Blog do José Cruz

Arquivo : março 2012

Lembranças, elefantes brancos e calotes
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José Cruz

Memória

Hoje, Elis Regina completaria 67 anos.

Inesquecível e inigualável gauchinha!

Lembranças – e saudades –  de suas interpretações: Como nossos pais, Fascinação, Madalena, Casa no Campo, O bêbado e o equilibrista e Águas de Março, ao lado de Tom Jobim

Mas… a vida continua

O companheiro Walter Guimarães, colaborador deste blog, envia mais uma preciosidade: o balaço de públicos nos Campeonatos de estados que serão três sedes da Copa 2014.

O tema foi discutido neste espaço no ano passado, bem antes de o Tribunal de Contas ter tratado do tema “elefantes brancos”.

Agora, as informações são referentes às competições regionais deste ano. Confira

Manaus: constrói um estádio para 43 mil pessoas ao custo de R$ 518 milhões. Os números do campeonato, diante da insensatez do governo, são de arrepiar: média de torcedores por jogo em 35 partidas realizadas: 429.

Mais:

Nenhum jogo ultrapassou mil testemunhas!!!
Total de torcedores nas 35 partidas realizadas: 15.013. Ou seja: 34% da capacidade da Arena Amazônica.

Cada jogo recebeu a menos de 1% da capacidade do novo estádio.

Maior público: Penarol x Holanda – 938 pessoas; detalhe, jogo realizado em Itacoatira.
Menor público: Operário x Penarol – 84 testemunhas

Maior renda líquida: R$ 4.400,65, no jogo São Raimundo x Princesa do Solimões
Média de público de jogos em Manaus, onde está o novo estádio: 499 torcedores. Em 22 jogos (63% do total) o público foi menor do que 500 torcedores

Mato Grosso
Em  Cuiabá, com base nos dados de nove borderôs, a média de público por jogo é de 392 torcedores (por terras pantaneiras, também nenhum dos jogos disponibilizados pela Federação teve público maior de mil torcedores)

Capacidade do estádio Verdão: 43.710 pessoas.

Custo preliminar da obra: R$ 518 milhões

Distrito Federal

15 jogos: média de público – 660 torcedores
Capacidade do Estádio Mané Garrincha, em construção: 72.000 pessoas
Custo da obra: até agora, R$ 800 milhões; previsão: mais de R$ 1 bilhão.

Enquanto isso: calote

0 governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, não liberou R$ 47 mil para pagar os campeões da Corrida de Reis, realizada há 50 dias…

Em Brasília, milhares de alunos estão sem aula. Os professores, em greve, continuam a eterna luta pela valorização da profissional. Isto é, melhores salários, mais salas de aula …

Já os Centros Olímpicos, áreas de recreação e lazer  para a população na periferia da Capital, as piscinas estão interditadas. O governador Queiroz, há mais de um ano no poder, não renovou o contrato com a empresa de manutenção das piscinas.

Perdão Leitores!

Esqueci que a discussão atual é sobre a venda de cerveja em estádio. Elefantes brancos e calotes já são coisas no passado. “Legados”, como dizem.

Desculpem!

Então, como hoje é sábado, voltemos à música de Elis. Deliciem-se e bom fim de semana.


Lei de Incentivo ao Esporte: um recurso capenga?
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José Cruz

Reencontrei o carioca Eduardo Manhães, ex-professor e permanente estudioso das questões sociais do esporte.

Torcedor de arquibancada e flamenguista, ele analisa o futebol como todo “bom técnico brasileiro” – que somos. E, também, sob aspecto sócio-econômico dessa instituição que combina mercado financeiro com paixão pela camisa de um clube.

Diante dessa polêmica envolvendo um dos astros do automobilismo nacional, Emerson Fittipaldi, pedi que Manhães esclarecesse sobre a Lei de Incentivo ao Esporte.

Afinal, os recursos obtidos por essa lei são ou não dinheiro público?

Com a autoridade de quem conhece o tema, pois está ligado ao setor, Eduardo Manhães respondeu:

Recurso da lei de incentivo é dinheiro público. Porque é uma renúncia fiscal. O Estado abre mão de receber um determinado valor – no caso do Imposto de Renda – para incentivar a prosperidade de uma determinada atividade – o esporte – em que ele, o Estado, tem indicadores de que essa iniciativa proporcionará beneficio social maior do que a renúncia.

Parte-se da premissa de que o Estado concentra os recursos do Tesouro na solução das atividades que são de sua obrigação – saúde, educação transportes etc – e incentiva o investimento nessas áreas por meio da renuncia fiscal nas demais atividades – esporte e cultura. E, ao fazer isso, o avalia que os investimentos por meio da renúncia fiscal vão promover um benefício social maior do que se fosse investido diretamente pelo Estado.

Ou seja, os indicadores deverão mostrar que o recurso renunciado foi multiplicado pela iniciativa privada nos projetos financiados pela Lei de Incentivo.

Incentivo fiscal não é esmola! Não basta demonstrar que não se tem capacidade de angariar recursos de forma ordinária – financiamentos bancários, por exemplo –, como exige a Lei de incentivo ao Esporte. É necessário demonstrar que o projeto que será financiado reproduzirá riqueza social material e simbólica que justifica a renúncia fiscal da parte do Estado.

Infelizmente, o que se pratica no Brasil é capenga das duas pernas. O Estado argumenta que é carente para resolver aquilo que é sua obrigação – estão aí os contingenciamentos no Orçamento da União – e renuncia recursos para projetos que não garantem a reprodução do recurso renunciado – o automobilismo de competição internacional, por exemplo.

Eduardo Manhães é autor de dois livros: “Política de Esporte no Brasil”  e  “João sem medo” –  análise do discurso de João Saldanha sob o enfoque do futebol arte e identidade nacional


Copa 2014: Relatório da Câmara e do Senado é fraquíssimo
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José Cruz

Quatro meses depois de visitar São Paulo, a última no roteiro de fiscalização das cidades-sede da Copa, as comissões de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados e a de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado Federal divulgam o relatório com suas observações.

Cinco áreas foram avaliadas: mobilidade urbana, estádios, aeroportos, portos e setor hoteleiro. Mas o relatório é fraquíssimo. Apesar do evidente esforço dos técnicos legislativos para torná-lo atrativo isso não foi possível, pois as observações dos políticos, que se deveriam ser rígidas, não contribuíram para um documento contundente diante da realidade dos preparativos para 2013 e 2014.

Não há novidades no documento em comparação às auditorias do Tribunal de Contas da União. Além disso, os dados agora apresentados estão quatro meses defasados.

Mais: o relatório do Legislativo se valeu de dados do Ministério do Esporte, desatualizados, claro, pois até agora não há um controle eficiente do Executivo sobre os gastos públicos, como já mencionou o ministro Valmir Campelo, do Tribunal de Contas da União.

Assim, a contribuição parlamentar é lamentável. Chegaram a incluir em seu relatório o estádio de Brasília como o único com “redução” no seu custo original.

Na verdade, o Mané Garrincha é mais um teve aumento ao longo da construção, saindo de R$ 650 milhões para R$800, devido à contratação da cobertura. E ainda faltam as cotações de gramado, iluminação, tecnologia de informação etc, itens que as excelências nem se ativeram pesquisar.

Desapropriações

Este é um dos casos mais graves nesta fase de preparação do país.  Mesmo assim, também o Legislativo fez vistas grossas ao assunto, apesar do forte apelo social.  “Apenas em Fortaleza e Natal tratou-se do tema perifericamente”, dizem deputados e senadores.

Reparem: das 12 cidades-sedes visitadas, deputados e senadores trataram do assunto “desapropriações” em apenas duas, assim mesmo de forma “periférica”…

Em resumo: deputados e senadores devem à sociedade uma participação mais efetiva na preparação do Brasil para receber os megaeventos, Copa das Confederações e Copa do Mundo. Não fosse por esse relatório sem novidades, também em plenário as excelências marcam passo ao se enrolarem na aprovação da Lei Geral da Copa, expondo o país à crítica internacional.

Leia o Relatório

 


Lei de Incentivo ao Esporte: bandeirada final
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José Cruz

Estou há  24 horas sem receber mensagens sobre o assunto “Pietro Fittipaldi”, o piloto norte-americano, com cidadania brasileira, que captou R$ 1 milhão na Lei de Incentivo ao Esporte. Acredito que o assunto está encerrado. Ufa!

A maioria das 1.500 mensagens recebidas veio de leitores indignados com a notícia. Isso é bom, mas demonstra como o brasileiro não está acostumado a freqüentar as páginas de transparência do dinheiro público, pois essas informações estão lá.

Para encerrar o assunto, por enquanto, reforço o que escrevi, mas que alguns não entenderam e tentaram mudar o rumo do debate:

a)  a aprovação do projeto e a captação dos recursos para o piloto Pietro foram dentro da lei de Incentivo ao Esporte. Tudo legal;

b) a questão que levantei é: diante das necessidades de esportes básicos do país, às vésperas de recebermos os Jogos Olímpicos e considerando o arrocho orçamentário imposto pelo governo federal a destinação de recurso público para o automobilismo internacional é prioridade?

c)  que me desculpem os críticos, mas cubro o setor há 27 anos. Sei bem sobre o trabalho e sacrifício de um time de basquete cadeirante,  por exemplo, sair de casa, enfrentar ônibus sem adaptação para treinar numa quadra esburacada, com tabelas caindo e sem iluminação; ou atletas treinando em pistas que são risco à integridade física; ou raias de piscinas usadas por até seis nadadores ao mesmo tempo. Ou escolas com dois mil alunos e nenhuma quadra para um jogo de bola.

d)  e se isso ocorre é porque governo continua sem política para melhor aproveitar o custoso dinheiro público para o esporte, como já ocorria nas eras FHC, Itamar, Collor, Sarney …

e)  aí está o debate central que nasce do episódio “Pietro Fittipaldi”: nove anos depois de o Ministério do Esporte ter sido criado continuamos sem rumo. Temos recursos, instituições e leis. Não temos orientação básica, trabalho integrado entre as entidades afins. Faltam prioridades, metas e planejamento.

f) finalmente: Enquanto não discutirem essas questões e fixarem rumos,  continuaremos jogando muito dinheiro fora.  E isso é assunto sério,  que não se resolve na Conferência Nacional do Esporte, um convescote partidário para justificar democracia nos debates do setor. Por sinal, conferências pagas também com o nosso dinheiro.

Atualizado às 9h30 do dia 15.

Atendendo ao pedido de um leitor atualizo o blog com a seguinte informação:

As empresas que contribuíram com o Instituto Emerson Fittipaldi para o programa de formação do piloto Pietro Fittipaldi na F-Nascar foram:

Cimento Planalto S/A – R$ 150.000,00;

Cosan Operadora Portuária S/A R$ 140.200,00;

Docelar Alimentos e Bebidas S/A R$ 67.000,00;

Nestlé Nord. Alimentos e Bebidas Ltda R$ 500.000,00;

Polimport Comércio e Exportação Ltda R$  40.000,00;

Radar Propriedades Agrícolas S/A  R$ 24.000,00;

Soc. Assessoria Técnica e Adm S/A R$ 50.003,00

Fonte: Ministério do Esporte

   


Segurança no esporte: governo aplicará R$ 807 milhões este ano
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José Cruz

A Secretaria Extraordinária de Segurança Pública, órgão do Ministério da Justiça, tem R$  807,8 milhões para gastar este ano na preparação dos “grandes eventos” — Copa das Confederações, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. A informação é da Associação Contas Abertas, reportagem de Dyelle Menezes.

Do total, R$ 94,1 milhões são de “restos a pagar”, isto é, despesas feitas em anos anteriores mas que serão honradas neste exercício.

O restante do dinheiro será aplicado em três ações básicas:

1. Investimento em tecnologia

2. Treinamento do efetivo policial de todo país

3. Integração entre as forças de segurança.

A notícia completa está aqui


Lei de Incentivo destinou R$ 433 milhões ao esporte em quatro anos
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José Cruz

Entre 2007 e 2010 o governo federal injetou R$ 433 milhões no esporte brasileiro através da Lei de Incentivo ao Esporte, recurso que permite o abatimento do imposto de renda devido, na proporção de 6% para a pessoa física e 1% para a jurídica. Conheça a lei.

No mesmo período, foram aprovados projetos que totalizaram R$ 1,6 bilhão.

No entanto, apenas um quarto ( 433 milhões) foi captado, segundo relatório oficial do Ministério do Esporte.

Do total captado, 58% destinaram-se a projetos desenvolvidos em São Paulo, 32% no Rio de Janeiro e os restantes 10% aos demais estados da federação.

Futebol

Em 2010, os clubes de futebol foram os mais beneficiados, captando R$ 29,3 milhões, seguidos de projetos da natação, com R$ 15,3 milhões, judô, R$ 14,5 milhões, atletismo, R$ 14 milhões e tênis, R$ 11 milhões, fechando o top cinco.

As ONGs foram as principais entidades atendidas, com 41,2% dos recursos, seguidas das confederações esportivas, com 10%.

Dúvida

Será que o Ministério do Esporte tem equipe que acompanha a execução desses projetos, ou repete-se o  programa Segundo Tempo, sem qualquer fiscalização?

Essa dúvida vem a propósito da seguinte afirmação, que consta no relatório oficial:

“Em 2010, 778 mil pessoas foram beneficiadas de forma direta pela Lei de Incentivo ao Esporte”

Ou seja, se o Ministério do Esporte selecionar apenas 0,1% do pessoal atendido pelos R$ 424 milhões terá um público de 780 atletas em potencial. Ou seja, o triplo da uma delegação olímpica.

É, sem dúvida, um potencial que representa expressiva base de renovação para várias modalidades.

Mas onde estão esses atletas?

O Ministério do Esporte tem o mapeamento dos beneficiados na área de rendimento, para ali identificar talentos e encaminhá-los à profissionalização?

Diante desse quadro, voltarei ao assunto na próxima mensagem, tratando da questão do momento: dinheiro de incentivo para piloto de automobilismo, em atenção à resposta de Emerson Fittipaldi ao UOL Esporte.

Atualização do post – às 18h05

O valor correto dos investimentos em quatro anos é de R$ 424,9 milhões, e não R$ 433 milhões como divulguei.

Desculpe, caro leior, errei na soma.


Bolsa-Atleta: avanços e recuos
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José Cruz

Pela primeira vez, oito anos depois de ter sido criada, a Bolsa-Atleta teve solenidade para a divulgação dos nomes dos mais de quatro mil contemplados.

Faz sentido. A cerimônia,  em São Paulo, foi mais uma etapa do roteiro do ministro Aldo Rebelo para recuperar a imagem e credibilidade do Ministério do Esporte e, por extensão do PCdoB, seu partido.

Porque, como muito já se comentou, a Bolsa-Atleta era um dos setores que carecia de tratamento profissional. E ganhou.

Programas de longo prazo de governo precisam de atualizações freqüentes e o Bolsa tem, agora, faz sua primeira grande reforma. Mas ainda tem falhas.

Que me desculpem os gestores do programa, entre eles Marco Aurélio Klein, com quem troco idéias frequentemente. Ele se esforça para, enfrentando a burocracia do Executivo, tentar dar rumo e atualizar o pagamento dos valores.

Mas são duas questões que tomo a liberdade de comentar:

A Portaria  164 do Ministério do Esporte de outubro do ano passado estabelece novos critérios para a concessão da Bolsa.

Passou a exigir, por exemplo, seis competidores de estados diferentes nas provas (natação, atletismo, tênis, hipismo etc), para homologar o benefício da Bolsa aos campeões.

Essa exigência repercutirá negativamente junto aos paralímpicos, principalmente, pois há carência de atletas que se enquadrem na mesma classificação. E se forem agrupados atletas com deficiências próximas alguém levará vantagem na disputa.

Portanto, isso contradiz o texto da lei da Bolsa Atleta, que determina contemplar os melhores, independentemente do número de competidores.

Patrocínios

Em segundo lugar: o primeiro nome da lista dos contemplados com a Bolsa-Atleta divulgada ontem é Thomaz Bellucci.

Tenista profissional, Thomaz tem patrocínios do Banco Votorantim, Correios, Gilette, Adida e Wilson. Assim como Robert Scheidt, atleta do Banco do Brasil, também patrocinado pela CNA, Prada e Rolex.

No entanto, esses e tantos outros atletas consagrados e, por isso, já com excelentes patrocínios, são os que mais recebem do Ministério do Esporte.

Premiar os melhores com mais faz sentido. Mas se o objetivo da Bolsa é contribuir para o desenvolvimento dos atletas, e os que estão na base são os que, sem outros apoios porque ainda não são famosos, menos recebem. Em decorrência, passam por maiores dificuldades para evoluir. Isso é real para quem frequenta  pistas, piscinas, quadras de tênis etc.

Insisto no atleta da base: continua desassistido.

O dinheiro da Lei Piva não chega até ele; muito menos patrocínios. E o valor de sua bolsa é pequeno diante das necessidades de viajar para competir, se alimentar adequadamente, pagar academia, técnico, comprar equipamentos etc.

Nas minhas andanças de rotina converso com atletas e técnicos da iniciação e sei bem o que é a luta para tentar chegar ao topo. E o próprio governo tem interesse nessa evolução, pois a renovação das equipes é indispensável.

A Bolsa-Atleta é mais um na série que o governo federal dispõe para contemplar o esporte de rendimento. Por isso, a avaliação precisa levar em conta o contexto geral dos recursos aplicados – patrocínios, orçamento ministerial, Lei de Incentivo, Lei Piva etc –  e não de forma individual, como ocorre.

Portanto, mais do que uma revisão o programa precisa de uma rigorosa avaliação, para que os valores públicos não se concentrem na cúpula, na elite, no atleta pronto e já contemplado com poderosas marcas. Mas uma revisão que leve os técnicos do Ministério aos locais de treinos e ali conheçam a relidade e dificuldades afins para se formar um atleta no Brasil.

Finalmente: sugiro a leitura  do recente trabalho do Professor Fernando Franco, do Centro de Estudos de Atletismo, em que ele demonstra, com números oficiais, as disparidades na concessão da Bolsa. Em próximas mensagens comentarei sobre esse trabalho.


“Em 2014 posso fazer a maldade que for…”
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José Cruz

Julho de 2011

Declaração de Ricardo Teixeira à revista Piauí

Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecere? Nada! Porque eu saio da presidência da CBF em 2015. E aí acabou

 Memória

Nem duas Comissões de Inquérito (CPIs), na Câmara e no Senado, em 2001, conseguiram derrubar Ricardo Teixeira.

Coincidentemente, o atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, era o presidente da CPI da CBF Nike, numa época em que jogou duro, marcou firme contra o cartola.

O relatório final, do então deputado Silvio Torres, não foi aprovado. Eurico Miranda, que era deputado e presidente do Vasco, rasgou o documento na sessão final. A Bancada da Bola era fortíssima e segurava RT.

Parabéns

1. A Andrew Jennings, repórter investigativo que denunciou as malandragens de RT junto à Fifa. Os detalhes estão no livro que escreveu, “Jogo Sujo”.

2. A Juca Kfouri, que suportou – e suporta –  vários processos pelas denúncias que fez, e sugeria “chá de cadeira, enquanto se espera a queda de Ricardo Teixeira…”

3. Ao torcedor, que realizou caminhadas de protesto, tuitaços e protestos, facilitados pela eficiência das mídias sociais.

Juca ainda sugere tomar “chá de açaí, enquanto esperamos Carlos Nuzaman cair…”

Será?

A partir de agora, que ninguém duvide!


Verba pública financia carreira de neto de Fittipaldi, nos EUA
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José Cruz

Além de financiar a escola de pilotos do comentarista Galvão Bueno, como se divulgou há poucos dias, a Lei de Incentivo ao Esporte tem outro famoso na lista dos beneficiados por  dinheiro público no automobilismo de competição: Emerson Fittipaldi.

Em setembro do ano passado, o Ministério do Esporte aprovou projeto de R$ 1 milhão para o “Programa de Formação do Piloto Pietro Fittipaldi, na Fórmula Nascar”. Dinheiro da Lei de Incentivo ao Esporte que já foi captado.

Pietro, de 15 anos, é neto de Emerson, nasceu e mora nos Estados Unidos, onde disputa a categoria de automobilismo.

Barbaridades

R$ 10,5 milhões: é valor total para projetos gerais de automobilismo aprovados pelo Ministério do Esporte, entre 2011 e 2012.

Só a Associação das Equipes e Pilotos de automobilismo Amador vai levar R$ 3,6 milhões. Outros R$ 2,1 milhões vão para o Campeonato Sul-Americano de Fórmula 3.

Repito, a lei permite, mas faltam critérios do Ministério do Esporte para limitar projetos como esses, pois quem é profissional de automobilismo têm alto poder aquisitivo.

Desperdícios

Claro que automobilismo merece apoios, mas que venham da iniciativa privada! Diante dos gravíssimos problemas de estrutura para a prática esportiva em comunidades carentes, aplicar dinheiro público na formação de  pilotos é um deboche.

Lembro que apenas 53% das escolas públicas brasileiras têm uma quadra “decente” para a prática esportiva da garotada.

Esse contraste demonstra a total ausência de políticas públicas e definições de prioridades do governo para o esporte, como já denunciou o Tribunal de Contas da União. Denúncias, apenas isso…

Farra

Não podemos esquecer que a Lei de Incentivo ao Esporte usa recursos do Imposto de Renda. O governo abre mão de R$ 300 milhões anuais para aplicar em projetos que contribuam, de fato, para o fortalecimento e desenvolvimento do esporte.

No entanto, num país com limitações de verbas para as áreas da educação e da saúde, principalmente, o dinheiro público que falta aos hospitais, por exemplo, destina-se à elite, aos que usam nomes consagrados para captar com facilidade verba pública do imposto de renda.

Agressão

Há seis anos o Ministério do Esporte fecha os olhos a essa falta de planejamento, metas e prioridades para o uso do bem público, com total omissão do Conselho Nacional de Esporte.

Assim, o Conselho afronta as políticas econômicas do Ministério do Planejamento, da Receita Federal, do próprio Palácio do Planalto, que alertam para a necessidade de fixar prioridades nos gastos públicos. E a nossa prioridade no esporte não é o automobilismo de competição.

A Lei de Incentivo precisa urgentemente de uma revisão de critérios. Enquanto isso, continuaremos jogando dinheiro pela janela do desperdício.

Proponente: Instituto Emerson Fittipaldi -02.339.999/0001-23
Título do Projeto:Programa de Formação do Piloto Pietro Fittipaldi na NASCAR
Nº SLIE:1101751-15UF:SP
Nº do Processo:58701.000154/2011-45Estimativa Público:2160001
Valor Aprovado para Captação (R$):1.001.203,00Prazo para Captação:22/09/2011 a 31/12/2012

Bebeto de Freitas: jogadores de vôlei pagavam “pedágio” para jogar no exterior
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José Cruz

“Vivemos uma ditadura assombrosa no esporte brasileiro”

De estilo calmo, ao contrário de seu tio, João Saldanha – o mais conceituado e ousado cronista esportivo da história do futebol nacional, – o ex-técnico da Seleção de vôlei, Bebeto de Freitas, lamenta os rumos do esporte no país.

Aos 62 anos, consagrado internacionalmente como técnico de vôlei, suas palavras refletem a realidade de quem conviveu e conhece os bastidores do esporte. Boa parte ainda obscuros.

Não existe democracia no esporte brasileiro. A única modalidade democrática no Brasil é o futebol. Nela, você não precisa ser jogador de seleção brasileira para viver do esporte”, disse Bebeto – que também presidiu o Botafogo – ao repórter Rodrigo Cardoso, em excelente reportagem na revista IstoÉ 2016, já nas bancas.

Cartolas

A falta de democracia denunciada por Bebeto inclui a perpetuação dos cartolas em seus cargos.

Para ser presidente de uma Confederação Brasileira, em um país de 200 milhões de habitantes, são necessários apenas 15 votos. Não tem por que um dirigente se perpetuar no cargo por décadas. Você precisa se reciclar. Esporte é uma coisa democrática. Como ser democrático passando 30 anos no poder?

Na entrevista, Bebeto fala sobre os conflitos na “geração de prata” – quando ele dirigiu a Seleção de vôlei masculina, que ficou em segundo lugar nos Jogos de Los Angeles, 1984 – e  sobre os problemas entre jogadores e o então presidente da Confederação, Carlos Arthur Nuzman, hoje à frente do COB.

E revela uma informação bombástica: em determinada época, os jogadores precisavam pagar “pedágio” para ter suas transferências para o exterior liberadas pela CBV.

É verdade que dirigentes cobravam uma espécie de pedágio dos jogadores de vôlei que queriam se transferir para jogar no exterior? – indagou o repórter Rodrigo Cardoso.

Eu nunca presenciei isso com um atleta meu. Obviamente, eu tenho conhecimento disso, porque muitos falam. Isso pegou depois q eu fui par a Itália, em 1989, mas com a geração de Gioavani, Maurício e Tande. Aconteceu tanto no masculino quanto na feminina. Isso era claro, não era escondido, não! O clube que preparava o jogador não ganhava nada e quem tomava conta do processo era a confederação. Havia um percentual que o jogador tinha de deixar na confederação para conseguir a transferência. Os jogadores nunca se manifestaram porque, no Brasil, quem contesta fica alijado. Só houve um que se levantou contra isso, o Badalhoca

Bebeto de Freitas: denúncia nas relações trabalhistas do vôlei

Dúvidas

Eu já tinha ouvido sobre essa revelação de Bebeto de Freitas. Uma ex-atleta da Seleção de Vôlei me confidenciou que para ter autorizada sua transferência para outro país precisava pagar uma taxa para a Confederação Brasileira de Vôlei, à época dirigida por Carlos Nuzman.

Daí, surge a dúvida: a exigência continua? O basquete e o handebol fazem o mesmo? Em caso positivo, como esse dinheiro aparece nos balanços financeiros das confederações, já que não há registros específicos.

Está aí um tem a para o Ministério do Esporte e o Ministério do Trabalho investigar, também sob o enfoque trabalhista: como são as relações entre atletas, clubes e suas respectivas confederações, já que, fora o futebol, a Lei Pelé não considera profissionais as as demais modalidades?

Enfim, Bebeto de Freitas, mesmo afastado do movimento esportivo, sugere uma bela pauta que permitirá um mergulho no mundo ainda obscuro do esporte olímpico. Quem fatura e quanto rende a transferência de jogadores, fora do futebol, para outros países? Há agentes nessas negociações ou elas são feitas diretamente com as confederações?

Vamos em frente nesta questão, sem dúvida, pois as confederações olímpicas, altamente financiadas por verbas públicas, precisam tornar transparentes suas gestões financeiras.