Ronaldinho e Dona Patrícia, baita entrevero…
José Cruz
Em 2006 passei uma semana em Porto Alegre pesquisando, investigando, perguntando, descobrindo personagens importantes e visitando locais históricos que contribuíram para produzir uma reportagem-perfil sobre Ronaldinho Gaúcho.
Foi um trabalho de fôlego, ao lado do fotógrafo Ronaldo de Oliveira. Produzimos cinco páginas para o Correio Braziliense com histórias emocionantes contadas por quem esteve perto e influenciou na transformação do “guri” em craque.
Ouvimos ex-coleguinhas de clube do tempo em que, em dias de chuva e sem poder ir para o “Campo do Sabiá”, Ronaldinho brincava driblando o cachorro Bombom e cadeiras enfileiradas no corredor de uma velha casa. A bola era seu único e inseparável prazer e qualquer obstáculo o adversário a ser superado.
A última personagem que ouvimos para a reportagem foi Dona Minguelina.
– Mas, afinal, dona Miguelina, Ronaldinho não gostava mesmo de estudar?
“Gostava sim. Ele não era muito aplicado, mas estudava” – o coração de mãe é enorme, mesmo, imaginei, lembrando as entrevistas das professoras que tiveram Ronaldinho em sala de aula e contaram, rindo, histórias do moleque.
“Às vezes eu perguntava para ele como tinha sido o dia na escola, e a resposta era sempre a mesma”, contou dona Miguelina, revelando:
– Ah, mamãe, na escola eu não fui bem, mas no recreio marquei cinco gols…”
Isso demonstra que o futebol esteve sempre na rotina desse craque que, agora, transformou-se em assunto polêmico num dos principais patrimônios do futebol brasileiro, o Clube de Regatas do Flamengo.
Show
Reportagem à parte, não há com esquecer a liderança de Ronaldinho naquela virada sobre o Santos (4 x 5) em julho do ano passado, pelo Brasileirão. Jogo em que o Gaúcho e Neymar se encarregaram de deixar o futebol mais bonito, de encher os olhos.
foto: Fla Imagem
O amor ''foi'' lindo
Passou o tempo. Quase um ano. Vieram as denúncias. De um lado, a falta de pagamento de salários; de outro, o relaxamento nos treinos e a desmotivação nos jogos. O rompimento foi inevitável e a torcida não perdoa. Quer show. Como?
O que fica desse desenlace é a repetição da fragilidade nas relações trabalhistas de clubes profissionais, os compromissos milionários assumidos que não podem ser cumpridos e a ainda gestão amadora diante de patrimônios históricos, como o do Flamengo.
O desencontro de informações entre os diretores e presidenta Patrícia Amorim, neste episódio, evidência desleixo no trato de assunto tão sério e que envolve muito dinheiro de parceiros.
A verdade sobre o que Ronaldinho cobra e o que o Flamengo deve só saberemos quando a Justiça entrar em campo e bater o martelo.
Se de um lado há queixas de prejuízo salarial, de outro há argumentos de que o craque faltou com a obrigação trabalhista. “Baita entrevero”, como se diz lá no Sul.
Certo é que ficamos privados das jogadas de um craque que, com o tempo, foi se afastando da bola e do clube, deixando nosso futebol mais pobre por aqui e alertando que a gestão profissional é tema inadiável na terra da Copa do Mundo.