Amor e confiança
José Cruz
O Senhor Ricardo Teixeira, que ainda colabora com a CBF, ganhando um salarinho para ser conselheiro do Marín, tinha dito algo mui justo após o vexame em África-2010, quando admitiu precisar “trazer a Seleção para perto do povo”.
Bernardo Scartezini
Do Correio Braziliense
Como fazer para a gente gostar de novo da Seleção Brasileira de futebol se ela carrega no peito o escudo da CBF – se ela quase sempre joga em Londres ou em Nova Jersey?
Estava a penar nisso. Enquanto aqui e ali éramos bombardeados pelo revival de 1982. Trinta anos na semana que passou.
Algumas derrotas são mais marcantes do que certas vitórias. Daí o fascínio pelos fracassos de 1950 e 1982. Aquela tarde miserável no Sarriá lançou a Seleção num turvo pragmatismo que envenenou as copas seguintes.
Nem sequer a conquista de 1994 conseguiu sublimá-lo – a lembrar das imortais palavras do capitão Dunga aos repórteres ali presentes (e de certa forma ao povo brasileiro que assistia a tudo) ao levantar a taça: “Fotografa essa p*, seus FDP”!
Já pensei que o problema da Seleção Brasileira fosse seus jogadores. Por conta de rancorosos como o amigo Dunga, ou de gente puramente ruim de bola como tantos outros, é inegável que a amerelinha perdeu muito de seu carisma, de seu charme.
Já parei de ver partidas na Globo e, mesmo diante desta geração de talento – Neymar, Ganso, Oscar, Pato, Lucas etc –, percebo que a rapaziada (os torcedores e talvez até os próprios atletas) se importa cada vez menos com o time nacional.
Quando eu escrevi, lá em cima, sobre a gente voltar a gostar da Seleção, na verdade, exagerei um bocadinho: já seria bem bacana se a gente ao menos se importasse com ela.
Pensamos primeiro nos nossos times, queremos bem aos nossos clubes, e a Seleção Brasileira meio que virou a Seleção Brasileira S.A. Quem se importa com uma firma?
Até podemos perdoar o mercantilismo em nossos clubes, mas não o perdoamos na Seleção.
O próprio presidente da CBF, José Maria Marín, esse sujeito de notório interesse pelo desporto, corrobora o sentimento geral ao sacar Ney Franco da delegação olímpica às vésperas dos Jogos e mandá-lo para o São Paulo – para o “seu” clube.
O Senhor Ricardo Teixeira, que ainda colabora com a CBF, ganhando um salarinho para ser conselheiro do Marín, tinha dito algo mui justo após o vexame em África-2010, quando admitiu precisar “trazer a Seleção para perto do povo”.
Disse isso por pensar ($$) na Copa de 2014. Claro. De toda forma, esse me pareceu um gesto oportuno para uma Seleção em constante turnê pelo mundo.
Pois bem, dois anos de passaram, e o que aconteceu? O time continua longe. À exceção de um amistoso com a Argentina cheio de jogadores medíocres de nossos clubes em vez de jogadores medíocres de clubes ucranianos.
Quem sabe na Copa de 2014, com suas arenas megalômanas e com o Galvão Bueno entusiasmado, nossa Seleção volte a ser contagiante. Ou quem sabe uma derrota na final, dentro do recém-inaugurado Ex-Maracanã, reconcilie a todos.
“If it´s not Love/ Then it´s the bomb, the bomb, the bomb, the bomb, the bomb / That will bring us together” – (Setephen Morrissey, The Smiths)
“Se não for o amor, quem sabe a bomba nos unirá”.
* Publicado no Correio Brasiliense em 12 de julho de 2012