1000 dias olímpicos: “rouba mas faz”
José Cruz
Coincidentemente, é neste dia simbólico da contagem regressiva para os 1000 dias da abertura dos Jogos Rio 2016 que repercute a crítica da presidente Dilma Rousseff ao TCU (Tribunal de Contas da União).
“Eu acho um absurdo paralisar obras”, disse Dilma, no Rio Grande do Sul, referindo-se às recomendações TCU para suspender projetos suspeitos de irregularidades, Brasil afora. Pode-se ler, também, “suspeitos de corrupção”, como demonstram, por exemplo, investigações nas obras para a Copa do Mundo.
O Brasil da era PT “descobriu” que esporte não só provoca emoções como incentiva o lucro e supervaloriza o gasto público. Mas não “descobriu”, ainda, que a transparência, marca registrada do partido em longínquas campanhas, é indispensável para que o pódio esportivo seja, também, de resultados econômicos efetivos. A farta corrupção na preparação dos megaeventos está documentada pelos órgãos de fiscalização do próprio governo em infindáveis e já desacreditados processos, diante do depoimento de Dilma.
Seis anos depois, ainda tramitam por salas e sessões do TCU volumosas investigações dos Jogos Pan-Americanos 2007. Até hoje ninguém apresentou um balanço convincente sobre aquele desperdício de R$ 4 bilhões aos cofres do governo, evento sem legado e por isso de triste memória.
O Ministério do Esporte publicou um florido relatório sobre o Pan, onde elogia sua própria gestão. Mas nada que se dê crédito, pois os desmandos registrados pelo TCU além do descaso na execução das obras foram explícitos. A destruição do velódromo, a eliminação do registro internacional do laboratório antidoping, Ladetec, a falta de políticas públicas integradas do esporte, saúde e educação em comunidades carentes são exemplos desse desatino público.
É nesse panorama em que se festeja os 1000 dias que a presidente Dilma sugere que o TCU limite suas opiniões sobre paralisações de obras suspeitas de superfaturamento.
Os empreiteiros, maiores contribuintes de campanhas políticas, devem estar rindo largamente e esfregando as mãos, diante da manifestação oficial que é um estímulo ao “rouba mas faz”.
Que venham os Jogos!