Rio 2016: a base do esporte que se vire
José Cruz
Há poucos dias, o superintendente executivo do Comitê Olímpico, Marcos Vinícius, foi realista ao prever a meta de nossos atletas nos Jogos de Londres: repetir Pequim: 15 medalhas, por aí.
Disse mais: Com a escolha do Rio para receber os Jogos de 2016, o Comitê Olímpico passou a ter mais apoio do governo. Isto é, mais verba pública para o rendimento.
Isso ocorre de forma crescente desde 2001, quando surgiu a Lei Agnelo Piva. Depois, veio a Bolsa Atleta, a Lei de Incentivo e o próprio Ministério do Esporte, despejando grana em projetos e mais projetos.
E daí?
Daí que em apenas uma semana publiquei duas mensagens que contrastam com essa realidade:
1. jovens judocas – entre os quatro primeiros do país em suas respectivas categorias – pedindo dinheiro na rua para treinar no exterior com a Seleção Brasileira;
2. a carta da mãe de um esgrimista, contando como ele se habilitou para o Mundial, na Rússia, e ficou fora do planejamento das instituições formadoras, a Confederação e o Esporte Clube Pinheiros, no caso.
Confederação de Judô e o Clube Pinheiros explicaram os critérios que usam para beneficiar seus atletas. A conclusão é a seguinte: o dinheiro ainda é insuficiente para atender a todos com potencial para prosperar em várias modalidades, atletismo, tênis, natação etc.
Números
No ano passado o Ministério do Esporte destinou R$ 11 milhões para o rendimento de nove confederações; no mesmo período, o Pinheiros, por exemplo, captou R$ 9,9 milhões na Lei de Incentivo; outros R$ 8,5 milhões em 2010. Das loterias federais o COB recebeu R$ 153 milhões.
E temos mais de R$ 100 milhões de sete estatais – Banco do Brasil, Caixa, Correios, Eletrobras, Infraero, Petrobras e Casa da Moeda – também colocando verba em 20 modalidades.
Outras certezas: no país olímpico falta planejamento integrado; é enorme o distanciamento das confederações dos clubes para projetar as metas dos jovens atletas; a transparência no uso das verbas é mínima, e a forma como o Ministério do Esporte se comporta diante dessas realidades é caótica. De omissão, até.
Lendo notícias, relatórios e ouvindo gente envolvida no assunto fica claro que o dinheiro continua concentrado no atleta pronto, no que atingiu o nível olímpico. Com isso, a base briga para crescer. Depois, quando os campeões chegam ao topo os cartolas abrem o sorriso e se abraçam, como se tivessem sido, de fato, os responsáveis por suas carreiras.
Continuamos com dinheiro e perdidos no planejamento integrado. O desperdício da verba pública é evidente. E não é conversa de jornalista, pois na próxima semana comentarei como um projeto para desenvolver o hipismo se transformou num lamaçal de falcatruas.
É por aí.