Ministério do Esporte toma drible da vaca da cartolagem
José Cruz
O secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Antônio Nascimento, contestou minha mensagem de terça-feira, quando afirmei que o governo desapareceu do debate com os clubes, na Comissão de Turismo e Desporto, sobre o histórico calote de R$ 4,5 bilhões aos fisco.
No dia seguinte, na frente de outros jornalistas, Antônio Nascimento disse, indignado, que as negociações continuavam e o Ministério liderava o diálogo. E que a proposta apresentada pela CBF para acertar as contas era a do próprio governo, que previa contrapartida dos clubes abrindo espaços esportivos para projetos sociais e comunitários.
Realidade
Agora há pouco, o companheiro Vinicius Konchinski, do UOL, no Rio de Janeiro publicou reportagem com Antônio Nascimento. O governante afirmou que o governo acatou o pedido para parcelamento das dívidas, mas sem retorno sócio-esportivo.
E explicou:
“Se os clubes acham que não é hora de fazer a troca de dívidas, vamos investir numa espécie de Refis (programa de recuperação fiscal). Não vamos insistir se eles não acham interessante.”
Então está claríssimo, houve recuo mesmo! Ou seja, a cartolagem deu um drible espetacular no ministério e ditou a forma como quer pagar a dívida.
A notícia de Vinícius está aqui.
Este é o quarto ou quinto refinanciamento da dívida, além da Timemania, para tentar receber um débito de 30 anos!!! E ninguém honrou o que assinou, porque a gestão do futebol em geral é assim mesmo, ilusória, falsa.
A “novidade” neste inacreditável diálogo é o reaparecimento de Eurico Miranda na cena de negociações. Logo ele, ex-presidente do Vasco que também ajudou a dar o calote histórico.
Pior
Eurico Miranda debochou dos deputados e do Governo Federal ao explicar, em bom som – porque ele grita, mesmo! – como foi praticado o calote.
“Toda dívida fiscal é problema de gestão. Paga-se a folha dos jogadores e funcionários, desconta-se o INSS e o Imposto de Renda, mas não se recolhe (aos cofres públicos). Não adianta mascarar.”
Entenderam? Isso é confissão de dívida e de roubo!!! Mas Eurico não foi contestado por ninguém!!! Nem pela mesa, onde estavam os credores, nem pelas excelências, os deputados.
O eterno cartola confessou o calote e deixou claro que alguém ficou com a grana que descontaram na folha dos funcionários. E é essa dívida que se acumulou com juros, multas e correções que as excelências do futebol agora vão parcelar por 100 anos ou 200 anos, com a plena concordância do governo, credor bonzinho…
A proposta da Timemania era para pagar a dívida em 60 meses. No plenário, o então presidente do Flamengo, Márcio Braga, conseguiu ampliar o prazo para 120 meses. E me confidenciou naquela algazarra de votação: “Sabe quando os clubes vão pagar essa dívida? Nunca!”
É nesse panorama – que conheço há 33 anos – que o secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Antônio Nascimento, manifesta-se indignado com a verdade que escrevi.
Quando criticou minha mensagem, o secretário já sabia que a regra estava costurada com os cartolas há 20 dias, pois ele revelou isso na entrevista ao companheiro Vinícius.
Então, o secretário de Aldo Rebelo fez encenação para não passar por irresponsável, por ter faltado ao debate no local adequado, a Câmara, na terça-feira.
Sinceramente, querem nos enlouquecer…