Copa 2014: uma cachoeira de dinheiro
José Cruz
O artigo que Pedro Athayde assinou neste espaço – “Afinal, de quem é a Copa?” – revela a falta de participação do brasileiro no processo de preparação do evento.
Apaixonado pelo jogo da bola, o torcedor em geral quer ver as grandes seleções, os craques mais famosos, os clássicos internacionais, a bola rolar, em resumo.
Mas qual a participação da sociedade na organização da Copa no Brasil? Qual, por exemplo, a participação acadêmica, em seus vários segmentos do saber e da pesquisa, no planejamento ou execução do Mundial de 2014?
Enfim, estamos alheios e ausentes, porque é próprio dos organizadores, Fifa e CBF, não abrirem o jogo, literalmente.
A instituição “futebol” é fechada, mundo afora. Explora com saber o apelo da emoção do jogo e sugere incentivo à promoção social – de poucos. Mas esconde a própria organização, e, por isso, suspeita.
No Brasil
Nesse panorama, acredito que, mais cedo ou mais tarde, as denúncias de corrupção lideradas por Carlinhos Cachoeira vão bater no futebol. Aguardem. Essas instituições – jogo e corrupção – têm tudo a ver.
Principalmente diante da fragilidade do esquema de controle dos gastos públicos nessa fase preparatória à Copa 2014, ''cujo tamanho da conta só vamos conhecer em 2015'', como disse o jornalista Alexandre Guimarães, consultor legislativo do Senado Federal.
Há alguns meses, a corrupção ministerial dominava o noticiário podre. Sete ministros caíram. Depois, foi a vez de Ricardo Teixeira e João Havelange; hoje, é Carlinhos Cachoeira que determina os limites dos ousados esquemas de corrupção, de olho na ante-sala do Palácio do Planalto, de onde se aproximaria pela influência de politicos amigos, “confiáveis” do Poder.
Bastidores
No universo do futebol, parte do que estamos assistindo foi contado em dois históricos livros. O mais recente – ''Jogo Sujo'' – do escocês Andrew Jennings, sobre os bastidores da Fifa.
Porém, em 1998, o inglês David Yallop já traçava um perfil da Fifa e de João Havelange – o grande estruturador do futebol como negócio bilionário – numa publicação obrigatória para quem acompanha o assunto: ''Como eles roubaram o jogo – segredos e subterrâneos da Fifa''.
E tanto Yallop quanto Jennings não foram questionados em suas acusações. Nem sequer processados, o que dá credibilidade maior aos livros-denúncias.
Particularmente, incluo os relatórios das CPIs doFutebol, no Senado, e da CBF Nike, na Câmara, nessa preciosa prateleira histórica, que relata sobre o lado podre do futebol. Ambos foram produzidos com base em farta documentação oficial e chegaram às entranhas da sujeira do futebol brasileiro. Nem assim, provocaram ação de nossas autoridadades, da Justiça, em especial.
Enfim, após ler essas publicações é difícil ver um jogo de futebol com a mesma emoção de antes. Os clássicos e campeonatos, dos regionais ao Mundial, escondem interesses que escapam da emoção maior do torcedor. Interesses escondidos em rios de dinheiro. Ou cachoeira milionárias, como queiram.