Governo trabalha para evitar prejuízo olímpico
José Cruz
Uma equipe de especialistas do governo federal já trabalha na projeção de receitas e despesas dos Jogos Olímpicos 2016 para evitar a repetição do derrame de dinheiro ocorrido no Pan 2007, quando a conta chegou a R$ 3,4 bilhões.
Preocupação com tanta antecedência faz sentido: prejuízos, inclusive do Comitê Organizador dos Jogos, serão cobertos com dinheiro público.
Exigência
A medida extrema está no artigo 15 da Lei 12.035/2009 (que instituiu o Ato Olímpico). Em outras palavras:
“O governo federal destinará recursos para cobrir eventuais déficits operacionais do Comitê Organizador dos Jogos''.
Da mesma forma na Copa do Mundo: a Lei Geral da Copa resguarda o principal promotor (Fifa), de possíveis déficits. Nada de imposições, mas regras do jogo que o governo brasileiro se submeteu ao aceitar receber os bilionários eventos – Copa do Mundo, Olimpíada e Paraolimpíada.
Super-ministro
Quem lidera o trabalho pelo governo brasileiro é o presidente da Autoridade Pública Olímpica, Márcio Fortes, um especialista em gestão pública, com passagem por vários órgãos federais, entre eles o Ministério da Agricultura, Minas e Energia e Cidades.
A APO é uma empresa com duração limitada, até 2018, que coordena o planejamento integrado dos investimentos públicos nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal. Faltou isso no Pan 2007.
“Independentemente de quem estiver governando o município, o estado ou o país a APO dará continuidade ao trabalho de preparação do Rio aos Jogos 2016”, explicou Márcio Fortes.
Sorridente com a proximidade do título de seu Fluminense, o carioca Márcio Fortes comanda uma ainda pequena equipe de funcionários, numa área central do Rio de Janeiro,cedida pelo Banco do Brasil.
No total, dispõe de 180 cargos, mas ainda não chegou aos 100 ocupados.
São profissionais especializados em todos os segmentos que envolvem a Olimpíada, atualmente concentrados em 18 frentes de trabalho: desde relações internacionais até à entrada de cavalos de competição, quarentena dos animais, segurança, telecomunicações, meio ambiente, saúde, desapropriações, energia, saneamento, revitalização portuária, instalações esportivas, hotelaria e por aí vai …
“Diga uma palavra e, com certeza, ela estará envolvida com um segmento olímpico que estamos trabalhando”, desafia Márcio Fortes para demonstrar o gigantismo do evento.
É por isso que a APO se assemelha a um super-ministério, mas com prazo limitado de funcionamento:
“Meu mandato termina em 2015. Não sei se em 2016 estarei na abertura dos Jogos”, brinca Márcio Fortes, mas demonstrando a realidade. A indicação para o cargo é da presidência da República e a homologação é do Senado Federal, após sabatina. Como em 2014 teremos eleição presidencial e em política tudo é possível…
Lucros e prejuízos
Voltarei a este assunto, pois a conversa com Márcio Fortes foi longa e há outros temas importantes como orçamento.
Mas me chamou atenção esse trabalho da APO para prevenir possíveis prejuízos dos Jogos a fim de que o governo não pague a conta de quem tem muito lucro, no caso o organizador maior, o Comitê Olímpico Internacional.
É claro que ficou para a história o tempo dos “prejuízos olímpicos”. Hoje, como tenho escrito, uma coisa são os Jogos, as disputas entre equipes e atletas e, outra, são os negócios.
Os Jogos do Rio, por exemplo, já superaram as projeções iniciais de patrocinadores masters: Claro, Embratel, Bradesco, Nissan e Bradesco Seguros. E virão mais.
Mas, na dúvida, o governo tomou a precaução de trabalhar cedo para evitar quebra de caixa e, além da falta de legado, como ocorreu no Pan 2007, também o cofre público pague a conta.