Jogos Olímpicos do Rio: o que esperar do Brasil em 2016?
José Cruz
Wilson Teixeira Soares
O que esperar dos atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016? Os que não se ufanam estão a desconfiar que pouco, muito pouco. Como está acontecendo nos Jogos de Londres. Encerrada a primeira semana de competições, o Brasil encontrava-se em 27O lugar, atrás de países como o Cazaquistão. Mas de acordo com a aritmética ilusionista dos que comandam o Comitê Olímpico Brasileiro desde antes do nascimento de Matusalém, ao cabo do evento terá embolsado exatas 15 medalhas.
Respeitado esse número mágico, está, é evidente, complexo para a delegação brasileira submeter-se ao vaticínio. Se cumprida a primeira metade da competição os brasileiros conseguiram faturar apenas seis medalhas, o que significa menos de uma a cada dia de disputas, encerrados os Jogos – e caso os atletas brasileiros não melhorem seu rendimento – talvez sejam conquistadas doze medalhas.
É possível, no entanto, que esse número chegue a 13. Talentos esportivos que conseguem vencer todas as dificuldades no Brasil para se tornarem atletas de alto rendimento sempre aparecem. Em qualquer país do mundo. Não é, em absoluto, uma especialidade brasileira. Que desde que o mundo é redondo (o mundo só se tornou redondo depois que Galileu provou a esfericidade do planeta; antes, para a humanidade, era plano) comemora sucessos episódicos, como os de Adhemar Ferreira da Silva, apenas para citar um exemplo.
Há alguns anos, o choro dos que dirigem, entra década sai década, as entidades de administração do esporte era de que o esporte no Brasil carecia de apoio, de recursos, de verbas, de dinheiro. Essa carência, hoje, inexiste. As burras do Comitê Olímpico Brasileiro estão cheias, fornidas pela Lei Piva e também pela Lei de Incentivo ao Esporte. Sem falar nos recursos das estatais. E quem se der ao trabalho de visitar a sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, constatará que o comitê paira no primeiro mundo.
Por que, então, o Brasil, em matéria de esporte de alto nível, de alto rendimento, não se torna uma potência? Talentos motores para todos as modalidades, existem. E cabedal científico, em termos de preparação atlética, medicina e biomecânica, igualmente, está à disposição de quem queira investir com sensibilidade, discernimento e objetividade. A equipe inglesa Sky, de ciclismo, que deu ao inglês Bradley Wiggins o título de campeão do Tour de France deste ano, fez o dever de casa e um britânico, pela primeira vez na história do mais famoso giro ciclístico do mundo, ganhou a prova.
Identificar talentos motores e burilá-los ao longo de 12 anos exige mais do que discursos, mais do que as mesmas declarações de sempre de que o desempenho do Brasil nos Jogos recém-encerrados foi a melhor da história. Exige planejamento de longo prazo. E o abandono do discurso fácil de que à falta de medalhas os atletas brasileiros, apesar de não terem conseguido subir ao pódio, abiscoitaram muitos diplomas na qualidade de finalistas.
Descobrir talentos motores implica a existência de uma política esportiva capaz de realizar um trabalho de longo curso, ininterrupto, que independa de nomes, de favores, de eternização nos cargos. Mas cumprir tal tarefa, em apenas quatro anos é impossível.
Cada casa tem uso, cada roca tem seu fuso. Investir na base deveria ter sido a solução para o Brasil, em 2016, nos Jogos do Rio, apresentar resultados de primeiro mundo? Sim, essa é uma necessidade indiscutível. Mais importante do que realizar investimentos regulares na base, no entanto, é democratizar, com urgência, o acesso de todas as crianças à prática do esporte.
Para tanto, é imprescindível modificar a Lei das Diretrizes e Bases da Educação, a fim de estabelecer neste diploma legal que a prática do esporte, no contra-turno escolar, é obrigatória até os 18 anos de idade. Talentos que, uma vez identificados, devem ser sujeitos das necessárias condições para que possam evoluir. Oferta que tem de abranger desde o acesso à educação formal à especialização na modalidade adequada ao talento motor de cada um.
É fato concreto, no entanto, que pedagogos inúmeros são avessos à prática do esporte que deságua em competição na escola, por entenderem que estimular crianças a competir é um instrumento contraproducente em termos educacionais.
O ser humano tem, no entanto, uma disposição natural para a competição. Junte-se um bando de crianças, divida-se esse bando em dois times de rua, bote-se uma bola de meia à disposição e o racha tem início. Só quem nunca jogou uma pelada na vida desconhece que um time, sem camisa, sem tênis, só de calção, vai se matar para ganhar do outro. E faturada a vitória, a gozação acontecerá. Sempre foi assim e sempre será.
Faltam, hoje, quatro anos para os Jogos Rio 2016. Um novo ciclo olímpico não começará tão logo seja apagada a chama que queima sob o céu de Londres. Já teve início nos centros esportivos das grandes potências.
Ao longo desse ciclo, acontecerão os Jogos Panamericanos, em 2015. E, como sempre, os atletas brasileiros faturarão muitas medalhas, como ganharam nas últimas edições dos Pan. O que levará o torcedor brasileiro a acreditar que nossos atletas descobrirão minas de ouro em 2016.
Os que, com a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo, analisarem os resultados colhidos pelo Brasil em Londres e avaliarem os investimentos na descoberta de talentos motores, no esporte de base e, também, a política de compadrio do Comitê Olímpico Brasileiro na distribuição dos fartos recursos que o Estado brasileiro destina ao esporte, não terão razão para serem otimistas.
Mas uma coisa é certa: o discurso apologético, ainda que infundado, dos sempiternos dirigentes esportivos brasileiros prognosticará sucessos e vitórias retumbantes. Que, como está a acontecer em Londres, não acontecerão.
Wilson Teixeira Soares, jornalista, ciclista, membro do grupo ciclístico Coroas do Cerrado, ex-assessor especial do Ministério do Esporte e Turismo, ex-coordenador do Conselho Nacional do Esporte.