O legado da destruição esportiva
José Cruz
Enquanto os governos federal, estaduais e municipais liberam bilhões de reais para obras e mais obras dos megaeventos, a estrutura do esporte público brasileiro vai pelo ralo.
A mais nova agressão ao patrimônio do esporte é o anúncio da venda do Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Parque do Ibirapuera, inaugurado há 55 anos.
É um dos maiores complexos esportivos da América Latina que está à venda por R$ 168 milhões.
O conjunto tem, entre outros espaços, o Ginásio do Ibirapuera, o Estádio Ícaro de Castro Mello, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, o Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro e o Palácio do Judô.
Na pesquisa que realizei, constatei que há sete anos o mesmo governador de agora, Geraldo Alckmin, tentou vender o espaço. A tentativa foi frustrada graças à orientação contrária do então secretário de Esportes, Lars Grael.
Agora o mesmo governo anuncia a venda da valorizada e privilegiada área, quando deveria incentivar a ocupação daquele espaço em tempo integral, com programas para crianças e adolescentes.
O desmanche também ocorre no Rio de Janeiro, com o estádio do Remo, na Lagoa, prioritariamente transformado para o comércio e lazer.
A pista de atletismo vai virar estacionamento do Maracanã.
E vão demolir o velódromo para construir outro…
É o legado esportivo da destruição.
Protesto
A história do Conjunto Esportivo do Ibirapuera também é jogada no lixo. Quem conta é o advogado paulista, Alberto Murray Neto, que liberou a correspondência ao chefe de gabinete da Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo.
Observem como apagam os nomes dos que construíram aquele espaço substituindo-os pelos dos políticos de agora.
”Prezado Coronel Luiz Carlos
Fui hoje ao Constâncio Vaz Guimarães. Aproveitei para ver as reformas, que estão ficando excelentes.
Verifiquei, entretanto, que à exceção da piscina, foram retiradas do Ginásio e da pista as respectivas placas de inauguração daquele espaços. Estavam fixadas na parede, ao lado da entrada da tribuna de honra do ginásio e da piscina.
Nas placas constam o nome de meu avô, Sylvio de Magalhães Padilha, na época o diretor de esportes e educação física do Estado.
Na placa da pista consta, ainda, o nome do meu tio Pedro, então Secretário de Esportes. São placas de bronze, discretas, mas que contém a história e, inclusive, as datas de inauguração. Vi que está colocada, logo à frente da pista, nova placa, grande, com o nome do Governador Alckmin e do então Secretário Dr. Pagura.
Estou tomando a liberdade de, respeitosamente, solicitar o seu empenho para que as placas anteriores sejam recolocadas em seus lugares.
Nosso país já é tão sem memória de forma que, quando possível, acho que devemos preservá-la. Meu avô era uma pessoa discreta e desprovida de vaidades. Mas em um livro ele me escreveu uma dedicatória em que disse ''quero que Você seja a herança que deixarei do esporte.''
Por isso sinto-me um pouco obrigado a manter viva essa herança. Acho que o Constâncio é, a bem da verdade, uma herança muito mais significativa do que eu. Por isso tudo tenho o atrevimento de lhe encaminhar esse pedido.
Obrigado pela atenção e desculpe-me pelo atrevimento, mais uma vez.
Abraço,
Alberto Murray Neto”.
Entenderam?
Primeiro apagam a história. Depois vendem e, finalmente, virá a detruição para que o setor imobiliário ali implante o ''progresso''…
Já vimos este filme e é exatamente assim. Mas somos um país olímpico.
http://www.selt.sp.gov.br/constancio/
http://blogdojuca.uol.com.br/2012/11/governo-paulista-quer-vender-o-ginasio-do-ibirapuera/