Blog do José Cruz

Arquivo : março 2012

Rio 2016: patrocínios tornarão o Brasil potência olímpica?
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José Cruz

O jornalista Fernando Murad, da revista Meio & Mensagem, indagou:

Com o atual modelo de patrocínio esportivo o Brasil conseguirá se tornar uma potência olímpica nos médio e longo prazos?”

As opiniões – entre elas a minha, em resposta à gentileza da consulta – estão na edição deste mês. Aqui.

 


Governo do DF não pagou campeões da Corrida de Reis
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José Cruz

Apesar de o regulamento prever premiação “em até  30 minutos após o término do tempo oficial da prova”, até hoje, 38 dias depois, o governo do Distrito Federal ainda não pagou os valores aos campões da 42ª Corrida de Reis, realizada no dia 28 de janeiro.

No Distrito Federal, do governador Agnelo Queiroz, é onde se constrói um estádio de 75 mil lugares para a Copa 2014, que terá custo final acima de R$ 1 bilhão.

A premiação para este ano era de apenas R$ 47 mil, mas os valores não foram liberados até hoje, o que  contribui para desmoralizar o já desgastado governo de Agnelo Queiroz. A Corrida de Reis, em 10km e 5km, é a segunda mais antiga do país, atrás da tradicional São Silvestre.

Assessores da Secretaria de Esporte afirmaram que estão dentro do prazo de pagamento dos prêmios, pois aguardam algum” recurso de corredores que poderia anular o resultado.”

Mas isso não é comum nas demais tradicionais provas, Brasil afora. O prêmio é remuneração sagrada aos vencedores, pago imediatamente, no pódio.

No caso de Brasília, o próprio regulamento da Corrida de Reis previa:

Haverá cerimônia de premiação no pódio, em até 30 minutos após o término do tempo oficial da Prova previsto no regulamento”.  A prova foi homologada pela Federação Brasililense de Atletismo.

Portanto, estamos diante de um efetivo calote oficial. Corredores de rua, sabe-se bem, fazem dessa atividade uma forma de subsistência. Antes de se tornarem famosos ou olímpicos, os atletas passam por dificuldades enormes. É com o dinheiro de cachês e premiações que eles mantêm suas famílias, financiam treinos, viagens, academias, técnicos etc. Sem o direito a contusões — comuns nessa profissão — ou férias, pois deixar de correr significa ficar sem chances de prêmios e evoluções no ranking.

Além de demonstrar desordem administrativa do governo do Distrito Federal, a decisão de Agnelo Queiroz em retardar o pagamento dos prêmios é um desrespeito aos corredores de elite principalmente. O governo não consegue honrar o pagamento de R$ 47 mil e, mesmo assim, queria ser sede da Universíade. É um governo festeiro, sem noção de compromissos.


Copa 2014: TCU anuncia atrasos desde 2010…
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José Cruz

Dois anos antes de o Brasil ser ameaçado de tomar um chute no traseiro, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou que o atraso em várias frentes para a  Copa era uma realidade assustadora. Planejamento frágil e falta de cumprimento de prazos, principalmente.

Relatórios de 2010 do ministro Valmir Campelo, que é o relator do Tribunal para o Assunto Copa, identificaram “falhas nas ações gerenciais do Ministério do Esporte” – onde está o Comitê Gestor da Copa.  O mais recente documento do gênero, de janeiro, volta ao assunto.

 Matriz de responsabilidade

Um dos documentos básicos de acompanhamento é a matriz de responsabilidades, constituída de três ciclos.

Cada ciclo tem uma matriz de responsabilidade, onde estão definidos os compromissos de cada parceiro: União, Estados e Municípios, assim como os valores a serem investidos e a origem do dinheiro.

Desses três, apenas o primeiro ciclo está concluído e em execução. É o ciclo que trata dos estádios, mobilidade urbana, portos e aeroportos.

Os outros dois ciclos ainda não têm matriz de responsabilidade e os prazos de apresentação das mesmas se esgotaram, segundo o TCU.

“… essa situação põe em xeque o necessário dimensionamento das medidas ainda faltantes para a viabilização da Copa”, diz um relatório do Tribunal, de 2011.

A matriz de responsabilidade do Segundo Ciclo, por exemplo, deveria ter sido concluído em 2011. No entanto, está “em discussão”

Em razão disso, o TCU determinou ainda ao Ministério do Esporte que encaminhasse, até 30/7/2011 – ainda quando Orlando Silva era ministro –, relação contendo a descrição das ações do segundo ciclo de planejamento do mundial, com a especificação das etapas, valores e responsáveis e os respectivos cronogramas das ações.

A determinação ainda não foi cumprida, conforme nos revela o portal do Ministério do Esporte

Ciclos de planejamento para a Copa

 1º CICLO

Projetos de infraestrutura – 2009-2010

Definição de projetos na Matriz de Responsabilidades:

12 estádios

50 em mobilidade urbana

25 em 13 aeroportos

7 em portos

 2º CICLO – Em discussão

Projetos de infraestrutura de suportes e serviços – 2010-2011

Segurança

Infraestrutura turística

Telecomunicações e TI

Energia

Saúde

Sustentabilidade ambiental

Promoção e comunicação do País

3º CICLO – a serem discutidos

Operação e ações específicas – 2011-2013

Malha aérea, operação aeroportuária e portuária

Transporte e mobilidade urbana

Fornecimento de energia

Saúde, prevenção e pronto-socorro

Estruturas temporárias para a Copa

 Enfim…

Diante disso, a Fifa protestou veemente através de Jèrome Valcke.

O cartola mal-educado tem razão em cobrar eficiência no trabalho que se arrasta e assusta pela morosidade. Mas não da forma como se manifestou.

Há formas na diplomacia entre nações  – mesmo que rígidas –  para exigir o cumprimento de compromissos em parcerias, como essa entre o Brasil e a Fifa.


Copa 2014: reação enérgica e rigorosa. Parabéns, Ministro. Mas…
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José Cruz

Ágil, rigorosa e enérgica a decisão do governo brasileiro, via ministro do Esporte, Aldo Rebelo, de descaracterizar Jèrome Valcke com interlocutor da Fifa para assuntos da Copa, no Brasil.

Se já havia desconfianças de abusos da Fifa, com exigências que “humilhavam a soberania nacional”, como dizem alguns parlamentares, com essa declaração de que “os organizadores (da Copa) merecem um chute no traseiro”, chega-se ao extremo das relações institucionais.

A situação agrava o diálogo e os problemas de preparação da Copa. Mas a citação desse senhor é agressão que repudiamos. E por vir de uma pessoa com autoridade internacional no esporte demonstra bem o nível desrespeitoso da instituição que cuida do futebol mundial.

Realidade

Está certo que os atrasos em várias frentes são evidentes, ao contrário da transparência dos gastos públicos, cada vez mais escondidos.

Tudo isso incomoda e preocupa os senhores da Fifa, que têm contratos comerciais e cronogramas a cumprir, e não vêem as ações avançarem como o previsto.

A propósito, até hoje não conhecemos a matriz de responsabilidade do segundo e terceiro ciclos – o primeiro trata dos estádios, aeroportos, hotéis e mobilidade urbana.

Os demais ciclos deverão definir quem será responsável por investimentos na segurança, saúde, turismo, telecomunicações etc.  Não temos essas definições a um ano e pouco da Copa das Confederações.

Nem por isso o cartola da Fifa pode se expressar de forma pejorativa, baixa e repudiável.

Esse não é o nível de diálogo entre governos e instituições parceiras do esporte, onde a educação e o respeito devem ser prioridade.


A bola e a dúvida
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José Cruz

A International Board, competente para mudar normas e regras do futebol, se reúne hoje.

Na pauta, um assunto polêmico: uso da tecnologia no futebol;

A bola ultrapassou a linha de gol ou não? O jogador estava impedido? A bola saiu pela linha de fundo antes de ser cruzada para a área?

Uma tecnologia já pode dar fim a essas dúvidas – e muitas injustiças – e se tornar aliada dos árbitros, como já ocorre nos grandes torneios de tênis.

Reportagem

Em 2005 entrevistei um médico espanhol, Francisco Balda, que realizou um estudo de “fisiologia ocular aplicada ao futebol”.

Didático, Balda disse que é impossível ao olho humano – do juiz e do bandeirinha, no caso –  acompanhar no mesmo momento o lançamento da bola, o deslocamento do atacante e a movimentação da defesa, para marcar com precisão o impedimento.

Confira a reportagem e tire as suas conclusões


Governo sabe desde 2001 sobre operações suspeitas da CBF
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José Cruz

 

 

“A Polícia Civil do Distrito Federal enviou à Receita Federal indícios de que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, fez movimentações financeiras suspeitas dentro e fora do país”, informam os companheiros Leandro Colon e Filipe Coutinho da Folha.com

“O dono da empresa Ailanto Marketing e atual presidente do Barcelona, Sandro Rosell, também está envolvido nas negociações suspeitas encontradas nas investigações”, diz a reportagem, referindo-se a negócios do amistoso Brasil x Portugal, em 2008, em Brasília.

Atraso

Se as investigações evoluírem, será por um fato novo, mas com 10 anos de atraso.

Em 2001, o hoje ministro do Esporte, Aldo Rebelo, encaminhou denúncia de irregularidades nas contas da CBF, listando uma série de movimentações financeiras internacionais altamente suspeitas.

Encaminhou para quem? para a Polícia Federal, para a Procuradoria Geral da União, para o Ministério Público Federal, Tribunal de Contas, Receita Federal, Banco Central, Palácio do Planalto, enfim.

As denúncias estão no relatório da CPI da CBF Nike, presidida pelo então deputado Aldo Rebelo.

E qual o resultado dessas investigações?

Alguma dessas entidades avançou nas denúncias? Oficialmente nada se sabe. Dez anos…

Diz o relatório:

“Entre 1998 e 2000, a CBF tomou seis empréstimos junto ao Delta National. Bank and Trust Co, de Nova Iorque, com juros muito acima dos juros correntes no mercado internacional, na época. Foram empréstimos que somaram mais de US$ 39 MILHÕES, e a CBF pagou mais de US$ 6 milhões só de juros”

Segue o relato dos deputados Aldo Rebelo e Silvio Torres, esse último relator da CPI:

“… há fortes indícios de evasão de divisas, uma vez que os juros pagos exorbitam daqueles cobrados no mercado internacional, o que poderá ser conclusivamente apurado pelo Ministério Público”.

Mais:

Um dos empréstimos foi de US$ 7 milhões. O rastreamento da grana, desde o Delta Bank, em Nova Iorque, até a conta corrente da CBF, na agência do Banco Rural, em Belo Horizonte, mostra um caminho complicado.

O dinheiro saiu do Delta, foi para o Banestado, agência de Nova Iorque. Daí foi para a agência do Rural International Bank, em Nassau, Bahama, paraíso fiscal. De lá, seguiu para a conta corrente da CBF no Banco Rural, em BH. E dos US$ 7 milhões contratados, US$ 6,8 milhões foram depositados. As comissões ficaram pelo caminho.

Conclusão

Não  é de hoje que as autoridades de fiscalização do governo sabem que a CBF faz negociações internacionais pesadas. Há documentos oficiais sobre o assunto devido à quebra de sigilos fiscais e bancário, tudo no relatório da CPI da CBF Nike.

Mas só agora, 10 anos depois, quando Ricardo Teixeira está fragilizado na sua gestão, com poucas chances de reagir e ameaçado de ficar sem o poder que o ajudou a conquistar amigos influentes, a Polícia Federal é acionada.

Dez anos da primeira denúncia; uma década de silêncio das autoridades do governo federal. Qual o motivo?


Copa do Mundo e Campeonato Candango
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José Cruz

Pelo segundo dia consecutivo acompanhei entrevistas do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, para emissoras de televisão. Nos dois programas – terça-feira e ontem – o assunto foi um só: Copa do Mundo.

Pela emoção dos jogos e paixão nacional, o futebol domina o noticiário. Com a Copa chegando, nem se fala. Mas, no caso brasileiro, destaca-se a desordem para receber o grande evento.

Extra campo, apimentando essa interminável confusão, temos o sai-não-sai de Ricardo Teixeira; algo como “intestino entupido” de doente de hospital em vésperas de cirurgia. Trava tudo. Assim é a Copa no Brasil: o governo não fala com a CBF, que não conversa com a Fifa, que espera por decisões das excelências, que não decidem nada.

Inacreditavelmente, ainda se discute se índio terá direito a ingresso, se idoso pagará meia-entrada e se cerveja combina com futebol.

Sob esse enfoque, a gigantesca e prestigiada Copa do Mundo, de investimentos bilionários e parcerias com marcas famosas torna-se um evento menor. Os políticos avacalharam a Copa antes de a bola rolar, comprometem parcerias e diminuem – ainda mais – o prestígio parlamentar.

O ministro Aldo Rebelo deixa seu gabinete, o Congresso Nacional dispensa horas e horas no assunto, como se o país não tivesse graves questões para ocupar o tempo das excelências.

Enquanto isso, na capital da República, alunos têm aula em salas de lata! Outros, nem isso, porque faltam professores. Mas voltemos ao debate sobre cerveja e futebol e, com o devido respeito, índios.

Momento grave

Não é novidade que vivemos um momento de gravidade no esporte. Por mais que as autoridades se entusiasmem com as Copas da Confederação, do Mundo e Olimpíada, temos uma verdadeira desordem institucional, apesar de as instituições estarem todas aí, funcionando e com muito dinheiro, público, claro.

A partir do momento em que o ministro Aldo Rebelo passou a cuidar do assunto Copa – e faz isso com zelo e trabalho assíduo, é verdade  – as demais questões do esporte estão ao largo.

Quem debate sobre esporte e educação? sobre educação física na escola? E como estão as denúncias de corrupção no programa Segundo Tempo? E o que dizer da Bolsa Atleta, que tem portaria nova com prejuízo para centenas de atletas?

Apoios e absurdos

É nesse panorama de dúvidas, indecisões e incertezas que o ministro Aldo Rebelo apóia a construção de estádios que, no dizer do Tribunal de Contas da União – reparem, é o TCU afirmando! – serão “elefantes brancos”.

Nas entrevistas, o ministro zomba da expressão:

“Nem elefantes temos no Brasil…”

Um desses elefantes invisíveis está em Brasília.

Aqui, sem clubes nas Séries A ou B do Brasileirão, a média de público no Campeonato Candango é de “espetaculares” 556 pagantes… informou o companheiro Walter Guimarães, analisando os borderôs dos jogos já realizados.

Pior: apenas três das 14 partidas realizadas pelo Campeonato Candango tiveram público acima de mil torcedores.

Mas teremos estádio gigantesco para 75 mil pessoas… cinco ou seis jogos da Copa e acabou.

Diz o ministro Aldo Rebelo, que no pós-Copa esses estádios – Brasília, Manaus, Cuiabá etc – serão usados para outros eventos, culturais, inclusive.

O que dizer do Ginásio de Esportes, com capacidade para 25 mil pessoas, que não consegue manter calendário de ocupação mensal? Como dar garantias para um gigante de 75 mil assentos? Quem arcará com as despesas de sua manutenção?

Falei, falei e sai do foco da questão principal.

Voltemos ao assunto: cerveja e ingressos para índios. Segue o debate.