando notas frias. O valor é irrisório, diante dos roubos que acompanhamos, mas houve o roubo, o saque explícito.
Esse, não foi caso único, mas um que o próprio Ministério do Esporte confirmou a fraude e determinou devolução da grana aos cofres públicos. Ao apresentar notas fiscais de despesas não realizadas, Jorge Rosa sugere que se indague: quem ficou com a grana dessa operação fraudada? Quem?
Esse processo corre em segredo de Justiça, em São Paulo. Por ordem do Ministério Público a Polícia Federal enveredou por outas denúncias de suspeitas de lavagem de dinheiro, através de contas laranjas, na mesma gestão de Jorge Rosa.
Há centenas de denúncias, mas a falta de estrutura funcional no Ministério do Esporte impede operações sistemáticas junto aos projetos que recebem dinheiro daquele cofre.
No Ministério do Esporte não existe equipe de fiscalização e isso é um incentivo ao gestor para fraudar e se beneficiar do dinheiro recebido. O caso do Segundo Tempo, que envolveu, inclusive, o ex-ministro Agnelo Queiroz, em processo ainda tramitando, é exemplo clássico.
No Ministério do Esporte, quando precisam de uma investigação escolhem um servidor para uma “visita”, mas sem qualquer experiência no trabalho ou seguindo procedimento técnico específico. Nada!
No setor de prestação de contas do ME, 10 técnicos analisam milhares de documentos. Desses, apenas cinco são servidores públicos. Dois são terceirizados, o que é proibido por lei, mas estão lá. E três ocupam cargos de confiança (DAS), ou seja, jamais vão contraria o superior para não perder a gorda gratificação.
E assim é em outras pastas, independentemente do partido que ali domina. Com estrutura frágil, torna-se fácil o corruptor agir.
O esporte, que no último ciclo olímpico foi contemplado com R$ 6 bilhões dos cofres públicos, ainda carece de suma séria investigação sobre a aplicação dos seus recursos. O que temos são auditorias isoladas do TCU e da CGU, mais por conta das denúncias que recebem. Sem uma fiscalização eficiente e sistemática o espaço continua escancarado para a ação dos espertos. O exemplo das contas suspeitas do Pan 2007 é clássico neste sentido.